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Como o quimono se tornou um símbolo de opressão em algumas partes da Ásia

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Embora hoje não seja mais uma peça de vestuário usada com frequência, essa roupa tradicional japonesa continua carregando um simbolismo profundo. Embora hoje não seja mais uma peça de vestuário usada com frequência, essa roupa tradicional japonesa continua carregando um simbolismo profundo
Getty Images via BBC
Uma mulher em Suzhou, na China, foi recentemente detida por “provocar problemas”, segundo a imprensa do país.
O suposto crime que ela cometeu foi ser vista usando um quimono. A mulher estava vestida como uma personagem de mangá (um quadrinho japonês). Prendê-la pode parecer dramático, mas há mais em jogo aqui do que um simples erro de moda.
A roupa é um identificador cultural e, para muitos, um símbolo de identidade e orgulho nacional. Quando você pensa em quimono, pode lembrar do Japão. No entanto, a vestimenta raramente é usada no Japão atualmente, exceto em festivais ou celebrações tradicionais.
Como resultado, a indústria de quimonos, que cresceu na década de 1980, está passando por uma grande desaceleração.
No entanto, o quimono usado hoje não é uma invenção dos japoneses. Ele remonta ao século 7, quando a corte imperial começou a usar roupas adaptadas com estilo chinês.
Apesar dessa origem chinesa, o quimono é um importante símbolo cultural do Japão globalmente. E, em muitos países asiáticos, especialmente naqueles que foram brutalmente colonizados pelo Japão, ele continua sendo um símbolo de opressão.
De roupas populares a obras de arte
Há uma longa história de semelhanças na moda entre o Japão e a China.
Exploradores chineses das áreas do sul do Japão antigo, por volta do século 3 a.C., encontraram pessoas vestindo túnicas simples, vestimentas tipo poncho, e uma espécie de calça e blusa plissados.
Elas eram semelhantes às roupas usadas em partes da China na época. As imagens de rainhas sacerdotisas e chefes tribais no século 4 d.C. no Japão também mostram figuras com roupas como as usadas pela dinastia Han da China.
Em muitos países asiáticos, especialmente naqueles que foram brutalmente colonizados pelo Japão, o quimono continua sendo um símbolo de opressão
Getty Images via BBC
O primeiro ancestral do quimono surgiu no Japão no período Heian (794-1185). Mas ele muitas vezes usava a vestimenta com hakama de estilo chinês (calças plissadas ou saias longas). Essa roupa era feita de pedaços retos de pano presos com uma faixa estreita nos quadris.
No período Edo (1603-1868), todos usavam uma vestimenta unissex conhecida como kosode, feita de pedaços retos de tecido costurados como o quimono conhecido hoje.
No início de 1600, o Japão foi unificado por Xogum Tokugawa em um xogunato feudal (uma espécie de ditadura militar), com Edo (agora Tóquio) como sua capital.
A cultura japonesa se desenvolveu durante esse período quase sem influência externa, e o kosode, como precursor do quimono, passou a representar o que simbolizava ser japonês.
As roupas folclóricas e de trabalho também se baseavam na faixa frontal (da esquerda para a direita), blusas com mangas caídas e amarradas com cordões ou cadarços seguindo um padrão básico de quimono.
O papel do fabricante de quimonos se desenvolveu e o valor de algumas peças aumentou exponencialmente, como se fossem obras de arte de valor inestimável.
Símbolo da cultura japonesa
Após épocas de um Japão “fechado”, a era Meiji (1868-1912) marcou um período de rápida modernização e influência estrangeira. O quimono, que significa “o que vestir”, tinha nome próprio e nasceu oficialmente.
O Grande Terremoto de Kanto, em 1923, foi um catalisador para a ocidentalização do Japão
Getty Images via BBC
Isso aconteceu mesmo apesar de um novo édito imperial que rejeitou a vestimenta antiga por ser “efeminada” e “não-japonesa”. Como resultado, homens, funcionários do governo e militares foram incentivados a usar roupas ocidentais, o yōfuku, em vez do tradicional wafuku.
Mas como o Japão estava passando por uma mudança fundamental em vários níveis, a visão das mulheres vestindo quimonos era reconfortante e um símbolo popular nipônico.
As mulheres começaram a usar mais roupas de estilo ocidental, especificamente as peças íntimas, após o Grande Terremoto de Kanto em 1923, pois muitas delas se sentiam constrangidas por serem expostas e isso as impedia de pular ou ser resgatadas de andares altos em prédios.
A possibilidade de que menos mulheres pudessem ter perdido suas vidas no desastre se estivessem usando um yōfuku ou pelo menos uma calcinha sob seus quimonos foi um catalisador para a ocidentalização generalizada.
A “superioridade” do quimono
A era Showa do Japão começou em 1926, quando o imperador Hirohito chegou ao trono. Esse período abrangeu duas guerras mundiais e a ascensão de um ultranacionalismo cultural estridente e foi descrito como o período mais importante, calamitoso, bem-sucedido e glamoroso da história recente do Japão.
Foto de arquivo de mulheres confeccionando quimonos
Getty Images via BBC
Para aqueles que acreditavam na ideia da singularidade japonesa (Nihonjin-ron), que se tornou especialmente popular após a Segunda Guerra Mundial, o quimono (junto com outros aspectos da cultura nipônica) era considerado superior à alternativa ocidental.
Enquanto o uso real da roupa diminuiu, o status simbólico do quimono no Japão aumentou.
Na década de 1930, o Japão era uma grande potência colonial, tendo se transformado de uma fraca sociedade feudal em uma potência militar moderna e independente na década de 1980.
Como tal, a nação havia lançado conquistas territoriais nos países vizinhos.
Então, enquanto as pessoas no Japão “se vestiam como correspondem” em uma tentativa ousada de parecerem poderosas para o Ocidente, os ocupantes japoneses em Taiwan e na Coreia encorajavam ativamente as mulheres locais a usar quimono para mostrar o papel superior do Japão e “a grande prosperidade compartilhada com o leste da Ásia” na região.
Um estudo de como o quimono foi percebido em Taiwan e na Coreia durante o período colonial japonês, de 1895 a 1945, mostrou que o quimono nipônico está claramente relacionado ao controle colonial do Japão e às responsabilidades de guerra do país.
Os perigos do nacionalismo
O uso de uma peça de roupa tão bonita e elegante como arma deixou claramente sua marca.
Como a mulher presa na China foi recentemente advertida.
“Se você estivesse vestindo um Hanfu (roupa tradicional chinesa), eu nunca teria dito isso. Mas você está vestindo um quimono. Você é chinesa!”, diziam os relatórios.
O quimono continua sendo um símbolo da tradição japonesa e um lembrete dos perigos do nacionalismo para os países que foram ocupados durante a guerra e sofreram atrocidades.
Mas enquanto o Japão se prepara para dobrar seu orçamento de defesa, levantando questões sobre sua identidade pacifista desde o período pós-guerra, e a China flexiona sua força em Hong Kong e Taiwan, as autoridades devem se preocupar com mais do que apenas uma mulher vestida de quimono.
Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/geral-62709508

