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Festas e Rodeios

Livro sobre primeiro disco de Nara Leão tem obviedade do título redimida pelo apuro do texto

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Álbum da cantora é analisado por Hugo Sukman no contexto social, político e musical de 1964. Capa d’O livro do disco’ sobre o álbum ‘Nara’, lançado em fevereiro de 1964 por Nara Leão (1942 – 1989)
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Resenha de livro
Título: O livro do disco – Nara Leão – Nara (1964)
Autor: Hugo Sukman
Edição: Cobogó
Cotação: * * * *
♪ A narrativa estruturada com apuro pelo jornalista e escritor Hugo Sukman na abordagem do primeiro álbum de Nara Leão (19 de janeiro de 1942 – 7 de junho de 1989) – assunto do mais recente título da coleção O livro do disco – redime a obviedade da escolha do álbum analisado.
De 1964 a 1989, a cantora construiu discografia antenada que abarca vários títulos ainda pouco ou nada explorados na bibliografia musical brasileira – casos de Nara pede passagem (1966), Vento de maio (1967), Coisas do mundo (1969), Os meus amigos são um barato (1977 – pioneiro disco de duetos que antecipou tendência fonográfica das décadas seguintes), Romance popular (1981) e Meu samba encabulado (1983), para citar somente seis dos 24 álbuns oficiais da artista de origem capixaba e criação carioca.
Nara, o emblemático álbum lançado pela cantora em 1964, tem importância tão fundamental que já teve a gênese exposta e debatida em livros sobre a evolução da Bossa Nova, nas três biografias da cantora – Nara Leão – Uma biografia (Sergio Cabral, 2001), Nara Leão – A musa dos trópicos (Cássio Cavalcante, 2014) e Ninguém pode com Nara Leão – Uma biografia (Tom Cardoso, 2001) – e no livro acadêmico Nara Leão – Trajetória, engajamento e movimentos musicais (Daniel Lopes Saraiva, 2018).
Com texto escrito com estilo, sem prejuízo da fluência e do teor de informação Hugo Sukman reconta a história do álbum Nara a partir de nota publicada no Jornal do Brasil em 21 de fevereiro de 1964 sobre a inauguração do bar ZiCartola e a edição iminente do primeiro disco da cantora.
É a partir dessa nota que Sukman destrincha o contexto social, político e musical que agregou valor ao disco em que Nara, rejeitando o rótulo involuntário de “Musa da Bossa Nova”, ignora o repertório da linha sal, céu, sol, sul do movimento revolucionário de 1958 para dar voz – pequena, mas de grande alcance no universo da música brasileira – a compositores da ala mais engajada da Bossa (turma capitaneada por Carlos Lyra) e a compositores situados geograficamente e ideologicamente como “do morro”.
Nara, o álbum lançado em 27 de fevereiro de 1964, vislumbrou a MPB que ganharia forma mais nítida a partir de 1965, ano da explosão do gênero universitário na plataforma inflamada dos festivais, sem promover ruptura radical com a Bossa Nova na arquitetura instrumental, construída com arranjos do maestro Lindolpho Gaya (1921 – 1987) e, na última das 12 músicas, Moacir Santos (1926 – 2006).
Editado em fevereiro com capa que remete à estética e as cores das artes minimalistas dos discos da Elenco, gravadora que lançou o primeiro álbum de Nara, o livro de Hugo Sukman acerta ao discorrer sobre o disco sem tirar o foco do contexto político do Brasil.
Até porque, com a consolidação do golpe militar em 31 de março de 1964, a letra da Marcha da quarta-feira de cinzas (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1962) passou a soar premonitória na abertura do disco em que, ao dar voz a Lyra, Nara Leoa se engajou na luta dos compositores perseguidos pela ditadura por terem erguido o Centro Popular de Cultura (CPC), logo diluído pela máquina da repressão.
Tudo isso está n’O livro do disco sobre o álbum Nara entre contextualizações das vidas e obras de Cartola (1908 – 1980), Nelson Cavaquinho (1911 – 1986) e Zé Kétti (1921 – 1999) na época, e mesmo antes, em que esses compositores dos subúrbios cariocas ganharam a voz de Nara Leão, cantora vinda de meio social abastado.
Enfim, toda essa história já foi contada e recontada, mas, com conhecimento de causa, Sukman esquadrinha o tema ao longo de 224 páginas bem escritas, em narrativa que, no todo, forma aprofundado faixa-a-faixa sobre cada uma das 12 músicas de disco de fato antológico que apontou a ideologia que nortearia a trajetória de Nara Leão.

