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Festas e Rodeios

O show em Nova York que ‘lançou’ a Bossa Nova no mundo há 60 anos

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A ideia de alugar a mais tradicional casa de shows de Nova York para fazer um concerto de bossa nova partiu do empresário Sidney Frey e reuniu grandes nomes do estilo musical tipicamente brasileiro. Da esquerda para a direita: Agostinho dos Santos, Normando Santos, Octavio Bailly, Durval Ferreira e Roberto Menescal embarcando para Nova York, em 1962
Acervo Roberto Menescal
Rio de Janeiro, novembro de 1962. O telefone toca na casa de Roberto Menescal.
Um funcionário do Ministério das Relações Exteriores (MRE) convida o músico, então com 25 anos, para participar de um show de bossa nova dia 21, no Carnegie Hall, em Nova York.
“Não posso ir. Tenho pescaria em Cabo Frio”, avisou. “Mas, não dá para desmarcar?”, insistiu o homem, surpreso com a recusa. “Não dá. Aluguei até um barco”, explicou.
Ao desligar o telefone, Menescal ainda se perguntou: “Carnegie Hall? O que será isso? Um teatro, um festival, um bar?”.
Chegou a pensar que o tal show seria uma daquelas “reuniõezinhas informais” que a turma da bossa nova fazia no apartamento da cantora Nara Leão na Avenida Atlântica, em Copacabana. Não era.
Dias depois, o telefone tocou novamente. Ao atender a ligação, reconheceu a voz de Tom Jobim: “Menesca, você tá louco? Me falaram que não vai tocar com a gente no Carnegie Hall…”. “Ih, Tom, já tenho compromisso!”, confirmou. “Mas, por quê?”, quis saber. “Marquei pescaria em Cabo Frio”, voltou a dizer.
Tom não aceitou “não” como resposta. Menescal ainda argumentou dizendo que não era cantor. E que, por questões financeiras, não poderia levar seu grupo.
Apenas dois artistas viajaram com seus respectivos conjuntos: Oscar Castro Neves e Sérgio Mendes. Nisso, Mendes se ofereceu para tocar com Menescal.
“O Menescal representa a inocência da bossa nova. É o sujeito que, por pouco, não participou do show porque queria pescar. E, ao contrário dos demais, precisou voltar antes porque ia se casar”, analisa a jornalista e historiadora Bruna Ramos da Fonte, autora de “Essa Tal de Bossa Nova” (Editora Rocco).
“Ainda hoje, aos 85 anos, esbanja jovialidade. É como se o tempo não tivesse passado para Roberto Menescal”.
Curiosamente, o homem que encorajou Menescal a participar do concerto quase desistiu da viagem. Tinha medo de avião. Foi convencido, na última hora, pelo escritor Fernando Sabino (1923-2004): “Você vai vencer, Tom. A partir desta noite, o mundo vai te ouvir”.
Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli
Acervo Roberto Menescal
Uma noite no Carnegie Hall
A ideia de alugar a mais tradicional casa de shows de Nova York para um show de bossa nova partiu do empresário Sidney Frey.
O dono da gravadora Audio Fidelity esteve no Rio em setembro de 1961 e gostou muito do que viu e ouviu no Beco das Garrafas, um famoso reduto bossa-novista em Copacabana.
Sua ideia original era convidar apenas Tom Jobim e João Gilberto, mas, logo, mudou de ideia.
Para anunciar o evento, Frey convocou uma coletiva de imprensa no Copacabana Palace. Aos repórteres, declarou que ainda estava selecionando os artistas que levaria para Nova York.
A maior parte das passagens aéreas foi paga pelo Itamaraty. A Varig chegou a fornecer algumas.
Houve artista que, segundo o escritor Ruy Castro, ganhou patrocínio. A passagem de Agostinho dos Santos foi custeada pela gravadora RGE, a de Caetano Zama pelos violões Di Giorgio e a de Ana Lúcia pelos Diários Associados.
