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‘Arte está morta’: o polêmico boom de imagens geradas por inteligência artificial

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Artistas e designers temem que sistemas de inteligência artificial roubem seus empregos e suas criações, mas os responsáveis por esses novos sistemas dizem que tecnologias são apenas ferramentas. Imagens criadas por meio do sistema Stable Diffusion
Stable Diffusion
Revoluções na arte não são novas, mas esta, de algum modo, pode ser terminal.
“A arte está morta, cara”, disse Jason M. Allen ao jornal americano “The New York Times”. Allen foi o vencedor da feira de arte do Colorado na categoria “artistas digitais emergentes”.
Sua obra vencedora, Teatro de Ópera Espacial, foi feito com uso do Midjourney, um sistema de inteligência artificial que permite que imagens sejam criadas a partir de algumas frases, como “astronauta em cima de um cavalo” ou “cachorro com uma flor na boca num retrato ao estilo de Pablo Picasso”.
A vitória deixou muitos artistas furiosos, mas Allen não se abalou: “Acabou. A inteligência artificial ganhou. Os humanos perderam”.
Ele recebeu um prêmio relativamente pequeno, equivalente a R$ 1.500, mas o feito dominou os holofotes da imprensa internacional.
Alguns artistas já temiam que uma nova geração de imagens geradas por meio de inteligência artificial poderia roubar seus postos de trabalho, pegando carona no que aprendeu sobre o ofício ao longo dos anos. “Essa coisa quer nossos empregos e é ativamente um anti-artista”, afirmou RJ Palmer, um artista de arte conceitual para filmes e videogames, em uma mensagem que viralizou no Twitter.
Em suas críticas, Palmer ressaltou como esses sistemas de inteligência artificial podem imitar precisamente artistas e seus traços estéticos.
A produção desses sistemas de inteligência artificial é impressionante, mas eles são construídos com base na produção de criadores de carne e osso. Ou seja, seus algoritmos são treinados com base em milhões de imagens feitas por humanos.
Stable Diffusion, um gerador de imagens de inteligência artificial de código aberto lançado recentemente, aprende a partir de um arquivo compactado de “100.000 gigabytes de imagens” extraído da internet, contou à BBC o fundador Emad Mostaque.
Mostaque, um cientista da computação com formação em tecnologia e finanças, vê o Stable Diffusion como um “motor de busca generativo”.
Ou seja, enquanto as pesquisas de imagens do Google mostram fotos que já existem, o Stable Diffusion mostra tudo o que você pode imaginar com base no que você escreve ou nas imagens que você insere ali.
Arte no piscar de uma inteligência artificial
Os artistas sempre aprenderam e foram influenciados por outros. “Grandes artistas roubam”, diz o ditado. Mas Palmer diz que a inteligência artificial não é apenas como encontrar inspiração no trabalho de outros artistas: “Isso é roubar diretamente sua essência”.
E a inteligência artificial pode reproduzir um estilo em segundos: “Neste momento, se um artista quiser copiar meu estilo, ele pode passar uma semana tentando replicá-lo”, diz Palmer. “Isso é uma pessoa gastando uma semana para criar uma coisa. Com esta máquina, você pode produzir centenas delas por semana”.
Mas Mostaque, do Stable Diffusion, diz que não está preocupado em deixar os artistas sem trabalho. Para ele, o projeto é uma ferramenta como um aplicativo de planilhas, que “não tirou o trabalho dos contadores”.
Então, qual é a mensagem de Mostaque para jovens artistas preocupados com sua futura carreira, talvez em ilustração ou design? “Minha mensagem para eles seria: ‘trabalhos de design de ilustração são muito entediantes’. Não se trata de ser artístico, mas sim de ser uma ferramenta”.
Mostaque sugere que essas pessoas encontrem oportunidades usando a nova tecnologia: “Este é um setor que vai crescer muito. Ganhe dinheiro com esse setor se você quiser ganhar dinheiro. Vai ser muito mais divertido”.
E de fato já existem artistas usando a arte da inteligência artificial ​​para se inspirar e ganhar dinheiro.
A empresa OpenAI diz que seu sistema DALL-E AI (ainda não disponível como o Stable Diffusion) é usado por mais de 3.000 artistas de mais de 118 países.
Artistas temem que sistemas de inteligência artificial roubem seus empregos, mas criadores desses sistemas dizem que tecnologias são apenas ferramentas
Getty Images/BBC
Houve até quadrinhos do formato graphic novel feitos usando inteligência artificial. O autor de um deles chamou a tecnologia de “um colaborador que pode te emocionar e surpreender no processo criativo”.
Mas, embora haja muita crítica sobre a maneira como esses sistemas de inteligência artificial usam o trabalho dos artistas, especialistas dizem que as batalhas judiciais em torno do tema podem ser bastante complexas.
