Connect with us

Coisas do Mato

Lendas pantaneiras tem de ‘Minhocão’ que vira barcos para devorar pescadores até ‘Pai do Mato’ que protege a região

Published

on

As lendas e mitos são inspiradas pelas influências que a região recebeu em sua ocupação, transmitidas de geração em geração – principalmente de forma oral – e tem um papel importante para a formação da cultura local. Um dos destaques da novela Pantanal que começou na segunda-feira, são duas lendas criadas pela ficção, a do “Velho do Rio”, um guardião da região que se transforma em sucuri, e a da “Maria Marruá”, a mulher que vira onça.
O Pantanal da vida real, entretanto, tem suas próprias lendas. São inspiradas pelas influências que a região recebeu em sua ocupação, transmitidas de geração em geração — principalmente de forma oral – com um papel importante para a formação da cultura local.
“Essas narrativas míticas, são construídas dentro de uma comunidade e, após um tempo, acaba, se perdendo dentro da memória da população. Algumas dessas histórias são contadas a partir de algo real que carregam consigo o propósito de alertar para o perigo ou até mesmo explicar um fato ‘inexplicável'”, afirmou o professor e antropólogo, Álvaro Banducci.
Minhocão
Uma das principais lendas pantaneiras é do minhocão. Seria um tipo de serpente, com focinho de porco, chifre e pele tão grossa que pareceria a casca de uma árvore. O monstro viveria nos rios da região e viraria os barcos de pescadores para se alimentar deles.
“Eu escutei aquela água tremer, virei e vi mais ou menos um metro de ponta, igual focinho de porco jogando água, só pensava ‘meu Deus do céu'”, afirma o pescador Paulo Fernandes em um documentário feito pela Fundação de Cultura do estado (FCMS), em 2016, sobre a lenda pantaneira.
Ilustração do que seria o minhocão
Ric Milk/ Ilustração
Outro ribeirinho que jura que viu o “monstro” e sobreviveu para contar a história é Quito Picolomoni. Ele também deu depoimento ao documentário.
“Eu fui atravessando o rio com a minha família toda, aí quando chegamos perto ele levantou e abriu a boca. Era um monstro de bicho sua pele parecia um pé de carandá. Ele afundou, passou por baixo da canoa e foi embora”, recorda assustado.
Pé-de-garrafa
Outra estória que ainda hoje assusta os moradores do bioma é o do “Pé-de-Garrafa”. Seria um monstro “bicho-homem”. Segundo os pantaneiros, a lenda é de um homem com o corpo coberto de pelos, menos na região do umbigo, que possui apenas um pé no formato de garrafa e solta assobios que servem para demarcar o território.
O monstro devido o formato dos seus pés, se locomoveria com pulos, deixando no chão um rastro com marca de fundo de garrafa.
Ilustração do mito do Pé-de-garrafa
Alberto Filho/Ilutração
Com o alto assovio, ele hipnotiza quem tenta invadir seu território e, como consequência, quem faz isso é levado para o seu covil, onde acaba por ser devorado.
O Pai do Mato
Outro ser, que segundo o imaginário pantaneiro viveria na região é o “Pai do Mato”. Ele seria encarregado de guardar as matas e protegê-las de qualquer interferência que altere a ordem das coisas e, principalmente, que venha de quebrar o silêncio da noite.
Um indicativo da presença do “Pai do Mato”, conforme a lenda, é um forte grito que ecoa pelas matas. A estória alerta ainda que esse grito não deve ser respondido, caso contrário, a pessoa corre o risco de sofrer uma espécie de confusão mental e se perder em meio a vegetação.
Ilustração da lenda pantaneira Pai-do-Mato
Clube Brasileiro de Trens Fantasmas/Ilustração
Outras lendas do estado
Além da região pantaneira, Mato Grosso do Sul tem ainda muitas lendas difundidas entre a população de outras partes do estado. Entre as principais estão:
Senhorzinho
Conhecido pela bondade e o “dom da cura”, a lenda Senhorzinho apareceu na década de 40 na região de Bonito, polo de ecoturismo do estado. Segundo a tradição oral, ele seria um profeta mudo, que foi perseguido devido a suas “curas” desbancarem os farmacêuticos do local. Teria sido capturado, preso e morto dentro do município.
“O Senhorzinho é uma personalidade histórica e uma de suas lendas se resume a história da cobra que está presa em uma caverna na cidade de Bonito. Quanto mais essas histórias vão se acumulando ao redor dele, mais se reforça essa ideia de ‘sagrado'”, afirmou o professor ao g1MS.
