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Festas e Rodeios

Cida Bento lança livro sobre dificuldades de inserção de negros no mercado de trabalho

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‘Há um pacto silencioso que faz brancos sempre preferirem brancos’, diz a psicóloga e ativista social considerada uma das 50 pessoas mais influentes do mundo no campo da diversidade. Cida Bento lança livro “O Pacto da branquitude”
Companhia das Letras/Divulgação
Ela cansou de receber nãos e portas na cara. Depois de entender que o ponto era a cor de sua pele – e, claro, o racismo estrutural na sociedade brasileira –, a psicóloga Maria Aparecida da Silva Bento, mais conhecida como Cida Bento, decidiu fazer da questão sua profissão e razão de engajamento.
Tornou-se estudiosa do assunto e ativista. No início da década de 1990 fundou, ao lado de outros dois militantes, o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), uma organização não governamental que luta para que os negros consigam espaços equivalentes no mercado.
A organização conta com uma equipe multidisciplinar, formada por juristas, educadores, assistentes sociais, sociólogos e psicólogos. Em 2015, a revista inglesa The Economist elegeu Cida Bento como uma das 50 pessoas mais influentes do mundo no campo da diversidade, ao lado de nomes como Bill Gates, Hillary Clinton e Angelina Jolie.
Para Bento, o combate ao preconceito passa por falar sobre o tema. “[É preciso] ampliar o conhecimento, se engajar nas lutas por equidade e pela mudança dos sistemas que geram ônus para uns e bônus para outros”, afirma ela, em entrevista à DW Brasil.
Em seu recém-lançado livro “O pacto da branquitude”, Bento apresenta sua tese sobre por que negros costumam ser preteridos em processos seletivos. “É um pacto não verbalizado, não combinado e silencioso, que faz com que brancos sempre preferenciem brancos para os melhores lugares sociais e se fortaleçam mutuamente nesses lugares”, explica a psicóloga.
“De outro lado, rejeitam ou interditam negros para esses melhores lugares por entenderem que não têm a estética adequada, não estão preparados, são ameaçadores, e por aí vai.”
De que forma as recusas que a senhora teve em processos seletivos, ao longo de sua carreira, deram subsídios para a criação do Ceert e a escrita deste livro?
A repetida recusa mesmo em situações em que eu via que tinha boas condições para preencher a vaga me impulsionou para estudar as vozes de pessoas que trabalhavam e daquelas que comandavam os processos de recursos humanos ou de chefias em grandes organizações. E também me impulsionou a atuar com organizações ligadas aos movimentos sociais visando a incidir concretamente nas políticas públicas, sindicais e de organizações empregadoras para mudar a situação de discriminação e exclusão no trabalho e na educação básica.
Pode nos relatar uma situação emblemática dessas recusas e como ficou claro para a senhora que se tratava de uma questão racial?
Eu já estava formada [ela concluiu a graduação em 1977], tinha me especializado em processos seletivos e tive excelente desempenho nos testes e dinâmica de grupo. Mas entre sete candidatas [para a determinada vaga] eu era a única negra. Disputei o lugar de assistente de recursos humanos e perdi. Isso surpreendeu a mim e a outras candidatas.
A senhora chegava a esses processos seletivos em condições de formação similares às de seus concorrentes. Ao mesmo tempo, dado o racismo estrutural da sociedade brasileira, sabemos que é muito mais difícil para uma pessoa negra conseguir chegar ao ápice da escolaridade. Quão difícil foi para a senhora conseguir se graduar? Havia preconceitos também durante os estudos?
Sim, foi difícil. Primeiro economicamente, pois minha família não tinha qualquer reserva para o enfrentamento dos momentos difíceis [ela foi a primeira pessoa de sua família a ter diploma de curso superior]. Depois por sinais concretos que a universidade dava de que eu estava “fora de lugar”, o que me fazia sempre desejar abandonar os estudos.
E como foi levar essa questão para a academia, desenvolvendo a temática no mestrado e no doutorado?
Foi como “remar contra a maré”. Estudar branquitude e discriminação sob o poder de professores brancos que afirmavam a neutralidade e objetividade dos processos de recursos humanos era como afrontá-los.
Como pesquisadora, a senhora também sente preconceito?
Sim. Muitas vezes me deparo com questões que exigem um olhar sobre meus próprios “pré-conceitos”, relacionados com a grande diversidade religiosa, de gênero, de identidade de gênero etc. A diferença é que por viver a experiência de ser alvo desses processos, o caminho de identificação e mudança interna pode ser abreviado.
Em seu trabalho, a senhora conceitualiza o chamado “pacto narcísico da branquitude”. Poderia explicar, em poucas palavras, o que significa esse pacto?
É um pacto não verbalizado, não combinado e silencioso, que faz com que brancos sempre preferenciem brancos para os melhores lugares sociais e se fortaleçam mutuamente nesses lugares. De outro lado, rejeitam ou interditam negros para esses melhores lugares por entenderem que não têm a estética adequada, não estão preparados, são ameaçadores, e por aí vai.
Como nós, enquanto sociedade, podemos contribuir para que esse cenário racista seja revertido?
Fazendo o que fazemos aqui: falar sobre o tema, ampliar o conhecimento, se engajar nas lutas por equidade e pela mudança dos sistemas que geram ônus para uns e bônus para outros.
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Pedro Madeira confirma a expectativa com bom álbum entre o samba e o soul