O professor Lionel Bently, diretor do Centro de Propriedade Intelectual e Direito da Informação da Universidade de Cambridge, diz que no Reino Unido “não é uma violação de direitos autorais, em geral, usar o estilo de outra pessoa”.
Bently disse à BBC que um artista precisaria mostrar que a produção de uma inteligência artificial reproduziu uma parte significativa de sua expressão criativa original em uma peça específica de sua arte usada para treinar a inteligência artificial.
Mesmo que provar isso seja possível, poucos artistas terão os meios para travar tais batalhas jurídicas sobre isso.
A Sociedade de Direitos Autorais de Artistas e Designers (Dacs, na sigla em inglês), que cobra pagamentos em nome de artistas pelo uso de suas imagens, está preocupada.
Questionada se os meios de subsistência dos artistas estão em jogo, uma chefe do Dacs, Reema Selhi, afirmou que “sim, absolutamente sim”.
A Dacs não é contra o uso de inteligência artificial na arte, mas Selhi quer que artistas, cujo trabalho é usado por sistemas geradores de imagem para ganhar dinheiro, sejam recompensados ​​de forma justa e tenham controle sobre como suas obras são usadas.
“Não há garantias para os artistas poderem identificar obras em bancos de dados que estão sendo usados ​​e optar por não participar”, acrescenta.
Os artistas podem reivindicar violação de direitos autorais quando uma imagem é extraída da Internet para ser usada para treinar uma IA, embora especialistas em direito autoral disseram à BBC que há diversos fatores que podem impedir essa reivindicação.
Para Selhi, mudanças propostas na lei do Reino Unido tornariam mais fácil para as empresas de inteligência artificial extrair legalmente o trabalho dos artistas da internet – algo ao qual o Dacs se opõe.
Mostaque, do Stable Diffusion, diz entender medos e frustrações dos artistas e designers, e lembra que “já vimos isso com a fotografia também”.
Ele disse que o projeto está trabalhando com “líderes da indústria de tecnologia para criar mecanismos pelos quais os artistas possam fazer upload de seus portfólios e solicitar que seus estilos não sejam usados ​​em serviços online usando tecnologias como essa”.
Deep fakes, pornografia e preconceito
O Google chegou a criar um sistema de inteligência artificial que poderia criar imagens a partir de frases escritas pelos usuários. Chamado de Imagen, ele nunca chegou a ser aberto ao público por causa dos “riscos potenciais de uso indevido”.
O Google alertou que os conjuntos de dados de imagens usados ​​para treinar esses sistemas geralmente incluíam pornografia, refletiam estereótipos sociais e raciais e continham “associações depreciativas ou prejudiciais a grupos de identidade marginalizados”.
Recentemente, o site de tecnologia Techcrunch publicou preocupações de que o Stable Diffusion poderia ser usado para criar pornografia não consensual, os chamados deepfakes (em que o rosto de uma pessoa pode ser inserido sobre o rosto de outra de forma que o usuário não consiga distinguir que aquilo foi forjado).
Mostaque diz que esse tipo de uso antiético “quebra os termos da licença” de sistemas como o Stable Diffusion. Segundo ele, o software já filtra as tentativas de criar “imagens não seguras para o trabalho” (NSFW, na sigla em inglês), com materiais com nudez ou violência. Mas essas barreiras podem ser contornadas porque quem domina tecnologia.
O ônus dessas novidades tecnológicas, diz Mostaque, é “as pessoas fazerem algo ilegal”. Mas argumenta que outras ferramentas existentes também podem ser deturpadas, como, por exemplo, alguém pode usar “a ferramenta de mesclagem do Photoshop para colocar a cabeça de alguém em um corpo nu”.
Arte ou gosma?
O artista de ficção científica Simon Stålenhag escreveu no Twitter que a arte baseada em inteligência artificial ​​revelou um “tipo de gosma secundária… que nossos novos senhores da tecnologia esperam nos alimentar”.
E há alguns grandes nomes ligados ao desenvolvimento da tecnologia. O próprio Elon Musk é um patrocinador da empresa OpenAI, que defende seu sistema DALL-E como um auxiliar para a criatividade humana que produz “imagens únicas e originais que nunca existiram antes”.
Para o artista contemporâneo e radialista Bob-and-Roberta-Smith (o nome pertence a apenas um artista), que já trabalhou em grandes galerias e fará uma instalação artística na Tate Modern de Londres em outubro, a inteligência artificial pode ser uma área interessante de atividade artística, na tradição do mash-up.
Mas Bob-and-Roberta-Smith, que trabalha principalmente com mídias físicas tradicionais, defendeu que legisladores precisam atualizar as normas vigentes “para que ninguém se sinta roubado”, e que o dinheiro não seja simplesmente desviado dos artistas para os bolsos das grandes corporações.
Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62949698