Manchete publicada no jornal de Bonito, em 1995
Documentário Mestre Divino/ Geisiany de Andrade e Kemila dos Santos
Cobra da Serra Limpa
Relacionada ao Senhorzinho está outra lenda da região de Bonito, a da “Cobra da Serra Limpa”. O monstro teria sido trancado pelo curandeiro em uma gruta no alto da Serra Limpa e se um dia o ser for libertado pode atacar a cidade.
“Essas narrativas que cercam o Senhorzinho é o que podemos chamar de lendas. Existem outras como a dele ter sido decapitado e, depois de jogarem sua cabeça no rio, saiu vivo do outro lado ou mesmo a que ele estava na cadeia e saiu flutuando durante a noite pela prisão. Ninguém sabe como ele morreu, mas essas lendas fazem ele ser sempre parte de um acontecimento milagroso e excepcional”, diz o antropólogo.
Sinhozinho era conhecido por suas veste simples e sempre deixar uma cruz como forma de benção.
Documentário Mestre Divino/ Geisiany de Andrade e Kemila dos Santos
A sandália de Frei Mariano
Quem já percorreu a região de Corumbá ou “Capital do Pantanal”, como também é conhecida, sabe a velha lenda de uma sandália escondida que impediria a cidade de evoluir. Muito conhecido, o mito é um dos mais importantes para a história da região.
“Frei Mariano foi muito importante para Corumbá, porém ao entrar na política criou desavenças e acabou sendo expulso da cidade e, a lenda que ronda a personalidade é que o Frei tenha enterrado a sandália em algum lugar do município, dizendo que a cidade só iria se desenvolver se a encontrassem”, disse o antropólogo.
Corumbá: a cidade que guarda a lenda de Frei Mariano
Anderson Viegas/g1 MS
Entre mitos e verdades, o bioma Pantanal carrega uma vasta representatividade de fauna e flora, onde os animais são únicos, assim como a comunidade e a culinária típica. Na nova novela da Rede Globo, alguns desses costumes são apresentados em uma trama que garante emoção e também destaque para as belezas da região.
Conheça algumas curiosidades da planície alagada
Presente em dois estados do Centro-Oeste brasileiro, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, o Pantanal também avança por parte do território do Paraguai e da Bolívia. Clique aqui e veja algumas curiosidades da vida da maior planície alagável do mundo, Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da Biosfera pela Unesco.
Dia do Pantanal: conheça 5 curiosidades sobre o maior berço da biodiversidade brasileira
REM/MT
Saiba sobre a rotina dos pantaneiros
A vida pantaneira segue um ritmo próprio. As regras são ditadas pelas fases da lua, pelo ciclo de vida dos animais e pelas águas. Para chegar aos locais mais afastados, onde as pessoas vivem ilhadas, é necessário seguir pelo curso do rio por horas.
No Pantanal da vida real, estrada é o curso do rio, pôr-do-sol de ‘cinema’ é todo dia e respeito à natureza é obrigação.
Pantaneiros dividem como é a experiência de viver isolados em meio a maior planície alagável do planeta
Edemir Rodrigues/ Reprodução
Culinária do Pantanal é simples, rústica e tem aproveitamento integral dos alimentos
Para aguentar a “lida” diária ao acordar, o pantaneiro típico não abre mão do chimarrão, bebida trazida do sul do país, feita com água quente despejada em uma cuia com erva-mate. Depois, ainda na madrugada, vem a primeira refeição.
O tradicional quebra-torto. O prato une arroz carreteiro feito com carne de sol, ovo, farofa e ainda outros alimentos do dia anterior. Ainda no desjejum, o pantaneiro ingere uma bebida em busca de mais energia e disposição para o trabalho, uma mistura de água e guaraná em pó.
Para aguentar o dia inteiro de trabalho, sob o sol, o pantaneiro precisa de bastante energia e hidratação. Confira quais sãos os principais pratos do pantaneiro.
Arroz com bochecha de boi é servido em reuniões entre peões.
Reprodução/LunaGarcia
Pantanal tem animais que ‘brilham’ aos olhos
Pesquisador explica que as condições geológicas do território – planície alagada – possuem condições favoráveis à adaptação destes e tantos outros animais, os quais são considerados símbolos desta região.
Entre os principais animais estão a Onça-pintada, o Tuiuiú, Ariranha, Arara-azul, Cervo-do-pantanal e Jacarés.
Profissional registrou jacarés no fim de tarde no Pantanal de MS
Luiz Mendes/Arquivo Pessoal
Veja vídeos de Mato Grosso do Sul:

