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Orçamento, recriação de Ministério e diálogo: os desafios do próximo governo na área da Cultura

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Especialistas ouvidos pelo g1 indicam quais os pontos críticos na área, que vem sendo esvaziada nos últimos anos. Os desafios no setor cultural para o próximo governo
Marcos Serra Lima/g1 e Divulgação
Ainda que a pandemia tenha prejudicado a cultura, a menor atenção ao setor cultural é um problema que vem antes disso. Um levantamento do Ministério da Economia, no segundo semestre de 2020, indicou que as atividades artísticas, criativas e espetáculos, foram as mais prejudicadas com a Covid-19.
Houve o “rebaixamento” do Ministério para Secretaria Especial de Cultura, seis trocas de comando e parte da classe artística sendo colocada em um campo de batalha ideológico, incentivado pelo presidente Jair Bolsonaro. Nesse contexto, segundo especialistas ouvidos pelo g1, o movimento para o próximo governo, que assume em 2023, é o de reconstrução.
Os ex-secretários especiais de Cultura Roberto Alvim, Regina Duarte e Mário Frias
Clara Angeleas/Secretaria Especial da Cultura/Dida Sampaio/Estadão Conteúdo/Roberto Castro/Mtur
“Nós tivemos um desmonte da gestão de política pública cultural, que vínhamos construindo para que tivesse a robustez que a cultura nacional merece, com o tamanho do país e sua diversidade. O cenário é de terra arrasada”, diz a professora Maria de Fátima Rodrigues Makiuchi, coordenadora geral do Observatório de Políticas Públicas Culturais da Universidade de Brasília.
“Existia um processo de enfraquecimento desde o fim do governo de Dilma Rousseff, mas com a entrada do Bolsonaro o que aconteceu foi uma ruptura absurda”, diz Wallace de Deus, antropólogo e professor de produção cultural da Universidade Federal Fluminense. “Poderíamos ter regredido muito menos.”
Os especialistas apontam quais os principais desafios para a reconstrução da gestão de políticas públicas para a cultura durante o próximo governo, de Lula:
Orçamento e fomentos
Recriação do Ministério da Cultura
Articulação com a sociedade civil
1) Orçamento e fomentos
Apesar de a recriação de um ministério ser urgente, os especialistas apontam que o orçamento, em especial para os programas de fomento, é o desafio mais evidente. “Foi o que ficou mais difícil ao longo dos anos, independentemente do governo, e vai continuar sendo difícil”, diz Maria de Fátima.
“É uma briga que sempre teve e vai continuar tendo”, resume Luiz Gustavo Barbosa, professor da FGV, responsável pelo estudo de impactos econômicos das leis de fomento em São Paulo, entre 2020 e 2021.
“E neste momento de reconstrução, é urgente a retomada dos programas de fomento previstos em lei.”
A primeira briga travada, antes do início de 2023, segundo Eduardo Barata, presidente da Associação dos Produtores de Teatro, é garantir o orçamento para as leis Aldir Blac 2 e Paulo Gustavo.
Em novembro, foram anunciados os integrantes da equipe de transição de governo na área cultural. Estão no grupo nomes como a atriz Lucélia Santos, ex-ministro da Cultura Juca Ferreira, a cantora Margareth Menezes, os deputados federais Áurea Carolina, Túlio Gadêlha (Rede-PE), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Marcelo Calero (PSD-RJ) e Benedita da Silva (PT-RJ).
Congresso estuda derrubar veto de Bolsonaro à lei Paulo Gustavo
A primeira deve repassar R$ 3 bilhões à Cultura por cinco anos. A segunda libera R$ 3,8 bilhões do superávit do Fundo Nacional de Cultura para projetos do setor. O objetivo é evitar que o recurso desse fundo seja usado para outros fins.
A derrubada pelo Congresso do veto de Bolsonaro às duas leis de incentivo soou como um bom sinal para este próximo ano, de acordo com os especialistas. Mas apenas isso não é suficiente.
“Seria preciso avançar na consolidação do Fundo Nacional de Cultura, em que o Estado e a sociedade civil, principalmente por meio de um conselho forte e representativo, consigam direcionar os recursos para as pontas”, explica Aluízio Marino, coordenador do LabCidade, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Bolsonaro veta na íntegra a nova Lei Aldir Blanc, que destinava recursos para atividades culturais
O Fundo Nacional de Cultura é um dos três mecanismos dentro da Lei de Incentivo à Cultura. Diferentemente do benefício de isenção fiscal para as empresas em troca do apoio ou patrocínio às produções culturais, nesta modalidade, o recurso parte da União e segue direto para o projeto cultural, normalmente escolhido por meio de editais, chamadas e prêmios.
