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Cria da Tijuca, Erasmo Carlos descobriu o próprio talento ao lado de ícones da MPB e exaltou o Rio

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A ‘Turma da Tijuca’, que reuniu nomes como Roberto Carlos, Tim Maia e Jorge Ben, entre outros nomes, começou a se destacar nas ruas da Zona Norte da cidade. Erasmo Carlos comemorou os 70 anos de vida e 50 de carreira em show no Theatro Municipal do Rio, em 2011
Marcos Arcoverde/Estadão Conteúdo/Arquivo
Vários pontos do Rio de Janeiro contam a história de Erasmo Carlos e do grupo do qual ele fazia parte, que contava com vários grandes nomes da música brasileira. Nascido e criado na Tijuca, ele sempre declarou o amor que sentia pela cidade. Erasmo morreu nesta terça-feira (22), aos 81 anos, no Hospital Barra D’Or, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio.
“Eu amo o Rio. O Rio é uma coisa assim… E em especial eu amo a maresia, sabe. Eu amo o Rio com todos os defeitos que ele tem. É um pedaço de mim, realmente”, disse Erasmo, no ano passado.
A memória afetiva em relação ao Rio e os cariocas passava pelos bairros da Zona Norte da cidade, onde andava e conhecia pessoas que se tornariam famosas e marcariam a história cultural do país nas décadas seguintes, como Roberto Carlos, Tim Maia e Jorge Ben Jor.
“A Tijuca era uma maravilha, cara. Para a gente ir à praia não existia o túnel e aí tinha que ir de ônibus. Não podia ir de sunga no ônibus, tinha que ir vestido no ônibus, aí saltava na praia e tinha que fazer sua trouxinha de roupas. Todo mundo botava suas trouxinhas e por incrível que pareça não tinha ninguém para assaltar”, contou Erasmo em entrevista ao jornalista Chico Regueira no ano passado.
Erasmo Carlos completa 80 anos
A “Turma da Tijuca”, inclusive, foi imortalizada em uma de suas letras:
“Eu era aluno do Instituto Lafayette
naquele tempo eu já pintava o sete
trocava as letras dos anúncios do cinema
transformando um belo filme
num sonoro palavrão”
O passado de estudante ainda chegou a ser lembrado por Erasmo em uma postagem nas redes sociais em 2016, com a foto do período que ele estudou lá.
“Esse menino lindo sou eu, em 1952, ainda com o uniforme do Instituto Lafayette, meu primeiro colégio na Tijuca-RJ”, disse o cantor na postagem.
Erasmo Carlos em 1952, em foto postada nas redes sociais do artista, quando era aluno do Instituto Lafayette
Reprodução/ Redes sociais
Na entrevista do ano passado, ele lembrou de alguns de seus programas favoritos.
“Eu frequentava a Praia do Calabouço, eu frequentava a Praia de Ramos – domingueiras incríveis, passávamos lá o da inteiro. Maracanã, minha turma da Tijuca ia em 30 para o jogo. Eu matava aula na Quinta da Boa Vista, frequentava a Igreja de São Sebastião”, enumerou o Tremendão.
Amizade de criança com Tim Maia
Roberto e Tim, inclusive, eram integrantes da banda The Sputiniks, em 1957, ao lado de Arlênio Lívio, Edson Trindade e Wellington Oliveira.
Em entrevista ao Fantástico em 2013, Erasmo contou que Tim o ensinou a tocar violão. “O Tim me ensinou a tocar violão, o ré, o mi e o lá. Eu descobri com esses três acordes que eu podia fazer um monte de música, comecei a fazer minhas músicas, comecei a fazer vocal”.
O episódio também é lembrado no livro “O som e a fúria de Tim Maia”, de Nelson Motta. O livro também lembra que os pais de Tim tinham uma pensão e o futuro astro fazia a entrega de marmitas feitas no estabelecimento. Um suposto flagra de Erasmo no momento em que Tim surrupiava um dos quitutes das marmitas teria gerado uma briga entre os dois, que logo voltaram a ser amigos.
