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Brô MCs, grupo de rap indígena, se apresenta no Rock in Rio: ‘Nossa arma é a nossa rima’

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Tio Creb, CH, Bruno Veron e Kelvin Mbaretê, da etnia Guarani-Kaiowá, encontraram no hip hop uma forma de falar da realidade das comunidades Jaguapiru e Boróró, em Dourados (MS). Diretamente de Mato Grosso do Sul, o Brô MCs pretende reescrever a história contada nos livros ao subir no palco do Rock in Rio. Mesclando português e guarani, o grupo de rap indígena vai se apresentar no sábado (3), ao lado de Xamã.
Há 13 anos, Clemerson Batista, conhecido com Tio Creb, Charlie Peixoto, conhecido com CH, Bruno Veron e Kelvin Mbaretê, encontraram no rap a forma de contar sobre a realidade da etnia Guarani-Kaiowá, nas comunidades Jaguapiru e Boróró, em Dourados, a 235 km de Campo Grande.
“Quando a gente era moleque, ninguém ouvia a gente. Então, foi uma forma que eu encontrei de dizer: o povo Guarani Kaiowá está aqui”, afirma Bruno. “Antigamente, a gente lutava com arco e flecha, que é uma coisa do passado, ficou para trás. Hoje em dia, a nossa arma é a nossa fala, é o nosso canto, é a nossa rima”.
Conheça o grupo de rap que vai cantar a realidade indígena no Rock In Rio 2022
O Brô MCs então criou “rap indígena”, integrando as raízes deles ao movimento hip-hop. O grupo quer quebrar os estereótipos dos “karai” (os não indígenas).
“Mesmo que a gente sofra preconceito, racismo, a gente vai chegando em cada degrau, para não indígena ver como é a nossa história de verdade, não é o que está contado no livro”, ressalta Tio Creb. “Mostrar para o não indígena: chega de matança e violência.”
Os integrantes falam sobre como a imagem dos povos originários nunca foi definida por eles mesmos e como querem mostrar que os indígenas podem ocupar espaços como universidades, postos de trabalho, música e arte.
Brô MCs com a ativista indígena Célia Xakriabá
Divulgação
O grupo tem a missão também de ajudar outros indígenas a se reconhecerem na causa. Eles contam que já há pais que ensinam para os filhos apenas português, para que não sofram discriminação.
As composições em guarani então tentam retomar o idioma e mostrar “como é bonita a língua, como é bonita a raiz”.
““Esse é o diferencial do Brô: cantar na sua língua”, define CH. “A nossa língua é o nosso DNA.”
O grupo conta ainda que tem mais facilidade em escrever na língua materna, que teria menos conjugações verbais. Já os trechos em português levam aos “karai” a mensagem que eles querem passar.
Brô MCs são o primeiro grupo de rap indígena no Brasil
Divulgação
Os quatro cresceram com a música presente em rituais sagrados, com cânticos tradicionais pelos rezadores. Essas rezas embasam alguns trechos de canções do grupo. Eles contam que rezadores já tiveram casas queimadas e foram perseguidos.
Kelvin descreve a força dos cânticos presentes nas músicas deles, que retomam o conhecimento indígena e a espiritualidade deles.
Prestes a ser lançado, o novo álbum tem o mesmo objetivo. Chamado de “Retomada”, o termo se refere à tentativa de indígenas recuperarem territórios onde já foram aldeias. Com as músicas, eles querem também retomar a cultura, a voz e arte indígenas.
Brô MCs ao lado de Alok em evento em São Paulo
Cadu Fernandes
Essa é a meta do grupo no palco do Rock in Rio: servir como “escada” para outras personalidades indígenas e “demarcar espaços” dentro e fora da música.
“É superimportante [estar no Rock in Rio] porque é uma conquista da comunidade indígena em geral, de grandes artistas que nunca pisaram nesses palcos. O Brô vai representar isso”, comenta Bruno.
O Brô MCs foi convidado pelo rapper carioca Xamã, para dividir o Palco Sunset. O grupo agradeceu ao rapper carioca e ao Zé Ricardo por acreditarem no trabalho deles.
Brô MCs
Aurélio Vinicius

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