Ao todo, o concerto contou com 18 artistas. Alguns deles eram, por assim dizer, obrigatórios em um show de bossa nova — casos de Tom, João, Carlos Lyra, Menescal e Luiz Bonfá.
Outros, nem tanto. Como Bola Sete, Carmen Costa, José Paulo e Lalo Schifrin.
Pelo menos três grandes representantes do gênero ficaram de fora: João Donato, Johnny Alf e Baden Powell. “Imagina se o Baden fosse… Era um grande músico. Já o Johnny era meio recluso. Mal acabava o show, ia embora para casa. Talvez tenha sido convidado, mas não aceitou”, especula Menescal.
Roberto Menescal no Carnegie Hall, em Nova York, em 1962
Acervo Roberto Menescal
‘Hi, Menescal, how are you?’
O primeiro dos muitos sustos que Menescal levou em Nova York foi no aeroporto. Ao desembarcar, foi o primeiro a passar pelo controle de passaporte. A uns dez metros de distância, avistou um grupo de músicos que fez seu coração disparar: os saxofonistas Gerry Mulligan e Cannonball Adderley, e o grupo Modern Jazz Quartet.
“Nossa, que sorte!”, escancarou um sorriso. “Veja quem está no aeroporto, turma!”.
Logo, o empresário que acompanhava a comitiva desfez o mal-entendido. Não era coincidência. Estavam ali para dar as boas-vindas aos brasileiros.
Mais surpreso ainda Menescal ficou ao saber que aqueles e outros músicos não só curtiam a bossa nova como já tinham gravado alguns clássicos do gênero. Caso do saxofonista Stan Getz e do guitarrista Charlie Byrd e da canção Desafinado.
“Quando me disseram que eles conheciam a gente, não acreditei. Mas, quando o Mulligan disse: ‘Hi, Menescal, how are you?’, fiquei branco. Será que eu tô sonhando?”, diverte-se.
Desventuras em Nova York
Os brasileiros ficaram hospedados no Diplomat, na rua 47. O hotel fica a dez quarteirões do Carnegie Hall, na 57.
Certa manhã, Menescal saía para comprar uma guitarra nova quando foi chamado por João Gilberto para ajudá-lo a escolher um chapéu. Eram dez horas.
“Rapaz, preciso de ajuda…”, começou. “Estou com frio na cabeça. Preciso comprar um chapéu senão vou perder a voz”. Menescal achou que, na pior das hipóteses, as compras não durariam mais do que uma ou duas horas. Estava enganado.
Às três da tarde, João ainda não tinha encontrado o modelo ideal. “Volta e meia, ele se queixava de que as cordas de seu violão tinham quebrado. Eu comprava as cordas, pagava do meu bolso e, acredite, ainda tinha que trocá-las. Nem trocar as cordas do próprio violão o João trocava”, reclama Menescal.
Lá pelas tantas, o cantor de “Chega de Saudade” gostou de um modelo que estava na última prateleira de uma loja de departamentos. O vendedor pegou um idêntico no estoque, mas o cantor queria o que estava no mostruário.
“O meu chapéu é aquele que está na prateleira. Não é este que você me trouxe”, argumentou o cantor. “Mas, João, é igualzinho!”, interveio Menescal, já impaciente com a demora. “Não é não. É diferente!”, insistiu.
O vendedor, então, pegou uma escada e, equilibrando-se nos últimos degraus, resgatou o bendito chapéu. João experimentou o modelo, reconheceu que coube direitinho em sua cabeça, mas implicou com uma peninha que tinha perto da aba. “Vem cá, você não tem esse modelo sem a peninha?”, perguntou.
“Essa história é engraçada hoje. Mas, no dia, não teve nada de engraçado. Tanto que, naquele mesmo dia, chamei o João para conversar e disse: ‘João, vou continuar comprando seus discos e assistindo aos seus shows, mas não quero mais saber de andar com você. Estou deixando de fazer as minhas coisas para fazer as suas. Espero que entenda’.”
Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Ronaldo Bôscoli, Roberto Menescal e Carlos Lyra
Acervo Roberto Menescal
Em Essa Tal de Bossa Nova, Menescal relembra outras histórias. Nessa mesma viagem, João se trancou no quarto do hotel e recusou a abrir a porta para o repórter e o fotógrafo da Time. Detalhe: a entrevista tinha sido agendada.
“Vi as capas das revistas e parece que passam batom nas pessoas”, gritou do outro lado da porta. “Não posso aparecer de batom numa revista. Tenho responsabilidades!”. E, apesar de toda a negociação, não abriu mesmo.
Em Washington, os organizadores do show pediram a Menescal para resgatar João no hotel. Faltava pouco para o início do espetáculo e nem sinal dele.
Ao chegar no quarto, Menescal deu de cara com João, ainda deitado e de pijamas, dedilhando seu violão. Ao lado da cama, o cônsul do Brasil passava a ferro o smoking que o cantor usaria no show.
Carreira fugaz
Os dias que antecederam o show no Carnegie Hall passaram voando e o tão esperado ensaio de Menescal com o sexteto de Sérgio Mendes acabou não acontecendo. Conclusão: o músico procurou o organizador do show e pediu para cancelar sua participação.
“Ah, mas você canta muito bem!”, disse o empresário, tentando persuadi-lo a mudar de ideia. “Eu? Mas, eu nunca cantei na vida!”, espantou-se Menescal. “Ah, mas, você vai cantar. É claro que vai! Você assinou um contrato, lembra?”, e deu a conversa por encerrada.
O outro susto que Menescal tomou foi quando subiu ao palco do Carnegie Hall. A casa de espetáculos, com capacidade para 2,8 mil espectadores, estava completamente lotada.
Na plateia, nomes famosos como o cantor Tony Bennett, os trompetistas Miles Davis e Dizzy Gillespie, a cantora Peggy Lee, o pianista Erroll Garner e o flautista Herbie Mann, entre tantos outros.
Segundo jornais da época, havia uma “floresta de microfones” no palco. Pelo menos cinco deles eram da gravadora de Frey, a Audio Fidelity.
A CBS, a Voz da América e a BBC, entre outras emissoras, também participaram da transmissão. O show foi transmitido para o Brasil pela Rádio Bandeirantes. A locução ficou por conta do jornalista e produtor musical Walter Silva, o Pica-Pau.
Menescal estava tão nervoso que, na hora de cantar O Barquinho, trocou a letra de Ronaldo Bôscoli. “Dia de luz, festa de sol” virou “dia de sol, festa de luz”. “Troquei, mas ninguém reparou”, minimiza.
Um ano depois, a gravadora Audio Fidelity lançou o álbum Bossa Nova at Carnegie Hall, com apenas 13 faixas, como Samba de Uma Nota Só, de Tom Jobim e Newton Mendonça; Manhã de Carnaval, de Luiz Bonfá e Antônio Maria; e A Felicidade, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
“Acho que, até hoje, fui o único cantor que estreou no Carnegie Hall. Só eu, o banquinho e o violão. E tem mais: sem ter ensaiado! Já na segunda música, desisti da carreira de cantor”, diverte-se Menescal.
“Passei uns cinco anos sem coragem de ouvir a gravação. Mas, quando ouvi, até que não ficou tão ruim quanto imaginava”.
É proibido fumar
O lapso de Menescal foi apenas um dos muitos contratempos do concerto do Carnegie Hall. Ruy Castro aponta outros em Chega de Saudade: A História e As Histórias da Bossa Nova (Companhia das Letras): Normando Santos cantou com o microfone desligado, Caetano Zama arriscou passos de sapateado, Bola Sete tocou violão nas costas…
Nem Tom Jobim escapou. Esqueceu parte da letra de Samba de Uma Nota Só e começou a cantar Corcovado fora do tom. Parou a música e começou de novo.
