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Resgatado há um mês com fratura na pata, filhote de onça-parda se recupera, mas deformidades impedem sua reinserção na natureza

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Fêmea de aproximadamente 60 dias pode ter sequelas das lesões. Ainda está sob estudo se felino vai continuar em Presidente Prudente (SP) ou se haverá necessidade de uma transferência. Filhote de onça-parda se recupera de lesões no Cetas, em Presidente Prudente (SP)
Após traumas inimagináveis e graves ferimentos, um filhote de onça-parda (Puma concolor) se recupera em meio a muito carinho e cuidados. Acolhida há 20 dias no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) instalado no Parque Ecológico da Cidade da Criança, em Presidente Prudente (SP), a bebê, batizada com o nome de Nala, não poderá voltar à natureza devido a más formações no corpo e os profissionais estudam como promover um futuro feliz para a pequenina, que pertence a uma espécie considerada vulnerável e ameaçada de extinção.
Agora com aproximadamente 60 dias de vida, Nala foi encaminhada bem novinha e debilitada ao complexo, segundo lembrou a médica veterinária Erica Silva Pellosi. O felino foi levado já operado a Presidente Prudente de outro local, uma clínica particular, e ainda está em um processo de recuperação.
Exames foram realizados durante os dias de cuidados no Cetas e detectaram outras deformidades, provavelmente congênitas, na conformação da fêmea. “É um animal que apresenta as perninhas de trás um pouquinho tortas”, contou Erica.
Além disso, há a patinha da frente operada, que vai ficar com alguns tipos de sequelas, conforme explicou a veterinária. “Então, ela é um animal que requer um tratamento especial, tanto de adaptação ao novo ambiente como de cuidados com essas lesões”, afirmou ao g1.
Nala está se adaptando bem, principalmente às pessoas, e conforme ela for crescendo será alterado o seu manejo.
“Ela ainda está sendo amamentada. Logo a gente vai introduzir o manejo alimentar dela intercalando alimentação com as mamadeiras. Vamos entrar também com a fisioterapia nesses membros para ver se a gente consegue melhorar um pouco essa conformação dela, e ir acompanhando toda essa lesão e esses traumas que ela sofreu no decorrer do tempo”, explicou ao g1 a médica veterinária.
Filhote de onça-parda, Nala recebe cuidados e se recupera no Cetas, instalado em Presidente Prudente (SP)
Stephanie Fonseca/g1
O filhote foi resgatado com uma grave fratura e desnutrido em um canavial, na zona rural de Junqueirópolis (SP), no dia 29 de novembro. A Polícia Militar Ambiental informou que trabalhadores encontraram a fêmea sozinha nas proximidades de uma usina canavieira.
A polícia relatou que o animal estava machucado, tinha um pequeno corte e não conseguia mexer uma das patas. Imediatamente, o felino foi levado para uma clínica veterinária particular.
“A gente só cria hipóteses, mas provavelmente ela foi um animal que a mãe pode até ter abandonado justamente por conta dessas deformidades que ela tem, provavelmente deformidades congênitas, e ela acabou sofrendo um ferimento grave ou por um ataque de animal ou por um atropelamento ou por uma queda, por ser um animal ainda muito bebê. A gente não consegue imaginar o que gerou uma fratura tão grande nesse bracinho da frente dela”, declarou Erica ao g1.
Essas lesões provavelmente vão deixar alguma sequela, segundo comentou a veterinária, e isso impossibilita muito a reintrodução desse animal na natureza.
“Ela não vai ter os movimentos completos, como seriam necessários para um animal ser reintroduzido [na natureza]. E todo o prognóstico depende muito também, não só dos nossos esforços, mas da resposta dela aos nossos de tratamentos. Ainda é muito cedo pra gente falar como é que esse animal vai ficar”, afirmou.
Filhote de onça-parda, Nala recebe cuidados e se recupera no Cetas, instalado em Presidente Prudente (SP)
Stephanie Fonseca/g1
Também está sendo avaliado pela equipe, mas há suspeita de que o filhote tenha ainda um problema de visão.
Diante da iminente possibilidade de não reinserção na natureza, outra situação que deve ser verificada é onde esse animal vai permanecer.
