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Estudo inédito realizado no Morro do Diabo aponta que áreas habitadas por grandes herbívoros têm menor perda de diversidade

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Pesquisadores compararam durante 10 anos, na Mata Atlântica, em Teodoro Sampaio (SP), espaços de floresta utilizados por mamíferos, incluindo a anta e a queixada. Resultados também mostram como a composição é severamente afetada quando os animais são excluídos do bioma. Conservacionista Patrícia Medici fotografa anta brasileira no momento em que o animal sai da armadilha de caixa onde foi capturada para a coleta de materiais biológicos para estudos de saúde e genética
João Marcos Rosa/@nitroimagens
Durante 10 anos, na Mata Atlântica, pesquisadores compararam áreas de floresta utilizadas por mamíferos herbívoros, incluindo a anta brasileira (Tapirus terrestris) e a queixada (Tayassu pecari), e áreas para as quais o acesso desses animais foi bloqueado por plots de exclusão (cercas). O resultado principal é o de que as áreas utilizadas por esses animais apresentaram menor perda de diversidade do que as áreas cercadas.
O estudo inédito em florestas tropicais gerou um artigo publicado nesta quarta-feira (27) no “Journal of Applied Ecology”, da British Ecological Society (BES).
As pesquisas foram realizadas no Parque Estadual do Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio (SP), no extremo oeste do Estado de São Paulo.
O trabalho traz um alerta para a importância de ações de conservação de animais ameaçados de extinção. A anta brasileira, por exemplo, integra a “Red List”, da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), como “vulnerável à extinção” em toda a sua distribuição. Já a queixada é considerada “criticamente ameaçada” na Mata Atlântica.
A coordenadora da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (Incab), do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), Patrícia Medici, assina o artigo junto com Nacho Villar, pesquisador do Instituto Holandês de Ecologia NIOO-KNAW.
“Neste estudo, relatamos os resultados de um primeiro experimento sobre os efeitos que a conservação e a proteção dos grandes herbívoros têm sobre a manutenção da biodiversidade em florestas tropicais e, até onde sabemos, em qualquer outro bioma florestal. O estudo indica que os grandes herbívoros têm um papel muito importante para desacelerar a perda de diversidade florestal”, conta Patrícia Medici.
Segundo o estudo, as florestas maduras com alta diversidade foram as que mais se beneficiaram da presença dos grandes herbívoros.
Parque Estadual do Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio (SP)
Thomas Berthelsen/Rolex_Award
“Por outro lado, os resultados mostram como a composição da floresta é severamente afetada quando os animais são excluídos do bioma, sinalizando o que pode estar acontecendo em uma série de outros fragmentos da Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados do planeta”, destaca a pesquisadora.
Com o início da Década da Restauração das Nações Unidas (2021-2030), os resultados deste estudo são também uma orientação para futuras iniciativas de conservação e restauração florestal.
“A conservação desses animais e a restauração trófica (sem participação do homem) são cada vez mais reconhecidas como ferramentas importantes para restaurar ecossistemas florestais e evitar os efeitos agudos das mudanças globais sobre a biodiversidade. No entanto, tais soluções baseadas na natureza ainda não são reconhecidas como uma opção de conservação, sobretudo para florestas tropicais. Acreditamos que o estudo reforça como seria estratégico seguirmos nessa direção”, afirma a pesquisadora.
Segundo o IPÊ, do ponto de vista aplicado, tais descobertas indicam que a conservação das espécies e a restauração promovida por elas podem ser mais eficazes na proteção contra fortes declínios de diversidade de longo prazo em florestas tropicais bem preservadas com altos níveis de diversidade florestal.
“Durante os 10 anos do estudo, a abundância de plantas na fase inicial de germinação, o estabelecimento delas e a riqueza de espécies diminuíram cerca de 20% ou mais, proporcionando um experimento natural único para testar a significância funcional dos grandes herbívoros para evitar o colapso da biodiversidade a longo prazo”, diz Patrícia.