“O Carnegie Hall só faltou ajoelhar-se”, destaca o autor. Nos bastidores, Lyra levou uma dura do segurança porque estava fumando debaixo de um aviso de “Don’t smoke”.
O show, apresentado pelo pianista Leonard Feather, foi aberto por Sérgio Mendes. Em reunião com Frey, o pianista já tinha avisado: “Ou eu abro ou eu fecho. E não acompanho ninguém”.
Bem, se Sérgio Mendes ficou responsável pela abertura, o encerramento ficou a cargo de João Gilberto. Com um violão emprestado por Billy Blanco, a maior atração da noite cantou três músicas: Samba da Minha Terra, acompanhado por Milton Banana na bateria, e Corcovado e Desafinado, com Tom ao piano.
“O concerto do Carnegie Hall foi importante por internacionalizar a bossa nova de uma vez só. Algumas músicas já tinham sido gravadas lá fora, mas o movimento ainda não tinha tanta projeção no exterior”, explica Bruna.
“Por outro lado, representou o ‘fim’ da bossa nova dos encontros na praia, das reuniões nos apartamentos, etc. Dali em diante, cada um seguiu para um lado.”
Fogo amigo
Sessenta anos depois, Menescal calcula que passou uns 12 dias nos EUA. Além do concerto no Carnegie Hall, os brasileiros fizeram mais dois shows: um no Village Gate, em Nova York, e outro no Lisner Auditorium, em Washington.
Na capital americana, os músicos chegaram a ser recebidos na Casa Branca. A então primeira-dama dos EUA, Jacqueline Kennedy, disse a Carlos Lyra que sua música favorita era “Maria Nobody”, numa referência à canção Maria Ninguém, de sua autoria.
O único que regressou imediatamente ao Brasil foi Menescal. Estava de casamento marcado. Todos os demais tentaram a sorte nos EUA. Sérgio Mendes está lá até hoje.
“Naquela época, eu sonhava morar em Cabo Frio e viver de pescaria. Mas, as pessoas que ficaram por lá se deram muito bem. Por outro lado, não tenho do que me queixar. Nunca me faltou trabalho”, avalia Menescal que, além de compositor e instrumentista, é produtor musical.
Ao desembarcar, Menescal levou outro susto. Um repórter perguntou o que achava do “fracasso” no Carnegie Hall.
“Fracasso?”, arregalou os olhos. “Não estou entendendo…”, balbuciou, aturdido com a pergunta. A revista O Cruzeiro tinha publicado, na edição de 8 de dezembro, um texto intitulado Bossa Nova Desafinou nos EUA.
“Quase três mil pessoas começaram a abandonar a sala quando Antônio Carlos Jobim passou a cantar, em mau inglês, os mesmos sambas que as orquestras americanas já haviam gravado, muito melhor”, dizia o texto do crítico José Ramos Tinhorão, escrito a partir da apuração do fotógrafo Orlando Suero.
O colunista social Ibrahim Sued também pegou pesado. Em sua crítica no jornal O Globo, de 24 de novembro, disparou: “O que deveriam ter enviado para aquele fracassado concerto era uma grande orquestra para executar as músicas que estão agradando no exterior. (…) O resultado foi o que se viu: uma chatice do tamanho de um bonde; e o público, que não é idiota, foi-se retirando na metade do espetáculo…”.
Por sorte, o show foi filmado por uma equipe de TV dos EUA e a fita trazida para o Brasil por Walter Silva, que transmitiu o show pela Rádio Bandeirantes.
Quando soube da gravação, o empresário Ricardo Amaral exibiu um trecho dela em seu programa de entrevistas. Os músicos brasileiros simplesmente não conseguiam sair do palco porque a plateia não parava de aplaudi-los de pé.
