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As mudanças climáticas estão encolhendo os animais?

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Cientistas de todo o mundo detectaram que o tamanho do corpo de várias espécies está diminuindo. E esse fenômeno tem sido relacionado ao aquecimento global. Como regra geral, os animais tendem a ser menores em regiões mais quentes
Getty Images via BBC
A situação deles é emblemática para entender os efeitos das mudanças climáticas: as últimas décadas foram bastante difíceis para os ursos polares da Baía de Hudson Ocidental, no Canadá.
Animais estão sofrendo mudanças corporais por causa do aquecimento global
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A diminuição do gelo do mar Ártico, que é crucial para os ursos caçarem, contribuiu para um declínio acentuado da população da espécie na região.
Stephanie Penk, bióloga da ONG Polar Bear International, disse à BBC News que o número de ursos caiu de 1.200 indivíduos para 800 desde os anos 1980.
Mas Penk e outros pesquisadores também observaram que a população de ursos não é a única coisa que está diminuindo: os próprios ursos também estão menores.
As fêmeas ficaram mais magras e menores, perdendo em média 65 kg de peso e 5 centímetros de comprimento entre as décadas de 1980 e 2010. E isso provavelmente está reduzindo sua capacidade de criar filhotes.
Cientistas canadenses descobriram que o tamanho do urso polar diminuiu – e eles também estão tendo menos filhotes
Getty Images via BBC
“Vimos fêmeas com menos filhotes do que antes, e esses filhotes também são menores porque a mãe não tem tanta energia para dar a eles (na forma de leite)”, explica Penk.
“As taxas de reprodução já são baixas em populações saudáveis ​​de ursos polares, então mesmo uma pequena queda nas taxas já é algo importante.”
Mas os ursos polares não são os únicos animais que estão encolhendo.
Cientistas acreditam que o aumento das temperaturas no planeta está fazendo com que animais em todo o mundo diminuam de tamanho.
O fenômeno foi observado nas últimas décadas em centenas de espécies, de peixes a répteis, anfíbios, mamíferos e até insetos.
E a lista de espécies afetadas tem crescido.
Os especialistas temem que essas mudanças possam ter um impacto profundo nos ecossistemas e também afetar a humanidade.
Por que o tamanho é importante
Em suma, o tamanho do corpo é um fator chave na fertilidade, expectativa de vida e capacidade de sobreviver a eventos como a escassez de alimentos ou secas.
Os animais sempre se adaptaram às mudanças em seu ambiente, aumentando ou diminuindo de tamanho, algo que pode ser facilmente observado em fósseis, por exemplo.
Mas essas mudanças agora estão acontecendo muito rapidamente, segundo pesquisadores. Publicado em 2020, um estudo sobre uma espécie de salamandra que vive na Califórnia comprovou uma queda de 20% em sua condição corporal – uma relação de peso e comprimento – em apenas oito anos.
Esse ritmo de mudança pode afetar a capacidade dos animais de se alimentar ou se reproduzir e pode criar um efeito cascata em toda a cadeia alimentar mais ampla, especialmente se algumas criaturas forem mais afetadas do que outras.
Quais animais estão encolhendo?
Estudos científicos sobre o impacto das mudanças climáticas na vida selvagem observaram que elas podem afetar aspectos que vão desde onde certas espécies vivem até mudanças em momentos importantes na vida dos animais, como migração e nascimento.
Na última década, foram produzidas amplas pesquisas sobre o tamanho do corpo dos animais e sua possível ligação com o aumento da temperatura do planeta.
Uma revisão de vários trabalhos acadêmicos sobre o tema, publicada em 2020, analisou mais de 50 estudos sobre o assunto.
Um dos estudos mais conhecidos é a análise de mais de 70 mil pássaros mortos em colisões com janelas de vidro de Chicago, que fazem parte da coleção do Field Museum da cidade americana.
Os pesquisadores descobriram que, entre 1978 e 2016, o tamanho total de 52 espécies de pássaros diminuiu – o comprimento do osso da perna das aves, que é uma medida comum do tamanho do corpo, encolheu 2,4%.
