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Theatro Municipal de SP orienta uso de banheiro correspondente a gênero com o qual a pessoa se identifica

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Cem anos após Semana de Arte Moderna de 1922 discutir a identidade brasileira na arte, placa no banheiro do Theatro Municipal agora traz à tona discussão de identidade de gênero. Placa na porta do banheiro do Theatro Municipal de São Paulo orienta público a usar o banheiro correspondente ao gênero com o qual se identifica
Patrícia Figueiredo/g1
Placas afixadas nas portas dos banheiros do Theatro Municipal de São Paulo orientam o público a usar o banheiro correspondente ao gênero com o qual cada pessoa se identifica. Segundo a administração do Municipal, elas foram instaladas em outubro do ano passado e devem ser substituídas por placas fixas em breve.
“Sinta-se à vontade para usar o banheiro correspondente ao gênero com o qual você se identifica”, diz o aviso.
“De acordo com a lei 10.948/01 e com a recomendação de 16/01/2015 do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais no Artigo 6”, completa a placa.
A orientação na porta dos banheiros ocorre cem anos depois de o mesmo Theatro Municipal receber a Semana de Arte Moderna de 1922, que propôs discussões sobre a identidade brasileira na arte.
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Placa na porta do banheiro do Theatro Municipal de São Paulo autoriza público a usar o banheiro correspondente ao gênero com o qual se identifica
Patrícia Figueiredo/g1
Durante a Semana de 22, que completou cem anos no domingo (13), artistas como Di Cavalcanti e Anita Malfatti expuseram no teatro obras que propunham a construção de uma arte genuinamente brasileira.
Embora a identidade da arte brasileira tenha sido a principal discussão na época, temas relacionados a gênero também foram abordados, mesmo que indiretamente, pelas obras expostas ou apresentadas.
Críticas a Anita Malfatti
Embora diversos artistas homens tenham exposto obras controversas na Semana de 22, as críticas dos intelectuais que se opunham ao movimento se concentraram nas artistas mulheres, como exemplifica o atrito entre Anita Malfatti e Monteiro Lobato, que ocorreu desde antes do evento no Municipal.
Autora de quadros como “O Homem Amarelo” e “A Estudante Russa”, a pintora Anita Malfatti foi criticada pelo colega desde as primeiras mostras de sua carreira.
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Em um artigo de jornal, o escritor Monteiro Lobato falou sobre Anita.
“Essa artista possui um talento vigoroso, fora do comum. Entretanto, seduzida pelas teorias do que ela chama arte moderna, penetrou nos domínios dum impressionismo discutibilíssimo, e põe todo o seu talento a serviço duma nova espécie de caricatura. Arte moderna, eis o escudo, a suprema justificação”, disse Lobato.
Segundo o historiador Fabrício Reiner, curador da mostra “Era uma vez o moderno”, as obras de Anita são um exemplo perfeito do início do modernismo.
“Anita é a primeira artista brasileira que tem as obras efetivamente modernistas. Ela traz pro país obras de um impacto muito significativo”, diz Reiner.
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Assim como a arte brasileira, o Theatro Municipal de São Paulo também viu seu entorno, o Centro da capital, sofrer drásticas mudanças entre 1922 e os tempos atuais. Se hoje roubos de celulares, trânsito intenso e aumento na população de rua são alguns dos problemas dos arredores do teatro, na década de 1920 a região vivia um boom econômico, que acompanhava o ainda recente processo de urbanização da cidade.
Os artistas que organizaram a Semana de 1922 participavam ativamente da cena cultural do Centro. A Praça Antônio Prado, onde hoje se ergue o Edifício Altino Arantes, também conhecido como Banespão, era ponto de encontro de intelectuais, que se cruzavam nos cafés e nas redações de jornais como “O Estado de São Paulo” e “Correio Paulistano”.
Até a Semana de 1922, as transformações urbanas ocorriam sob forte influência europeia. O período de 1910 até 1930 foi marcado por grandes obras no Centro da cidade, e as reformas não eram apenas técnicas, mas também ligadas à estética e ao embelezamento da região de acordo com os modelos adotados em cidades como Paris e Buenos Aires.
Em 1911, mesmo ano em que foi inaugurado o Theatro Municipal, o urbanista francês Joseph-Antoine Bouvard foi contratado para realizar um novo projeto para o Vale do Anhangabaú. O paisagista desenvolveu um grande projeto de arborização do vale, que se transformou em parque. A obra só foi possível porque antes, em 1904, um projeto de canalização de rios cobriu o leito do Rio Anhangabaú.
As obra sugeridas por Bouvard para o entorno do vale só foram concluídas nos anos 1920, com a criação de uma praça no início do Viaduto do Chá, a Praça do Patriarca.
No outro extremo do viaduto, dois teatros pontuavam as esquinas da via: o Theatro Municipal, inaugurado em 1911, e o Theatro São José, aberto em 1909 no terreno onde hoje está o Shopping Light.
Antigo Theatro São José, atual Shopping Light
Reprodução/Origem Desconhecida/Cartão postal; Fábio Tito/g1
Entretanto, a coexistência dos teatros durou pouco, já que após a inauguração do Municipal, o Theatro São José passou por um período de decadência porque as principais montagens passaram a ocorrer no concorrente da esquina oposta.