“Houve boicote contra os músicos que tocaram no Carnegie Hall. Até hoje, isso acontece. Se um artista nacional conquista espaço lá fora, sofre rejeição aqui dentro. Falam logo: ‘Quem ela pensa que é?’ ou ‘Que graça acham neste fulano?’. É o brasileiro boicotando o brasileiro”, lamenta Bruna.
– Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63742499

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Como o escândalo do rapper Diddy tem alimentado teorias de conspiração

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Os detalhes chocantes dos crimes pelos quais Diddy é acusado se tornaram combustível para inúmeras teorias de conspiração – incluindo uma que acredita em uma seita satanista que beberia o sangue de crianças para se manter eternamente jovens. Sean ‘Diddy’ Combs em foto de 2017, em Nova York.
Lucas Jackson/Reuters
O escândalo envolvendo as denúncias contra o rapper americano “Diddy”, cujo nome real é Sean Combs, trouxe à tona detalhes chocantes sobre as ações do empresário musical, incluindo acusações de estupro, violência doméstica e tráfico de pessoas para exploração sexual.
Segundo promotores que investigam o caso, Diddy “criou uma organização criminosa” para “abusar, ameaçar e coagir mulheres e outras pessoas ao seu redor para satisfazer seus desejos sexuais, proteger sua reputação e ocultar sua conduta”.
Diddy nega as acusações e se declara inocente.
As acusações, no entanto, são corroboradas por inúmeras evidências, apontam os promotores, incluindo imagens de uma câmara de segurança em que Diddy é visto agredindo sua então namorada em 2016, Cassie Ventura.
As imagens, que se tornaram públicas neste ano e foram transmitidas pelo canal de televisão americano CNN, mostraram Diddy empurrando Ventura para o chão e chutando-a enquanto ela estava no chão. Mais tarde, ele tentou arrastá-la pela blusa e jogar um objeto nela.
No entanto, em meio aos detalhes chocantes das denúncias e acusações reais feitas por vítimas contra Diddy e sendo investigadas pela polícia e pela promotoria, rapidamente passaram a ser compartilhadas postagens que misturam informações sobre o caso com alegações sem qualquer evidência — o caso se tornou combustível para a disseminação de teorias da conspiração, especialmente as teorias QAnon.
O QAnon é uma teoria de conspiração de extrema direita que afirma que o ex-presidente Donald Trump luta uma guerra secreta contra pedófilos adoradores de Satanás do alto escalão dos governos do mundo (principalmente o americano), do setor empresarial e da imprensa. Segundo a teoria, autoridades e celebridades participariam de uma seita que bebe o sangue de crianças para se manter eternamente jovens.
Tão logo surgiram nos EUA postagens tentando implicar celebridades que conheciam ou não Diddy com os crimes pelos quais ele é acusado, o mesmo tipo de mensagem começou a aparecer nos grupos de extrema direita no Brasil.
Mais de 1500 postagens diferentes citando o caso Diddy foram identificadas em grupos de direita brasileiros nas duas semanas após a prisão do rapper, em 16 de setembro, pelo sistema de monitoramento coordenado pelo pesquisador Leonardo Nascimento, da UFBA (Universidade Federal da Bahia).
A BBC News Brasil analisou mais de 600 dessas mensagens e todas elas continham informações sobre o caso real misturadas com alegações conspiratórias sem fundamento.
Entre elas, acusações — sem qualquer evidência — de que diversas outras celebridades ou figuras importantes participaram dos crimes pelos quais Diddy é investigado.
As postagens tentam implicar, entre outros, a ex-primeira-dama Michelle Obama, a vice-presidente Kamala Harris, o jogador de basquete LeBron James, o ator Kevin Hart, o cantor Justin Bieber (às vezes como vítima, às vezes como acusado), a cantora Taylor Swift, o ator Will Smith e até mesmo o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.
Não existe qualquer evidência ou indício de que qualquer uma dessas pessoas estivesse envolvida ou tenha qualquer relação com os crimes pelos quais Diddy é investigado.