Essa mudança coincidiu com um período de aumento das temperaturas não apenas na América, mas na Terra como um todo. A Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) afirma que a temperatura do nosso planeta aumentou 0,08º C por década desde 1880 e 0,18ºC por década desde 1981.
“Descobrimos que quase todas as espécies estavam diminuindo”, disse Brian Weeks, professor-assistente na escola de meio ambiente e sustentabilidade da Universidade de Michigan e principal autor do estudo sobre as aves.
Uma análise de pássaros mortos coletados em Chicago ao longo de quase 40 anos mostrou que o tamanho total de várias espécies diminuiu com o aumento das temperaturas
FIELD MUSEUM
“As espécies eram bastante diversas, mas estão respondendo (ao aquecimento) de forma semelhante. Descobrir desses dados foi chocante”, disse ele à BBC News.
Uma ampla gama de espécies
Evidências mais amplas de “redução” do tamanho dos animais foram fornecidas em 2012 por cientistas britânicos.
Uma equipe de pesquisadores da University of Liverpool e da Queen Mary University of London publicou uma análise de experimentos com 169 espécies de animais que vivem em terra ou na água.
A pesquisa descobriu que 90% deles atingiram a maturidade em tamanhos corporais menores quando as temperaturas eram mais altas.
“É um fenômeno generalizado”, explica David Atkinson, professor de ecologia integrativa da Universidade de Liverpool e um dos co-autores do estudo.
Outra análise de oito espécies de peixes no Mar do Norte mostrou que animais de seis delas experimentaram redução de tamanho no espaço de 39 anos, conforme a temperatura da água subiu desde a década de 1970.
Peixes e outros organismos aquáticos são uma importante fonte de alimento para bilhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
Mas essas mudanças no tamanho do corpo em meio ao aumento das temperaturas globais poderia ser uma simples coincidência?
O professor Atkinson explica que o declínio do tamanho do corpo é o que os cientistas chamam de “terceira resposta universal” ao aquecimento global, ao lado da mudança de eventos da vida da espécie e da extensão geográfica.
“Certamente mais pesquisas precisam ser feitas para analisar os efeitos da temperatura na natureza, mas o que vimos são sinais preocupantes”, disse o professor.
“Mudanças no tamanho do corpo podem afetar a sobrevivência individual e o sucesso reprodutivo, o que pode resultar em um impacto na estrutura e funcionamento dos ecossistemas.”
Como nem todos os animais estão ficando menores na mesma velocidade, a mudança poderia levar a um cenário em que os predadores precisam comer mais presas para satisfazer a fome, uma situação que seria exacerbada se a taxa de fertilidade dos animais que estão diminuindo de tamanho também caísse.
Temperatura e tamanhos dos animais
As diferenças no tamanho dos animais da mesma espécie têm sido observadas há muito tempo na natureza.
No século 19, o biólogo alemão Carl Bergmann descobriu que espécies de animais de sangue quente – principalmente pássaros e mamíferos, que são capazes de produzir calor dentro do corpo – tendem a ser maiores em tamanho nas regiões mais frias do que em lugares mais quentes.
Esse padrão, embora não seja universal, é conhecido na Zoologia como regra de Bergmann.
Em termos simples, indivíduos maiores são melhores em reter calor do que os menores.
Um efeito semelhante, conhecido como regra de temperatura e tamanho, foi observado em animais de sangue frio, como peixes, anfíbios e répteis.
Há outros fatores a serem levados em consideração, é claro – o tamanho do corpo de alguns animais parece ser mais sensível à vegetação e à qualidade dos alimentos do que à temperatura.
É claro que há exceções à regra geral: uma análise de 2011 de dezenas de espécies, feita por cientistas da Universidade de Cingapura e publicada na revista científica Nature Climate Change, detectou que alguns animais realmente cresceram em ambientes com temperaturas mais altas, mas quatro das cinco espécies analisadas registrou uma diminuição no tamanho.
“Muitos estudos estão corroborando essa tendência geral. À medida que mais pesquisas são publicadas dizendo a mesma coisa, precisamos entender por que essa tendência está acontecendo e o que significará para a sociedade”, escreveram os autores do estudo, os professores David Bickford e Janet Sheridan.