“Está sendo estudado dentro das possibilidades que a gente tem, das condições que a gente tem, a gente está tentando ver se consegue realmente adaptá-la a ficar aqui [no Parque Ecológico da Cidade da Criança]. Mas, se for melhor pra ela, ela vai ser encaminhada pra outro lugar”, disse Erica ao g1.
Filhote de onça-parda, Nala recebe cuidados e se recupera no Cetas, instalado em Presidente Prudente (SP)
Stephanie Fonseca/g1
Mas, enquanto essas questões são avaliadas, os cuidados e os carinhos não param.
“É bem satisfatório! É um desafio, porque é um animal que está requerendo bastante cuidado, então, bastante estudo. É realmente um desafio, mas é bem gratificante a gente acompanhar esse crescimento, acompanhar esse animal chegar à fase adulta”, salientou a veterinária.
Filhote de onça-parda, Nala recebe cuidados e se recupera no Cetas, instalado em Presidente Prudente (SP)
Stephanie Fonseca/g1
Caso delicado
O biólogo e gestor ambiental Helder Telles Stapait também comentou que o felino provavelmente foi abandonado pela mãe por conta de sua má formação. Não há certezas sobre o que houve, mas Nala estava machucada, e isso também prejudicou bastante o filhote, que tem uma lesão muito grave, que precisou de cirurgia para correção dos danos causados.
“Ela vai precisar de muito trabalho de enriquecimento ambiental, precisar de muita fisioterapia, pois os seus movimentos não são executados de maneira apropriada para que ela consiga ter uma vida mais próxima do normal, podemos assim dizer. Então, vai ser bastante delicado o caso dela”, explicou o biólogo ao g1.
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Ao ser bem tratada, bem como estar acostumada e adaptada ao local onde está inserida agora, também considerando o vínculo com a profissional envolvida em sua recuperação, Nala já vai criando um vínculo muito grande, o que a ajuda na realização de atividades.
“O animal vai se sentir à vontade com aquela profissional, pois, através de contato e repetição, o animal acaba se acostumando àquela pessoa, então, fica mais fácil, mais prático realizar essas atividades e assim fazer com que ela tenha um desenvolvimento, um crescimento da melhor maneira possível”, esclareceu.
Filhote de onça-parda, Nala recebe cuidados e se recupera no Cetas, instalado em Presidente Prudente (SP)
Stephanie Fonseca/g1
As condições de Nala a afastam do habitat, mas, em geral, “com muito trabalho e muito esforço”, um filhote poderia ser reinserido na natureza, conforme comentou ao g1 Stapait.
“Um filhote sem nenhum problema, sem má formação ou qualquer outra característica que o impeça de se desenvolver normalmente, com muito esforço, com trabalho de enriquecimento ambiental, com trabalhos de indução pra que ele aprenda a caçar sozinho, são atividades onde simulam que seu alimento está vivo pra despertar o seu instinto predador e ele consiga obter seu alimento sem qualquer artifício, sem qualquer outra ajuda externa, conseguiria se adaptar para um ambiente selvagem”, explicou.
Todas essas atividades ativam os instintos que o animal precisa para conseguir obter seu alimento através da caça. Esses exercícios também demandam um recinto grande, “pois os felinos de grande porte precisam de muito espaço”. “Eles têm ali seu território onde eles o tomam para seu, onde realizam diversas caminhadas, fazem reconhecimento dessas áreas”, contou.
“Mas, sim, é possível reintroduzi-lo com muita atividade para que se desenvolva, o seu corpo se desenvolva de maneira correta, pra que ele tenha uma forte musculatura, que suas articulações se desenvolvam bem e, assim, ser reintroduzido em seu ambiente natural”, esclareceu o biólogo.
Cetas foi instalado no Hospital Veterinário da Cidade da Criança, em Presidente Prudente (SP)
Stephanie Fonseca/G1
Local de cuidados
Ter a estrutura do Centro de Triagem de Animais Silvestres, o Cetas, com funcionamento recente em Presidente Prudente, foi essencial para abrigar Nala.
“Com certeza, os Cetas são de extrema importância, pois eles fornecem a estrutura necessária para abrigar animais como a Nala, vindos de um possível abandono, um ataque ou um possível acidente, onde ela tem uma estrutura e profissionais capacitados para auxiliarem em sua recuperação e, em outros casos, sua recuperação e adaptação para uma possível soltura”, frisou o biólogo ao g1.