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Cantor e compositor carioca lança o coeso disco autoral ‘Semideus dos sonhos’ em 10 de outubro. Capa do álbum ‘Semideus dos sonhos’, de Pedro Madeira
Gabriel Malta / Divulgação
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Semideus dos sonhos
Artista: Pedro Madeira
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ Em 2018, Pedro Madeira era mais um na multidão de fãs de Iza, na primeira fila de show da cantora, quando ganhou o microfone da artista e, da plateia, fez breve participação no show. Ali, naquele momento, o carioca morador da comunidade de Pau Mineiro, no bairro de Santa Cruz, fã de Iza e de Beyoncé, se revelou cantor para ele mesmo.
Decorridos seis anos e três singles, Pedro Madeira já é cantor e compositor profissional e se prepara para lançar o primeiro álbum, Semideus dos sonhos, em 10 de outubro.
Exposto na capa do álbum em expressiva foto de Gabriel Malta, Madeira já lançou três singles – Chuva (2022), Pássaros (2023) e Bem que se quis (2023) – em que transitou pelo soul nacional da década de 1970 (sobretudo em Chuva) e pelo pop ítalo-brasileiro na (trivial) abordagem do sucesso de Marisa Monte.
No quarto single, Só mais um preto que já morreu, o cantor cai no samba em gravação que chega ao mundo amanhã, 27 de setembro, duas semanas antes do álbum.
Com letra que versa sobre o genocídio cotidiano do povo preto, o samba Só mais um preto que já morreu é composto por Pedro com Bruno Gouveia, parceiro nesta música (e em Pássaros) e produtor musical do álbum em função dividida com Raul Dias nas duas faixas (Raul assina sozinho a produção das outras dez faixas).
Fora do arco autoral em que gravita o disco, Pedro Madeira enaltece o ofício de cantor em Minha missão (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1981) em arranjo que se desvia da cadência do samba, tangenciando clima transcendental na atraente gravação calcada na voz e nos teclados de Victor Moura.
O canto afinado de Pedro se eleva em Petições (Ozias Gomes e Pedro Madeira), canção que soa como oração de clamor por paz na Terra enquanto lamenta a situação do mundo atual. Arranjo, canto e composição se harmonizam em momento épico do disco.
Entre vinhetas autorais como O outro lado e Introdução ao amor (faixas com textos recitados), Pedro Madeira expõe a vocação para o canto e o som afro-brasileiro na música-título Semideus dos sonhos. Já o fluente ijexá Cheiro de flor exala o perfume do amor entranhado no repertório deste disco feito sem feats e modas.
Parceria de Pedro com o produtor Raul Dias, Perigo é pop black contemporâneo formatado com os músicos da banda-base do álbum Semideus dos sonhos, trio integrado por Jeff Jay (percussão), o próprio Raul Dias (guitarra e baixo) e Victor Moura (teclados). No fecho do disco, o pop soul Terra arrasada se joga na pista para tentar colar um coração partido.
Com este coeso primeiro álbum, Semideus dos sonhos, Pedro Madeira confirma a boa expectativa gerada quando o single Chuva caiu no mundo em novembro de 2022.
Iza teve faro quando deu o microfone para Pedro Madeira na plateia há seis anos.
Pedro Madeira regrava o samba ‘Minha missão’ entre as músicas autorais do primeiro álbum, ‘Semideus dos sonhos’
Gabriel Malta / Divulgação

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‘The Last of Us’: 2ª temporada ganha trailer; ASSISTA

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Prévia mostra Kaitlyn Dever como a antagonista Abby. Novos episódios da adaptação de games estreia em 2025. Assista ao trailer da 2ª temporada de ‘The Last of Us’
A segunda temporada de “The Last of Us” ganhou seu primeiro trailer completo nesta quinta-feira (26). Assista ao vídeo acima.
Os novos episódios devem adaptar o segundo game da franquia e estreiam em algum momento de 2025.
A prévia mostra o retorno de Pedro Pascal (“The Mandalorian”) como Joel e Bella Ramsey (“Game of thrones”) como Bella, dois sobreviventes que formam uma ligação imprevista em um mundo pós apocalíptico dominado por criaturas monstruosas.
Também apresenta as primeiras imagens de Kaitlyn Dever (“Fora de série”) como a grande antagonista da história, Abby.
A série da HBO estreou em 2023 e foi uma das mais indicadas ao Emmy daquele ano.