A casa de espetáculos foi desativada em 1919 e, em 1924, o edifício foi demolido para a construção da sede da Light São Paulo, posteriormente ocupada pela Eletropaulo e pelo Shopping Light.
Inauguração do Municipal
Fachada do Theatro Municipal de São Paulo
Celso Tavares/G1
A inauguração do Theatro Municipal ocorreu em setembro de 1911, pouco mais de uma década antes da Semana de 22. Jornais da época destacaram a grande fila de carros que se formou no entorno do teatro em sua noite de abertura. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, da frota de 300 carros daquele ano, cem foram à ópera Hamlet, apresentada na noite de estreia.
Inspirada na Ópera de Paris, a construção era muito aguardada pela elite paulistana. Também causou frenesi a inauguração de um prédio todo iluminado por energia elétrica, que ainda era uma novidade na época.
Teatro Municipal, à direita, e o o Theatro São José vistos de uma varanda do Viaduto do Chá, em foto da década de 1920
Reprodução/Depto. do Patrimônio Histórico do Município de São Paulo; Fábio Tito/g1
A escolha do Municipal como palco para a Semana de 1922 chegou a ser interpretada como uma suposta “democratização” do programa do teatro, que era criticado por favorecer artistas estrangeiros.
No entanto, especialistas como a socióloga Maria Arminda do Nascimento Arruda, ex-diretora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), refutam essa tese.
Abaporu, obra da artista modernista Tarsila do Amaral em frente ao Theatro Municipal de SP, durante comemorações do aniversário da cidade de São paulo
Fábio Tito/G1
Em entrevista ao Jornal da USP no centenário do Municipal, a professora defendeu que o evento foi feito pela elite para a elite. Para ela, a Semana de 22 não representou uma popularização do teatro, embora o movimento modernista propusesse, de fato, uma renovação cultural.
Se durante o evento o Municipal não chegou a ter um público democrática, ao longo dos seus mais de 110 anos o teatro diversificou o programa e recebeu artistas de diferentes estilos, como o rapper Emicida e as cantoras Elza Soares e Elba Ramalho.
O rapper Emicida durante show no Theatro Municipal de São Paulo, registrado no documentário AmarElo
Reprodução/Amarelo
Desde sua construção, o prédio foi alvo de três grandes reformas. A primeira, entre 1952 e 1955, promoveu a troca das cadeiras, além de outras peças do mobiliário, que foram substituídos por peças revestidas em veludo vermelho. Segundo a administração do Theatro, a reforma da década de 1950 também ampliou a Sala de Espetáculos retirando as frisas do fundo, bem como quase todos os camarotes, dos quais restaram os oito ainda existentes reservados a autoridades. Anos depois, em 1969, no lugar dos camarotes demolidos foi instalado o órgão de uma empresa italiana.
A segunda obra de peso ocorreu nos anos 1980 e promoveu a restauração de toda a fachada do prédio, desta vez com grande preocupação em manter as características originais da construção. Além disso, o palco foi modernizado com novos equipamento para cenografia e controle de iluminação.
Em outra grande reforma, entre 2008 e 2011, técnicos refizeram toda a estrutura de sonorização, acústica, mecânica cênica e tratamento acústico do fosso da orquestra. O palco, pinturas antigas e mais de 14 mil vitrais também foram restaurados na ocasião.
Mas as transformações mais recentes no prédio datam de 2018 e incluem a criação de um bar no subsolo do edifício e a adaptação do chamado Salão Dourado para um restaurante especializado em brunch.
Ambiente do Bar dos Arcos, no subsolo do Theatro Municipal de São Paulo
Divulgação/Bar dos Arcos
Inaugurado há pouco mais de três anos, o Bar dos Arcos ocupa um espaço sombrio que, antes, funcionava como uma passagem de ar para a climatização do teatro. Sob as arcadas que sustentam o teatro há mesas altas, salas privativas e até um bar secreto.
O espaço chegou a ter também uma piscina de bolinha escondida, mas, durante a pandemia de Covid-19, este ambiente foi reformado e passou a abrigar uma sala privada com luz vermelha.
Salão Dourado do Theatro Municipal de São Paulo
Reprodução/Bar dos Arcos
Protesto no entorno
Nesta semana, um protesto o protesto do coletivo Nós Artivistas planejou uma intervenção em torno do Theatro Municipal. A ideia era que as quatro ruas que cercam o edifício fossem ocupadas com as frases #acessem, #artenãoéprivilégio, #tupiornottupi e #culturaresiste.
No entanto, nesta eles só conseguiram fazer a primeira pintura, #acessem, nesta segunda-feira (14). Na terça (15), os ativistas foram impedidos a intervenção e, nesta quarta (16), a pintura amanheceu apagada e pintada de cinza.
Essa não é a primeira vez que o coletivo é impedido de realizar uma intervenção. Em setembro de 2021, na véspera do dia da independência, os manifestantes foram impedidos de realizar a intervenção #nãopisemnosmortos, previamente autorizada para acontecer na Avenida Paulista.
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