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Bala Desejo e Gilsons: a MPB que se renova com frescor pop e referências dos anos 70 e da Bahia

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Álbuns de estreia mostram como bandas cariocas absorvem movimentos do passado e traduzem em música pop com cara de 2022; ouça em podcast como foi a criação das músicas. “Se assim for nos designado essa posição privilegiada de dar prosseguimento a alguma coisa [na MPB], então que seja reverenciando e fazendo coisas novas dentro do que foi”.
É assim que Zé Ibarra fala sobre a influência clara dos álbuns orquestrados dos anos 70, de Rita Lee e dos Novos Baianos em “Sim Sim Sim”, álbum de estreia do Bala Desejo.
O cantor e compositor carioca de 25 anos começou a banda com os amigos Dora Morelembaum, Julia Mestre e Lucas Nunes há cerca de dois meses com o lançamento do disco, que chama atenção daqueles que gostam de música brasileira.
Menos de uma semana depois, no dia 2 de fevereiro, o trio Gilsons, formado por Francisco Gil, João Gil e José Gil lançava o primeiro álbum “Pra Gente Acordar”, no qual mostram como a música baiana está presente no som autoral que defendem.
“O nosso som é assim, bebe de várias fontes, mas ele está dizendo ali sobre a nossa musicalidade, a nossa história, os nossos laços”, diz Francisco Gil, filho de Preta e neto de Gilberto Gil.
Os bons álbuns de estreia mostram como as duas bandas conseguem olhar para o passado e produzir música jovem, pop e autoral dentro da MPB de 2022. Conheça a história do Bala Desejo e do Gilsons no podcast g1 ouviu abaixo:
Além de contemporâneos da cena carioca, os sete jovens músicos são de famílias musicais, amigos de longa data e parceiros de composição.
Ainda entre as coincidências, as duas bandas surgiram em momentos diferentes, só que com um objetivo pontual: fazer um show apenas. Mas os projetos foram ganhando corpo e viraram o principal foco deles em 2022.
Afinal, quem é Bala Desejo?
Bala Desejo é formada por Dora Morelenbaum, Julia Mestre, Lucas Nunes e Zé Ibarra
Divulgação/Lucas Vaz
Dora Morelenbaum, Julia Mestre, Lucas Nunes e Zé Ibarra são amigos desde os 11 anos e têm carreiras solos em andamento.
No começo da pandemia, apareceram juntos nas famosas lives da Teresa Cristina e o encontro chamou atenção do Coala Festival, que convidou o grupo para fazer um show no evento em 2021.
Como a pandemia não estava controlada, o festival paulistano não aconteceu de forma presencial e, com mais tempo, surgiu a possibilidade de pensar em um álbum autoral feito a oito mãos.
Antes, a parceria já existia, com composição de músicas juntos e com a produção de álbuns uns dos outros, mas eles nunca tinham parado tudo para fazer um álbum. Bem, não tinha muito o que parar já que o contexto era a pandemia de Covid-19.
O quarteto passou a se reunir uma vez por mês no sítio de Júlia Mestre, em Minas Gerais, com a intenção de escrever as músicas de “Sim Sim Sim”.
“A ideia de ter um prazo para compor um disco traz uma sensação como se fosse o corpo trincando, uma pressão de ter que botar para fora a composição naquele momento. No início, foi mais difícil, mas depois a gente já vinha pegando essa coisa de entender que era um jogo”, explica Julia Mestre.
Músicas do álbum de estreia de Bala Desejo foram escritas em uma imersão do grupo carioca
Divulgação/LucasVaz
Ter a presença dos instrumentos de metais e um som de orquestrado eram premissas na cabeça dos artistas altamente influenciados por “toda a música brasileira”.
“Já era uma ideia minha, depois nossa, de remeter a alguma coisa, talvez, dos anos 70, mas de uma forma mais atual. Foi com a galera dentro do estúdio tocando ao vivo que isso ficou verdadeiro”, conta Lucas Nunes.
“O Bala Desejo é a gente olhando para trás, mas fazendo algo para frente, incorporando essa delícia de fazer uma música que venha cheia de coisas e gostosuras para as pessoas ouvirem e cantarem os sopros, os baixos… para ficar colorido”, completa Zé Ibarra.