Outra situação considerada por Stapait é a de que esses centros podem realizar trabalhos e projetos de educação ambiental.
“As pessoas têm muito preconceito com esse tipo de animal, então, esses centros também servem como uma base de ensino, onde eles conseguem relacionar o quão importante é a preservação de um predador de topo, como a Nala, que é uma onça-parda, a Puma concolor”, argumentou.
O predador de topo é fundamental para a manutenção do equilíbrio ecológico de uma região, segundo explicou o biólogo.
“Sem o predador de topo, os outros animais das bases acabam ficando descontrolados, acabam se reproduzindo de uma maneira descontrolada, o que pode afetar o ambiente de diversas formas, inclusive, a economia local”, disse. “Ele controla essa população e não deixa o ambiente ficar desequilibrado”, finalizou.
Fêmea de onça-parda foi resgatada com fratura na pata e precisou passar por cirurgia
Carlos Volpi/TV Fronteira
Onça-parda
Também conhecida como suçuarana, puma, onça-vermelha e leão-baio, a onça-parda (Puma concolor) é a segunda maior espécie de felino do Brasil, só ficando atrás da onça-pintada (Panthera onca). Tem corpo alongado, com até 1,08 metro de comprimento. A cauda longa mede até 61 centímetros e a altura é de 63 centímetros.
O macho adulto pode pesar por volta de 70 quilos. A pelagem da suçuarana tem coloração uniforme, variando entre marrom-acinzentado bem claro e marrom-avermelhado escuro. Geralmente os animais que vivem em florestas são menores e mais escuros e os que habitam regiões montanhosas são maiores e mais claros.
Possuem hábitos noturnos (predominantemente) e diurnos, caçam a qualquer hora do dia com certa tendência ao horário de crepúsculo.
Embora seja uma espécie terrestre, possui muita habilidade para subir em árvores e é muito ágil. A suçuarana vive solitária, menos na época de acasalamento.
Pesquisas comprovaram que a suçuarana é o predador mais eficiente e mais flexível entre os felinos. Ela consegue alimento em 75% das vezes em que parte para o ataque.
A alimentação inclui desde pequenos roedores até mamíferos de grande porte (capivaras, veados e catetos), aves e répteis.
O período de gestação varia entre 84 e 98 dias, e nascem de um a seis filhotes, cada um com 220 a 440 gramas de peso.
A espécie é considerada vulnerável e ameaçada de extinção.
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Centenária árvore de Florianópolis citada no hino do município não é originária do Brasil, diz pesquisa

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Figueira da Praça XV é um dos principais cartões-postais da Capital de Santa Catarina. Ela foi identificada por pesquisadores da UFSC como sendo da espécie Ficus microcarpa. Árvore da Praça XV passa por processo de sequenciamento genético para descobrir origem
Tiago Ghizoni/NSC
A centenária figueira da Praça XV de Novembro, um dos cartões-postais de Florianópolis, localizada no Centro da cidade e citada inclusive no hino do município, não é originária do Brasil.
Por meio de sequenciamento genético, pesquisadores do laboratório de genética vegetal da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) descobriram que a árvore, na verdade, é natural de uma região entre Ásia tropical e Austrália. Ela foi identificada como sendo da espécie Ficus microcarpa.
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O professor de biotecnologia Valdir Stefenon, que conduziu o estudo, afirma que a descoberta resgata parte da história da cidade.
“Entendo que essa pesquisa revela uma importante face da ciência, ainda pouco conhecida, que é sua ligação com a história e a cultura”, disse.
Tema de lendas contadas há gerações pelos moradores de Florianópolis, a figueira foi plantada por volta de 1870 na área que atualmente abriga a escadaria da Catedral, também no centro da cidade. Cerca de 20 anos depois, em 1891, ela foi transplantada para a praça e desde então serviu de sombra aos viajantes, além de palco para festividades.  
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Árvore da Praça XV em Florianópolis
Tiago Ghizoni/NSC
Como foi feita a pesquisa
Para a descoberta, os pesquisadores coletaram partes pequenas da árvore quem contêm genomas de cloroplastos. A substância pode ser encontrada, por exemplo, nas folhas de plantas. A partir disso, o material foi colocado em um equipamento de alta tecnologia que identificou e mostrou o DNA da figueira da Praça XV.