Muitas das postagens também alegam que artistas tentaram, no passado, “denunciar” ou “divulgar” o caso de Diddy através de mensagens escondidas em letras de músicas e clipes musicais. Entre eles estariam Justin Bieber e Kanye West.
Outras postagens tentam relacionar as denúncias contra Diddy com o caso de Jeffrey Epstein , empresário condenado por tráfico sexual e que era ligado a inúmeras pessoas importantes.
Caso Diddy: entenda o que é fato sobre o caso
Combustível para o QAnon
Os conspiracionistas do QAnon afirmam que sua luta contra uma “rede internacional satanista” de tráfico de crianças levará a um dia de ajuste de contas, em que pessoas proeminentes serão presas e executadas.
Mas há tantos desdobramentos, desvios e debates internos que a lista total de teorias do QAnon é enorme — e muitas vezes contraditória.
Segundo Juciane Pereira de Jesus, pesquisadora da UFBA (Universidade Federal da Bahia), casos reais de investigação ou condenação de ricos e famosos – que de fato conhecem e se encontram com muitas pessoas outras pessoas proeminentes – são uma base fértil para a construção de narrativas conspiratórias.
“Eles tentam de qualquer jeito implicar outras pessoas – especialmente figuras do partido democrata – nos crimes pelos quais os criminosos são condenados”, diz Pereira, que monitora redes brasileiras de extrema direita no Telegram desde 2022.
Ou seja, os casos reais funcionam como “combustível” para a teorias de conspiração. Leonardo Nascimento explica que casos que envolvem crimes de caráter sexual são especialmente propícios por se encaixarem na narrativa existente.
“Tudo o que tem a ver com escândalo sexual é uma porta de entrada, um pretexto para você elencar alguma teoria conspiratória”, afirma.
Segundo Juciane Pereira, os adeptos do QAnon usam fatos e informações reais em meio a cenários inventados para chegar a conclusões sem nenhum fundamento.
“Toda teoria da conspiração tem algum elemento de verdade. A teoria precisa ter pelo menos um vestígio de algo da realidade para ser crível”, afirma Juciane Pereira.
“Porque o primeiro momento é o momento do ceticismo, antes da pessoa entrar totalmente naquela narrativa conspiratória. A teoria precisa ter algo verificável, em um primeiro momento, para que essa pessoa possa depois ir construindo uma visão cada vez mais conspiratória.”
Ela afirma também que o compartilhamento desse tipo de conteúdo no Brasil tende a ser vertical, ou seja ser divulgado pelos canais de direita do Telegram mais do que compartilhado entre os usuários.
Segundo Leonardo Nascimento, que coordena o monitoramento na UFBA, os conteúdos conspiratórios são adaptados das redes de extrema direita dos EUA e da Europa com muita rapidez.
“Existe uma capilaridade muito grande nesses grupos, de tradução, adaptação de conteúdo”, afirma Nascimento. “Inclusive as ferramentas de tradução de IA ajudam nisso.”
Orgias, violência e drogas: a série de acusações que levou rapper Diddy à prisão
A famosa prisão onde rapper Diddy está detido: ‘O caos reina’
Os altos e baixos da vida e carreira do rapper Sean ‘Diddy’ Combs, acusado de tráfico sexual

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Caso Sean ‘Diddy’ Combs: veja marcas e empresas que já anunciaram fim de parceria com rapper

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Mesmo antes de sua prisão em 16 de setembro, algumas companhias já haviam se manifestado e se distanciando do artista. Sean ‘Diddy’ Combs
Mark Von Holden/Invision/AP
Os escândalos envolvendo o nome de Sean “Diddy” Combs, também conhecido como Puff Daddy e P. Diddy, já fizeram algumas empresas se manifestarem e retirarem apoios e parcerias ao cantor. Isso antes mesmo de sua prisão, em 16 de setembro.