Continue Reading
Click to comment

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Coisas do Mato

Centenária árvore de Florianópolis citada no hino do município não é originária do Brasil, diz pesquisa

Published

on

By

Figueira da Praça XV é um dos principais cartões-postais da Capital de Santa Catarina. Ela foi identificada por pesquisadores da UFSC como sendo da espécie Ficus microcarpa. Árvore da Praça XV passa por processo de sequenciamento genético para descobrir origem
Tiago Ghizoni/NSC
A centenária figueira da Praça XV de Novembro, um dos cartões-postais de Florianópolis, localizada no Centro da cidade e citada inclusive no hino do município, não é originária do Brasil.
Por meio de sequenciamento genético, pesquisadores do laboratório de genética vegetal da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) descobriram que a árvore, na verdade, é natural de uma região entre Ásia tropical e Austrália. Ela foi identificada como sendo da espécie Ficus microcarpa.
✅Clique e siga o canal do g1 SC no WhatsApp
O professor de biotecnologia Valdir Stefenon, que conduziu o estudo, afirma que a descoberta resgata parte da história da cidade.
“Entendo que essa pesquisa revela uma importante face da ciência, ainda pouco conhecida, que é sua ligação com a história e a cultura”, disse.
Tema de lendas contadas há gerações pelos moradores de Florianópolis, a figueira foi plantada por volta de 1870 na área que atualmente abriga a escadaria da Catedral, também no centro da cidade. Cerca de 20 anos depois, em 1891, ela foi transplantada para a praça e desde então serviu de sombra aos viajantes, além de palco para festividades.  
Leia também:
Projeto cataloga Imbuias gigantes, espécie símbolo em risco de extinção
Árvores de ‘espécies exóticas invasoras’ com proibição de plantio em SC
Árvore da Praça XV em Florianópolis
Tiago Ghizoni/NSC
Como foi feita a pesquisa
Para a descoberta, os pesquisadores coletaram partes pequenas da árvore quem contêm genomas de cloroplastos. A substância pode ser encontrada, por exemplo, nas folhas de plantas. A partir disso, o material foi colocado em um equipamento de alta tecnologia que identificou e mostrou o DNA da figueira da Praça XV.
Os pesquisadores, então, puderam comparar os dados da árvore da Capital com os de outras milhares espécies registradas em um banco de dados mundial.
“O DNA é sequenciado e cada uma das milhares de bases que o compõem são identificadas em fragmentos de tamanho variados. Esses fragmentos são, então, ordenados, como se estivéssemos montando um quebra-cabeças. Nesta etapa, o genoma nuclear, o genoma do cloroplasto e o genoma das mitocôndrias são separados em análises de bioinformática”, explica o professor.
Na planta, cada um desses genomas tem sua própria função:
Nuclear: principal deles. Encontrado em todas as suas células.
Cloroplasto: responsável pela cor verde e pela fotossíntese, processo pelo qual a planta produz seu próprio alimento. Está nas folhas.
Mitocôndria: estrutura da célula que transforma em energia o açúcar que a planta produz.
Sequenciamento genético da figueira
Caroline Borges/g1
Árvore será clonada
Além do trabalho de sequenciamento genético, os pesquisadores também desenvolvem uma pesquisa para clonagem da árvore. Usando filamentos mais novos da árvore, o processo vai ajudar a perpetuar as características genéticas da atual figueira.
Segundo Stefenon, os primeiros resultados são positivos:
“A clonagem de espécies arbóreas em laboratório é um processo complexo até o momento de se estabelecer os protocolos de trabalho. Por enquanto, conseguimos estabelecer dois clones no laboratório, os quais ainda estão pequenos”, revela.
Árvore da Praça 15 em Florianópolis
Tiago Ghizoni
Ações que envolvem diagnósticos fitossanitário e nutrição, por exemplo, também estão sendo realizadas para preservar a figueira. A previsão é que elas sejam concluídas no primeiro semestre deste ano.
A figueira, segundo o professor, tende a sofrer com a poluição dos carros e a menor interação com outras plantas e animais, por estar em um ambiente bastante urbanizado.
“Apesar disso, ela está bem e, com os tratamentos que foram realizados, ela tende a permanecer bela e imponente por muitos anos na Praça XV”, avalia.
✅Clique e siga o canal do g1 SC no WhatsApp
VÍDEOS: mais assistidos do g1 SC nos últimos 7 dias
Veja mais notícias do estado no g1 SC