Os pesquisadores, então, puderam comparar os dados da árvore da Capital com os de outras milhares espécies registradas em um banco de dados mundial.
“O DNA é sequenciado e cada uma das milhares de bases que o compõem são identificadas em fragmentos de tamanho variados. Esses fragmentos são, então, ordenados, como se estivéssemos montando um quebra-cabeças. Nesta etapa, o genoma nuclear, o genoma do cloroplasto e o genoma das mitocôndrias são separados em análises de bioinformática”, explica o professor.
Na planta, cada um desses genomas tem sua própria função:
Nuclear: principal deles. Encontrado em todas as suas células.
Cloroplasto: responsável pela cor verde e pela fotossíntese, processo pelo qual a planta produz seu próprio alimento. Está nas folhas.
Mitocôndria: estrutura da célula que transforma em energia o açúcar que a planta produz.
Sequenciamento genético da figueira
Caroline Borges/g1
Árvore será clonada
Além do trabalho de sequenciamento genético, os pesquisadores também desenvolvem uma pesquisa para clonagem da árvore. Usando filamentos mais novos da árvore, o processo vai ajudar a perpetuar as características genéticas da atual figueira.
Segundo Stefenon, os primeiros resultados são positivos:
“A clonagem de espécies arbóreas em laboratório é um processo complexo até o momento de se estabelecer os protocolos de trabalho. Por enquanto, conseguimos estabelecer dois clones no laboratório, os quais ainda estão pequenos”, revela.
Árvore da Praça 15 em Florianópolis
Tiago Ghizoni
Ações que envolvem diagnósticos fitossanitário e nutrição, por exemplo, também estão sendo realizadas para preservar a figueira. A previsão é que elas sejam concluídas no primeiro semestre deste ano.
A figueira, segundo o professor, tende a sofrer com a poluição dos carros e a menor interação com outras plantas e animais, por estar em um ambiente bastante urbanizado.
“Apesar disso, ela está bem e, com os tratamentos que foram realizados, ela tende a permanecer bela e imponente por muitos anos na Praça XV”, avalia.
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Marco temporal sobre terras indígenas: entenda o que dizia a tese derrubada pelo STF

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Julgamento começou em 2021, após recurso da Funai, e foi retomado em 21 de setembro de 2023. Dispositivo previa que indígenas poderiam reivindicar somente terras ocupadas por eles antes da Constituição de 1988, desconsiderando grupos já expulsos. Indígenas comemoram derrubada do marco temporal em Brasília
O Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou nesta quarta-feira (20), por 9 votos a 2, a aplicação da tese do marco temporal na demarcação de terras indígenas. A discussão colocou em lados opostos ruralistas e povos originários, que saíram vitoriosos na disputa.
O dispositivo previa que só poderiam ser demarcadas terras que já estavam ocupadas por indígenas em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição. Esse entendimento deriva de uma interpretação literal do artigo 231 da Constituição, que diz:
“São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.
A análise no STF começou em 26 de agosto de 2021, a partir de um recurso apresentado Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) contra o marco temporal. Nesta quarta, a pauta voltou ao plenário da Corte. O voto do ministro Luiz Fux consolidou a corrente segundo a qual o dispositivo fere a Constituição.
A demarcação de terras indígenas é um direito garantido pela Constituição Federal de 1988, que estabelece aos indígenas o chamado “direito originário” sobre as suas terras ancestrais. Isso quer dizer que eles são considerados, por lei, os primeiros e naturais donos do território, sendo obrigação da União demarcar todas as terras inicialmente ocupadas por esses povos.
👉 Esta reportagem abordará os seguintes assuntos:
Quem defendia e quem era contra o marco temporal
O impacto que teria para indígenas
Por que o caso foi parar no STF
Como votaram os ministros
Marco temporal no Congresso
STF retoma julgamento sobre marco temporal das terras indígenas
Carlos Moura/SCO/STF
1. Quem era contra e quem defendia a tese
❌ Indígenas eram contra o marco temporal. Eles afirmavam que a posse histórica de uma terra não necessariamente está vinculada ao fato de um povo originário ter ocupado determinada região antes de 5 de outubro de 1988. Segundo esse argumento, muitas comunidades são nômades, e outras tantas foram retiradas de suas terras pela ditadura militar.