‘Encolhimento’ pré-histórico
Também há boas evidências de que a temperatura influenciou o tamanho dos animais por milhões de anos.
Cerca de 56 milhões de anos atrás, as temperaturas da Terra aumentaram até 8ºC no espaço de 10 mil anos, de acordo com dados paleoclimatológicos.
Os ossos de veado-vermelho na coleção do Museu de História Nacional do Reino Unido mostram variabilidade nos tamanhos dos corpos ao longo dos milênios
NHM
Fósseis de animais como o Sifrhippus, um antigo cavalo que vivia no que hoje é a região centro-oeste dos Estados Unidos, mostram que a espécie primeiro sofreu uma redução de 30% no tamanho do corpo e depois se recuperou, crescendo 76%. Os cientistas observaram o mesmo fenômeno em outras criaturas, como crustáceos.
Resultados semelhantes foram encontrados em estudos de animais terrestres que viveram no Reino Unido nos últimos 750 mil anos, realizados pelo Museu de História Nacional do Reino Unido. Os cientistas detectaram flutuação no tamanho dos ossos do veado-vermelho.
Esse “encolhimento” foi reversível em alguns casos. Pesquisadores da Universidade do Novo México, nos Estados Unidos, estudaram pelotas fecais fossilizadas de uma espécie de roedor, o rato de cauda espessa, e encontraram um “efeito sanfona”.
O tamanho do corpo dos ratos aumentou e diminuiu ao longo de 25 mil anos, em linha com os aumentos e diminuições da temperatura.
“O tamanho do corpo diminuiu durante os períodos de aquecimento climático, conforme previsto pela regra de Bergmann e pelas respostas fisiológicas ao estresse térmico”, concluíram os pesquisadores.
Muitas espécies provaram ser notavelmente resistentes às mudanças climáticas no passado, mas há temores de que, em contraste com eras anteriores, as mudanças climáticas causadas pelo homem estão aquecendo a Terra a uma taxa que significaria que qualquer perda de peso corporal não será facilmente recuperada.
VÍDEOS: Meio ambiente e natureza

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Centenária árvore de Florianópolis citada no hino do município não é originária do Brasil, diz pesquisa

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Figueira da Praça XV é um dos principais cartões-postais da Capital de Santa Catarina. Ela foi identificada por pesquisadores da UFSC como sendo da espécie Ficus microcarpa. Árvore da Praça XV passa por processo de sequenciamento genético para descobrir origem
Tiago Ghizoni/NSC
A centenária figueira da Praça XV de Novembro, um dos cartões-postais de Florianópolis, localizada no Centro da cidade e citada inclusive no hino do município, não é originária do Brasil.
Por meio de sequenciamento genético, pesquisadores do laboratório de genética vegetal da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) descobriram que a árvore, na verdade, é natural de uma região entre Ásia tropical e Austrália. Ela foi identificada como sendo da espécie Ficus microcarpa.
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O professor de biotecnologia Valdir Stefenon, que conduziu o estudo, afirma que a descoberta resgata parte da história da cidade.
“Entendo que essa pesquisa revela uma importante face da ciência, ainda pouco conhecida, que é sua ligação com a história e a cultura”, disse.
Tema de lendas contadas há gerações pelos moradores de Florianópolis, a figueira foi plantada por volta de 1870 na área que atualmente abriga a escadaria da Catedral, também no centro da cidade. Cerca de 20 anos depois, em 1891, ela foi transplantada para a praça e desde então serviu de sombra aos viajantes, além de palco para festividades.  
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Árvore da Praça XV em Florianópolis
Tiago Ghizoni/NSC
Como foi feita a pesquisa
Para a descoberta, os pesquisadores coletaram partes pequenas da árvore quem contêm genomas de cloroplastos. A substância pode ser encontrada, por exemplo, nas folhas de plantas. A partir disso, o material foi colocado em um equipamento de alta tecnologia que identificou e mostrou o DNA da figueira da Praça XV.
Os pesquisadores, então, puderam comparar os dados da árvore da Capital com os de outras milhares espécies registradas em um banco de dados mundial.
