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Furacão 2022: onda de funks ‘de ladinho’ traz de volta os Hawaianos e revela filho do MC Créu

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Dois funks com refrão parecido estouram danças ‘de ladinho’ no TikTok e fazem reaparecer antigos astros da produtora Furacão 2000: Os Hawaianos e MC Créu, empresário do filho, LK da Escócia. Ídolos da Furacão em 2008 e no Tiktok em 2022: à esquerda, o MC Creu no auge da ‘Dança do créu’ e agora com seu filho, o MC LK da Escócia. À direita, Os Hawaianos no auge da ‘Sequência do Pente’ e agora, de volta com a formação original
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Um segundo auge de ídolos da produtora de funk carioca Furacão 2000 parecia improvável em 2022. Mas a volta dos Hawaianos em formação original e do MC Créu, agora como guru e empresário do filho, LK da Escócia, é uma reviravolta que faz sentido na era do TikTok.
Hoje a onda é jogar de ladinho no TikTok . Os dois funks mais estourados no app de vídeos dão as instruções: “joga de ladinho, faz o coraçãozinho” e “desenrola, bate e joga de ladinho”.
Os artistas são amigos dizem que o verso em comum é um acaso. Afinal, dançar de ladinho é corriqueiro nos bailes cariocas.
Mas a letra semelhante é a menor coincidência. O mais incrível é que os dois hits simultâneos no TikTok reabilitam colegas da geração funkeira de 15 anos atrás. Os craques de 2008 têm a oferecer em 2022 a habilidade nos “funks de dancinha”.
Antes os mandamentos eram outros: “é o pente, é o pente, é o pente”, dos Hawaianos e “créu, créu, créu”, do MC homônimo… Parecia que o sucesso nacional de ambos tinha ficado lá em 2008.
“Desenrola, bate e joga de ladinho” é uma parceria dos Hawaianos com o rapper L7nnon e os DJs Bel da CDD e Biel do Furduncinho. Os Hawaianos voltaram em 2021 com formação original.
“Quebra de ladinho, faz o coraçãozinho” é obra do DJ LK da Escócia (filho do MC Créu), MC JL O Único, Breno e Pedrin da Escócia. LK ajudou o pai aos 7 anos a compor o “Créu”, era conhecido quando criança como “Créuzinho”, e hoje tem 21 anos.
A música dos Hawaianos é a mais estourada das duas. Ela já foi usada no TikTok mais de 800 mil vezes, virou comemoração de Neymar e está no top 10 do Spotify no Brasil. A do filho do Créu também está bem: dançada por mais de 450 mil “tiktokers”, entre eles Larissa Manoela e Maisa.
A segunda onda dos Hawaianos
Os Hawaianos antes da separação e da reunião: Tonzão, Gugu, Yuri e Dioguinho
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Em 2010, os Hawaianos eram as grandes estrelas da Furacão 2000. O vocalista do grupo, Yuri Hawaiano, foi chamado para dar uma força na 1ª música de uma nova artista da produtora. Ele pôs sua voz grave nos versos “É só um pente / não tem romance”, em “Eu vou ficar”, estreia de Anitta.
A maré virou. A amiga Anitta virou uma estrela pop global. Já os Hawaianos nunca mais conseguiram fazer versos tão populares como os do hit “É o pente”: “Traição é traição / Romance é romance / Amor é amor / E um lance é um lance”.
Os Hawaianos estouraram depois do Bonde do Tigrão, em uma época em que era normal ter grupos de funks com dançarinos. Eles tinham Yuri no vocal e Tonzão, Gugu e Dioguinho nas coreografias.
Mas, nos dez anos seguintes, começaram os desencontros entre os músicos e, principalmente, com empresários. Em 2011, Tonzão saiu dos Hawaianos e entrou para a música evangélica. Nos anos seguintes, Gugu e Dioguinho também saíram do grupo. Yuri acabou como único membro original.
“A gente não tinha a cabeça que tem hoje. Outras pessoas cuidavam da nossa carreira, mas pensavam mais nelas mesmas. A gente só queria saber de curtir e zoar. Chegou o momento da separação, deu um baque. A gente cambaleou por esse mundão. O grupo quase acabou e foi difícil”, diz Yuri.
A reviravolta começou com uma união dos três dançarinos. Tonzão, Gugu e Dioginho se juntaram e criaram o “Bonde dos Hawaianos”. Yuri continuava sozinho, preso a um contrato, mas queria se juntar aos amigos. Ele conseguiu resolver a burocracia e o quarteto original voltou em 2021.
Hawaianos de volta em 2022: Dioguinho, Tonzão, Yuri e Gugu
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O reencontro veio com sede de sucesso e uma habilidade que parecia coisa do passado e hoje é preciosa: ser um grupo de músicos-dançarinos.
“A gente já escreve a música já pensando na dança. Sempre foi assim”, diz o dançarino e compositor Tonzão, 34 anos. “Foi o que a gente pensou quando voltou. Hoje é a era da coreografia, a era das dancinhas. E esses apps de dança facilitam para a gente.”
Eles escreveram “Desenrola, bate, joga de ladinho” pensando em um público que sempre amou os Hawaianos: as crianças. Pérola, 10 anos, filha de Yuri, 35, ajudou a fazer a coreografia. Mikaelzinho, primo de Tom, e Jorginho, influencer mirim amigo deles, também ajudaram a bombar a música.
Outro reforço (esse adulto) foi o rapper L7nnon. Os Hawaianos iam gravar um clipe com ele, mas levaram junto o convite para um “feat” em “Desenrola”. Ele topou a parceria e encampou o projeto. A música ainda foi parar no Papatune Records, selo do influente produtor Papatinho.