Até 2018, uma das principais fontes para alimentar esse fundo era a transferência de 3% da arrecadação bruta das loterias. O então presidente Michel Temer reduziu o valor para 1,5% ao criar um fundo nacional com as áreas de segurança pública, cultura e esporte.
“O Fundo foi pensado para amparar, apoiar, patrocinar os projetos e ações culturais que não tem apelo comercial em um primeiro momento”, explica Maria de Fátima.
Segundo ela, se já era difícil abastecê-lo com recursos significativos, com a redução, ele foi desestabilizado. “Ele é um contrapeso extremamente necessário para que a gente dê capilaridade para a Cultura.”
Esta capilaridade, explicam os especialistas, é fundamental para o desenvolvimento da cultura por conseguir sair do eixo Sudeste, onde há maior número de equipamentos culturais.
“O apoio que se faz de R$ 20 mil, R$ 30 mil, mobiliza toda uma comunidade menos urbana, gera trabalho, renda, segurança alimentar”, diz Maria de Fátima.
“Com a capilaridade você inverte a lógica dos grandes centros levando a arte para a periferia. A gente percebe a importância das expressões periféricas, e elas sendo produzidas e pautando os grandes centros”, diz o professor Wallace.
O professor lembra que para além dos projetos periféricos, equipamentos como museus dependem de auxílios de governos. “Com exceção daqueles patrocinados, como o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, esses equipamentos não se sustentam apenas com a bilheteria”, explica. “Eles entregam muito, mas não se bancam. É um desafio entender o setor cultural como uma malha.”
Há ainda outra área que viu a sua principal fonte de incentivo sumir da proposta de orçamento de 2023 enviada por Bolsonaro: o cinema. A proposta do presidente exclui Condecine, arrecadação que sustenta o Fundo Setorial do Audiovisual.
“É isso que faz o caixa do Fundo Setorial do Audiovisual, que é responsável por grande parte da produção independente”, diz a produtora Renata Magalhães, presidente da Academia Brasileira de Cinema.
A Condecine é uma contribuição para a indústria cinematográfica nacional feita pelos integrantes do cinema: quem ganha dinheiro com o setor, com salas de exibição ou concessionárias de telecomunicações, as TVs, pagam esta contribuição.
A verba recebida pode ser contingenciada e destinada a outras áreas. No entanto, no projeto de Bolsonaro renunciou a qualquer valor.
“O governo deixou a gente sem dinheiro e zerou a própria arrecadação, abriu mão da receita”, afirma Renata. Trazer de volta esta arrecadação se tornou urgente, segundo a produtora.
“É o SOS da atividade do momento: sair do zero e passar a ter qualquer número.”
2) Recriação do Ministério da Cultura
Unanimidade entre os especialistas é retornar o setor ao status de Ministério. A instituição foi “rebaixada” para Secretaria Especial de Cultura, no início do governo Bolsonaro, em um primeiro momento subordinada à pasta da Cidadania e, em seguida, à pasta de Turismo. Seis nomes passaram pelo seu comando como Roberto Alvim, Regina Duarte e Mário Frias.
“Em locais como a Europa e a América Anglo-saxônica, muitas vezes, a cultura está embutida no próprio sistema de educação. Quando se fala em educação, já abarca as questões da cultura”, explica. “No nosso caso, latino-americano, não. Dada a precariedade e as necessidades que temos na educação e as especificidades que temos na cultura, precisamos de um ministério à parte”, diz Wallace de Deus, da UFF.
A professora Maria de Fátima, da UnB, afirma que ter uma estrutura institucional é fundamental para construir uma política pública adequada e forte:
“Não se trata apenas em pensar na lei: é formular, monitorar, avaliar os impactos, fazer a gestão de recursos, tudo isso articulado com as demandas da sociedade civil e do mercado.”
Segundo ela, uma secretaria funcionaria para assuntos e grupos mais específicos da sociedade e não para a área cultural como um todo, em que precisa até dialogar com outros setores.