Os pesquisadores observaram também se os grandes herbívoros afetam de forma diferenciada as florestas maduras em comparação com as florestas secundárias.
“Essa é uma questão importante e inexplorada na conservação e na restauração trófica. Nas florestas secundárias, identificamos cerca de metade do número de espécies das florestas maduras. Em florestas secundárias, os resultados indicam limitada proteção dos grandes herbívoros contra a perda de diversidade. Mudanças ambientais regionais de longo prazo colocam em risco o potencial de recuperação de tais florestas secundárias e a transição para mais florestas maduras e diversificadas”, afirma Nacho Villar.
Parque Estadual do Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio (SP)
Wellington Roberto/g1
Detalhes da pesquisa na prática
As descobertas são fruto do monitoramento de 200 m² de Mata Atlântica do interior no Parque Estadual do Morro do Diabo, realizado entre 2004 e 2014.
“Investigamos o potencial de atuação dos grandes herbívoros contra o colapso da diversidade vegetal a longo prazo, examinando seus efeitos na abundância de plantas na fase inicial de germinação, riqueza e diversidade de espécies, diversidade temporal e na taxa de mudança de composição florestal. Esses animais contribuem diretamente com as plantas do sub-bosque, por meio da dispersão de sementes e atuação nas plantas na fase inicial de germinação. Desta forma, redutos de biodiversidade são altamente sensíveis ao desaparecimento de animais tais como a anta brasileira (Tapirus terrestris) e a queixada (Tayassu pecari), por exemplo”, explica Villar.
A equipe de Patrícia dividiu a área monitorada em 200 parcelas, incluindo 100 áreas cercadas de forma a evitar o acesso dos grandes herbívoros e 100 áreas de controle, onde não houve restrição à entrada dos animais.
Como forma de compreender possíveis diferenças de acordo com o amadurecimento da floresta, as áreas cercadas estavam divididas em dois grupos, sendo 25 pares em áreas de floresta madura e 25 pares em floresta secundária.
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Para o isolamento das áreas (plots de exclusão), os pesquisadores utilizaram postes de madeira e tela de arame (2×2 cm). As exclusões tinham as seguintes dimensões: 3 metros de largura, 6 metros de comprimento e 1,20 metro de altura.
Foi mantida uma abertura de 20 centímetros ao redor da parte inferior do plot permitindo, assim, a entrada de pequenos mamíferos terrestres, tais como roedores e marsupiais. Dentro de cada área de exclusão, uma área de amostragem central de 1×4 metros foi estabelecida e dividida em quatro quadrantes de 1×1 metro.
Parcelas de controle não cercadas tinham 1 metro de largura e 4 metros de comprimento, divididas em quatro quadrantes de 1×1 metro. Para cada parcela de exclusão e controle, dois dos quadrantes de 1×1 metro foram escolhidos aleatoriamente para serem amostrados ao longo do estudo.
A anta brasileira
INCAB/Divulgação
Amostragem florestal
Nas áreas monitoradas, todas as plantas com mais de 10 centímetros e diâmetro inferior ou igual a 5 centímetros foram marcadas com placas de PVC e receberam um número de referência.
A metodologia permitiu realizar amostragens subsequentes dos mesmos indivíduos. As novas plantas que surgiram durante a pesquisa e que também atendiam aos critérios foram incorporadas ao protocolo de monitoramento.
Durante os primeiros cinco anos do estudo (2004-2008), os pesquisadores realizaram medições das plantas duas vezes por ano, no início da estação chuvosa (outubro) e no início da estação seca (abril).
No período de 2009 a 2012, a coleta de dados foi realizada uma vez ao ano. As medições finais ocorreram em 2014, encerrando 10 anos de coleta de dados, com 14 medições.
“Seguimos o destino de 7.287 plantas e rastreamos o declínio da diversidade durante o período de 10 anos”, destaca Patrícia.