Continue Reading

Coisas do Mato

Marco temporal sobre terras indígenas: entenda o que dizia a tese derrubada pelo STF

Published

on

By

Julgamento começou em 2021, após recurso da Funai, e foi retomado em 21 de setembro de 2023. Dispositivo previa que indígenas poderiam reivindicar somente terras ocupadas por eles antes da Constituição de 1988, desconsiderando grupos já expulsos. Indígenas comemoram derrubada do marco temporal em Brasília
O Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou nesta quarta-feira (20), por 9 votos a 2, a aplicação da tese do marco temporal na demarcação de terras indígenas. A discussão colocou em lados opostos ruralistas e povos originários, que saíram vitoriosos na disputa.
O dispositivo previa que só poderiam ser demarcadas terras que já estavam ocupadas por indígenas em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição. Esse entendimento deriva de uma interpretação literal do artigo 231 da Constituição, que diz:
“São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.
A análise no STF começou em 26 de agosto de 2021, a partir de um recurso apresentado Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) contra o marco temporal. Nesta quarta, a pauta voltou ao plenário da Corte. O voto do ministro Luiz Fux consolidou a corrente segundo a qual o dispositivo fere a Constituição.
A demarcação de terras indígenas é um direito garantido pela Constituição Federal de 1988, que estabelece aos indígenas o chamado “direito originário” sobre as suas terras ancestrais. Isso quer dizer que eles são considerados, por lei, os primeiros e naturais donos do território, sendo obrigação da União demarcar todas as terras inicialmente ocupadas por esses povos.
👉 Esta reportagem abordará os seguintes assuntos:
Quem defendia e quem era contra o marco temporal
O impacto que teria para indígenas
Por que o caso foi parar no STF
Como votaram os ministros
Marco temporal no Congresso
STF retoma julgamento sobre marco temporal das terras indígenas
Carlos Moura/SCO/STF
1. Quem era contra e quem defendia a tese
❌ Indígenas eram contra o marco temporal. Eles afirmavam que a posse histórica de uma terra não necessariamente está vinculada ao fato de um povo originário ter ocupado determinada região antes de 5 de outubro de 1988. Segundo esse argumento, muitas comunidades são nômades, e outras tantas foram retiradas de suas terras pela ditadura militar.
❌ Para a organização não governamental (ONU) Instituto Socioambiental (ISA), a tese do marco temporal vinha sendo utilizada pelo governo Bolsonaro para travar demarcações e foi incluída em propostas legislativas anti-indígenas. Defensores da causa dos povos originários temiam que demarcações de terras já feitas fossem revogadas caso o STF validasse o dispositivo.
✔️Já proprietários rurais argumentavam que havia necessidade de se garantir segurança jurídica com relação ao tema e apontavam o risco de desapropriações caso a tese fosse derrubada.
✔️ Assim como os ruralistas, o ex-presidente Jair Bolsonaro era favorável à tese do marco temporal.
2. O impacto que poderia ter para indígenas
Análise: Os impactos socioambientais do Marco Temporal
Se a tese do marco temporal fosse aceita pelo STF, indígenas poderiam ser expulsos de terras ocupadas por eles, caso não comprovassem que estavam lá na data da promulgação da Constituição de 1988 e sem que fossem considerados os povos que já foram expulsos ou forçados a sair de seus locais de origem. Processos de demarcação de terras indígenas históricos, que se arrastavam por anos, poderiam ser suspensos.
O marco temporal também facilitaria que áreas que não deveriam ter titularidade, por pertencerem aos indígenas, protegendo física e culturalmente povos originários, pudessem ser privatizadas e comercializadas. A hipótese da comercialização respondia ao interesse do setor ruralista.
3. Por que o caso foi parar no STF

