Connect with us

Festas e Rodeios

‘A Outra Garota Negra’ discute pouca presença de negros na escrita: ‘É muito injusto’

Published

on

Misturando suspense com ficção científica, estreia de Zakiya Dalila Harris chega ao Brasil com reflexões sobre racismo. Autora fala ao g1 sobre dificuldades de publicação para autores negros. Zakiya Dalila Harris, autora de ‘A Outra Garota Negra’, recém-lançado no Brasil pela Intrínseca
Nicole Mondestin via Intrínseca
Jovem, inteligente, com ensino superior, e… a única pessoa negra na empresa: essa é a situação da protagonista Nella Rogers no início de “A Outra Garota Negra” (Intrínseca), da americana Zakiya Dalila Harris.
Para a revista “Time”, a BBC, o “The Washington Post”, ele é “o livro mais aguardado de 2021”. Outro sinal de prestígio foi ele ter sido disputado por 14 editoras nos Estados Unidos e 9 no Reino Unido. Ah, também está prevista uma adaptação para a TV…
Quando conhecemos Nella, ela trabalha há dois anos como assistente em uma editora de renome em Nova York – onde tenta, sem sucesso, iniciar atividades de conscientização e diversidade racial, emplacar autores negros, combater construções racistas de personagens e convencer sua chefe de que é boa o suficiente para ser promovida.
A história de Nella é inspirada na da própria Harris. Ela deixou o emprego em uma subsidiária da Penguin Random House – a maior editora de livros de bolso de interesse geral do mundo – para escrever o livro. (Que, aliás, acabou não indo para sua antiga empresa).
Em entrevista ao g1, a autora explica que chegou a pensar em mudar o cenário da trama. Quando começou a escrevê-la, ainda trabalhava na editora – por isso, era mais fácil falar do que ela mesma vivia e conhecia tão bem.
“É como um culto, eu gosto de dizer. [A indústria da] publicação, mas também outras empresas. Quando você meio que sai e olha, você fica, tipo, ‘espera, por que estamos aceitando o fato de que ainda há apenas uma pessoa negra aqui?”, diz Harris.
Dia da Consciência Negra: 10 expressões do português de origem racista
No caso de Nella – Harris afirma que, na realidade, sua situação não era tão ruim –, as coisas começam a mudar quando uma nova funcionária negra é contratada: Hazel, que parece ser tudo o que Nella não é. Bem-vestida, apesar do salário baixo; desinibida, ainda que esteja acabando de começar no emprego; e, acima de tudo, mais querida pelos chefes.
Animada para começar uma amizade com a nova colega, a protagonista logo descobre que, talvez, Hazel não seja tão legal assim – e que, talvez, esteja escondendo alguma coisa. (Sem spoilers).
Capa de ‘A Outra Garota Negra’, de Zakiya Dalila Harris
Reprodução/Intrínseca
Para chegar a esse ponto na trama, entretanto, o leitor precisa passar por diálogos emperrados – e quase sempre desnecessários – e que pouco contam sobre os personagens além de Nella.
Quase nada se descobre sobre a melhor amiga da protagonista, por exemplo. Aliás, ela parece mais interessante do que ela própria. Seu namorado poderia não existir na trama, porque não faz diferença. Ambos existem para que Nella tenha a quem contar sobre seus problemas no trabalho e companhia para ir a lugares importantes para descobrir o que Hazel esconde.
‘Contra o feminismo branco’: entenda por que escritora diz que é preciso ‘extirpar branquitude’ do movimento feminista
A resolução da história, que envolve um elemento de ficção científica, não convence: introduzido tarde demais na trama, é como se começássemos a ler um novo livro, com mais personagens, novos detalhes e contextos. Apesar da ideia original, a execução não é boa.
‘Onde vocês estavam antes?’