Parque Estadual Morro do Diabo, em Teodoro Sampaio (SP)
Fundação Florestal
Ameaças e oportunidade
A conservação dos grandes herbívoros e a restauração florestal promovida por eles, especialmente em florestas tropicais, representam desafios por uma série de ameaças que esses animais enfrentam pela ação do homem.
Segundo os pesquisadores, avanços nessa direção precisam considerar medidas de proteção às espécies.
“Manejo da paisagem eficaz, fiscalização e conservação visando a aumentar as populações desses animais e a facilitação da dispersão e movimentação entre remanescentes florestais são estratégicos. Além delas, vale pontuar, a necessidade de iniciativas de reintrodução e translocação desses animais, uma vez que grandes extensões de florestas maduras ricas em diversidade atualmente estão desprovidas desses animais, por conta da caça, do atropelamento e tantas outras ameaças”, pontuam.
Com base nos resultados, os pesquisadores destacam que a restauração ativa das florestas neotropicais com grandes herbívoros pode ser, de fato, a solução mais eficaz para melhorar o estado de conservação de muitas espécies de grandes herbívoros, contribuindo com a diversidade das florestas tropicais a longo prazo.
“Sugerimos que as medidas tenham início em florestas maduras e, em seguida, em florestas secundárias com altos níveis de diversidade”, apontam.
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Centenária árvore de Florianópolis citada no hino do município não é originária do Brasil, diz pesquisa

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Figueira da Praça XV é um dos principais cartões-postais da Capital de Santa Catarina. Ela foi identificada por pesquisadores da UFSC como sendo da espécie Ficus microcarpa. Árvore da Praça XV passa por processo de sequenciamento genético para descobrir origem
Tiago Ghizoni/NSC
A centenária figueira da Praça XV de Novembro, um dos cartões-postais de Florianópolis, localizada no Centro da cidade e citada inclusive no hino do município, não é originária do Brasil.
Por meio de sequenciamento genético, pesquisadores do laboratório de genética vegetal da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) descobriram que a árvore, na verdade, é natural de uma região entre Ásia tropical e Austrália. Ela foi identificada como sendo da espécie Ficus microcarpa.
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O professor de biotecnologia Valdir Stefenon, que conduziu o estudo, afirma que a descoberta resgata parte da história da cidade.
“Entendo que essa pesquisa revela uma importante face da ciência, ainda pouco conhecida, que é sua ligação com a história e a cultura”, disse.
Tema de lendas contadas há gerações pelos moradores de Florianópolis, a figueira foi plantada por volta de 1870 na área que atualmente abriga a escadaria da Catedral, também no centro da cidade. Cerca de 20 anos depois, em 1891, ela foi transplantada para a praça e desde então serviu de sombra aos viajantes, além de palco para festividades.  
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Árvore da Praça XV em Florianópolis
Tiago Ghizoni/NSC
Como foi feita a pesquisa
Para a descoberta, os pesquisadores coletaram partes pequenas da árvore quem contêm genomas de cloroplastos. A substância pode ser encontrada, por exemplo, nas folhas de plantas. A partir disso, o material foi colocado em um equipamento de alta tecnologia que identificou e mostrou o DNA da figueira da Praça XV.
Os pesquisadores, então, puderam comparar os dados da árvore da Capital com os de outras milhares espécies registradas em um banco de dados mundial.
“O DNA é sequenciado e cada uma das milhares de bases que o compõem são identificadas em fragmentos de tamanho variados. Esses fragmentos são, então, ordenados, como se estivéssemos montando um quebra-cabeças. Nesta etapa, o genoma nuclear, o genoma do cloroplasto e o genoma das mitocôndrias são separados em análises de bioinformática”, explica o professor.
Na planta, cada um desses genomas tem sua própria função:
Nuclear: principal deles. Encontrado em todas as suas células.
Cloroplasto: responsável pela cor verde e pela fotossíntese, processo pelo qual a planta produz seu próprio alimento. Está nas folhas.
Mitocôndria: estrutura da célula que transforma em energia o açúcar que a planta produz.
