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Anitta, Rock in Rio, Ludmilla e a história do funk em festivais: como estilo foi entrando nos line-ups

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Estilo entrou pelas beiradas e Anitta foi figura importante, mas não única. Veja como ritmo da periferia apareceu por mérito próprio em grandes festivais. Astros gringos levaram MCs antes de curadores, Anitta foi marco em 2019 e espaço ainda é menor que sucesso. Ludmilla e Anitta
TV Globo / Divulgação
Anitta reivindicou seu mérito pela entrada do funk no Rock in Rio após a edição de 2022, que teve show bombástico de Ludmilla e outros MCs. A cantora de “Show das poderosas” teve mesmo papel fundamental, mas não único, nesta inclusão do estilo.
Veja abaixo e entenda oito pontos da chegada do funk aos grandes festivais corporativos. Não há fator único, mas, se for preciso resumir, o mérito da chegada do funk a estes eventos é do próprio funk.
Há 4 décadas, músicos da periferia do Brasil produzem uma música eletrônica original com inovação constante. É, de longe, o estilo daqui que mais dialoga com o pop contemporâneo global. Exemplo: Deize Tigrona, sampleada pela inglesa M.I.A. em 2005, fez turnês na Europa, incluindo participação no Rock in Rio Lisboa 2008 a convite do grupo português Buraka Som Sistema.
Apesar do preconceito e da tentativa de criminalização do funk, o estilo sempre cresceu e gerou ídolos. Em 2013, o g1 perguntou à diretora do Rock in Rio se Anitta e Naldo poderiam tocar. Roberta Medina, respondeu que poderiam, mas “não é o perfil do evento”. Curiosamente, ela descreveu, em 2013, que “o Brasil é do sertanejo e do axé”, ignorando o funk.
O streaming cresceu e escancarou o tamanho do funk em números do YouTube e mais plataformas – era impossível ignorar. Mesmo barrado de rádios, o funk competia com sertanejo em audiência (como já dito, com diálogo e influência no pop global muito maior do que o sertanejo). E, em 2013, o funk era muitas vezes maior que o axé, já representado no Rock in Rio.
Ainda em 2013, Beyoncé terminou o show dançando “ah, lelek lek lek…”. Em 2016, quando MC Bin Laden subiu ao palco do Jack Ü no Lollapalooza, o g1 perguntou: por que as estrelas gringas eram mais antenadas e abertas ao funk brasileiro que os próprios curadores daqui? Não vieram respostas, só mais exemplos: em 2019, Kevin o Chris foi ao Lolla via Post Malone.
A popularidade de Anitta gerou outro efeito: a cobrança dos fãs. Em 2017, Roberta Medina foi questionada de novo pelo g1 e disse que o festival “tinha uma pegada mais pop” para justificar a ausência dela. Em 2018, Roberto chegou a elogiar Anitta: “Se ela quiser, será a nova Ivete”. Ele disse que a cantora foi escalada no Rock in Rio Lisboa 2018 e Rio 2019 por “obrigação”.
Em 2019, o festival criou o “Espaço Favela”, palco menor e afastado dos principais, que tinha alguns artistas de funk e outros estilos. A ideia foi controversa e virou verso sarcástico do rapper Djonga: “O mais perto que cês chegaram do morro é no palco favela do Rock In Rio.”
No mesmo ano, a estreia do funk em tamanho proporcional à sua influência e popularidade rolou com Anitta no Palco Mundo. Depois do festival, em entrevista ao jornal “O Globo”, Roberta disse que “teve a sensação de que ela usou playback”. Anitta diz que o espaço foi conquistado apesar de resistência da organização, e que o “funk só estava lá porque foi obrigado a ser engolido pelo festival”. Ludmilla tocou no palco secundário, o Sunset.
O fato é que após o show de Anitta no Palco Mundo a presença do funk realmente aumentou, mesmo que ainda não seja proporcional à sua influência e inovação contínua – vide Camila Cabello dançando “Ai preto” com Biel Do Furduncinho, Bianca e L7nnon. O show de Ludmilla foi um dos melhores de 2022, entre outros de palcos secundários do Rock in Rio.
Reveja os melhores momentos do show de Ludmilla
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O funk nos festivais em uma visão ‘da quebrada’
MC Hariel
Divulgação / Fields
Mesmo que o funk esteja parcialmente inserido nos festivais corporativos com ingressos caros e na indústria, a inovação do estilo continua vindo de onde sempre saiu: das periferias urbanas.
Como os grandes ídolos do funk que seguem “na quebrada”, sem depender de gravadoras e da indústria tradicional, enxergam esse movimento? Uma resposta importante veio do MC Hariel, um dos cantores mais ouvidos do Brasil, que fez só uma participação no Sunset. Leia abaixo:
“Eu acredito que a gente vai ter que fazer o nosso. Nossa ideia nunca foi competir, ainda mais com esses caras que não têm nada a ver com o nosso corre. Fica até chato eu ficar falando aqui que a gente não tem espaço, porque começa a soar como se a gente quisesse “meter o louco”.
A gente não tem espaço, mas também vai conquistar, de um jeito ou de outro. Mas talvez a gente nem queira. A gente quer o que é nosso mesmo. Queremos que nosso movimento consiga fazer o Mundão Girou [DVD ao vivo de Hariel], que o MC Ryan consiga fazer o DVD dele também.
Mas eu tenho certeza de que essa rapaziada é meio passada. A rapaziada do alto escalão… Tudo tem uma hierarquia, né? Essa rapaziada que está no controle do alto escalão da música, dos produtores de música, tem uma visão meio ultrapassada do bagulho.
Nem vale a pena ficar “cascando” com esses caras. A gente veio para mostrar nossa história, o nosso tempo. A gente é novo, essa é nossa hora. Eles acham que sabem, e a gente faz do nosso jeito.
Acho que a galera perdeu muito a vontade de errar. E a gente não tem isso. A gente está acostumado sempre a ser tachado de errado. Então a gente vai e aprende com o erro.
Eles já ficaram quadrados. Por isso que não saem muito do que eles sempre fazem. Nunca uma novidade, nunca uma palavra diferente. É sempre a mesma ideologia. Quando surge uma pauta, eles se aproveitam. Abordam aquele tema, que nunca é um tema que eles levantam.
Mas tá tranquilo. A gente não tem nem que ficar esquentando a cabeça com eles. Tem que fazer o nosso papel, que daqui a pouco é nossa hora também. E quando for a gente que estiver lá um dia, fazer totalmente diferente do que a galera que está lá faz.”

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