Apesar das ressalvas, Harris traz reflexões importantes sobre racismo – especialmente sobre como a inexistência de pessoas negras em determinados ambientes profissionais é vista com naturalidade (pelos não negros, é claro).
Confira, abaixo, um trecho em que isso aparece – uma fala de Hazel:
“É realmente muito injusto. Os brancos nunca precisam ser tão superconscientes de si mesmos como nós precisamos. Quando entram em uma sala, não têm que analisar as pessoas presentes, procurar semelhantes. Não precisam se preocupar em ter que representar as não sei quantas milhões de perspectivas negras que existem neste país só porque os responsáveis pelas contratações tiveram preguiça de trazer outras. (…) Você sabe como é, né? (…). A maior parte do tempo, nem penso nessas coisas (…). Não conscientemente. Mas esse estresse, essa ansiedade… esse peso por trás de tudo… ele existe. Sabe?”
Ao g1, a autora conta que foi estranho ver seu livro sendo tão disputado, pois, quando trabalhou no mundo da publicação, eram constantes os questionamentos sobre o “público” que livros escritos por minorias teriam.
“É estranho, porque todos querem o livro, e todo mundo diz, ‘esse livro é tão bom, eu me vejo nesse livro’, pessoas brancas na indústria. Mas também é, tipo, ‘por que nada é diferente, então? Se estamos todos de acordo?’”, pergunta.
‘A maior parte das livrarias não tem livros que nos representam’, diz criadora de espaço dedicado a autores negros em BH
Ela questiona, por exemplo, a motivação por trás da aprovação sobre “A Outra Garota Negra”.
“Você realmente vê esse livro pelo que é ou é, também, um pouco do fato de que as pessoas vão querer ler? Então eu acho que esse tipo de esquisitice em ser uma pessoa criativa e autora de cor é algo com que muitos de nós lidamos: ok, você gosta da história, mas o quanto você está realmente levando a sério? Isso é muito estranho.”
Questionada se acha que essa “mudança” de postura teria a ver com interesse literário ou apenas com o dinheiro que livros escritos por pessoas negras podem trazer às editoras, ela diz que sua opinião “depende do dia” e de “como se sente sobre o mundo”.
“No ano passado, com tudo acontecendo – em todo mundo, mas especialmente aqui, eu moro no Brooklyn e fui muito a protestos, me sentindo realmente sem esperança sobre tudo –, eu tinha acabado de vender o livro, tinha edições a caminho. Sabia que no ano seguinte o livro sairia – mas, especialmente naquela onda do Twitter sobre o Black Lives Matter [Vidas Negras Importam], todos estavam de repente apoiando a causa, foi maravilhoso, mas também foi: onde vocês estavam antes? Não é a primeira vez que isso está acontecendo. E provavelmente não será a última, infelizmente”, pondera.
Black Lives Matter: ‘Quando pintamos, a energia era de caos’, diz artista sobre painel
Negros têm 4 vezes mais chance de sofrer violência policial do que brancos nas abordagens
“Eu meio que vou e volto. No entanto, eu acredito, no fim, que apesar de eu meio que odiar mídias sociais, tenho sentimentos complicados sobre elas – editores percebem que, por bem ou por mal, nós lemos. Pessoas negras leem. E eles querem entrar nesse mercado.”
O que muda, diz Harris, é quais histórias os editores querem publicar.
“Tem as histórias tristes – que são muito importantes, obviamente, sobre as dificuldades de ser negro na América e além. Mas também existem histórias de romance e ficção científica que não estão recebendo tanto amor. Quer dizer, este livro não é romance e não é ficção científica em si, mas tem alguns gêneros diferentes e não se encaixa em uma caixa”, opina.
“Espero que isso seja um sinal de que editores vão começar a ir atrás de coisas que não sejam só a história de ser negro de uma maneira mais didática – que, novamente, é muito importante, mas não é a única experiência que temos”, conclui.

