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Sandra Brecheret lembra como era ser uma criança no meio dos modernistas

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Filha do artista Victor Brecheret, um dos dois escultores que participaram da Semana de Arte Moderna, era afilhada de Menotti del Picchia e ouviu as histórias sobre a Semana de 22 na sala de jantar. VÍDEO faz parte de série de entrevistas com herdeiros dos modernistas. Sandra Brecheret: criança entre modernistas
Sandra Brecheret, herdeira de Victor Brecheret, conta histórias que ouviu ou presenciou dos modernistas que frequentaram a casa dela até a morte do pai, em 1955. Ela lembra que Victor Brecheret tinha um ateliê em casa, cantarolava enquanto esculpia e, naquela época, dizia que o Brasil era o país do futuro. Veja a entrevista no vídeo acima.
Essa entrevista para a GloboNews é a primeira de uma série de conversas publicadas pelo g1 com os herdeiros de artistas da Semana de Arte Moderna, que completa 100 anos.
“Ele tinha muito orgulho de fazer parte deste circuito de gente que estava trabalhando, que estava se amando, que estava se odiando, que estava vivendo, mas que era brasileiro”, conta Sandra.
Victor Brecheret era artista desde criança. Nasceu Vittorio, em uma família pobre na cidade de Farnese, na Itália. Perdeu a mãe quando era criança e foi abrigado pelo tio, Enrico Nanni, que se mudou para o Brasil. O italianinho tinha dez anos quando chegou a São Paulo.
Oito anos depois, em 1912, Brecheret seguia o que estava escrito no seu destino: começou a estudar desenho, modelagem e entalhe em madeira no Liceu de Artes e Ofícios.
No ano seguinte, foi para Roma estudar arte, onde ficou até 1919. Na Europa, foi influenciado pela estética dos pós-impressionistas.
Quando voltou a São Paulo, aos 25 anos, impregnado de ideias de vanguarda, seu ateliê no Palácio das Artes começou a chamar a atenção de um grupo de artistas que estava querendo revolucionar a arte brasileira: Di Cavalcanti, Helios Seelinger, Menotti del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade
“Alguém, não me lembro quem, se foi Mário de Andrade ou se foi Menotti, chamou a atenção: ‘Olha tem um escultor bamba lá no Palácio das Indústrias, vamos visitá-lo.’ E foram todos. Um por um”, conta a herdeira de Brecheret.
Os primeiros contatos entre o escultor ítalo-brasileiro e os jovens vanguardistas foram em janeiro de 1920, época em que Mário de Andrade se apaixonou pela escultura “Cabeça de Cristo”, algumas vezes chamada de “Cristo de Trancinhas”.
O escritor chegou a fazer empréstimos para comprar a obra de Brecheret, que hoje faz parte do seu acervo no Instituto de Estudos Brasileiros, IEB/USP. A ousadia da escultura inspirou Mário de Andrade a fazer uma das obras mais conhecidos do Modernismo: Paulicéia Desvairada.
Em 1921, Victor Brecheret volta para a Europa. Ganha uma bolsa de estudos em Paris. Mas, antes, os vanguardistas escolheram 13 esculturas que fariam parte da exposição no saguão do Theatro Municipal.
“Deixou 13 obras que foram consideradas por Menotti e Mário de Andrade, e outros, o estopim da semana de arte moderna”, diz a filha do escultor.
Sandra Brecheret nasceu 24 anos depois da Semana de Arte Moderna e hoje é presidente da Fundação Escultor Victor Brecheret, em São Paulo. Nas lembranças de infância, surgem os jantares que a mãe dava para os Modernistas e as histórias do padrinho, Menotti del Picchia. E, ainda, algo peculiar sobre a Tarsila do Amaral.
“Nós fomos visitá-la depois que ela perdeu a filha e a neta. Eu me lembro de uma característica muito interessante: a casa, era uma casa antiga cercada de flores, que chamam Dama da Noite. Eu não posso sentir esse cheiro, esse perfume que eu me lembro dela. Eu era pequenininha”, revela Sandra Brecheret.
Depois da Semana de 22, Victor Brecheret se tornou um escultor consagrado.
Em 1950, foi convidado para a Bienal de Veneza. No ano seguinte, recebeu o primeiro Prêmio de Escultura na 1ª Bienal de São Paulo.
O curioso é que a sua obra mais extraordinária leva quase uma vida para ser concluída. O “Monumento às Bandeiras”, em São Paulo, começou a ser desenhada em 1920 e foi finalizado em 1953.
A gigantesca escultura é composta por 240 blocos de granito − com cerca de 50 toneladas cada − tem 12 metros de altura, 50 metros de extensão e 15 metros de largura.
“O Monumento às Bandeiras é uma consequência até filosófica dele. É uma consequência de que ele achava extraordinário – ele mesmo falava essa palavra – extraordinário que num país tão grande pudessem conviver todos juntos, dentro de conflitos e tudo, mas que fosse um país que caminhava pra frente”, conclui Sandra Brecheret.

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