❌ Para a organização não governamental (ONU) Instituto Socioambiental (ISA), a tese do marco temporal vinha sendo utilizada pelo governo Bolsonaro para travar demarcações e foi incluída em propostas legislativas anti-indígenas. Defensores da causa dos povos originários temiam que demarcações de terras já feitas fossem revogadas caso o STF validasse o dispositivo.
✔️Já proprietários rurais argumentavam que havia necessidade de se garantir segurança jurídica com relação ao tema e apontavam o risco de desapropriações caso a tese fosse derrubada.
✔️ Assim como os ruralistas, o ex-presidente Jair Bolsonaro era favorável à tese do marco temporal.
2. O impacto que poderia ter para indígenas
Análise: Os impactos socioambientais do Marco Temporal
Se a tese do marco temporal fosse aceita pelo STF, indígenas poderiam ser expulsos de terras ocupadas por eles, caso não comprovassem que estavam lá na data da promulgação da Constituição de 1988 e sem que fossem considerados os povos que já foram expulsos ou forçados a sair de seus locais de origem. Processos de demarcação de terras indígenas históricos, que se arrastavam por anos, poderiam ser suspensos.
O marco temporal também facilitaria que áreas que não deveriam ter titularidade, por pertencerem aos indígenas, protegendo física e culturalmente povos originários, pudessem ser privatizadas e comercializadas. A hipótese da comercialização respondia ao interesse do setor ruralista.
3. Por que o caso foi parar no STF

Veja, abaixo, a cronologia do julgamento:
Em 2013, o TRF-4 aceitou a tese do marco temporal ao conceder ao Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina a reintegração de posse de uma área que é parte da Reserva Biológica do Sassafrás, onde fica a Terra Indígena Ibirama LaKlãnõ. Na região, vivem os povos xokleng, guarani e kaingang.
A decisão do TRF-4 mantinha entendimento de 2009, de outra decisão da Justiça Federal em Santa Catarina.
Em 26 de agosto de 2021, o STF iniciou o julgamento de um recurso da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) que questionou a decisão do TRF-4. E o que fosse decidido pelos ministros da Corte criaria um entendimento que poderia ser aplicado em situações semelhantes em todo o Brasil.
Em 20 de setembro de 2023, o STF retomou o julgamento e derrubou a tese do marco temporal.
Após a decisão da Corte, o líder de povo Xokleng, Tucun Gakran comemorou:
“É a maior vitória dos indígenas desde quando o não indígena tomou as terras dos povos indígenas”
4. Como votaram os ministros
Votaram contra o marco temporal:
Edson Fachin (relator)
Alexandre de Moraes
Cristiano Zanin
Luís Roberto Barroso
Dias Toffoli
Luiz Fux
Cármen Lúcia
Gilmar Mendes
Rosa Weber
Dois ministros consideraram que o marco temporal deveria ser considerado no momento da demarcação de terras indígenas:
Nunes Marques
André Mendonça
5. Marco temporal no Congresso
Além do processo que corria no STF, um projeto entrou em tramitação no Congresso para tentar transformar a tese do marco temporal em lei. Trata-se do PL nº 490/2007, que determina que devem ter direito às terras consideradas ancestrais somente os povos que as estivessem ocupando no dia da promulgação da Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988.
A proposta do legislativo altera o “Estatuto do Índio” para permitir, segundo o texto, um “contrato de cooperação entre índios e não índios”, para que estes possam realizar atividades econômicas em terras indígenas. Além disso, a proposta prevê que não indígenas tenham contato com povos isolados “para intermediar ação estatal de utilidade pública”.
Veja, abaixo, a cronologia do PL:
Em 2007, o PL foi proposto na Câmara dos Deputados.
Em 2009, o texto foi rejeitado na Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
Em 2018, o PL acabou arquivado.
No entanto, ainda em 2018, a proposta foi ressuscitada durante a campanha eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro, que prometeu acabar com “reserva indígena no Brasil”.
Em 29 de junho de 2021, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, presidida pela deputada Bia Kicis (PSL-DF), entendeu que o texto do PL era constitucional.