Sequenciamento genético da figueira
Caroline Borges/g1
Árvore será clonada
Além do trabalho de sequenciamento genético, os pesquisadores também desenvolvem uma pesquisa para clonagem da árvore. Usando filamentos mais novos da árvore, o processo vai ajudar a perpetuar as características genéticas da atual figueira.
Segundo Stefenon, os primeiros resultados são positivos:
“A clonagem de espécies arbóreas em laboratório é um processo complexo até o momento de se estabelecer os protocolos de trabalho. Por enquanto, conseguimos estabelecer dois clones no laboratório, os quais ainda estão pequenos”, revela.
Árvore da Praça 15 em Florianópolis
Tiago Ghizoni
Ações que envolvem diagnósticos fitossanitário e nutrição, por exemplo, também estão sendo realizadas para preservar a figueira. A previsão é que elas sejam concluídas no primeiro semestre deste ano.
A figueira, segundo o professor, tende a sofrer com a poluição dos carros e a menor interação com outras plantas e animais, por estar em um ambiente bastante urbanizado.
“Apesar disso, ela está bem e, com os tratamentos que foram realizados, ela tende a permanecer bela e imponente por muitos anos na Praça XV”, avalia.
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Marco temporal sobre terras indígenas: entenda o que dizia a tese derrubada pelo STF

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Julgamento começou em 2021, após recurso da Funai, e foi retomado em 21 de setembro de 2023. Dispositivo previa que indígenas poderiam reivindicar somente terras ocupadas por eles antes da Constituição de 1988, desconsiderando grupos já expulsos. Indígenas comemoram derrubada do marco temporal em Brasília
O Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou nesta quarta-feira (20), por 9 votos a 2, a aplicação da tese do marco temporal na demarcação de terras indígenas. A discussão colocou em lados opostos ruralistas e povos originários, que saíram vitoriosos na disputa.
O dispositivo previa que só poderiam ser demarcadas terras que já estavam ocupadas por indígenas em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição. Esse entendimento deriva de uma interpretação literal do artigo 231 da Constituição, que diz:
“São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.
A análise no STF começou em 26 de agosto de 2021, a partir de um recurso apresentado Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) contra o marco temporal. Nesta quarta, a pauta voltou ao plenário da Corte. O voto do ministro Luiz Fux consolidou a corrente segundo a qual o dispositivo fere a Constituição.
A demarcação de terras indígenas é um direito garantido pela Constituição Federal de 1988, que estabelece aos indígenas o chamado “direito originário” sobre as suas terras ancestrais. Isso quer dizer que eles são considerados, por lei, os primeiros e naturais donos do território, sendo obrigação da União demarcar todas as terras inicialmente ocupadas por esses povos.
👉 Esta reportagem abordará os seguintes assuntos:
Quem defendia e quem era contra o marco temporal
O impacto que teria para indígenas
Por que o caso foi parar no STF
Como votaram os ministros
Marco temporal no Congresso
STF retoma julgamento sobre marco temporal das terras indígenas
Carlos Moura/SCO/STF
1. Quem era contra e quem defendia a tese
❌ Indígenas eram contra o marco temporal. Eles afirmavam que a posse histórica de uma terra não necessariamente está vinculada ao fato de um povo originário ter ocupado determinada região antes de 5 de outubro de 1988. Segundo esse argumento, muitas comunidades são nômades, e outras tantas foram retiradas de suas terras pela ditadura militar.
❌ Para a organização não governamental (ONU) Instituto Socioambiental (ISA), a tese do marco temporal vinha sendo utilizada pelo governo Bolsonaro para travar demarcações e foi incluída em propostas legislativas anti-indígenas. Defensores da causa dos povos originários temiam que demarcações de terras já feitas fossem revogadas caso o STF validasse o dispositivo.
✔️Já proprietários rurais argumentavam que havia necessidade de se garantir segurança jurídica com relação ao tema e apontavam o risco de desapropriações caso a tese fosse derrubada.