Veja, abaixo, a cronologia do julgamento:
Em 2013, o TRF-4 aceitou a tese do marco temporal ao conceder ao Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina a reintegração de posse de uma área que é parte da Reserva Biológica do Sassafrás, onde fica a Terra Indígena Ibirama LaKlãnõ. Na região, vivem os povos xokleng, guarani e kaingang.
A decisão do TRF-4 mantinha entendimento de 2009, de outra decisão da Justiça Federal em Santa Catarina.
Em 26 de agosto de 2021, o STF iniciou o julgamento de um recurso da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) que questionou a decisão do TRF-4. E o que fosse decidido pelos ministros da Corte criaria um entendimento que poderia ser aplicado em situações semelhantes em todo o Brasil.
Em 20 de setembro de 2023, o STF retomou o julgamento e derrubou a tese do marco temporal.
Após a decisão da Corte, o líder de povo Xokleng, Tucun Gakran comemorou:
“É a maior vitória dos indígenas desde quando o não indígena tomou as terras dos povos indígenas”
4. Como votaram os ministros
Votaram contra o marco temporal:
Edson Fachin (relator)
Alexandre de Moraes
Cristiano Zanin
Luís Roberto Barroso
Dias Toffoli
Luiz Fux
Cármen Lúcia
Gilmar Mendes
Rosa Weber
Dois ministros consideraram que o marco temporal deveria ser considerado no momento da demarcação de terras indígenas:
Nunes Marques
André Mendonça
5. Marco temporal no Congresso
Além do processo que corria no STF, um projeto entrou em tramitação no Congresso para tentar transformar a tese do marco temporal em lei. Trata-se do PL nº 490/2007, que determina que devem ter direito às terras consideradas ancestrais somente os povos que as estivessem ocupando no dia da promulgação da Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988.
A proposta do legislativo altera o “Estatuto do Índio” para permitir, segundo o texto, um “contrato de cooperação entre índios e não índios”, para que estes possam realizar atividades econômicas em terras indígenas. Além disso, a proposta prevê que não indígenas tenham contato com povos isolados “para intermediar ação estatal de utilidade pública”.
Veja, abaixo, a cronologia do PL:
Em 2007, o PL foi proposto na Câmara dos Deputados.
Em 2009, o texto foi rejeitado na Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
Em 2018, o PL acabou arquivado.
No entanto, ainda em 2018, a proposta foi ressuscitada durante a campanha eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro, que prometeu acabar com “reserva indígena no Brasil”.
Em 29 de junho de 2021, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, presidida pela deputada Bia Kicis (PSL-DF), entendeu que o texto do PL era constitucional.
Em 30 de maio de 2023, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto, por 283 votos a 155, com apoio público do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). Houve uma abstenção. O texto, então, foi para o Senado.
Em 20 de setembro de 2023, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado adiou a votação do PL. O adiamento ocorreu após a leitura do parecer favorável ao projeto, apresentado pelo senador Marcos Rogério (PL-RO), e atendeu a um pedido de vista (mais tempo para análise) coletivo de senadores da base aliada ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Governistas ainda tentaram postergar a análise com uma tentativa de convocar audiência pública para debater o tema, mas a base acabou derrotada por 15 votos a 8. Com isso, a votação do projeto está prevista para 27 de setembro de 2023, em data posterior à última atualização desta reportagem.