Alvo de processos envolvendo suspeitas de tráfico sexual e agressão, ele foi preso em Nova York, nos Estados Unidos, após meses de investigações. O rapper, que ainda não foi julgado, nega as acusações que motivaram sua prisão.
Mas desde 2023, quando a cantora Cassie Ventura, ex-namorada do artista, o acusou de estupro e abusos físicos, houve um movimento de posicionamento do mercado. E até mesmo um reality show com o artista foi cancelado.
Início da fama, amizade com famosos e mais: ENTENDA ponto a ponto sobre o caso Sean Diddy Combs
Quem são os famosos citados nas notícias do escândalo de rapper
Veja marcas e empresas que já anunciaram o fim de parcerias com Sean “Diddy” Combs:
Capital Preparatory Harlem
Diddy é um dos fundadores da escola Capital Preparatory Harlem, mas a instituição cortou relações com o rapper em 2023, quando três mulheres acusaram o artista de abuso sexual.
Na época, um comunicado foi enviado pelo cofundador da instituição Dr. Steve Perry. “Embora esta decisão não tenha sido tomada de forma leviana, acreditamos firmemente que é de grande interesse para a saúde e o futuro da nossa organização”, escreveu.
A Capital Preparatory Harlem atende crianças de 6 a 12 anos e visa uma rigorosa educação preparatório para o ingresso na faculdade
Howard University
Outra instituição de estudos que cortou relações com Diddy foi a Howard University. O rapper frequentou a escola entre os anos de 1987 e 1989.
Em 2014, a instituição conferiu um título honorário ao cantor. Mas dez anos depois, em junho de 2024, o Conselho administrativo da Howard University votou por unanimidade para revogar o título, com “todas as suas honras e privilégios associados”.
A universidade afirmou que as imagens (da agressão à ex-namorada) “são incompatíveis com os valores e crenças” da instituição.
Além disso, eles anunciaram que iriam abandonar uma bolsa criada em nome do artista em 2016, devolvendo a doação de US$ 1 milhão (cerca de R$ 5,45 milhões) feita por Diddy ao programa.
Revolt TV
Também em novembro de 2023, Diddy deixou temporariamente o cargo da presidência da Revolt TV. O cantor é um dos fundadores da rede de TV a cabo, criada em 2013.
Diferentemente do que aconteceu com a Capital Preparatory Harlem, não houve nenhum manifesto dos sócios ou funcionários sobre a saída do cantor. Mas quatro meses após o anúncio, o TMZ informou que Diddy havia vendido todas as suas ações na emissora. A quantia não foi revelada.
Reality “Diddy+7”
O serviço de streaming Hulu estava desenvolvendo um reality show para acompanhar a vida de Diddy e seus familiares, mas foi descartado, segundo informou a revista Variety em dezembro de 2023
O projeto, que levaria o nome de Diddy+7, estava nas primeiras etapas de desenvolvimento e seria tocada pela produtora Fulwell 73, de James Corden.
Plataforma Empower Global
Em julho de 2023, Diddy criou uma plataforma de comércio eletrônico focada em produtos criados e vendidos exclusivamente por empreendedores negros, a Empower Global. Mas meses depois, em dezembro do mesmo ano, 18 marcas confirmaram que romperam relações com a empresa online.
Annette Njau, fundadora da empresa House of Takura, foi uma delas. A empresária afirmou que tomou a decisão de deixar a plataforma um dia após a abertura do caso de Cassie Ventura.
“Levamos muito a sério as acusações contra o Sr. Combs e consideramos tal comportamento abominável e intolerável. Acreditamos nos direitos das vítimas e apoiamos as vítimas a falarem a sua verdade, mesmo contra as pessoas mais poderosas”, afirmou Annette.
Peloton
Em maio de 2024, o aplicativo de treinos de atividades físicas Peloton anunciou aos seus usuários que iria pausar o uso de músicas gravadas por Diddy em sua plataforma. No comunicado, eles ainda informaram que seus instrutores não iriam mais usar a música do artista em nenhuma nova produção de séries em suas aulas.