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Fritz Escovão, exímio ritmista fundador do Trio Mocotó, ‘Jimi Hendrix da cuíca’, morre em São Paulo aos 81 anos

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♫ OBITUÁRIO
♪ “O Jimi Hendrix da cuíca!”. O comentário do músico André Gurgel na publicação da rede social em que o Trio Mocotó informou a morte de Fritz Escovão traduz muito do pensamento geral de quem viu em ação este percussionista, pianista, violonista e cantor carioca que marcou época no Trio Mocotó, grupo de samba-rock do qual foi fundador.
Gigante da cuíca, instrumento que percutia com exuberância e incrível destreza, Luiz Carlos de Souza Muniz (13 de dezembro de 1942 – 1º de outubro de 2024) morre aos 81 anos, em São Paulo (SP), de causa não revelada, e sai de cena para ficar na galeria dos imortais do ritmo brasileiro, perpetuado com o nome artístico de Fritz Escovão. O enterro do corpo do artista está previsto para as 8h30m de amanhã, 2 de outubro, no cemitério de Vila Formosa, bairro paulistano.
Fritz Escovão era carioca, mas se radicou em São Paulo (SP), cidade em que fez história a partir de 1968, ano em que o Trio Mocotó foi formado na lendária boate Jogral por Fritz com o carioca Nereu de São José (o Nereu Gargalo) e com o ritmista paulistano João Carlos Fagundes Gomes (o João Parahyba).
Matriz do samba-rock, o grupo foi fundamental para a ressurreição artística de Jorge Ben Jor a partir de 1969. Foi com o toque do Trio Mocotó que Jorge Ben apresentou a visionária música Charles, anjo 45 em 1969 na quarta edição do Festival Internacional da Canção (FIC).
A partir de 1970, ano em que gravou single com o samba-rock Coqueiro verde (Roberto Carlos e Erasmo Carlos), o Trio Mocotó alçou voo próprio sem se afastar de Jorge Ben, continuando a fazer shows com o cantor, com quem gravou álbuns como Força bruta (1970) e o politizado Negro é lindo (1971).
A discografia solo do Trio Mocotó com Fritz Escovão destaca os referenciais álbuns Muita zorra (“…São coisas que glorificam a sensibilidade atual”) (1971), Trio Mocotó (1973) e Trio Mocotó (1977), discos de samba-rock que ganharam status de cult a partir da década de 1990 no Brasil e no exterior, sobretudo o álbum de 1973 em que o trio adicionou à cadência toques de jazz, soul e rock à cadência do samba.
Sempre com a maestria de Fritz Escovão. Em 1974, o Trio Mocotó gravou disco com Dizzy Gillespie (1917 – 1993), em estúdio de São Paulo (SP), mas o trompetista norte-americano de jazz nunca lançou o álbum (foi somente em 2010, 17 anos após a morte do jazzista, que o veio à tona o álbum Dizzie Gillespie no Brasil com Trio Mocotó, editado no Brasil em 2011 via Biscoito Fino).
Em 1975, o grupo saiu de cena. Retornou somente em 2001, após 26 anos, com o álbum intitulado Samba-rock. Um ano depois, em 2002, Fritz Escovão deixou amigavelmente o Trio Mocotó para tratar de problemas de saúde.
Foi substituído em 2003 por Skowa (13 de dezembro de 1955 – 13 de junho de 2024), músico morto há menos de quatro meses. Hoje quem parte é o próprio Fritz Escovão, para tristeza de quem testemunhou o virtuosismo do “Jimi Hendrix da cuíca”.

