Aos 91 anos, cantora lançou álbum em 2019, fazia shows até o começo da pandemia e continuou fazendo música em lives. Ela morreu nesta quinta-feira (20) de causas naturais. Elza Soares é considerada uma das maiores cantoras da música brasileira, com carreira no samba que começou no final dos anos 50. Ela morreu aos 91 nesta quinta-feira (20), de causas naturais, no Rio de Janeiro.
Nascida Elza Gomes da Conceição no Rio de Janeiro em 1930, lançou 34 discos ao longo da vida e nunca deixou de criar.
“A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo mundo. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até o fim”, afirma o comunicado enviado por sua assessoria.
Durante a carreira, ela se aproximou do samba, do jazz, da música eletrônica, do hip hop, do funk e dizia que a mistura é proposital. O último disco lançado foi “Planeta Fome” em 2019.
“Eu sempre quis fazer coisa diferente, não suporto rótulo, não sou refrigerante”, disse Elza ao g1, em entrevista de 2020. “Eu acompanho o tempo, eu não estou quadrada, não tem essa de ficar paradinha aqui não. O negócio é caminhar. Eu caminho sempre junto com o tempo.”
Elza Soares dizia que vinha do “Planeta Fome”
Desde que lançou o álbum “A mulher do fim do mundo” em 2015, a cantora viveu mais uma fase de renascimento artístico que. “Me deixem cantar até o fim”, pediu Elza em verso da música que batiza o álbum.
Pautada sobretudo pelo suingue da cadência do samba, a primeira fase áurea da cantora abarca discos gravados por Elza nos anos 60 com o cantor Miltinho (1928 – 2014) e com o baterista Wilson das Neves (1936 – 2017).
Fazem parte desta era lançamentos como “O samba é Elza Soares” (1961), “Sambossa” (1963), “Na roda do samba” (1964) e “Um show de Elza” (1965).
Outras fases vieram. Nos anos 70, escolheu cantar o samba de ritmo mais tradicional. A fase rendeu sucessos como “Salve a Mocidade” (Luiz Reis, 1974), “Bom dia, Portela” (David Correa e Bebeto Di São João, 1974), “Pranto livre” (Dida e Everaldo da Viola, 1974) e “Malandro” (Jorge Aragão e Jotabê, 1976).
A artista amargou período de ostracismo na década de 1980 e, quando pensou em desistir de cantar, bateu literalmente na porta de Caetano Veloso, em hotel de São Paulo, para pedir ajuda.
Elza Soares morre aos 91 anos
O auxílio veio na forma de convite para Elza participar da gravação do samba-rap Língua (Caetano Veloso, 1984), faixa de álbum pop do cantor, “Velô” (1984).
Essa participação mostrou a bossa negra de Elza Soares a uma nova geração e abriu caminho para que a cantora gravasse e lançasse, em 1985, um álbum menos voltado para o samba, “Somos todos iguais”, com música de Cazuza (1958 – 1990).
Em 2002, sob a direção artística de José Miguel Wisnik, apresentou um dos álbuns mais modernos dela, “Do cóccix até o pescoço”. No ano seguinte, foi a vez de “Vivo feliz”, mais voltado para a eletrônica.
Garrincha e Carnaval
Mané Garrincha junto de Elza Soares, sua mulher, aprecia um cigarro no sofá de casa em maio de 1966
Estadão Conteúdo/Arquivo
A morte da cantora acontece no mesmo dia da de Garrincha, com quem teve um relacionamento por 17 anos. O craque do Botafogo, e bicampeão do mundo pela Seleção Brasileira, também morreu no dia 20 de janeiro, mas quase 40 anos antes: em 1983.
O casal teve um filho em 9 de julho de 1976: Manoel Francisco dos Santos Júnior, o Garrinchinha. Aos 9 anos, a criança morreu em um acidente de carro.
No “Conversa com Bial”, ela disse que o jogador prometeu a ela o título da Copa de 1962. Na época, Pelé era o craque do time, mas acabou se contundindo — e quem brilhou foi o “marido de Elza”, como ela mesma se referiu.
Elza Soares desfila em altar no último carro da Mocidade
A vida de Elza também teve ligação próxima ao carnaval. Em 2020, o último desfile do Rio de Janeiro antes da pandemia teve a cantora como enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel.
Então com 89 anos, uma das primeiras intérpretes da Sapucaí desfilou como destaque do último carro.
As presenças de Elza no carnaval carioca, em desfiles do Salgueiro, em 1969, e da própria Mocidade, de 1973 a 1976, foram lembradas.