Continue Reading
Click to comment

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Festas e Rodeios

Rock in Rio tem sábado só com atrações brasileiras e estreia de sertanejo; veja como será o 6º dia

Published

on

By

‘Dia Brasil’ foi inspirado em ‘We are the world’, de 1985, ano de surgimento do festival e data que é celebração desta edição; veja VÍDEO.
Rock in Rio 2024: o melhor do dia 21
O Rock in Rio 2024 deste sábado (21) tem uma programação voltada exclusivamente à música nacional. É o Dia Brasil. Vão se apresentar artistas de sertanejo, samba, MPB, bossa nova, música clássica, rap, trap e pop.
Rock in Rio 2024: tire suas dúvidas sobre ingresso no celular, itens proibidos, serviços e transporte
É também neste sábado que acontece a estreia do sertanejo no festival. Pela primeira vez em 40 anos, o gênero tomará os palcos do Rock in Rio, com os artistas Chitãozinho e Xororó, Ana Castela, Luan Santana, Simone Mendes e Junior.
Os shows do Dia Brasil serão divididos por gênero musical, e cada um reunirá vários músicos.
Ana Castela na Festa do Peão de Americana
Julio Cesar Costa/g1
40 anos de festival
A edição que comemora os 40 anos do Rock in Rio segue até o dia 22 de setembro, na Cidade do Rock, zona oeste do Rio de Janeiro. No primeiro fim de semana, subiram ao palco Travis Scott, Imagine Dragons, Evanescence e Avenged Sevenfold. Katy Perry, Karol G, Mariah Carey, Akon, Shawn Mendes estão entre as atrações que ainda vão se apresentar.
Ainda há ingressos disponíveis para o dia 21 de setembro. As entradas estão à venda no site do evento.
Qual o line-up do Rock in Rio?
21 de setembro (sábado)
Palco Mundo
15h30 – Para sempre Trap, com Cabelinho, Filipe Ret, Kayblack, Matuê, Orochi, Ryan SP, Veigh
18h30 – Para sempre MPB, com Baianasystem, Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Majur, Margareth Menezes, Ney Matogrosso e Gaby Amarantos
21h10 – Para sempre Sertanejo, com Chitãozinho e Xororó, Orquestra Heliópolis, Ana Castela, Júnior, Luan Santana e Simone Mendes
0h10 – Para sempre Rock, com Capital Inicial, Detonautas, NX Zero, Pitty, Rogério Flausino, Toni Garrido
Palco Sunset
16h55 – Para sempre Rap, com Criolo, Djonga, Karol Conká, Marcelo D2, Rael
19h45 – Para sempre Samba, com Zeca Pagodinho, Alcione, Diogo Nogueira, Jorge Aragão, Maria Rita e Xande de Pilares
22h35 – Para sempre Pop, com Duda Beat, Gloria Groove, Jão, Ludmilla, Luísa Sonza, Lulu Santos
Palco New Dance Order
22h – Para sempre Eletrônica, com Mochakk, Beltran X Classmatic, Eli Iwasa X Ratier, Maz X Antdot
Palco Espaço Favela
15h – Para sempre favela é Terra Indígena, com Kaê Guajajara convida Totonete e o grupo Dance Maré
17h – Para sempre Música Clássica, com Nathan Amaral, Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem
18h40 – Para sempre Baile de Favela, com Buchecha, Cidinho e Doca, Funk Orquestra, MC Carol, MC Kevin o Chris, Tati Quebra Barraco
20h40 – Para sempre Funk, com Livinho, Mc Don Juan, MC Dricka, MC Hariel, MC IG, MC PH
Palco Global Village
15h – Para sempre Jazz, com Antônio Adolfo, Joabe Reis, Joantahn Ferr e Leo Gandelman
17h – Para sempre Soul, com banda Black Rio, Cláudio Zoli, Hyldon
18h40 – Para sempre Bossa Nova, com Bossacucanova e Cris Delanno, Leila Pinheiro, Roberto Menescal, Wanda Sá
20h40 – Para Sempre Futuro Ancestral, com Gang do Eletro e Suraras do Tapajós
Palco Supernova
14h30 – Autoramas
16h – Vanguart
18h – Chico Chico
20h – Jean Tassy
22 de setembro (domingo)
Palco Mundo
16h40 – Luísa Sonza
19h – Ne-Yo
21h20 – Akon
0h – Shawn Mendes
Palco Sunset
15h30 – Homenagem a Alcione com Orquestra Sinfônica Brasileira, Diogo Nogueira, Mart’nália, Majur, Péricles, Maria Rita e Alcione
17h50 – Olodumbaiana
20h10 – Ney Matogrosso
22h45 – Mariah Carey
Palco New Dance Order
22h – Dubdogz
23h30 – Jetlag
1h – Bhaskar
2h30 – Kaskade
Palco Espaço Favela
16h – Luiz Otávio
19h – Livinho
21h – Belo
Palco Global Village
15h30 – Lia de Itamaracá
17h30 – Almério e Martins
19h15 – Angélique Kidjo
Palco Supernova
15h – LZ da França
17h – Gabriel Froede
18h30 – Zaynara
20h30 – DJ Topo

Continue Reading

Festas e Rodeios

Fãs voltam à época das discotecas e realizam sonho juvenil com show de Cyndi Lauper no Rock in Rio