✔️ Assim como os ruralistas, o ex-presidente Jair Bolsonaro era favorável à tese do marco temporal.
2. O impacto que poderia ter para indígenas
Análise: Os impactos socioambientais do Marco Temporal
Se a tese do marco temporal fosse aceita pelo STF, indígenas poderiam ser expulsos de terras ocupadas por eles, caso não comprovassem que estavam lá na data da promulgação da Constituição de 1988 e sem que fossem considerados os povos que já foram expulsos ou forçados a sair de seus locais de origem. Processos de demarcação de terras indígenas históricos, que se arrastavam por anos, poderiam ser suspensos.
O marco temporal também facilitaria que áreas que não deveriam ter titularidade, por pertencerem aos indígenas, protegendo física e culturalmente povos originários, pudessem ser privatizadas e comercializadas. A hipótese da comercialização respondia ao interesse do setor ruralista.
3. Por que o caso foi parar no STF

Veja, abaixo, a cronologia do julgamento:
Em 2013, o TRF-4 aceitou a tese do marco temporal ao conceder ao Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina a reintegração de posse de uma área que é parte da Reserva Biológica do Sassafrás, onde fica a Terra Indígena Ibirama LaKlãnõ. Na região, vivem os povos xokleng, guarani e kaingang.
A decisão do TRF-4 mantinha entendimento de 2009, de outra decisão da Justiça Federal em Santa Catarina.
Em 26 de agosto de 2021, o STF iniciou o julgamento de um recurso da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) que questionou a decisão do TRF-4. E o que fosse decidido pelos ministros da Corte criaria um entendimento que poderia ser aplicado em situações semelhantes em todo o Brasil.
Em 20 de setembro de 2023, o STF retomou o julgamento e derrubou a tese do marco temporal.
Após a decisão da Corte, o líder de povo Xokleng, Tucun Gakran comemorou:
“É a maior vitória dos indígenas desde quando o não indígena tomou as terras dos povos indígenas”
4. Como votaram os ministros
Votaram contra o marco temporal:
Edson Fachin (relator)
Alexandre de Moraes
Cristiano Zanin
Luís Roberto Barroso
Dias Toffoli
Luiz Fux
Cármen Lúcia
Gilmar Mendes
Rosa Weber
Dois ministros consideraram que o marco temporal deveria ser considerado no momento da demarcação de terras indígenas:
Nunes Marques
André Mendonça
5. Marco temporal no Congresso
Além do processo que corria no STF, um projeto entrou em tramitação no Congresso para tentar transformar a tese do marco temporal em lei. Trata-se do PL nº 490/2007, que determina que devem ter direito às terras consideradas ancestrais somente os povos que as estivessem ocupando no dia da promulgação da Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988.
A proposta do legislativo altera o “Estatuto do Índio” para permitir, segundo o texto, um “contrato de cooperação entre índios e não índios”, para que estes possam realizar atividades econômicas em terras indígenas. Além disso, a proposta prevê que não indígenas tenham contato com povos isolados “para intermediar ação estatal de utilidade pública”.
Veja, abaixo, a cronologia do PL:
Em 2007, o PL foi proposto na Câmara dos Deputados.
Em 2009, o texto foi rejeitado na Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
Em 2018, o PL acabou arquivado.
No entanto, ainda em 2018, a proposta foi ressuscitada durante a campanha eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro, que prometeu acabar com “reserva indígena no Brasil”.
Em 29 de junho de 2021, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, presidida pela deputada Bia Kicis (PSL-DF), entendeu que o texto do PL era constitucional.
Em 30 de maio de 2023, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto, por 283 votos a 155, com apoio público do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). Houve uma abstenção. O texto, então, foi para o Senado.