Para Barbosa, da FGV, a falta de um ministério permitiu o desmonte das políticas de fomento, e sua reconstrução pode mostrar a importância que a área precisa ter. “É um setor que precisa de políticas públicas de fomento, que devem estar alinhadas com as políticas públicas estaduais”, afirma.
“O que se teve foi desmonte desse alinhamento, não houve uma política nacional de cultura, e cada estado, de alguma forma, foi viabilizando suas políticas totalmente independentes. Virou uma grande colcha de retalhos.”
O professor Wallace ainda completa: para ter uma estrutura robusta, não se pode pensar que ter um ministério é gastar dinheiro. Segundo ele, no fim das contas, acaba existindo o retorno financeiro. “Não é um saco sem fundo.”
3) Articulação e diálogo com a sociedade
O terceiro desafio está na comunicação com a sociedade, no diálogo com o público. “A gente aprendeu nos últimos anos o poder que uma comunicação bem-feita, bem estruturada, tem sobre as pessoas”, afirma a professora Maria de Fátima.
“Você consegue convencer as pessoas das coisas mais absurdas. E eu creio que um dos grandes desafios do governo que virá será o de comunicar adequadamente, com clareza, o que faz, por que faz e como faz. E não é só na cultura.”
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De acordo com ela, o campo da cultura tem uma particularidade porque mexe com valores e diversidade étnica, de gênero, e não pode haver margem, na hora de se comunicar, para ideias equivocadas. “E isso vale até sobre o que é uma lei de incentivo, a Lei Rouanet, as empresas que patrocinam e apoiam, mostrar o que é feito em outros países”, afirma.
Eduardo Barata, da Associação dos Produtores de Teatro, concorda que a comunicação com o público é essencial neste momento. Até para chamar as pessoas para as atividades culturais.
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“A gente tem que se adequar às novas ferramentas, utilizar as redes sociais como parte”, diz Barata. “O desafio é pensar em como podemos utilizar a comunicação, essas redes sociais, de forma a derrubar fake news, fazer com a que a informação chegue ao público de forma correta, mostrar o que é o espetáculo, o que significa esse espetáculo.”
“O governo vai ter que entrar e deve se colocar nesses locais digitais, nas redes, Instagram, TikTok, o que for, de forma firme, constante, sistemática, e de forma positiva, leve e lúdica, que incida a todo momento sobre o respeito às diferenças, o que é liberdade de opinião, diferença entre público e privado”, explica Maria de Fátima.
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Essa comunicação mais eficiente poderia evitar casos de cancelamento de atividades e performances, a exemplo da exposição “Queermuseu”, em 2017. Na ocasião, a mostra sobre diversidade sexual foi fechada em Porto Alegre, após protestos e ataques nas redes sociais.
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“A Cultura tem um papel importante, mas não somente ela. Junto a ela, a pasta da Educação e mais algumas estratégicas precisam criar programas conjuntos que incidam sobre as diferenças, de forma leve, lúdica, sem ser professoral ou afrontosa”, diz Maria de Fátima.
Marino, do LabCidade, concorda que a diversidade precisa ser elemento central nas políticas públicas para o setor. “É a mistura cultural que pode ser exportada e gerar riqueza”, afirma. “É a partir do incentivo à produção cultural de base territorial que a gente consegue enfrentar a guerra cultural que se coloca. Precisamos ter capacidade de as pessoas reconhecerem as expressões.”
Ele lembra que o estado não pode ter a menor gerência em questões de censura, classificada por ele como retrocesso. “Não é esta a função de ministério e secretarias, estaduais ou municipais”. O caminho, segundo Marino, é “acabar com possíveis mecanismos de censura, desmontar a guerra cultural e incentivar grupos de cultura, principalmente o de cultura popular. ”
“Com essa produção sendo feita no dia a dia, a gente vai ter uma transformação a longo prazo, de as pessoas compreenderem a diversidade como algo importante e não como um inimigo a ser combatido.”

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Após acidente trágico em set, ‘Rust’ terá estreia em festival sem Alec Baldwin, diz revista

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Segundo ‘The Hollywood Reporter’, o ator e produtor do filme não estará na premiere, que irá acontecer no final de novembro. Alec Baldwin chora após Justiça anular acusações de homicídio culposo
O filme “Rust” fará sua estreia para o público durante o Festival Camerimage em novembro deste ano. A produção ficou marcada pela morte da diretora de fotografia, Halyna Hutchins, 42, após ser atingida por um tiro disparado por uma arma segurada pelo ator Alec Baldwin. Segundo a revista “The Hollywood Reporter”, Baldwin, que também é produtor do filme, não irá a première.