“O DNA é sequenciado e cada uma das milhares de bases que o compõem são identificadas em fragmentos de tamanho variados. Esses fragmentos são, então, ordenados, como se estivéssemos montando um quebra-cabeças. Nesta etapa, o genoma nuclear, o genoma do cloroplasto e o genoma das mitocôndrias são separados em análises de bioinformática”, explica o professor.
Na planta, cada um desses genomas tem sua própria função:
Nuclear: principal deles. Encontrado em todas as suas células.
Cloroplasto: responsável pela cor verde e pela fotossíntese, processo pelo qual a planta produz seu próprio alimento. Está nas folhas.
Mitocôndria: estrutura da célula que transforma em energia o açúcar que a planta produz.
Sequenciamento genético da figueira
Caroline Borges/g1
Árvore será clonada
Além do trabalho de sequenciamento genético, os pesquisadores também desenvolvem uma pesquisa para clonagem da árvore. Usando filamentos mais novos da árvore, o processo vai ajudar a perpetuar as características genéticas da atual figueira.
Segundo Stefenon, os primeiros resultados são positivos:
“A clonagem de espécies arbóreas em laboratório é um processo complexo até o momento de se estabelecer os protocolos de trabalho. Por enquanto, conseguimos estabelecer dois clones no laboratório, os quais ainda estão pequenos”, revela.
Árvore da Praça 15 em Florianópolis
Tiago Ghizoni
Ações que envolvem diagnósticos fitossanitário e nutrição, por exemplo, também estão sendo realizadas para preservar a figueira. A previsão é que elas sejam concluídas no primeiro semestre deste ano.
A figueira, segundo o professor, tende a sofrer com a poluição dos carros e a menor interação com outras plantas e animais, por estar em um ambiente bastante urbanizado.
“Apesar disso, ela está bem e, com os tratamentos que foram realizados, ela tende a permanecer bela e imponente por muitos anos na Praça XV”, avalia.
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Marco temporal sobre terras indígenas: entenda o que dizia a tese derrubada pelo STF

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Julgamento começou em 2021, após recurso da Funai, e foi retomado em 21 de setembro de 2023. Dispositivo previa que indígenas poderiam reivindicar somente terras ocupadas por eles antes da Constituição de 1988, desconsiderando grupos já expulsos. Indígenas comemoram derrubada do marco temporal em Brasília
O Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou nesta quarta-feira (20), por 9 votos a 2, a aplicação da tese do marco temporal na demarcação de terras indígenas. A discussão colocou em lados opostos ruralistas e povos originários, que saíram vitoriosos na disputa.
O dispositivo previa que só poderiam ser demarcadas terras que já estavam ocupadas por indígenas em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição. Esse entendimento deriva de uma interpretação literal do artigo 231 da Constituição, que diz:
“São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.
A análise no STF começou em 26 de agosto de 2021, a partir de um recurso apresentado Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) contra o marco temporal. Nesta quarta, a pauta voltou ao plenário da Corte. O voto do ministro Luiz Fux consolidou a corrente segundo a qual o dispositivo fere a Constituição.
A demarcação de terras indígenas é um direito garantido pela Constituição Federal de 1988, que estabelece aos indígenas o chamado “direito originário” sobre as suas terras ancestrais. Isso quer dizer que eles são considerados, por lei, os primeiros e naturais donos do território, sendo obrigação da União demarcar todas as terras inicialmente ocupadas por esses povos.
👉 Esta reportagem abordará os seguintes assuntos:
Quem defendia e quem era contra o marco temporal
O impacto que teria para indígenas
Por que o caso foi parar no STF
Como votaram os ministros
Marco temporal no Congresso
STF retoma julgamento sobre marco temporal das terras indígenas
Carlos Moura/SCO/STF
1. Quem era contra e quem defendia a tese
❌ Indígenas eram contra o marco temporal. Eles afirmavam que a posse histórica de uma terra não necessariamente está vinculada ao fato de um povo originário ter ocupado determinada região antes de 5 de outubro de 1988. Segundo esse argumento, muitas comunidades são nômades, e outras tantas foram retiradas de suas terras pela ditadura militar.
