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Ednardo canta ‘aqueles sonhos que a gente sonhava’ em álbum com inédita e histórica gravação de 1972

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Três músicas nunca lançadas surgem em ‘Sarau vox 72’, disco que apresenta registro seminal feito em Fortaleza antes de o artista cearense migrar para o sudeste do Brasil em busca do sucesso. Resenha de álbum
Título: Sarau vox 72
Artista: Ednardo
Edição: Discobertas
Cotação: * * * *
♪ Por apresentar gravação inédita feita pelo cearense Ednardo em 19 de maio de 1972, em Fortaleza (CE), o álbum Sarau vox 72 é documento histórico com cacife para atrair colecionadores de discos e estudiosos dos caminhos da MPB, sobretudo os que se interessam pelo fluxo migratório que deslocou cantores, compositores e músicos nordestinos para o eixo Rio de Janeiro – São Paulo ao longo do anos 1970 em busca da realização do sonho do sucesso.
“Eu só queria saber / Onde se encontrava / Aqueles sonhos / Que a vida inteira a gente sonhava”, aponta Ednardo no canto de Desembarque, uma das 17 músicas que o artista canta, se acompanhando ao violão, neste registro seminal feito com repertório majoritariamente autoral e então inédito em sala comercial do Edifício Parente, situada acima da loja de discos Vox, no centro de Fortaleza (CE).
Desembarque seria uma das 12 músicas incluídas por Ednardo no repertório do primeiro álbum solo do cantor, O romance do pavão mysteriozo, lançado em 1974.
Outras músicas autorais desse disco de 1974 – como a bela canção Ausência, Carneiro (cuja letra versa sobre a ida do artista para o Rio de Janeiro), Mais um frevinho danado (um frevo de fato) e Varal (parceria do compositor com Tânia Cabral) – também aparecem no disco Sarau vox 72 em gravações embrionárias de alto valor documental que agora ficam ao alcance do público em mais um excelente serviço prestado à memória musical brasileira pelo selo fonográfico Discobertas, aberto há 20 anos pelo pesquisador e produtor Marcelo Fróes.
Polo cultural da capital do Ceará naquele ano de 1972, a loja Vox era de José Gerardo Barbosa Lima, comerciante cujo filho guardou a fita com a gravação feita por Ednardo pouco antes de o cantor migrar para as capitais do sudeste do Brasil em movimento também feito pelos conterrâneos Amelinha, Belchior (1946 – 2017) e Fagner.
Cedida a Ednardo após quase 50 anos, a fita viabilizou a edição do álbum Sarau vox 72, editado em CD com tiragem limitada de 500 cópias com capricho e encarte com letras que somente peca pela escolha da cor amarela na grafia dos títulos das músicas, o que dificulta a leitura.
É detalhe gráfico de álbum relevante até por apresentar três boas canções de autoria de Ednardo – Além muito além (dos versos “Oh, meu amor, que fazes aí parada / Se tu tens toda a calçada / E o mundo pra correr / Pra correr…” no refrão aliciador), De areia e vento (Ednardo e Tânia Cabral) e Momentos (Ednardo) – que permaneceram inéditas em disco ao longo desses 50 anos. A safra de Sarau vox 72 apresenta repertório pautado por anseios e sonhos juvenis.
Ednardo em 1972, ano em que gravou 17 músicas em registro de voz & violão feito por iniciativa de loja de discos de Fortaleza
Acervo de Gerardo Barbosa Filho / Divulgação selo Discobertas
Atualmente com 77 anos, recém-completados em 17 de abril, José Ednardo Soares Costa Souza fez a gravação quando tinha 27 anos e, decidido a ir para Rio de Janeiro e São Paulo, largara a faculdade de engenharia química e um emprego na Petrobrás, como conta Ednardo no texto escrito pelo artista e publicado na contracapa interna do CD – informação bisada pelo pesquisador musical Renato Vieira em outro breve texto reproduzido no encarte.
“O disco passeia por algumas das músicas que costumávamos cantar nas noites à beira mar de Fortaleza junto a amigos e colegas do efervescente movimento posteriormente conhecido como Pessoal do Ceará”, contextualiza o artista no texto da contracapa.
Ednardo se refere ao grupo integrado por nomes como Rodger Rogério e Maria Elisete Morais de Oliveira, a cantora conhecida como Téti. Com Téti e Rogério, Ednardo gravou em 1972 o álbum coletivo Meu corpo minha embalagem todo gasto na viagem, lançado no início de 1973 com repertório que apresentou algumas músicas do registro despretensioso feito meses antes em Fortaleza (CE), casos do melancólico tema Curta-metragem (Rodger Rogério e Dedé Evangelista) e de Beira-mar.
Belchior também integrava o grupo em Fortaleza (CE) – o que explica a recorrência de músicas do compositor no álbum Sarau vox 72.
Uma delas é Bip… bip…, composição de Ednardo em parceria com Belchior apresentada em 1972 na voz do cantor Claudio Ornellas em eliminatória da sétima e última edição do Festival Internacional da Canção (FIC), mas nunca gravada em disco. A gravação ora lançada em Sarau vox 72 é a rigor o primeiro registro fonográfico da música.
O repertório de Sarau vox 72 também abarca Mucuripe (Fagner e Belchior), Na hora do almoço (Belchior, 1971) – música vitoriosa no IV Festival Universitário de Música Brasileira, realizado no ano anterior – e a então inédita Paralelas (Belchior), música cantada com a letra original, posteriormente modificada por Belchior. Fora do trilho cearense, Ednardo deu voz ao maroto xote Agarradinho (Vicente Amar e Blecaute, 1955), sucesso do cantor paulista Blecaute (1919 – 1983) na era do rádio.
Mesmo que o som de Sarau vox 72 soe tecnicamente sem viço por limitações da gravação feita em dois canais em fita cassete, o álbum embute a energia e o frescor da juventude que movia o Pessoal do Ceará naquele ano de 1972.
Ednardo canta músicas de Belchior no álbum ‘Sarau vox 72’
Divulgação

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