Após a exibição do filme, o festival planejou um painel de debate para homenagear a Halyna Hutchins. Ainda não se sabe se os atores Travis Fimmel, Frances Fisher, Josh Hopkins e Patrick Scott McDermott estarão presentes no evento.
Armeira de ‘Rust’ é condenada
Hannah Gutierrez-Reed, responsável por cuidar e fornecer as armas do set de “Rust”, foi considerada culpada pela morte de Halyna Hutchins. A condenação aconteceu no dia 6 de março, num tribunal do Novo México (EUA). Ela foi presa, mas alega ser inocente.
Nesta segunda-feira (30), um juiz do Novo México negou o pedido de Hannah Gutierrez Reed para um novo julgamento e manteve sua condenação por homicídio culposo pela morte da diretora de fotografia Halyna Hutchins em 2021. Gutierrez Reed vai permanecer sob custódia para cumprir o restante de sua sentença de 18 meses.
Juíza anula acusação de Baldwin
No dia 12 de julho, o ator Alec Baldwin chorou após a Justiça dos Estados Unidos anular as acusações de homicídio culposo. A juíza entendeu que houve má conduta da polícia e dos promotores ao ocultar as provas da defesa.
À Justiça, os advogados do ator afirmaram que as autoridades “enterraram” evidências sobre a origem da bala que matou a diretora. Segundo a defesa, munições reais foram apreendidas como parte das evidências, mas não foram listadas no arquivo das investigações.
Alec Baldwin com roupa de seu personagem na gravação de ‘Rust’
AFP Photo/Gabinete do Xerife do condado de Santa Fe

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Como o escândalo do rapper Diddy tem alimentado teorias de conspiração

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Os detalhes chocantes dos crimes pelos quais Diddy é acusado se tornaram combustível para inúmeras teorias de conspiração – incluindo uma que acredita em uma seita satanista que beberia o sangue de crianças para se manter eternamente jovens. Sean ‘Diddy’ Combs em foto de 2017, em Nova York.
Lucas Jackson/Reuters
O escândalo envolvendo as denúncias contra o rapper americano “Diddy”, cujo nome real é Sean Combs, trouxe à tona detalhes chocantes sobre as ações do empresário musical, incluindo acusações de estupro, violência doméstica e tráfico de pessoas para exploração sexual.
Segundo promotores que investigam o caso, Diddy “criou uma organização criminosa” para “abusar, ameaçar e coagir mulheres e outras pessoas ao seu redor para satisfazer seus desejos sexuais, proteger sua reputação e ocultar sua conduta”.
Diddy nega as acusações e se declara inocente.
As acusações, no entanto, são corroboradas por inúmeras evidências, apontam os promotores, incluindo imagens de uma câmara de segurança em que Diddy é visto agredindo sua então namorada em 2016, Cassie Ventura.
As imagens, que se tornaram públicas neste ano e foram transmitidas pelo canal de televisão americano CNN, mostraram Diddy empurrando Ventura para o chão e chutando-a enquanto ela estava no chão. Mais tarde, ele tentou arrastá-la pela blusa e jogar um objeto nela.
No entanto, em meio aos detalhes chocantes das denúncias e acusações reais feitas por vítimas contra Diddy e sendo investigadas pela polícia e pela promotoria, rapidamente passaram a ser compartilhadas postagens que misturam informações sobre o caso com alegações sem qualquer evidência — o caso se tornou combustível para a disseminação de teorias da conspiração, especialmente as teorias QAnon.
O QAnon é uma teoria de conspiração de extrema direita que afirma que o ex-presidente Donald Trump luta uma guerra secreta contra pedófilos adoradores de Satanás do alto escalão dos governos do mundo (principalmente o americano), do setor empresarial e da imprensa. Segundo a teoria, autoridades e celebridades participariam de uma seita que bebe o sangue de crianças para se manter eternamente jovens.
Tão logo surgiram nos EUA postagens tentando implicar celebridades que conheciam ou não Diddy com os crimes pelos quais ele é acusado, o mesmo tipo de mensagem começou a aparecer nos grupos de extrema direita no Brasil.
