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Rudá K. Andrade, neto de Oswald, conta como uma rã frita inspirou a antropofagia

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Neto de Oswald de Andrade e de Pagu conta como os modernistas se organizaram em torno de refeições e diz que foi em um jantar para degustar rãs fritas que surgiu a antropofagia. Rudá K. de Andrade fala sobre Owsald e os modernistas
Rudá K. Andrade herdou o nome do pai. ‘Rudá’ é o deus do amor na mitologia tupi-guarani. Ele é um apaixonado pela história do avô, Oswald de Andrade. O escritor conta como as criações e discussões modernistas aconteciam me torno de uma mesa de jantar ou em um café na São Paulo dos anos 20. Ele também declama “brasil”, poema do avô. Veja no vídeo acima.
Esta entrevista para a GloboNews é a primeira de uma série de conversas publicadas pelo g1 com os herdeiros de artistas da Semana de Arte Moderna, que completa 100 anos.
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O neto de Oswald de Andrade mergulhou nos hábitos do avô e passou a entender o verdadeiro sentido da expressão ‘cultura é comida’. Ele acaba de lançar o livro ‘A Arte de Devorar o Mundo, as aventuras gastronômicas de Oswald de Andrade’.
Rudá K. de Andrade afirma que a Semana de 22 foi organizada em voltas de mesas: ou nos salões, ou na garçonnière de Oswald no centro de São Paulo, ou na casa de Mário de Andrade, ou em qualquer outro café da cidade.
”Eu escrevi um livro sobre a culinária… Eu escrevi um livro que é uma biografia culinária do meu avô, quer dizer: perpasso os caminhos, as refeições, o que ele gostava, as referências de alimentos que ele coloca no texto dele. Eu fui seguindo essa trilha. Mas, assim, a pergunta dentro de mim, que me motivou, foi pensar: ‘poxa, por que eu aprendi desde pequeno a gostar de comer rã?”, conta o neto de Oswald.
Rudazinho é filho do cineasta e escritor Rudá Poronominare Galvão de Andrade, morto em janeiro de 2009. Rudá, o pai, era fruto da união de Patrícia Galvão, a Pagu, e Oswald de Andrade.
O neto do modernista, Rudazinho, não conviveu com o Oswald de Andrade, mas carrega na memória as muitas histórias da família e as heranças culturais, políticas e gastronômicas deixadas por Oswald na literatura.
Nas pesquisas que fez para escrever a biografia culinária do avô, acabou esbarrando em muitos detalhes do dia a dia dos modernistas.
Ele descobriu, por exemplo, o valor para arte brasileira do material recolhido na ‘viagem modernista da descoberta do Brasil’, como foi chamada a aventura de Tarsila do Amaral, de Blaise Cendrars e de Oswald pelo Rio de Janeiro e pelas cidades históricas de Minas Gerais.
A excursão nativista trouxe as paisagens do interior, as cantigas populares e o sabor nativo do Brasil, para a literatura, para a poesia e para as pinturas de Tarsila e dos outros artistas da primeira fase do Modernismo. O resultado viagem foi o movimento Pau-Brasil, de 1924. Foi ali que surgiu a poesia brasileira de exportação.
“O livro Pau-Brasil é a reconstrução dessa História brasileira a partir dessa nova perspectiva moderna que vai ter um embate com essa História oficial, que se conta até hoje nas escolas. Justamente, buscando um deboche, a crítica, o carnaval, essa linguagem festiva”, comenta Rudazinho.
Rudá revelou também que, ao ler os relatos de Raul Bopp, descobriu algo curioso sobre a antropofagia. O quadro ‘Abaporu’ não teria sido a única inspiração para o movimento. A ideia teria surgido em 1928, durante um almoço dos modernistas na zona norte de São Paulo, no bairro de Santana. O prato principal era rã à milanesa.
“A rãzinha lá, frita assim …Pô parece uma pessoa isso aqui. Então somos quase antropófagos, alguém fala. Aí, o Oswald já pega a palavra, já constrói um discurso darwinista, falando que o homem, que as pessoas vieram justamente da rã, que a gente já foi rã um dia e que, portanto, comê-las é um ato antropofágico”, conta o neto de Oswald de Andrade.
Rudá K. Andrade, que segue a profissão do avô, diz que a antropofagia vai além da questão estética e da revolução na linguagem. É um ato de resistência.
“Mastigo, logo existo, danço logo existo. Vivo, logo existo, né? O meu avô me ensinou a gostar do outro, a comer o outro nesse sentido afetivo, de troca, de se relacionar”, afirma o neto do poeta.
Outra característica que a família herdou de Oswald, segundo Rudazinho, é o humor. E também o sarcasmo.
“Meu avô hoje, em 2022… Meu avô hoje, talvez, estaria com uma latinha de spray fazendo algum verso em muro… na parede do Theatro Municipal, pichando o Teatro Municipal”, conclui Ruda K. de Andrade.

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