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Zizi Possi enfrenta ‘temporais’ de Ivan Lins e Vitor Martins em disco que traz também músicas de Gabriel Martins

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Fabiana Cozza, Leila Pinheiro e Rita Bennedito também integram o elenco feminino do EP ‘Elas cantam as águas’, previsto para ser lançado em 2025. ♫ NOTÍCIA
♪ Iniciada em 1974, a parceria de Ivan Lins com o letrista Vitor Martins se firmou ao longo das décadas de 1970 e 1980 nas vozes de cantoras como Elis Regina (1945 – 1982) e Simone, além de ter embasado a discografia essencial do próprio Ivan Lins.
Uma das pedras fundamentais da MPB ao longo destes 50 anos, a obra de Ivan com Vitor gera frutos. Previsto para 2025, o disco Elas cantam as águas reúne seis gravações inéditas.
Três são abordagens de músicas de Ivan Lins e Vitor Martins. As outras três músicas são de autoria do filho de Vitor, Gabriel Martins, cantor e compositor que debutou há sete anos no mercado fonográfico com a edição do álbum Mergulho (2017).
No EP Elas cantam as águas, Zizi Possi dá voz a uma música de Ivan e Vitor, Depois dos temporais, música que deu título ao álbum lançado por Ivan Lins em 1983 e que, além do autor, tinha ganhado registro somente do pianista Ricardo Bacelar no álbum Sebastiana (2018).
Fabiana Cozza mergulha em Choro das águas (Ivan Lins e Vitor Martins, 1977), canção que já teve gravações de cantoras como Alaíde Costa, Tatiana Parra e a própria Zizi Possi. Já Guarde nos olhos (Ivan Lins e Vitor Martins, 1978) é interpretada por Adriana Gennari.
Da lavra de Gabriel Martins, Chuvarada – parceria do compositor com Belex – cai no disco em gravação feita por Leila Pinheiro (voz e piano) com a participação de Jaques Morelenbaum no toque do violoncelo e com produção da própria Leila, que também assina com Morelenbaum o arranjo da faixa que será lançada em 11 de outubro como primeiro single do disco.
Já Rita Benneditto canta Plenitude (Gabriel Martins e Carlos Papel). Completa o EP a música Filha do Mar [Oh Iemanjá], composta somente por Gabriel Martins e com intérprete ainda em fase de confirmação.
Feito sob direção musical de Gabriel Martins em parceria com a pianista, arranjadora e pesquisadora Thais Nicodemo, o disco Elas cantam as águas chegará ao mercado em edição da gravadora Galeão, empresa derivada da Velas, companhia fonográfica independente aberta em 1991 por Ivan com Vitor Martins e o produtor Paulinho Albuquerque (1942 – 2006).