Mais de 1500 postagens diferentes citando o caso Diddy foram identificadas em grupos de direita brasileiros nas duas semanas após a prisão do rapper, em 16 de setembro, pelo sistema de monitoramento coordenado pelo pesquisador Leonardo Nascimento, da UFBA (Universidade Federal da Bahia).
A BBC News Brasil analisou mais de 600 dessas mensagens e todas elas continham informações sobre o caso real misturadas com alegações conspiratórias sem fundamento.
Entre elas, acusações — sem qualquer evidência — de que diversas outras celebridades ou figuras importantes participaram dos crimes pelos quais Diddy é investigado.
As postagens tentam implicar, entre outros, a ex-primeira-dama Michelle Obama, a vice-presidente Kamala Harris, o jogador de basquete LeBron James, o ator Kevin Hart, o cantor Justin Bieber (às vezes como vítima, às vezes como acusado), a cantora Taylor Swift, o ator Will Smith e até mesmo o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.
Não existe qualquer evidência ou indício de que qualquer uma dessas pessoas estivesse envolvida ou tenha qualquer relação com os crimes pelos quais Diddy é investigado.
Muitas das postagens também alegam que artistas tentaram, no passado, “denunciar” ou “divulgar” o caso de Diddy através de mensagens escondidas em letras de músicas e clipes musicais. Entre eles estariam Justin Bieber e Kanye West.
Outras postagens tentam relacionar as denúncias contra Diddy com o caso de Jeffrey Epstein , empresário condenado por tráfico sexual e que era ligado a inúmeras pessoas importantes.
Caso Diddy: entenda o que é fato sobre o caso
Combustível para o QAnon
Os conspiracionistas do QAnon afirmam que sua luta contra uma “rede internacional satanista” de tráfico de crianças levará a um dia de ajuste de contas, em que pessoas proeminentes serão presas e executadas.
Mas há tantos desdobramentos, desvios e debates internos que a lista total de teorias do QAnon é enorme — e muitas vezes contraditória.
Segundo Juciane Pereira de Jesus, pesquisadora da UFBA (Universidade Federal da Bahia), casos reais de investigação ou condenação de ricos e famosos – que de fato conhecem e se encontram com muitas pessoas outras pessoas proeminentes – são uma base fértil para a construção de narrativas conspiratórias.
“Eles tentam de qualquer jeito implicar outras pessoas – especialmente figuras do partido democrata – nos crimes pelos quais os criminosos são condenados”, diz Pereira, que monitora redes brasileiras de extrema direita no Telegram desde 2022.
Ou seja, os casos reais funcionam como “combustível” para a teorias de conspiração. Leonardo Nascimento explica que casos que envolvem crimes de caráter sexual são especialmente propícios por se encaixarem na narrativa existente.
“Tudo o que tem a ver com escândalo sexual é uma porta de entrada, um pretexto para você elencar alguma teoria conspiratória”, afirma.
Segundo Juciane Pereira, os adeptos do QAnon usam fatos e informações reais em meio a cenários inventados para chegar a conclusões sem nenhum fundamento.
“Toda teoria da conspiração tem algum elemento de verdade. A teoria precisa ter pelo menos um vestígio de algo da realidade para ser crível”, afirma Juciane Pereira.
“Porque o primeiro momento é o momento do ceticismo, antes da pessoa entrar totalmente naquela narrativa conspiratória. A teoria precisa ter algo verificável, em um primeiro momento, para que essa pessoa possa depois ir construindo uma visão cada vez mais conspiratória.”
Ela afirma também que o compartilhamento desse tipo de conteúdo no Brasil tende a ser vertical, ou seja ser divulgado pelos canais de direita do Telegram mais do que compartilhado entre os usuários.
Segundo Leonardo Nascimento, que coordena o monitoramento na UFBA, os conteúdos conspiratórios são adaptados das redes de extrema direita dos EUA e da Europa com muita rapidez.
“Existe uma capilaridade muito grande nesses grupos, de tradução, adaptação de conteúdo”, afirma Nascimento. “Inclusive as ferramentas de tradução de IA ajudam nisso.”
