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‘Belfast’ resgata período turbulento da Irlanda do Norte com dramalhão (no bom sentido); g1 já viu

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Filme indicado a sete Oscars se baseia nas memórias do diretor e roteirista Kenneth Branagh, de ‘Thor’. Judi Dench e Ciarán Hinds, veteranos indicados, são destaques do elenco. Depois de passar quase uma década com produções hollywoodianas (“Thor”, “Cinderella”, “Operação Sombra: Jack Ryan”), Kenneth Branagh voltou as suas lentes para o passado e resgatou parte do período em que viveu em sua terra natal em “Belfast”.
O filme do o ator, diretor e roteirista norte-irlandês estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (10). Foram sete indicações ao Oscar 2022, incluindo Melhor Filme, Direção e Roteiro, o que tornou Branagh recordista em categorias individuais.
LISTA: todos os indicados ao Oscar 2022
A produção é belíssima e tem momentos tocantes, mas nem todas as escolhas do cineasta funcionam bem para o público.
Assista ao trailer de ‘Belfast’
Ambientada na cidade que dá título ao filme em 1969, a trama é centrada numa família da classe operária norte-irlandesa que vive numa região turbulenta por causa dos conflitos causados por protestantes que desejam expulsar católicos.
No meio de tudo isso, o caçula Buddy (Jude Hill) tenta viver uma vida normal, brincando com os amigos, estudando e tentando conquistar a colega Catherine (Olive Tennant).
Além disso, Buddy ainda se vê no meio dos problemas envolvendo sua mãe (Caitriona Balfe, de “Ford Vs Ferrari”). Ela faz o que pode para cuidar dele e do irmão mais velho, Will (Lewis McAskie), enquanto o pai (Jamie Dornan, “Cinquenta Tons de Cinza”) vive viajando a trabalho para a Inglaterra, embora tente ser uma figura presente para os filhos.
Buddy também conta com o carinho e o apoio do avô (Ciarán Hinds, de “Operação Red Sparrow”) e da avó (Judi Dench). Só que a intensificação dos conflitos na região faz com que Buddy perca parte de sua inocência.
Como assim ‘Belfast’ é um dramalhão?
Caitríona Balfe, Jude Hill, Lewis McAskie e Jamie Dornan são uma família em “Belfast”
Divulgação
“Belfast” não esconde que é um dramalhão, no bom sentido. Branagh se revela mais interessado em mostrar o cotidiano e os costumes dos norte-irlandeses do que se aprofundar nos motivos que levaram católicos e protestantes entrarem em rota de colisão.
O diretor e roteirista se debruça na nostalgia e no equilíbrio entre momentos mais descontraídos ou tensos. Branagh trabalha sua história da mesma forma que John Boorman fez em 1987 com “Esperança e Glória”. O diretor de “Excalibur” fez um filme semiautobiográfico, protagonizado por uma criança que passa por mudanças em sua vida na Segunda Guerra Mundial.
Além de indicações para o Oscar, as duas produções têm em comum o objetivo de divertir e emocionar o público com tramas ambientadas em períodos conturbados da história.
Jamie Dornan, Ciarán Hinds, Jude Hill e Judi Dench numa cena de “Belfast”
Divulgação
A maior diferença (e vantagem) de “Belfast” está no fato de que Branagh faz seu filme com uma estética fora do convencional. Ele decide contar sua história de forma mais fragmentada, ao contrário do trabalho de Boorman.
Amparado por uma belíssima fotografia (injustamente fora da lista de indicados ao Oscar nessa categoria), o diretor de “Morte no Nilo” utiliza o preto e branco para retratar a dura vida de seus personagens. Apenas alguns momentos são em cores, nada gratuito.
Apenas a abertura, retratando o presente da cidade e os espetáculos artísticos que Buddy e sua família assistem, como a encenação de “Um conto de Natal” e uma sessão do filme “O Calhambeque Mágico”, são em cores.
Isso, claro, dá um contraste: a arte e a fantasia dão uma sensação de um mundo melhor para seus personagens. O efeito cativa o espectador.
Buddy e sua família se divertem no cinema num momento de descontração em “Belfast”
Divulgação
Já na parte narrativa, o resultado pode dividir opiniões. A história ganha contornos episódicos, não dando muito tempo para que o público absorva o que é mostrado na tela.
Assim que o roteiro parece que vai se aprofundar um assunto, como o pouco tempo que o pai tem para ficar com os filhos por causa do trabalho em outro país, ele pula para outra questão.
As reflexões que poderiam ser melhor desenvolvidas, mas logo são substituídas por outras. Tudo fica meio superficial e pode irritar um pouco. É como se alguém estivesse com um controle remoto na mão mudando de canal antes do desfecho.
Faroeste norte-irlandês?
Católicos e protestantes se enfrentam numa cena de “Belfast”
Divulgação
Um dos acertos de “Belfast” está no fato de traçar um paralelo entre as coisas que Buddy e seu irmão mais gostavam de ver, como programas de ficção científica e filmes de faroeste, e os confrontos que na vizinhança.
Branagh mostra que clássicos como “Matar ou Morrer” ou “O Homem que matou o Facínora” têm a sua “versão” norte-irlandesa nos embates entre católicos e protestantes. Ele usa a trilha desses filmes e os enquadramentos dos duelos entre cowboys nas partes mais tensas do filme. A sacada é simples. E muito boa.
Em compensação, a utilização de canções no filme desafina. Há algumas cenas que parecem ter sido tiradas de musicais. Elas não favorecem a trama e não criam o efeito desejado, pois parece que a história dá uma parada para que a música entre e os personagens comecem a dançar como se nada estivesse acontecendo ao seu redor.
Além disso, a trilha de Van Morrison (que concorre ao Oscar de Melhor Canção com “Down to Joy”) nem sempre consegue ser marcante ou envolvente.
Veteranos se destacam, mas não só eles
Buddy (Jude Hill, ao centro), se diverte com seus avós (Judi Dench e Ciarán Hinds) em “Belfast
Divulgação
O que salta aos olhos em “Belfast” é a qualidade do elenco. A começar pelo estreante Jude Hill, talentoso e carismático como Buddy. Ele vai bem nas partes cômicas e nas dramáticas.
Caitriona Balfe e Jamie Dornan, como os pais, têm ótima sintonia e convencem como um casal apaixonado que faz o possível para contornar os problemas.
As melhores atuações, no entanto, são dos veteranos Judi Dench e Ciarán Hinds, merecidamente indicados ao Oscar de Atriz e Ator Coadjuvante.
Os dois brilham em suas cenas, especialmente as que têm que contracenar com Jude Hill. Eles são como bússolas morais do menino e conseguem comover e divertir.
Jamie Dornan, Caitríona Balfe, Jude Hill e Lewis McAskie numa cena de “Belfast”
Divulgação
“Belfast” comprova que Kenneth Branagh ainda pode fazer trabalhos que fogem do convencional, além das costumeiras adaptações de textos de Shakespeare e de blockbusters.
O longa cumpre o seu objetivo de tratar de um período complicado para os irlandeses com talento, competência e emoção. Falta algo, mas o resultado é digno das sete indicações recebidas ao Oscar.

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