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Médico que ajudou a fornecer cetamina a Matthew Perry se declara culpado por morte do ator

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Conhecido por atuar em ‘Friends’, Matthew Perry morreu em outubro de 2023 por overdose. Mark Chaves é uma das cinco pessoas que enfrentam acusações federais pela morte do ator Matthew Perry
Mike Blake/Reuters
O médico Mark Chavez se declarou culpado por fornecer cetamina ao ator Matthew Perry, morto por overdose em outubro de 2023. O americano fez sua declaração nesta quarta-feira (2), no tribunal federal de Los Angeles (EUA), e se tornou a terceira pessoa a admitir culpa pela morte do ator, que ganhou fama ao interpretar Chandler em “Friends”.
Até a conclusão da sentença, Chavez está livre sob fiança. Ele concordou em entregar sua licença médica. Seu advogado, Matthew Binninger, havia dito em 30 de agosto que ele estava arrependido e tentava “fazer tudo para corrigir o erro”.
Além de Chavez, há dois envolvidos na morte de Perry: Kenneth Iwamasa, assistente do ator, e Erik Fleming, outro fornecedor de droga.
Perry foi encontrado morto em uma banheira de hidromassagem. Quem achou seu corpo foi Iwamasa, que morava com ele.
O assistente admitiu que várias vezes injetou cetamina no ator sem treinamento médico, inclusive no dia de sua morte. Já Fleming alegou ter comprado 50 frascos de cetamina e repassado para Iwamasa.
A Justiça americana ainda investiga mais duas pessoas: Salvador Plasencia, outro médico, e Sangha, suposta traficante conhecida como “Rainha da Cetamina”.
O ator Matthew Perry, morto aos 54 anos, em imagem de 2009
Matt Sayles, File/AP
Um ano antes de morrer, Perry havia lançado sua autobiografia: “Friends, Lovers and the Big Terrible Thing”.
“Existe um inferno”, escreveu Perry, no livro, que narra sua luta contra a dependência química durante os últimos anos de gravação de “Friends”. “Não deixe ninguém lhe dizer o contrário. Eu estive lá; isso existe; fim de discussão.”
O ator, que, na época do vício, passou pela clínica de reabilitação, havia dito que já se sentia melhor e queria que o livro ajudasse as pessoas.
Médio Mark Chavez e Matthew Perry.
Robyn Beck / AFP e Willy Sanjuan/Invision/AP

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Dinho fala de sertanejo no Rock in Rio e revela que Capital Incial fará turnê de 25 anos do ‘Acústico MTV’

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‘Meu instinto é dizer que eles têm o Rock in Rio deles, eles têm Barretos’, diz cantor. No g1 ouviu, ele revelou que banda sairá em turnê comemorativa a partir de março de 2025. Sertanejo no Rock in Rio? Dinho Ouro Preto opina
Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial, opinou sobre a estreia do sertanejo no Rock in Rio. O cantor foi o entrevistado do g1 Ouviu, o podcast e videocast de música do g1, nesta quarta-feira (2).O Capital é uma das atrações que mais tocou no festival, com nove apresentações ao todo.
“Meu instinto é dizer que eles têm o Rock in Rio deles, eles têm Barretos. E ali eu via como a nossa Marques de Sapucaí. Era nossa vez, nossa turma. Mas me lembraram que o primeiro Rock in Rio também foi mais eclético”, ele opinou.
O cantor ainda afirmou ter sentido falta de ter visto mais shows de rock e de pop no festival. Para ele, uma solução poderia ser separar melhor os dias. Na edição deste ano, em setembro, astros da música sertaneja foram incluídos no Dia Brasil, com programação só brasileira. Num bloco de apresentações dedicada ao estilo, vão subir ao palco Ana Castela, Simone Mendes e Chitãozinho & Xororó.
Foram necessários 40 anos para o maior festival de música do Brasil se render ao gênero musical mais ouvido do país – enfrentando o grande tabu de uma ala roqueira mais conservadora.
Turnê dos 25 anos do Acústico MTV
Na entrevita ao g1, Dinho também revelou que o Capital Inicial sairá em turnê comemorativa para celebrar os 25 anos do álbum “Acústico MTV”.
O disco foi lançado em 2000 e colocou a banda em outro patamar, segundo ele. A turnê terá Kiko Zambianchi, que também tocou no acústico, e deve passar por 25 cidades brasileiras, a partir de março de 2025.
Dinho Ouro Preto dá entrevista ao g1 Ouviu
Fabio Tito/g1

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