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Morre Fritz Escovão, do Trio Mocotó, grupo que fez brilhar o samba rock

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Ao lado de Jorge Ben Jor, grupo ficou famoso pelo suingue inebriante que dá vida ao samba rock. Fritz Escovão, fundador do Trio Mocotó
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Morreu Fritz Escovão, fundador do Trio Mocotó. A morte do artista foi confirmada no Instagram do grupo, nesta terça-feira (1º). A causa não foi revelada.
“Cantor, violonista, pianista e percussionista, [ele] marcou a música brasileira pela sua voz inigualável à frente do Trio Mocotó até 2002, com seu clássico ‘Não Adianta’ e como um dos maiores, se não o maior, dos cuiqueiros que o Brasil já viu”, diz a publicação do grupo.
Conhecido como Fritz Escovão, Luiz Carlos Fritz fundou o Trio Mocotó em 1969: ele na cuíca, João Parahyba na bateria, e Nereu Gargalo no pandeiro.
Juntos, os três fizeram sucesso ao lado de Jorge Ben Jor, com um suingue inebriante que deu vida ao samba rock.
A partir de 1970, o Trio Mocotó alçou voo próprio sem se afastar de Jorge Ben, fazendo shows com o cantor em um primeiro momento da carreira e gravando discos como “Negro é lindo”.
Escovão deixou o grupo em 2003. Atualmente, quem assume a cuíca é Skowa.

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Sean Diddy Combs é alvo de 120 novas acusações de abuso sexual; ações serão movidas nas próximas semanas, diz advogado

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Alvo de processos envolvendo suspeitas de tráfico sexual e agressão, o músico foi preso após meses de investigações. Sean ‘Diddy’ Combs.
Mark Von Holden/Invision/AP
Sean “Diddy” Combs está sendo acusado de abusar sexualmente de 120 pessoas. Foi o que informou o advogado americano Tony Buzbee, em uma coletiva online feita nesta terça-feira (30). Segundo ele, nas próximas semanas serão abertos 120 processos contra o cantor, que está preso em Nova York desde 16 de setembro.
“Nós iremos expor os facilitadores que permitiram essa conduta a portas fechadas. Nós iremos investigar esse assunto não importa quem as evidências impliquem”, disse Buzbee, na coletiva. “O maior segredo da indústria do entretenimento, que, na verdade, não era segredo nenhum, enfim foi revelado ao mundo. O muro do silêncio agora foi quebrado.”
Alvo de processos envolvendo suspeitas de tráfico sexual e agressão, o músico foi preso após meses de investigações. Ele, que ainda não foi julgado, nega as acusações que motivaram sua prisão.
Caso seja julgado culpado das acusações, ele pode ser condenado a prisão perpétua.
Caso Diddy: entenda o que é fato sobre o caso
Quem é Sean Diddy Combs?
Seu nome é Sean John Combs e ele tem 54 anos. Nasceu em 4 de novembro de 1969 no bairro do Harlem, na cidade de Nova York, nos EUA. É conhecido por diversos apelidos: Puff Daddy, P. Diddy e Love, principalmente.
O rapper é um poderoso nome do mercado da música e produtor de astros como o falecido The Notorious B.I.G. Ele é considerado um dos nomes responsáveis pela transformação do hip-hop de um movimento de rua para um gênero musical hiperpopular e de importância e sucesso globais.
Diddy começou no setor musical como estagiário, em 1990, na Uptown Records, uma das gravadoras mais famosas dos EUA, e onde se destacou de forma meteórica e chegou a se tornar diretor. Em 1994, fundou sua própria gravadora, a Bad Boy Records.
Um de seus álbuns mais famosos, “No Way Out”, de 1997, rendeu a Diddy o Grammy de melhor álbum de rap. Principalmente depois do estouro com a música, Diddy fez ainda mais fortuna com empreendimentos do setor de bebidas alcoólicas e da indústria da moda, principalmente.
Ele também foi produtor de inúmeros artistas de sucesso e está por trás de grandes hits cantados por famosos. Muita gente, inclusive, o vê mais como um produtor e empresário do que como um músico.

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