Não deu outra: a volta dos Hawaianos estava destinada a estourar no TikTok. O maior influencer desta era das dancinhas, Neymar, já desenrolou, bateu e jogou de ladinho diversas vezes.
Os Hawaianos acabam de assinar contrato com a GR6, maior produtora de funk do Brasil, e gravaram com os novos colegas de firma Davi, Pedrinho e Don Juan. E eles deram entrevista ao g1 em um intervalo de gravação com os Barões da Pisadinha. Alta chance de novos hits.
Relembre os hits de 2008 e a volta em 2022 dos Hawaianos originais e do filho do MC Créu
A saga do Créu e do ‘Créuzinho’
Pai e filho: À esquerda, Sérgio Costa, 44 anos, o MC Créu. À direita, o filho dele, Sérgio Lucas, 21 anos, o DJ LK da Escócia
Reprodução / Instagram dos artistas
“Eu lutei pra caramba para o meu filho não entrar no ramo artístico”, diz Sérgio Costa, 44 anos, o MC Créu. “Essa vida de artista no Brasil é muito louca. A gente tem que lidar com grandes sucessos e grandes fracassos. Eu pensei que ele poderia não saber lidar com as frustrações e queria protegê-lo”.
Ele fala de sucesso e fracasso por experiência. MC Créu é tão “one-hit wonder” (artista de um sucesso só) que a faixa virou para sempre seu nome artístico.
Ele foi ídolo da Furacão na mesma época dos Hawaianos. A produtora tinha lançado 6 anos antes os álbuns “Tornado Muito Nervoso”, com sucessos como o Bonde do Tigrão. Dois anos depois, lançariam a MC Anitta. Entre os dois marcos do funk, o MC Créu foi um fenômeno mais fugaz.
“Fui muito roubado e enganado por não saber como funcionava a mecânica do sucesso e quando descobri levei um susto. Também fui roubado por amigos que amava. Não sabia lidar com aquilo. Enfim… tomei”, conta o MC Créu, que diz ter ficado deprimido após tanta frustração.
Se Sérgio era inocente, o filho, Sérgio Lucas, nem se fala. Ele vivia atrás do pai no estúdio. Foi a partir de uma brincadeira do menino, aliás, que o MC Créu fez seu hit.
Em 2008, o g1 o publicou a matéria “‘Dança do Créu’ vira febre na internet”. “A ideia partiu do filho pequeno, de 7 anos. O MC estava tentando encontrar uma letra para uma batida em seu estúdio em casa, quando o filho começou a brincar e dizer ‘créu’ depois de tudo que o pai falava.”
“Na época que a música explodiu, quando eu tinha 8, 9 anos, até as professoras da escola me chamavam de Créuzinho”, diz o filho.
“Eu ficava vendo ele produzir desde criança. Até na barriga da minha mãe ficava ouvindo. Se não fosse ele, não teria aprendido nada”, diz o filho, que hoje tem 21 anos e usa o nome artístico LK da Escócia.
Ele chegou a entrar na faculdade de Psicologia, seguindo a vontade do pai de não virar artista. Talvez como psicólogo entendesse melhor o desejo de contrariar e seguir o sonho antigo do pai ao mesmo tempo. Mas ele não sabe explicar: só trancou o curso e foi ser DJ.
O adolescente já tinha achado sua turma no Baile da Escócia, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Ele tocava no baile como o LK da Escócia, e formou um trio de produtores com colegas de mesmo sobrenome artístico: Pedrinho da Escócia e LK da Escócia.
Os donos do hit ‘Quebra de ladinho, faz o coraçãozinho’, da esquerda: Pedrinho da Escócia, LK da Escócia, JL o Ùnico e Breno da Escócia
Reprodução / Clipe Kondzilla
A partir de 2021, o trio começou a emplacar músicas no TikTok. Depois de ver o pai fazer a “dança créu”, cantada em forma de tutorial em 5 velocidades, seus funks eram 100% adaptados para as dancinhas – vide o nome do maior sucesso anterior: “Balança o ombrinho, trava, para e joga o cabelo”.
O hit atual, lançado há um mês, veio a partir de um recorte de vocais feitos pelo amigo MC JL O Único. LK também se arrisca em parte dos vocais. O título também tem cara de tutorial de dança: “Quebra de ladinho, faz o coraçãozinho”.
O pai desistiu de lutar: “Quando veio o sucesso no TikTok, eu vi que não tem jeito e falei: ‘Vamos trancar essa faculdade e vamos embora’. Resolvi entrar de cabeça no sonho dele.” Nesse meio tempo, Sérgio se formou em publicidade e continuou estudando marketing. Virou empresário do trio.
O pai não produz, mas opina nas músicas. “O funk é e sempre foi simples. E como o funk está muito atrelado à dança, quanto mais fácil, mais simples for a dança, a chance de estourar é maior”, Sérgio diz sobre o sucesso do filho (mas também poderia estar falando sobre o dele mesmo há 15 anos).
“A essência do funk vai ser sempre a favela. Quando a dancinha vem das favelas, da periferia, da comunidade, a chance de dar certo é sempre maior”, Créu defende.
Ele acha natural a semelhança dos dois hits “de ladinho”. “Sou super amigo dos Hawaianos. Fizemos muitos bailes e passamos por muita coisa juntos. Não cheguei a comentar com eles sobre a coincidência, mas jogar de ladinho é uma coisa que fazemos no funk carioca há 20 anos”.
Como não conseguiu segurar o filho, Créu agora quer ser um ponto de apoio na carreira dele: “Que ele aprenda sempre quando estiver em cima a aplicar para quando estiver embaixo. Vou estar sempre com ele de mãos dadas para subir e descer essas montanhas”.

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