Em 30 de maio de 2023, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto, por 283 votos a 155, com apoio público do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). Houve uma abstenção. O texto, então, foi para o Senado.
Em 20 de setembro de 2023, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado adiou a votação do PL. O adiamento ocorreu após a leitura do parecer favorável ao projeto, apresentado pelo senador Marcos Rogério (PL-RO), e atendeu a um pedido de vista (mais tempo para análise) coletivo de senadores da base aliada ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Governistas ainda tentaram postergar a análise com uma tentativa de convocar audiência pública para debater o tema, mas a base acabou derrotada por 15 votos a 8. Com isso, a votação do projeto está prevista para 27 de setembro de 2023, em data posterior à última atualização desta reportagem.

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Suíça fará doações ao Fundo Amazônia, anuncia representante do país europeu

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Conselheiro federal da Confederação Suíça, Guy Parmelin, deu a declaração durante um fórum sobre investimentos e sustentabilidade, realizado no Itamaraty. Ele não citou valores. Guy Parmelin, conselheiro da Suíça, durante declaração à imprensa, no Itamaraty
Reprodução/TV Globo
O conselheiro federal da Confederação Suíça, Guy Parmelin, afirmou nesta quarta-feira (5) que a Suíça passará a fazer doações para o Fundo Amazônia. Ele não citou valores dos aportes.
Parmelin fez o anúncio ao lado do vice-presidente Geraldo Alckmin, na sede do Ministério das Relações Exteriores. Os dois participaram do Fórum Brasil-Suíça de Investimentos e Inovação em Infraestrutura e Sustentabilidade.
“A partir de hoje, aprimoraremos nosso engajamento. Tenho o prazer de anunciar que a Suíça vai contribuir para o Fundo Amazônia. A primeira contribuição será nas próximas semanas. Queremos lançar essa parceira com o Brasil e outros países”, afirmou o representante do país europeu.
Criado em 2008, o Fundo Amazônia recebe doações majoritariamente da Noruega e também da Alemanha. Em 2019, primeiro ano da gestão Jair Bolsonaro, os países suspenderam os repasses e congelaram os valores para novos projetos, mantendo somente os pagamentos já programados.
Além de Suíça, Estados Unidos e Reino Unido já anunciaram que farão aportes ao fundo.
Em declaração à imprensa, Alckmin agradeceu pela iniciativa dos suíços. “Muito importante para a recuperação da nossa Floresta Amazônica, [gostaria de] destacar a boa parceria econômica e as oportunidades de investimentos”, afirmou o vice-presidente.
Alckmin disse também que o Brasil tem compromisso com o desenvolvimento sustentável e o combate ao desmatamento ilegal.
“As Forças Armadas, inclusive, estão presentes na Amazônia para retirar garimpeiros ilegais, invasores de áreas de preservação. Enfim, um trabalho grande na região”, declarou o vice-presidente.
Na mesma linha de Alckmin, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que o governo brasileiro lançará ainda em julho um novo plano de desenvolvimento para o país que terá como “pilar central” a transição energética.
“O Brasil tem desafios, problemas a superar, mas, ao mesmo tempo que temos desafios, esses desafios se apresentam como enormes oportunidades de investimento e parcerias”, afirmou o ministro.
Acordo Mercosul-EFTA
Durante os pronunciamentos desta quarta-feira, Alckmin e Parmelin citaram o acordo comercial negociado entre o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), da qual a Suíça faz parte.
Negociado desde 2017, o acordo com o grupo foi concluído em 2019, após dez rodadas de negociações. Ainda há, contudo, algumas pendências relativas a questões técnicas e, por isso, ainda não foi finalizado.
“Temos todo interesse em ampliar a abertura comercial e a possibilidade de investimentos recíprocos com a União Europeia e a EFTA. Com a União Europeia, o governo já está mais adiantado e estamos confiantes que chegaremos a bom termo. Com a EFTA, poderemos ter complementariedade econômica de investimentos que vão gerar emprego e renda”, disse Alckmin no fórum.
“O acordo Mercosul-EFTA é um instrumento-chave para reforçar ainda mais o potencial de cooperação entre nossos países”, acrescentou Guy Parmelin.
De acordo com a página oficial do Mercosul, o comércio entre o bloco e os países da EFTA gira em torno de US$ 7 bilhões anuais.

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