Veterinária e nutróloga animal de Sorocaba (SP), Luciana Domingues, explica os cuidados ao oferecer ração e alimentos naturais aos bichinhos, além de suplementos. Tradicionalmente, os animais de estimação consomem rações, mas muitos tutores têm optado por preparar pratos com grãos, carnes e legumes, a chamada “comida natural”. As razões podem ser diversas, mas independentemente da modalidade alimentar escolhida, é importante a orientação de um profissional para evitar uma alimentação desbalanceada e problemas de saúde para os pets.
Uma moradora de Sorocaba (SP), que não quis se identificar, é tutora de um cãozinho da raça Lhasa Apso e sabe bem quais os danos que uma alimentação inadequada pode gerar. Clark, seu cachorro, teve um quadro de hiperparatireoidismo, uma doença que é caracterizada pelo desequilíbrio de dois mineiras: o cálcio e o fósforo, causando fraqueza, fragilidade nos ossos e até lesões renais.
Clark, cão da raça Lhasa Apso, tem 12 anos e recebe alimentação natural
Arquivo pessoal
A alimentação natural havia sido introduzida na rotina do pet para apoiar o tratamento de um problema de pele. No entanto, meses após a mudança na dieta, a tutora percebeu alterações no comportamento de Clark e ficou preocupada.
“Em junho de 2021, ele começou a reclamar para comer os petiscos mais durinhos e percebi que ele começou a babar, coisa que ele não fazia, e ficar com a boquinha aberta na maior parte do dia. Como esse quadro persistiu por alguns dias, resolvi levar ao veterinário”, lembra a tutora.
Clark então foi diagnosticado com hiperparatireoidismo e encaminhado para o atendimento de uma nutróloga animal, de quem a tutora recebeu as orientações que não tinha conhecimento no período de transição para a dieta natural, como pesagem dos alimentos, substituições, modo de preparo e suplementação.
“O Clark passou por um tratamento com reposição de cálcio e com todos os minerais e vitaminas, 30 dias depois, de acordo com a nutróloga que acompanha o caso, ele já apresentou uma melhora muito significativa.”
A formulação de uma dieta, seja ela convencional ou caseira, deve ser realizada por um médico veterinário habilitado. A especialista Luciana Domingues, de Sorocaba, tem formação na área de nutrição de cães e gatos e explica que é comum os tutores cometerem equívocos na oferta da alimentação natural por falta de orientação especializada.
Segundo ela, na maior parte das vezes, os tutores acabam adicionando alimentos às rações para agradar o pet e porque acreditam que somente a ração cause uma monotonia aos animais, o que é perigoso, pois acabam fazendo receitas sem seguir orientações.
Com orientação profissional, tanto a alimentação com ração quanto a natural são seguras e ambas as modalidades alimentares têm vantagens e desvantagens, conforme explica Luciana:
“Como vantagens [da alimentação natural] podemos citar a qualidade dos ingredientes usados, melhor sabor e digestibilidade, maior facilidade em se adequar às necessidades de cada animal e o não uso de aditivos como conservantes e corantes”, explica. Já como desvantagens, a profissional aponta o custo maior, maior dificuldade para preparo e maior necessidade de organização por parte do tutor.
Caso a alimentação não seja elaborada e acompanhada por um profissional qualificado no tema, o desbalanceamento dos componentes pode trazer inúmeros prejuízos aos animais. Entre eles: desmineralização óssea, alteração na imunidade, problemas dermatológicos e problemas gastrointestinais.
Assim como no caso de Clark, os impactos de uma dieta desbalanceada na saúde do pet devem ser avaliados por um profissional, que indicará o melhor tratamento e também verificará a necessidade de suplementação.
Alimentação adequada em cada fase da vida
Cada fase da vida requer demandas nutricionais específicas. De acordo com a nutróloga animal, filhotes e fêmeas em reprodução possuem maiores necessidades de diversos nutrientes, como proteínas, gorduras, minerais como cálcio e fósforo, e vitaminas que os adultos. Animais doentes também podem requerer o aumento ou redução de alguns nutrientes, de acordo com sua patologia.
Durante uma consulta com um especialista, além do exame físico do animal, são coletadas informações referentes ao histórico alimentar do pet e sobre a presença de doenças. Exames complementares podem ser solicitados. Com tudo isso em mãos, é elaborada a dieta do pet e a forma correta de uso.
Pets que consomem ração também podem sofrer com uma dieta desbalanceada
Fernanda Szabadi/G1
Suplementos alimentares também podem ser prescritos. Segundo Luciana, até os pets que consomem ração podem sofrer com a deficiência de alguns minerais, por isso exames periódicos são recomendados a todos os animais de estimação, mesmo quando aparentam estarem saudáveis.
“Quando falamos em rações, essas já contém suplementos em sua composição, então na teoria, os pets que consomem ração não precisariam de suplementos vitamínicos-minerais. Porém, dependendo da categoria da ração e do fabricante, podemos observar que com frequência há níveis deficientes ou limítrofes de nutrientes. Por isso, muitas vezes o uso de uma suplementação estratégica desses nutrientes, associados à inclusão de alimentos funcionais e nutracêuticos pode ser benéfica ao animal”, explica.
Uso de suplementos para cães e gatos deve ser orientado pelo médico veterinário
Petvi/Divulgação
Já as modalidades de alimentação natural (cozidas ou cruas) necessitam ter sempre a inclusão de suplementos, afirma a nutróloga. “Somente a combinação de ingredientes como carnes, vísceras, legumes, gorduras e carboidratos não é suficiente para aportar tudo que cães e gatos precisam”, afirma.
Assim como uma alimentação com deficiência de nutrientes, cardápios com excesso de suplementos também podem prejudicar os pets.
“Sempre considerar o que o animal recebe de alimentos diariamente, as características do animal a que se destina e os benefícios atribuídos ao suplemento e sua dose. E como já falamos, sempre busque orientação veterinária antes de fazer a introdução de um suplemento, pois eles podem trazer efeitos adversos se usados de forma incorreta.”
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