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Milton Nascimento se consagra na eternidade das canções que alicerçam ‘A última sessão de música’

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Com e sem boné, o ‘velho maquinista’ conduz o ‘trem’ na estreia mundial da derradeira turnê, no Rio de Janeiro, seguindo roteiro que resume 60 anos de obra fundamental na música brasileira. Resenha de show
Título: A última sessão de música
Artista: Milton Nascimento
Local: Grande Sala da Cidade das Artes Bibi Ferreira (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 11 de junho de 2022
Cotação: * * * * *
♪ O apito do trem soou na Grande Sala da Cidade das Artes Bibi Ferreira como o sinal de que A última sessão de música ia começar. O lento apagar das luzes da plateia, às 21h45m de 11 de junho de 2022, sublinhou o aviso. Abertas as cortinas, o público se deparou com Milton Nascimento vestido com manto colorido que aludia à realeza do artista na música do mundo.
Na despedida dos palcos, mas não da música, o cantor e compositor revisou 60 anos de trajetória profissional – iniciada em 1962 na noite de Belo Horizonte (MG), destino final da turnê em parada prevista para novembro – ao seguir roteiro que totalizou 31 músicas, sucessos em grande maioria.
O ponto de partida da turnê mundial A última sessão de música foi o Rio de Janeiro (RJ), cidade natal do artista de alma musical mineira. Na saída do trem, o baticum vigoroso do baterista Lincoln Cheib e do percussionista Ronaldo Silva citou incidentalmente Os tambores de Minas (Milton Nascimento e Marcio Borges, 1997) para marcar o território original da viagem.
Na sequência, o velho maquinista, ainda sem boné e munido da sanfona afetiva, prosseguiu a viagem com o canto de Ponta de areia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1974). Daí até o fim da jornada, encerrada no fecho do bis em que Milton e Zé Ibarra se alternaram nos versos de Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1967), o artista quase octogenário se consagrou na eternidade das canções que constituem obra pavimentada com extrema originalidade.
Milton Nascimento abriu um universo na MPB a partir de 1967. Em cena, a força inexorável da obra e da alma do artista compensaram a imobilidade no palco e a fragilidade da voz que enfrenta os efeitos naturais do tempo.
Por ter ciência de que a hora do reencontro com o ídolo era também a despedida, o público embarcou na viagem e a tornou vibrante em canções e momentos como Para Lennon e McCartney (Lô Borges, Marcio Borges e Fernando Brant, 1970) – número ao qual se seguiu ovação da plateia, que gritou em coro “Bituca! Bituca!” – e Nos bailes da vida (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1981).
Sob a direção musical do guitarrista Wilson Lopes, A última sessão de música fez o resumo de obra que transita pela latinidade – exposta no toque andino de San Vicente (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1972), música cantada somente por Zé Ibarra – e que sempre soou fraterna, gregária.
Ouvida com arranjo reverente ao registro original de 1979, Canção da América (Milton Nascimento e Fernando Brant) deixou claro que A última sessão de música é para quem traz o velho maquinista com seu boné no lado esquerdo do peito.
Aliás, o boné foi posto logo após o bloco inicial com Canção do sal (Milton Nascimento, 1965) e Morro velho (Milton Nascimento, 1967), composições que exemplificaram a carga social também impressa no cancioneiro ativista de Milton.
Como um segundo condutor do trem, Zé Ibarra deu o start em músicas como Vera cruz (Milton Nascimento e Marcio Borges, 1968) e alicerçou o canto de Milton ao longo do show sem tirar o protagonismo do astro-rei nem quando Milton fez a segunda voz em Volver a los 17 (Violeta Parra, 1966).
A sessão alternou climas. Se Fé cega, faca amolada (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1974) foi afiada pelo guitarrista Wilson Lopes na lâmina do rock, o medley com Calix Bento (tema de Folia de Reis com música e letra adaptada por Tavinho Moura, 1976), Peixinhos do mar (tradicional cantiga de marujada em adaptação de Tavinho Moura, 1980) e Cuitelinho (tema tradicional em adaptação de Paulo Vanzolini, 1974) transportou o trem para o interior de Minas, terra de festas e folclores.
Já Maria Maria (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1976) reverberou com uma certa e já costumeira magia antes do primeiro fecho das cortinas, reabertas para Milton cantar Encontros e despedidas (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1981).
Na sequência, Travessia encerrou a viagem em que, com e sem boné, o velho maquinista conduz o trem da derradeira turnê por roteiro que condensa 60 anos de obra fundamental na música brasileira.
Milton Nascimento na estreia mundial da turnê ‘A última sessão de música’ no Rio de Janeiro
Mauro Ferreira / g1
♪ Eis o roteiro seguido por Milton Nascimento – com o reforço vocal de Zé Ibarra – em 11 de junho de 2022 na estreia mundial da turnê do show A última sessão de música na Grande Sala da Cidade das Artes Bibi Ferreira no Rio de Janeiro (RJ):
1. Os tambores de Minas (Milton Nascimento e Marcio Borges, 1997) – trecho incidental /
2. Ponta de areia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1974)
3. Catavento (Milton Nascimento, 1968) – trecho incidental /
4. Canção do sal (Milton Nascimento, 1965)
5. Morro velho (Milton Nascimento, 1967)
6. Outubro (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1974)
7. Vera Cruz (Milton Nascimento e Marcio Borges, 1968)
8. Pai grande (Milton Nascimento, 1969)
9. Para Lennon e McCartney (Lô Borges, Marcio Borges e Fernando Brant, 1970)
10. Cais (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1972)
11. Tudo que você podia ser (Lô Borges e Márcio Borges, 1972)
12. San Vicente (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1972)
13. Clube da esquina 2 (Milton Nascimento, Márcio Borges e Lô Borges, 1972)
14. Lília (Milton Nascimento, 1972)
15. Nada será como antes (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1971)
16. A última sessão de música (Milton Nascimento, 1973) /
17. Fé cega, faca amolada (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1974)
18. Paula e Bebeto (Milton Nascimento e Caetano Veloso, 1975)
19. Volver a los 17 (Violeta Parra, 1966)
20. Calix Bento (tema de Folia de Reis com música e letra adaptada por Tavinho Moura, 1976) /
21. Peixinhos do mar (tradicional cantiga de marujada em adaptação de Tavinho Moura, 1980) /
22. Cuitelinho (tema tradicional em adaptação de Paulo Vanzolini, 1974)
23. Canção da América (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1979)
24. Caçador de mim (Sérgio Magrão e Luiz Carlos Sá, 1980)
25. Nos bailes da vida (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1981)
26. Tema de Tostão (Milton Nascimento, 1970) – trecho incidental
27. Fazenda (Nelson Angelo, 1976)
28. O cio da terra (Milton Nascimento e Chico Buarque, 1977)
29. Maria Maria (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1976)
Bis:
30. Encontros e despedidas (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1981)
31. Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1967)

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