❌ Para a organização não governamental (ONU) Instituto Socioambiental (ISA), a tese do marco temporal vinha sendo utilizada pelo governo Bolsonaro para travar demarcações e foi incluída em propostas legislativas anti-indígenas. Defensores da causa dos povos originários temiam que demarcações de terras já feitas fossem revogadas caso o STF validasse o dispositivo.
✔️Já proprietários rurais argumentavam que havia necessidade de se garantir segurança jurídica com relação ao tema e apontavam o risco de desapropriações caso a tese fosse derrubada.
✔️ Assim como os ruralistas, o ex-presidente Jair Bolsonaro era favorável à tese do marco temporal.
2. O impacto que poderia ter para indígenas
Análise: Os impactos socioambientais do Marco Temporal
Se a tese do marco temporal fosse aceita pelo STF, indígenas poderiam ser expulsos de terras ocupadas por eles, caso não comprovassem que estavam lá na data da promulgação da Constituição de 1988 e sem que fossem considerados os povos que já foram expulsos ou forçados a sair de seus locais de origem. Processos de demarcação de terras indígenas históricos, que se arrastavam por anos, poderiam ser suspensos.
O marco temporal também facilitaria que áreas que não deveriam ter titularidade, por pertencerem aos indígenas, protegendo física e culturalmente povos originários, pudessem ser privatizadas e comercializadas. A hipótese da comercialização respondia ao interesse do setor ruralista.
3. Por que o caso foi parar no STF

Veja, abaixo, a cronologia do julgamento:
Em 2013, o TRF-4 aceitou a tese do marco temporal ao conceder ao Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina a reintegração de posse de uma área que é parte da Reserva Biológica do Sassafrás, onde fica a Terra Indígena Ibirama LaKlãnõ. Na região, vivem os povos xokleng, guarani e kaingang.
A decisão do TRF-4 mantinha entendimento de 2009, de outra decisão da Justiça Federal em Santa Catarina.
Em 26 de agosto de 2021, o STF iniciou o julgamento de um recurso da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) que questionou a decisão do TRF-4. E o que fosse decidido pelos ministros da Corte criaria um entendimento que poderia ser aplicado em situações semelhantes em todo o Brasil.
Em 20 de setembro de 2023, o STF retomou o julgamento e derrubou a tese do marco temporal.
Após a decisão da Corte, o líder de povo Xokleng, Tucun Gakran comemorou:
“É a maior vitória dos indígenas desde quando o não indígena tomou as terras dos povos indígenas”
4. Como votaram os ministros
Votaram contra o marco temporal:
Edson Fachin (relator)
Alexandre de Moraes
Cristiano Zanin
Luís Roberto Barroso
Dias Toffoli
Luiz Fux
Cármen Lúcia
Gilmar Mendes
Rosa Weber
Dois ministros consideraram que o marco temporal deveria ser considerado no momento da demarcação de terras indígenas:
Nunes Marques
André Mendonça
5. Marco temporal no Congresso
Além do processo que corria no STF, um projeto entrou em tramitação no Congresso para tentar transformar a tese do marco temporal em lei. Trata-se do PL nº 490/2007, que determina que devem ter direito às terras consideradas ancestrais somente os povos que as estivessem ocupando no dia da promulgação da Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988.
A proposta do legislativo altera o “Estatuto do Índio” para permitir, segundo o texto, um “contrato de cooperação entre índios e não índios”, para que estes possam realizar atividades econômicas em terras indígenas. Além disso, a proposta prevê que não indígenas tenham contato com povos isolados “para intermediar ação estatal de utilidade pública”.
Veja, abaixo, a cronologia do PL:
Em 2007, o PL foi proposto na Câmara dos Deputados.
Em 2009, o texto foi rejeitado na Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
Em 2018, o PL acabou arquivado.
No entanto, ainda em 2018, a proposta foi ressuscitada durante a campanha eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro, que prometeu acabar com “reserva indígena no Brasil”.
Em 29 de junho de 2021, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, presidida pela deputada Bia Kicis (PSL-DF), entendeu que o texto do PL era constitucional.
Em 30 de maio de 2023, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto, por 283 votos a 155, com apoio público do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). Houve uma abstenção. O texto, então, foi para o Senado.