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Pedro Madeira confirma a expectativa com bom álbum entre o samba e o soul

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Cantor e compositor carioca lança o coeso disco autoral ‘Semideus dos sonhos’ em 10 de outubro. Capa do álbum ‘Semideus dos sonhos’, de Pedro Madeira
Gabriel Malta / Divulgação
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Semideus dos sonhos
Artista: Pedro Madeira
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ Em 2018, Pedro Madeira era mais um na multidão de fãs de Iza, na primeira fila de show da cantora, quando ganhou o microfone da artista e, da plateia, fez breve participação no show. Ali, naquele momento, o carioca morador da comunidade de Pau Mineiro, no bairro de Santa Cruz, fã de Iza e de Beyoncé, se revelou cantor para ele mesmo.
Decorridos seis anos e três singles, Pedro Madeira já é cantor e compositor profissional e se prepara para lançar o primeiro álbum, Semideus dos sonhos, em 10 de outubro.
Exposto na capa do álbum em expressiva foto de Gabriel Malta, Madeira já lançou três singles – Chuva (2022), Pássaros (2023) e Bem que se quis (2023) – em que transitou pelo soul nacional da década de 1970 (sobretudo em Chuva) e pelo pop ítalo-brasileiro na (trivial) abordagem do sucesso de Marisa Monte.
No quarto single, Só mais um preto que já morreu, o cantor cai no samba em gravação que chega ao mundo amanhã, 27 de setembro, duas semanas antes do álbum.
Com letra que versa sobre o genocídio cotidiano do povo preto, o samba Só mais um preto que já morreu é composto por Pedro com Bruno Gouveia, parceiro nesta música (e em Pássaros) e produtor musical do álbum em função dividida com Raul Dias nas duas faixas (Raul assina sozinho a produção das outras dez faixas).
Fora do arco autoral em que gravita o disco, Pedro Madeira enaltece o ofício de cantor em Minha missão (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1981) em arranjo que se desvia da cadência do samba, tangenciando clima transcendental na atraente gravação calcada na voz e nos teclados de Victor Moura.
O canto afinado de Pedro se eleva em Petições (Ozias Gomes e Pedro Madeira), canção que soa como oração de clamor por paz na Terra enquanto lamenta a situação do mundo atual. Arranjo, canto e composição se harmonizam em momento épico do disco.
Entre vinhetas autorais como O outro lado e Introdução ao amor (faixas com textos recitados), Pedro Madeira expõe a vocação para o canto e o som afro-brasileiro na música-título Semideus dos sonhos. Já o fluente ijexá Cheiro de flor exala o perfume do amor entranhado no repertório deste disco feito sem feats e modas.
Parceria de Pedro com o produtor Raul Dias, Perigo é pop black contemporâneo formatado com os músicos da banda-base do álbum Semideus dos sonhos, trio integrado por Jeff Jay (percussão), o próprio Raul Dias (guitarra e baixo) e Victor Moura (teclados). No fecho do disco, o pop soul Terra arrasada se joga na pista para tentar colar um coração partido.
Com este coeso primeiro álbum, Semideus dos sonhos, Pedro Madeira confirma a boa expectativa gerada quando o single Chuva caiu no mundo em novembro de 2022.
Iza teve faro quando deu o microfone para Pedro Madeira na plateia há seis anos.
Pedro Madeira regrava o samba ‘Minha missão’ entre as músicas autorais do primeiro álbum, ‘Semideus dos sonhos’
Gabriel Malta / Divulgação

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‘The Last of Us’: 2ª temporada ganha trailer; ASSISTA

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Prévia mostra Kaitlyn Dever como a antagonista Abby. Novos episódios da adaptação de games estreia em 2025. Assista ao trailer da 2ª temporada de ‘The Last of Us’
A segunda temporada de “The Last of Us” ganhou seu primeiro trailer completo nesta quinta-feira (26). Assista ao vídeo acima.
Os novos episódios devem adaptar o segundo game da franquia e estreiam em algum momento de 2025.
A prévia mostra o retorno de Pedro Pascal (“The Mandalorian”) como Joel e Bella Ramsey (“Game of thrones”) como Bella, dois sobreviventes que formam uma ligação imprevista em um mundo pós apocalíptico dominado por criaturas monstruosas.
Também apresenta as primeiras imagens de Kaitlyn Dever (“Fora de série”) como a grande antagonista da história, Abby.
A série da HBO estreou em 2023 e foi uma das mais indicadas ao Emmy daquele ano.