Após a saída de Tim Maia, o The Sputniks foi rebatizado para The Snakes e ganhou José Roberto “China” como integrante.
Amigo de fé, irmão camarada
Erasmo Carlos e Roberto Carlos, em 1977
Acervo Grupo Globo
Questionado sobre a importância de Roberto Carlos ao longo dessa trajetória, desde a adolescência, ele afirmou:
“É uma pérola, um presente que caiu do céu na minha vida”, disse.
Ao completar 80 anos durante a pandemia, Erasmo foi questionado sobre qual música mais representaria o tempo que a humanidade estava vivendo. Sem titubear, ele escolheu “É preciso saber viver”, uma das mais conhecidas canções feitas em parceria com Roberto.
Conhecido pelo temperamento gentil, o gosto pelo rock n’ roll, especialmente Elvis Presley.
Outro traço da relação de Erasmo com o Rio, o Vasco da Gama, time que uniu Erasmo e Roberto ainda mais, na paixão pelo futebol, publicou uma nota de pesar.
“Sabemos que sempre estará conosco. Descanse em paz, Tremendão”, disse o clube por meio de nota.
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Em 2011, o cantor e compositor completou 70 anos e 50 anos de carreira no palco do Theatro Municipal do Rio, mostrando que alcançou todos os pontos da cidade com a música.
Erasmo contou que se manteve em isolamento durante a pandemia da Covid e desenvolveu novos hábitos durante o período caseiro.
“Sempre ligado nas notícias, nos progressos e nos desprogressos. Não sei se existe essa palavra – desprogresso- mas e não existe passa a existir agora porque eu inventei. E na minha vidinha aqui procurando desenvolver outras artes”, contou.
Erasmo Carlos durante gravações do ‘Vídeo Show’
Acervo Grupo Globo
O período de isolamento também fez Erasmo se decepcionar com o comportamento de muita gente durante a pandemia.
“Inclusive eu estou decepcionado com as pessoas eu vejo ódio em dia por aí, vejo preconceito, vejo egoísmo, intolerância então essas coisas me deixam muito triste”, disse.
Entre os trabalhos do período em isolamento, ele chegou a compor poesias como “Carioca do Ovo”, que fala sobre os moradores da cidade (veja abaixo).
“Ser carioca é ser alguém.
Nem melhor nem pior do que ninguém.
Famoso desconhecido, quem?
Com conta bancária ou sem
Que não tem medo do verão que vem.
Nascido ou não no Rio de janeiro, amém
É da gema do ovo ou da clara do povo
Tem como característica estar sempre elegante na foto, bem com a vida, versus qualquer tempestade
Como a das setas do Tião Padroeiro que contra a sua vontade respingam gotas de sangue ferindo sua cidade chamada maravilhosa, injustamente sofrida
Que corre o risco de achar expansiva, encamisada, exclusiva ou traçante
No cartão postal escondida a tal da bala perdida
Ser carioca é beber mais poluído e comer o biscoito jornal.
É lamentar o tatuí sumido das areias do seu litoral.
É dar um jeito no jeitão para disfarçar seus defeitos. fazendo de domingo todos os dias lindos e feriado improvisado de qualquer dia nublado.
Ser carioca é morar no River of January na Barra da Tijuca,
conviver no end of the world que a esperança batuca, transformando o samba em marcha cara de pau só pra caber no tempo de atravessar o Sambódromo no carnaval
É harmonizar a labuta para não fugir da luta
É usar o seu desgosto para pagar imposto
É fingir que foge da raia para ser descoberto na praia fazendo o que for preciso para bronzear seu sorriso
Ser carioca é ver a existência como se fosse um coco e tratar o sol como se fosse Deus
É ver seu rosto na face do Cristo para ter certeza que é visto
E ter a bexiga cheia de sorte para mijar no sorteio da morte
É estar sempre na moda para gourmetizar a foda
Fazendo um menu de afeto sob as bençãos do Redentor
Em qualquer sotaque que for ser carioca é ser do mundo
Desde que tenha seu lindo mar imundo para pescar amor lá no fundo”

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