‘É um disco mais cru para celebrar a vida’, diz ao lançar ‘Um Gosto de Sol’. Músicas de Alcione, João Gilberto, Fiona Apple e Jimi Hendrix também estão no repertório. Céu fala sobre ‘Um Gosto de Sol’, seu primeiro álbum de intérprete
Depois da atmosfera noturna e eletrônica de “Apká”, álbum de 2019, Céu apostou em uma estética mais solar e orgânica em “Um Gosto de Sol”, álbum que lança nesta sexta (12).
A vontade de trazer luz e esperança está alinhada aos últimos meses difíceis em que a pandemia de Covid-19 causou mais de 600 mil mortes só no Brasil. Assista no vídeo acima.
Acostumada a uma rotina agitada de shows e turnês, Céu voltou-se para a música e para memória afetiva durante os meses em casa com os filhos e o marido Pupillo, produtor do álbum. Esse movimento recorrente entre público e artistas já foi explicado pelo g1.
“Ouvi grandes ídolos, ouvi grandes canções, foi uma maneira de me manter aquecida e acesa. Meu desejo era cantar músicas que me trouxessem significados e que mostrassem as minhas camadas múltiplas para as pessoas”, afirma Céu.
“Não estava me sentindo inspirada para compor, mas estava com vontade de cantar, estava com vontade de recorrer aos meus ídolos e, de repente, pronto, tinha um álbum possível a ser feito”.
“É um disco mais cru mesmo para celebrar a vida, bem simples assim. Na verdade, simples pero no mucho. A produção é rebuscada, mas dentro de um lugar mais orgânico”, continua.
Céu lança ‘Um Gosto de Sol’
Divulgação/Cássia Tabatini
Céu dedica muitas canções ao samba, gênero presente em suas músicas autorais desde a estreia em 2008. “Ao Romper da Aurora”, gravada por Ismael Silva em 1957, é a primeira faixa e define o tom do álbum.
“É um samba que, pra mim, tem um respiro de esperança, de novas auroras que é isso que o mundo está precisando agora: batalhar por essa nova aurora”.
O objetivo de mostrar as referências que a definem como cantora passa por escolhas mais óbvias, como Rita Lee, em “Chega Mais”, mas outras surpreendentes como “Deixa Acontecer”, clássico do grupo Revelação gravado em 2001.
“Sabia que ninguém sabia que eu gosto de pagode, de Revelação. Fui uma adolescente nos anos 90, quando o pagode estourou, cantei muito, dancei, tomei muita cerveja (ri ). Queria trazer esses aspectos múltiplos dessa pessoa”, explica.
Ela divide a faixa que ganhou versão reggae com Emicida. “A gente escolheu algo muito em comum e o Leandro [nome de batismo do rapper] pirou. Foi muito interessante porque senti ele cantando de uma forma diferente. Quando ouvi, fiquei arrepiada”.
Outra participação é de Russo Passapusso, vocalista do Baiana System, nos vocais de “Teimosa”, samba de Antonio Carlos e Jocafi.
Busca por um violão com personalidade
Lucas Martins, Andreas Kisser, Céu e Pupillo nos bastidores da gravação do álbum ‘Um Gosto de Sol’
Reprodução/Instagram/Céu
Com vontade de chegar a uma sonoridade mais orgânica, Céu buscava um violão com uma personalidade “diferente” para ser protagonista do álbum Ela não sabia quem faria até assistir a um vídeo de Andreas Kisser.
O guitarrista do Sepultura tocava um chorinho com o filho, e, de repente, o convite ousado parecia ser tudo que a cantora e Pupillo precisavam para “Um Gosto de Sol”.
Andreas não só topou, como aprendeu a tocar de violão de sete cordas para gravar as 14 faixas, instrumento que, de fato, se tornou o fio condutor do álbum.
“Ele tomou como um projeto de vida mesmo. É um baita violonista, não apenas um baita guitarrista do metal”, diz.
Além de Andreas e Pupillo, Lucas Martins gravou o baixo e sintetizadores, Hervé Salters e Rodrigo Tavares gravaram teclados e o maestro Jota Morais, vibrafone.
Cafonice, polêmicas e amor pelas músicas
Céu queria criar um atmosfera solar em álbum que canta Milton Nascimento, Rita Lee e Revelação
Divulgação/Cássia Tabatini
Sade, Jimi Hendrix, Fiona Apple e Beastie Boys também foram artistas gravados por Céu nesse “pequeno recorte” de referências, expressão que usa para descrever o álbum.
“Feelings”, balada romântica do brasileiro Morris Albert que foi condenado por plágio em um tribunal de Nova York pela música, foi uma das escolhas mais polêmicas, segundo a cantora.
“É uma música que a gente ama, mas, às vezes, a gente odeia. Ela tem uma coisa cafonona, meio de karaokê. No começo, pensei ‘não vou gravar, todo mundo já gravou’, mas o Pupillo e o Marcus Preto me convenceram, porque eu sou assim, sabe?”.
Até hoje, Maurício Alberto Kaisermann é o brasileiro que ficou mais tempo nas paradas internacionais por conta da música, que já foi gravada por Nina Simone, Caetano Veloso e até Offspring.
Vira e mexe Céu fala sobre a ousadia de gravar grandes artistas ou clássicos, mas a ideia de revisitar repertórios não é exatamente nova em sua carreira.
Em 2014, a cantora paulistana fez uma turnê cantando “Catch a Fire”, clássico álbum de Bob Marley and The Wailers, e recentemente gravou “Nada Será como Antes”, do Milton Nascimento, para um projeto da Amazon Music.
“Eu simplesmente gosto das músicas e quero cantar. É do lugar mais simples possível, de uma apaixonada por música. Essa minha audácia vem muito desse lugar”.
Novo show só em 2022
Céu no show ‘APKÁ!’ em dezembro de 2019
Michelle Castilho / Divulgação Circo Voador
O próximo show de Céu em São Paulo vai ser na reabertura do Studio Sp, tradicional casa de shows no Baixo Augusta que passou oito anos fechada, na sexta (19). O repertório, no entanto, não vai ser de “Um Gosto de Sol”.
“Vai ser meu show de autoral, de sucessos. A gente navegando em todo repertório já feito. É como se fosse o ‘Apká’ reloaded”, define.
Haverá uma apresentação extra no domingo (21), mas os ingressos para os dois dias estão esgotados. O novo show estreia apenas no ano que vem, mas a data não foi definida ainda.
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