Em 20 de setembro de 2023, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado adiou a votação do PL. O adiamento ocorreu após a leitura do parecer favorável ao projeto, apresentado pelo senador Marcos Rogério (PL-RO), e atendeu a um pedido de vista (mais tempo para análise) coletivo de senadores da base aliada ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Governistas ainda tentaram postergar a análise com uma tentativa de convocar audiência pública para debater o tema, mas a base acabou derrotada por 15 votos a 8. Com isso, a votação do projeto está prevista para 27 de setembro de 2023, em data posterior à última atualização desta reportagem.

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Suíça fará doações ao Fundo Amazônia, anuncia representante do país europeu

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Conselheiro federal da Confederação Suíça, Guy Parmelin, deu a declaração durante um fórum sobre investimentos e sustentabilidade, realizado no Itamaraty. Ele não citou valores. Guy Parmelin, conselheiro da Suíça, durante declaração à imprensa, no Itamaraty
Reprodução/TV Globo
O conselheiro federal da Confederação Suíça, Guy Parmelin, afirmou nesta quarta-feira (5) que a Suíça passará a fazer doações para o Fundo Amazônia. Ele não citou valores dos aportes.
Parmelin fez o anúncio ao lado do vice-presidente Geraldo Alckmin, na sede do Ministério das Relações Exteriores. Os dois participaram do Fórum Brasil-Suíça de Investimentos e Inovação em Infraestrutura e Sustentabilidade.
“A partir de hoje, aprimoraremos nosso engajamento. Tenho o prazer de anunciar que a Suíça vai contribuir para o Fundo Amazônia. A primeira contribuição será nas próximas semanas. Queremos lançar essa parceira com o Brasil e outros países”, afirmou o representante do país europeu.
Criado em 2008, o Fundo Amazônia recebe doações majoritariamente da Noruega e também da Alemanha. Em 2019, primeiro ano da gestão Jair Bolsonaro, os países suspenderam os repasses e congelaram os valores para novos projetos, mantendo somente os pagamentos já programados.
Além de Suíça, Estados Unidos e Reino Unido já anunciaram que farão aportes ao fundo.
Em declaração à imprensa, Alckmin agradeceu pela iniciativa dos suíços. “Muito importante para a recuperação da nossa Floresta Amazônica, [gostaria de] destacar a boa parceria econômica e as oportunidades de investimentos”, afirmou o vice-presidente.
Alckmin disse também que o Brasil tem compromisso com o desenvolvimento sustentável e o combate ao desmatamento ilegal.
“As Forças Armadas, inclusive, estão presentes na Amazônia para retirar garimpeiros ilegais, invasores de áreas de preservação. Enfim, um trabalho grande na região”, declarou o vice-presidente.
Na mesma linha de Alckmin, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que o governo brasileiro lançará ainda em julho um novo plano de desenvolvimento para o país que terá como “pilar central” a transição energética.
“O Brasil tem desafios, problemas a superar, mas, ao mesmo tempo que temos desafios, esses desafios se apresentam como enormes oportunidades de investimento e parcerias”, afirmou o ministro.
Acordo Mercosul-EFTA
Durante os pronunciamentos desta quarta-feira, Alckmin e Parmelin citaram o acordo comercial negociado entre o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), da qual a Suíça faz parte.
Negociado desde 2017, o acordo com o grupo foi concluído em 2019, após dez rodadas de negociações. Ainda há, contudo, algumas pendências relativas a questões técnicas e, por isso, ainda não foi finalizado.
“Temos todo interesse em ampliar a abertura comercial e a possibilidade de investimentos recíprocos com a União Europeia e a EFTA. Com a União Europeia, o governo já está mais adiantado e estamos confiantes que chegaremos a bom termo. Com a EFTA, poderemos ter complementariedade econômica de investimentos que vão gerar emprego e renda”, disse Alckmin no fórum.
“O acordo Mercosul-EFTA é um instrumento-chave para reforçar ainda mais o potencial de cooperação entre nossos países”, acrescentou Guy Parmelin.
De acordo com a página oficial do Mercosul, o comércio entre o bloco e os países da EFTA gira em torno de US$ 7 bilhões anuais.

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