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A reação dos irmãos Menéndez, condenados à prisão perpétua por matar os pais, à nova série ‘Monstros’ da Netflix

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A nova temporada de Monstros conta a história real de dois irmãos que mataram seus pais no final dos anos 1980 em Beverly Hills. Cooper Koch (à esquerda) e Nicholas Chavez interpretam Erik e Lyle Menéndez, respectivamente
Divulgação/Netflix
Uma nova série da Netflix sobre dois irmãos que mataram os pais foi duramente criticada por um dos homens que inspirou a produção.
Monstros – Irmãos Menéndez: Assassinos dos Pais estreou na semana passada e rapidamente se tornou uma das mais assistidas na plataforma de streaming.
A série é protagonizada por Cooper Koch e Nicholas Alexander Chavez como os dois irmãos, e por Javier Bardem e Chloë Sevigny como seus pais.
Lyle e Erik Menéndez são dois irmãos que mataram seus pais milionários em 20 de agosto de 1989. José e Kitty Menéndez foram alvejados com vários disparos à queima-roupa em sua mansão em Beverly Hills.
Os irmãos, que tinham 21 e 18 anos na época, inicialmente disseram à polícia que encontraram os pais mortos ao chegarem em casa.
No entanto, foram julgados e condenados pelo parricídio.
Na época, os irmãos afirmaram que cometeram os assassinatos em legítima defesa, após anos de supostos abusos físicos, emocionais e sexuais.
O Ministério Público, por outro lado, argumentou que eles queriam matar os pais pela herança.
Eles foram sentenciados à prisão perpétua, sem possibilidade de liberdade condicional.
Uma “calúnia desalentadora”
Na prisão, e por meio de uma carta publicada no X (antigo Twitter) por sua esposa, Erik Menéndez questionou a produção no dia seguinte à sua estreia, afirmando que se trata de uma “calúnia desalentadora”.
“Eu achava que as mentiras e as representações tendenciosas que recriavam Lyle eram coisa do passado, que tinham criado uma caricatura de Lyle baseada em mentiras horríveis e descaradas e que agora voltam a abundar na série”, destacou.
“Só posso acreditar que fizeram isso de propósito. Com grande pesar, digo que acredito que Ryan Murphy [criador da série] não pode ser tão ingênuo e impreciso sobre os fatos de nossas vidas a ponto de fazer isso sem má intenção”, acrescentou o irmão mais novo.
“É triste para mim saber que a representação desonesta da Netflix das tragédias que cercam nosso crime fez com que as dolorosas verdades retrocedessem vários passos no tempo, para uma época em que a promotoria construiu uma narrativa baseada em um sistema de crenças segundo o qual homens não eram abusados sexualmente e que homens experienciavam o trauma da violação de maneira diferente das mulheres”, continuou.
“Essas mentiras horríveis foram desmentidas e expostas por inúmeras vítimas corajosas que superaram sua vergonha pessoal e falaram com coragem ao longo das últimas duas décadas”, disse Erik.
O drama da Netflix apresenta os assassinatos a partir de diferentes perspectivas e explora o que poderia ter levado os irmãos a matar os pais.
No entanto, a produção se esforça para mostrar as coisas do ponto de vista dos pais, algo que seus criadores afirmaram ter se baseado em uma pesquisa aprofundada.
O que diz o criador da série
Ganhador de um Oscar, Javier Bardem (à esquerda) interpreta o pai dos jovens na série da Netflix
Divulgação/Netflix
A série sobre a família Menéndez é uma continuação da controversa primeira temporada de Monstros sobre o serial killer americano Jeffrey Dahmer, que foi criticada em alguns setores por ser insensível.
Esses dramas foram idealizados por Ryan Murphy, diretor, roteirista e produtor por trás de séries como Glee, Pose, Vigilante, Feud, American Horror Story, Hollywood e Ratched, em parceria com Ian Brennan, com quem também criou Glee.
Em declarações à Entertainment Tonight, Murphy afirmou: “Acho interessante que tenham feito uma declaração sem ter assistido ao programa”.
“É realmente difícil, se se trata da sua vida, ver sua vida na tela”, reconheceu.
“O que me parece interessante, e que ele não menciona em sua declaração, é que, se você assistir ao programa, diria que 60-65% da nossa série se concentra no abuso e no que eles afirmam que aconteceu”, afirmou Murphy.
“Fazemos isso com muito cuidado e damos espaço para que eles contem sua versão, e falem abertamente sobre isso”, continuou.
No entanto, acrescentou Murphy, ele e sua equipe sentiram que era importante também mostrar as coisas do ponto de vista dos pais.
“Neste tempo em que as pessoas podem falar sobre abuso sexual, discutir e escrever sobre todos os pontos de vista pode ser controverso”, apontou.
“Houve quatro pessoas envolvidas, duas delas estão mortas. O que acontece com os pais? Como narradores, tínhamos a obrigação de tentar incluir sua perspectiva a partir da nossa pesquisa, e assim fizemos”, defendeu.
Com informações de Steven McIntosh, jornalista de entretenimento da BBC.
O caso dos irmãos que mataram os pais em Beverly Hills retratado em nova temporada da série ‘Monstros’ da Netflix
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