Eles citam quase 30 artistas que são importantes para eles, e que, de alguma forma, aparecem indireta nas faixas. A lista vai de Villa Lobos, passando por todos os grandes cantores da MPB, até ABBA, Beatles, Pink Floyd e Led Zeppelin.
“Cada um quis, sem ser proposital, colocar essas referências todas. Está na forma como a gente compõe, pensa, produz”, defende Dora, filha de Paula Morelenbaum, cantora que passou anos na banda de Tom Jobim, e Jacques Morelenbaum, um dos maiores violoncelistas e arranjadores do país.
E as claras semelhanças com grandes nomes da MPB, como Rita Lee, não são um problema para o grupo, pelo contrário.
“A gente pensou na Rita Lee o tempo inteiro na canção ‘Lambe Lambe’. Quando a gente fala a ‘cor de rosa choque’ é para ela”, diz Júlia.
“Ela nos traz essa brincadeira de querer ser leve, não se levar a sério o tempo todo, quando a gente quer falar de sacanagem.. Vou lamber geral! Sabe? Vamos nos permitir falar essas coisas”, finaliza a cantora.
E os Gilsons?
Gilsons
Santiago Lampreia / Divulgação
As primeiras memórias musicais dos Gilsons são de momentos importantes da história da MPB, como os bastidores de shows “Quanta” e “Acústico MTV” de Gilberto Gil, avô de João e Francisco e pai de José.
Naturalmente conectados com a música, eles começaram a tocar juntos na banda Sinara, grupo de reggae que durou cerca de 4 anos com outros amigos envolvidos.
Em 2018, o trio se reuniu para fazer um show em um hotel de luxo no Rio, com músicas autorais de cada um, além de vários covers no repertório incluindo “Várias Queixas”.
A regravação da música do Olodum de 2012 foi o primeiro sucesso como Gilsons e se tornou obrigatória no setlist de qualquer festinha dedicada à MPB dos últimos anos.
Os tambores da Bahia, os beats eletrônicos e o tom jazzístico do naipe de metais dão forma à sonoridade do trio desde então.
Gilsons
Divulgação
Todos esses elementos também estão presentes em “Pra Gente Acordar”, álbum de estreia lançado simbolicamente no dia de Iemanjá, 2 de fevereiro.
Mesmo sem grandes nuances ao longo das nove faixas, os afoxés good vibes e românticos conquistaram público cativo e parecem anunciar uma carreira promissora, pelo menos, no nicho da MPB.
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Questionados sobre o fato de seguirem a tradição de uma família tão importante na música brasileira, os músicos têm opiniões diferentes sobre o peso do sobrenome nas carreiras.
“Os meninos eu não sei, mas vejo muito uma responsabilidade, porque é um legado que não é construído em uma mentira ou em uma ideia mercadológica, tem muito pensamento ali envolvido”, diz João Gil.
“É um processo muito natural porque com gente sempre muito imerso. Até acho que demora um pouco para despertar a responsabilidade que é também trabalhar com música, estar reproduzindo música. Talvez tenha até traz uma ideia de maior facilidade de viver isso, mas não é”, defende José Gil.
“A música está correndo, a gente é fruto de uma geração que veio após o Seu Gilberto”, pondera Francisco Gil.
“Isso só vem como coisa boa, quanto mais motivo para escutar a gente melhor… Se for porque é filho de fulano, tudo bem. O nosso som é assim, ele bebe de várias fontes, mas ele etá dizendo ali sobre a nossa musicalidade, a nossa história, os nossos laços”.
Preta Gil compartilhou foto da família Gil no Natal de 2019
Reprodução/Instagram/PretaGil
Fran também fala de estar vivendo esse momento quente ao lado dos amigos do Bala Desejo e de outros como Chico Chico, filho de Cássia Eller com quem lançou um álbum em parceria em 2021.
Clara Buarque, neta de Chico Buarque, também é próxima a eles e assina a primeira composição, “Voltar à Bahia”, que encerra o álbum dos Gilsons.
“É uma maravilha porque se a gente se inspira com quem está do nosso lado. A gente ganha mais força para que o nosso som vá para frente, para que a nossa voz ganhe mais força. Está todo mundo se defendendo”, finaliza Francisco.

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