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A reação dos irmãos Menéndez, condenados à prisão perpétua por matar os pais, à nova série ‘Monstros’ da Netflix

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A nova temporada de Monstros conta a história real de dois irmãos que mataram seus pais no final dos anos 1980 em Beverly Hills. Cooper Koch (à esquerda) e Nicholas Chavez interpretam Erik e Lyle Menéndez, respectivamente
Divulgação/Netflix
Uma nova série da Netflix sobre dois irmãos que mataram os pais foi duramente criticada por um dos homens que inspirou a produção.
Monstros – Irmãos Menéndez: Assassinos dos Pais estreou na semana passada e rapidamente se tornou uma das mais assistidas na plataforma de streaming.
A série é protagonizada por Cooper Koch e Nicholas Alexander Chavez como os dois irmãos, e por Javier Bardem e Chloë Sevigny como seus pais.
Lyle e Erik Menéndez são dois irmãos que mataram seus pais milionários em 20 de agosto de 1989. José e Kitty Menéndez foram alvejados com vários disparos à queima-roupa em sua mansão em Beverly Hills.
Os irmãos, que tinham 21 e 18 anos na época, inicialmente disseram à polícia que encontraram os pais mortos ao chegarem em casa.
No entanto, foram julgados e condenados pelo parricídio.
Na época, os irmãos afirmaram que cometeram os assassinatos em legítima defesa, após anos de supostos abusos físicos, emocionais e sexuais.
O Ministério Público, por outro lado, argumentou que eles queriam matar os pais pela herança.
Eles foram sentenciados à prisão perpétua, sem possibilidade de liberdade condicional.
Uma “calúnia desalentadora”
Na prisão, e por meio de uma carta publicada no X (antigo Twitter) por sua esposa, Erik Menéndez questionou a produção no dia seguinte à sua estreia, afirmando que se trata de uma “calúnia desalentadora”.
“Eu achava que as mentiras e as representações tendenciosas que recriavam Lyle eram coisa do passado, que tinham criado uma caricatura de Lyle baseada em mentiras horríveis e descaradas e que agora voltam a abundar na série”, destacou.
“Só posso acreditar que fizeram isso de propósito. Com grande pesar, digo que acredito que Ryan Murphy [criador da série] não pode ser tão ingênuo e impreciso sobre os fatos de nossas vidas a ponto de fazer isso sem má intenção”, acrescentou o irmão mais novo.
“É triste para mim saber que a representação desonesta da Netflix das tragédias que cercam nosso crime fez com que as dolorosas verdades retrocedessem vários passos no tempo, para uma época em que a promotoria construiu uma narrativa baseada em um sistema de crenças segundo o qual homens não eram abusados sexualmente e que homens experienciavam o trauma da violação de maneira diferente das mulheres”, continuou.
“Essas mentiras horríveis foram desmentidas e expostas por inúmeras vítimas corajosas que superaram sua vergonha pessoal e falaram com coragem ao longo das últimas duas décadas”, disse Erik.
O drama da Netflix apresenta os assassinatos a partir de diferentes perspectivas e explora o que poderia ter levado os irmãos a matar os pais.
No entanto, a produção se esforça para mostrar as coisas do ponto de vista dos pais, algo que seus criadores afirmaram ter se baseado em uma pesquisa aprofundada.
O que diz o criador da série
Ganhador de um Oscar, Javier Bardem (à esquerda) interpreta o pai dos jovens na série da Netflix
Divulgação/Netflix
A série sobre a família Menéndez é uma continuação da controversa primeira temporada de Monstros sobre o serial killer americano Jeffrey Dahmer, que foi criticada em alguns setores por ser insensível.
Esses dramas foram idealizados por Ryan Murphy, diretor, roteirista e produtor por trás de séries como Glee, Pose, Vigilante, Feud, American Horror Story, Hollywood e Ratched, em parceria com Ian Brennan, com quem também criou Glee.
Em declarações à Entertainment Tonight, Murphy afirmou: “Acho interessante que tenham feito uma declaração sem ter assistido ao programa”.
“É realmente difícil, se se trata da sua vida, ver sua vida na tela”, reconheceu.
“O que me parece interessante, e que ele não menciona em sua declaração, é que, se você assistir ao programa, diria que 60-65% da nossa série se concentra no abuso e no que eles afirmam que aconteceu”, afirmou Murphy.
“Fazemos isso com muito cuidado e damos espaço para que eles contem sua versão, e falem abertamente sobre isso”, continuou.
No entanto, acrescentou Murphy, ele e sua equipe sentiram que era importante também mostrar as coisas do ponto de vista dos pais.
“Neste tempo em que as pessoas podem falar sobre abuso sexual, discutir e escrever sobre todos os pontos de vista pode ser controverso”, apontou.
“Houve quatro pessoas envolvidas, duas delas estão mortas. O que acontece com os pais? Como narradores, tínhamos a obrigação de tentar incluir sua perspectiva a partir da nossa pesquisa, e assim fizemos”, defendeu.
Com informações de Steven McIntosh, jornalista de entretenimento da BBC.
O caso dos irmãos que mataram os pais em Beverly Hills retratado em nova temporada da série ‘Monstros’ da Netflix
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