Em 20 de setembro de 2023, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado adiou a votação do PL. O adiamento ocorreu após a leitura do parecer favorável ao projeto, apresentado pelo senador Marcos Rogério (PL-RO), e atendeu a um pedido de vista (mais tempo para análise) coletivo de senadores da base aliada ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Governistas ainda tentaram postergar a análise com uma tentativa de convocar audiência pública para debater o tema, mas a base acabou derrotada por 15 votos a 8. Com isso, a votação do projeto está prevista para 27 de setembro de 2023, em data posterior à última atualização desta reportagem.

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Suíça fará doações ao Fundo Amazônia, anuncia representante do país europeu

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Conselheiro federal da Confederação Suíça, Guy Parmelin, deu a declaração durante um fórum sobre investimentos e sustentabilidade, realizado no Itamaraty. Ele não citou valores. Guy Parmelin, conselheiro da Suíça, durante declaração à imprensa, no Itamaraty
Reprodução/TV Globo
O conselheiro federal da Confederação Suíça, Guy Parmelin, afirmou nesta quarta-feira (5) que a Suíça passará a fazer doações para o Fundo Amazônia. Ele não citou valores dos aportes.
Parmelin fez o anúncio ao lado do vice-presidente Geraldo Alckmin, na sede do Ministério das Relações Exteriores. Os dois participaram do Fórum Brasil-Suíça de Investimentos e Inovação em Infraestrutura e Sustentabilidade.
“A partir de hoje, aprimoraremos nosso engajamento. Tenho o prazer de anunciar que a Suíça vai contribuir para o Fundo Amazônia. A primeira contribuição será nas próximas semanas. Queremos lançar essa parceira com o Brasil e outros países”, afirmou o representante do país europeu.
Criado em 2008, o Fundo Amazônia recebe doações majoritariamente da Noruega e também da Alemanha. Em 2019, primeiro ano da gestão Jair Bolsonaro, os países suspenderam os repasses e congelaram os valores para novos projetos, mantendo somente os pagamentos já programados.
Além de Suíça, Estados Unidos e Reino Unido já anunciaram que farão aportes ao fundo.
Em declaração à imprensa, Alckmin agradeceu pela iniciativa dos suíços. “Muito importante para a recuperação da nossa Floresta Amazônica, [gostaria de] destacar a boa parceria econômica e as oportunidades de investimentos”, afirmou o vice-presidente.
Alckmin disse também que o Brasil tem compromisso com o desenvolvimento sustentável e o combate ao desmatamento ilegal.
“As Forças Armadas, inclusive, estão presentes na Amazônia para retirar garimpeiros ilegais, invasores de áreas de preservação. Enfim, um trabalho grande na região”, declarou o vice-presidente.
Na mesma linha de Alckmin, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que o governo brasileiro lançará ainda em julho um novo plano de desenvolvimento para o país que terá como “pilar central” a transição energética.
“O Brasil tem desafios, problemas a superar, mas, ao mesmo tempo que temos desafios, esses desafios se apresentam como enormes oportunidades de investimento e parcerias”, afirmou o ministro.
Acordo Mercosul-EFTA
Durante os pronunciamentos desta quarta-feira, Alckmin e Parmelin citaram o acordo comercial negociado entre o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), da qual a Suíça faz parte.
Negociado desde 2017, o acordo com o grupo foi concluído em 2019, após dez rodadas de negociações. Ainda há, contudo, algumas pendências relativas a questões técnicas e, por isso, ainda não foi finalizado.
“Temos todo interesse em ampliar a abertura comercial e a possibilidade de investimentos recíprocos com a União Europeia e a EFTA. Com a União Europeia, o governo já está mais adiantado e estamos confiantes que chegaremos a bom termo. Com a EFTA, poderemos ter complementariedade econômica de investimentos que vão gerar emprego e renda”, disse Alckmin no fórum.
“O acordo Mercosul-EFTA é um instrumento-chave para reforçar ainda mais o potencial de cooperação entre nossos países”, acrescentou Guy Parmelin.
De acordo com a página oficial do Mercosul, o comércio entre o bloco e os países da EFTA gira em torno de US$ 7 bilhões anuais.

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