America’s Best Contacts & Eyeglasses
Também em maio de 2024, a America’s Best Contacts & Eyeglasses interrompeu a venda de armações de óculos da linha Sean John. A marca de artigos de moda masculina foi criada por Diddy em 1998.
A empresa varejista informou que fez a retirada de produtos de suas prateleiras e trocou por produtos de preços similares. Além disso, as peças também foram retiradas das lojas virtuais.
Caso Diddy: entenda o que é fato sobre o caso

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Filarmônica de Pasárgada faz música para crianças sem dar lição de moral em álbum malcriado e questionador

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Agendado para 9 de outubro, o disco da banda paulistana tem participação de Tom Zé e do escritor Ignácio de Loyola Brandão ao longo de nove faixas. A banda paulistana Filarmônica de Pasárgada segue a cronologia de um dia na vida de uma criança nas nove faixas do álbum ‘Música infantil para crianças malcriadas’
Edson Kumakasa / Divulgação
Capa do álbum ‘Música infantil para crianças malcriadas’, da Filarmônica de Pasárgada
Arte de Guto Lacaz
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Música infantil para crianças malcriadas
Artista: Filarmônica de Pasárgada
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♪ Sempre houve certa espirituosidade na música da Filarmônica de Pasárgada que parece até natural que o quinto álbum da banda paulistana, Música infantil para crianças malcriadas, seja disco direcionado para o público infantil.
No mundo a partir da próxima quarta-feira, 9 de outubro, o álbum reúne nove canções compostas e arranjadas por Marcelo Segreto. Gravado de 12 a 23 de março no estúdio da gravadora YB Music, em São Paulo (SP), Música infantil para crianças malcriadas consegue ser um disco lúdico e ao mesmo tempo conceitual e, em alguns momentos, até provocador.
As nove músicas seguem a cronologia de um dia na vida de uma criança do momento em que ela acorda (mote da faixa inicial Despertador) até a hora de dormir e sonhar – assunto da marchinha Tá na hora de dormir e de Sonho, a faixa final, aberta com o texto O menino que vendia palavras, na voz do escritor Ignácio de Loyola Brandão – em sequência que faz o disco roçar os 20 minutos. Ou seja, com faixas ágeis e curtas, Música infantil para crianças malcriadas é álbum moldado para a impaciente geração TikTok.
Entre o despertar e o sonho, o inédito repertório de Marcelo Segreto aborda a ida para a escola, o almoço, a lição de casa e a hora do banho. Só que inexiste no álbum aquele didatismo tatibitate e moralizante da maioria dos discos infantis. Ao contrário.
A canção O alface é infinito, por exemplo, versa sobre almoço com a participação de Tom Zé sem endeusar a dieta das folhas. Escola pode escandalizar educadores e pais mais ortodoxos com os versos finais “A gente atrasa / E quando a gente tá doente / Que beleza, minha gente / A gente fica em casa”.
Já pro banho encena diálogo de mãe e filho para mostrar a resistência da criança em se lavar com a verve de versos questionadores como “Por que os franceses podem e eu não posso? / E, além disso, olha onde é que eu moro / Em São Paulo eu tomo banho de cloro”.
Enfim, a Filarmônica de Pasárgada resiste à tentação de educar as crianças – tarefa mais adequada para pais e professores – neste disco malcriado que, por isso mesmo, tem lá algum encanto.
O álbum infantil da banda é tão abusado que até o projeto gráfico de Guto Lacaz descarta as cores recorrentes nas capas e encartes de discos para crianças para ser fiel à estética em preto e branco da discografia da Filarmônica de Pasárgada.
Filarmônica de Pasárgada lança o álbum ‘Música infantil para crianças malcriadas’ em 9 de outubro, em edição da gravadora YB Music
Edson Kumakasa / Divulgação

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