Published

on

By

Dupla de amigas esteve no 1° Rock in Rio para ver Freddie Mercury e retornou para ver Cyndi Lauper. Fãs voltam à época das discotecas com show de Cyndi Lauper no Rock in Rio
Uma geração de frequentadores de matinês e discotecas viveu momentos de revival na noite desta sexta-feira (20), no Rock in Rio. O show de Cyndi Lauper fez quarentões e cinquentões — ou até mais velhos — reviverem grandes momentos da adolescência/juventude, quando curtiam as festas nos idos dos anos 80 e 90.
Para muitos fãs, a sensação é de estar em um grande flashback.
“É a primeira vez, eu acompanho ela desde os anos 80 e acho ela incrível, maravilhosa”, conta o funcionário público Wagner Rodrigues, de 58 anos.
“Acho que os fãs precisavam desse reencontro”, destaca a professora Fernanda Matos.
Cyndi Lauper canta em coro o sucesso ”Girls Just Want to Have Fun” no Rock in Rio
Uma senhora de 82 anos contou ao g1 que perdeu a apresentação da cantora em Buenos Aires durante a turnê da cantora pela América Latina em 2011 porque os ingressos esgotaram bem na vez de ela comprar. Agora, 13 anos depois, garantiu os bilhetes com cinco meses de antecedência para não perder a chance.
“Perdi em Buenos Aires, passei na porta do estádio e tinha acabado o ingresso. Chorei muito, agora o coração tá batendo forte”, conta Ana Maria.
“A Cindy sempre foi revolucionária, esteve à frente do tempo dela. Era um momento de liberdade e ela venceu todos os preconceitos”, conclui a professora Fernanda.
Um grupo de amigas, todas com blusas em alusão à música “Girls Just Wanna Have Fun” (assista acima), se emocionou com o início da apresentação.
Amigas desde o 1º Rock in Rio
Cyndi Lauper canta ”Time After Time” no Rock in Rio
A dupla de comadres Fátima Cruz e Isaelma Cardoso foi assistir ao show de Cyndi e se recordou dos tempos juvenis. Amigas há mais de 45 anos, elas se conheceram na faculdade e estiveram juntas na 1ª edição do Rock in Rio para ver o Freddie Mercury.
“Foi uma aventura, na época era lama, e agora estamos aqui juntas de novo e muito felizes por termos essa oportunidade, não tem preço”, declara Fátima.
“A Cyndi nos traz muitas recordações porque na época nós dançávamos muito”, conta Isaelma.

Continue Reading

Festas e Rodeios

Conheça o Espaço Delas, um ambiente seguro e acolhedor para mulheres dentro do Rock in Rio

Published

on

By

Sala de acolhimento feminino conta com “kit de primeiros socorros” com absorvente, água e carregador. Equipe também está preparada para ajudar vítimas de violência e assédio. Conheça um ambiente seguro e acolhedor para mulheres dentro do Rock in Rio
A 40ª edição do Rock in Rio tem um ponto de apoio especial só para as mulheres que estão curtindo o festival. O Espaço Delas é um ambiente acolhedor e inteiramente voltado para o universo feminino.
O espaço tem como objetivo auxiliar seja para a mulher que precisa de um ponto de encontro seguro, seja para a que quer descansar, ou até para quem precisa receber apoio especializado em casos mais graves, como assédio ou agressão. O suporte é garantido em todos os dias do festival.
No espaço, existe um kit de “primeiros socorros” com absorvente, lencinho, água, e algo muito importante na era da tecnologia: tomadas e carregadores.
Isabela Rozental, uma das fundadoras do Papo Delas, organização que cuida do espaço, lembra do caso de uma menina que se perdeu da família e contou com o apoio do espaço para conseguir voltar para casa.
“Uma menina jovem, se perdeu da família e a bateria dela acabou. Então, ela não só não conseguia entrar em contato com a mãe, como não conseguia pagar uma comida, uma bebida ou mesmo ir embora, porque tudo dela era no celular. Aqui nós emprestamos o carregador e ela logo conseguiu reencontrar a família e foi embora em segurança”, contou.
A psicóloga Geovana Russel explica que as ações do grupo não ficam restritas ao Espaço Delas. O grupo, junto com a organização do Rock in Rio, espalhou montou vários pontos de acolhimento pelo festival.
“A gente colou um cartaz na porta de cada cabine dos banheiros femininos, com informações sobre a campanha ‘Não é não!’. Eles têm um QR Code que aciona a nossa inteligência artificial. Então, quando uma mulher denuncia que foi vítima de algum tipo de agressão, o nosso suporte consegue chegar rapidamente até onde ela está”.
O festival é transmitido ao vivo todos os dias no Globoplay (com sinal 4K) e no Multishow.

Continue Reading

Trending

Copyright © 2017 Zox News Theme. Theme by MVP Themes, powered by WordPress.