Continue Reading

Coisas do Mato

Suíça fará doações ao Fundo Amazônia, anuncia representante do país europeu

Published

on

By

Conselheiro federal da Confederação Suíça, Guy Parmelin, deu a declaração durante um fórum sobre investimentos e sustentabilidade, realizado no Itamaraty. Ele não citou valores. Guy Parmelin, conselheiro da Suíça, durante declaração à imprensa, no Itamaraty
Reprodução/TV Globo
O conselheiro federal da Confederação Suíça, Guy Parmelin, afirmou nesta quarta-feira (5) que a Suíça passará a fazer doações para o Fundo Amazônia. Ele não citou valores dos aportes.
Parmelin fez o anúncio ao lado do vice-presidente Geraldo Alckmin, na sede do Ministério das Relações Exteriores. Os dois participaram do Fórum Brasil-Suíça de Investimentos e Inovação em Infraestrutura e Sustentabilidade.
“A partir de hoje, aprimoraremos nosso engajamento. Tenho o prazer de anunciar que a Suíça vai contribuir para o Fundo Amazônia. A primeira contribuição será nas próximas semanas. Queremos lançar essa parceira com o Brasil e outros países”, afirmou o representante do país europeu.
Criado em 2008, o Fundo Amazônia recebe doações majoritariamente da Noruega e também da Alemanha. Em 2019, primeiro ano da gestão Jair Bolsonaro, os países suspenderam os repasses e congelaram os valores para novos projetos, mantendo somente os pagamentos já programados.
Além de Suíça, Estados Unidos e Reino Unido já anunciaram que farão aportes ao fundo.
Em declaração à imprensa, Alckmin agradeceu pela iniciativa dos suíços. “Muito importante para a recuperação da nossa Floresta Amazônica, [gostaria de] destacar a boa parceria econômica e as oportunidades de investimentos”, afirmou o vice-presidente.
Alckmin disse também que o Brasil tem compromisso com o desenvolvimento sustentável e o combate ao desmatamento ilegal.
“As Forças Armadas, inclusive, estão presentes na Amazônia para retirar garimpeiros ilegais, invasores de áreas de preservação. Enfim, um trabalho grande na região”, declarou o vice-presidente.
Na mesma linha de Alckmin, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que o governo brasileiro lançará ainda em julho um novo plano de desenvolvimento para o país que terá como “pilar central” a transição energética.
“O Brasil tem desafios, problemas a superar, mas, ao mesmo tempo que temos desafios, esses desafios se apresentam como enormes oportunidades de investimento e parcerias”, afirmou o ministro.
Acordo Mercosul-EFTA
Durante os pronunciamentos desta quarta-feira, Alckmin e Parmelin citaram o acordo comercial negociado entre o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), da qual a Suíça faz parte.
Negociado desde 2017, o acordo com o grupo foi concluído em 2019, após dez rodadas de negociações. Ainda há, contudo, algumas pendências relativas a questões técnicas e, por isso, ainda não foi finalizado.
“Temos todo interesse em ampliar a abertura comercial e a possibilidade de investimentos recíprocos com a União Europeia e a EFTA. Com a União Europeia, o governo já está mais adiantado e estamos confiantes que chegaremos a bom termo. Com a EFTA, poderemos ter complementariedade econômica de investimentos que vão gerar emprego e renda”, disse Alckmin no fórum.
“O acordo Mercosul-EFTA é um instrumento-chave para reforçar ainda mais o potencial de cooperação entre nossos países”, acrescentou Guy Parmelin.
De acordo com a página oficial do Mercosul, o comércio entre o bloco e os países da EFTA gira em torno de US$ 7 bilhões anuais.

Continue Reading

Trending

Copyright © 2017 Zox News Theme. Theme by MVP Themes, powered by WordPress.