Orgias, violência e drogas: a série de acusações que levou rapper Diddy à prisão
A famosa prisão onde rapper Diddy está detido: ‘O caos reina’
Os altos e baixos da vida e carreira do rapper Sean ‘Diddy’ Combs, acusado de tráfico sexual

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Caso Sean ‘Diddy’ Combs: veja marcas e empresas que já anunciaram fim de parceria com rapper

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Mesmo antes de sua prisão em 16 de setembro, algumas companhias já haviam se manifestado e se distanciando do artista. Sean ‘Diddy’ Combs
Mark Von Holden/Invision/AP
Os escândalos envolvendo o nome de Sean “Diddy” Combs, também conhecido como Puff Daddy e P. Diddy, já fizeram algumas empresas se manifestarem e retirarem apoios e parcerias ao cantor. Isso antes mesmo de sua prisão, em 16 de setembro.
Alvo de processos envolvendo suspeitas de tráfico sexual e agressão, ele foi preso em Nova York, nos Estados Unidos, após meses de investigações. O rapper, que ainda não foi julgado, nega as acusações que motivaram sua prisão.
Mas desde 2023, quando a cantora Cassie Ventura, ex-namorada do artista, o acusou de estupro e abusos físicos, houve um movimento de posicionamento do mercado. E até mesmo um reality show com o artista foi cancelado.
Início da fama, amizade com famosos e mais: ENTENDA ponto a ponto sobre o caso Sean Diddy Combs
Quem são os famosos citados nas notícias do escândalo de rapper
Veja marcas e empresas que já anunciaram o fim de parcerias com Sean “Diddy” Combs:
Capital Preparatory Harlem
Diddy é um dos fundadores da escola Capital Preparatory Harlem, mas a instituição cortou relações com o rapper em 2023, quando três mulheres acusaram o artista de abuso sexual.
Na época, um comunicado foi enviado pelo cofundador da instituição Dr. Steve Perry. “Embora esta decisão não tenha sido tomada de forma leviana, acreditamos firmemente que é de grande interesse para a saúde e o futuro da nossa organização”, escreveu.
A Capital Preparatory Harlem atende crianças de 6 a 12 anos e visa uma rigorosa educação preparatório para o ingresso na faculdade
Howard University
Outra instituição de estudos que cortou relações com Diddy foi a Howard University. O rapper frequentou a escola entre os anos de 1987 e 1989.
Em 2014, a instituição conferiu um título honorário ao cantor. Mas dez anos depois, em junho de 2024, o Conselho administrativo da Howard University votou por unanimidade para revogar o título, com “todas as suas honras e privilégios associados”.
A universidade afirmou que as imagens (da agressão à ex-namorada) “são incompatíveis com os valores e crenças” da instituição.
Além disso, eles anunciaram que iriam abandonar uma bolsa criada em nome do artista em 2016, devolvendo a doação de US$ 1 milhão (cerca de R$ 5,45 milhões) feita por Diddy ao programa.
Revolt TV
Também em novembro de 2023, Diddy deixou temporariamente o cargo da presidência da Revolt TV. O cantor é um dos fundadores da rede de TV a cabo, criada em 2013.
Diferentemente do que aconteceu com a Capital Preparatory Harlem, não houve nenhum manifesto dos sócios ou funcionários sobre a saída do cantor. Mas quatro meses após o anúncio, o TMZ informou que Diddy havia vendido todas as suas ações na emissora. A quantia não foi revelada.
Reality “Diddy+7”
O serviço de streaming Hulu estava desenvolvendo um reality show para acompanhar a vida de Diddy e seus familiares, mas foi descartado, segundo informou a revista Variety em dezembro de 2023
O projeto, que levaria o nome de Diddy+7, estava nas primeiras etapas de desenvolvimento e seria tocada pela produtora Fulwell 73, de James Corden.
Plataforma Empower Global
Em julho de 2023, Diddy criou uma plataforma de comércio eletrônico focada em produtos criados e vendidos exclusivamente por empreendedores negros, a Empower Global. Mas meses depois, em dezembro do mesmo ano, 18 marcas confirmaram que romperam relações com a empresa online.
Annette Njau, fundadora da empresa House of Takura, foi uma delas. A empresária afirmou que tomou a decisão de deixar a plataforma um dia após a abertura do caso de Cassie Ventura.
“Levamos muito a sério as acusações contra o Sr. Combs e consideramos tal comportamento abominável e intolerável. Acreditamos nos direitos das vítimas e apoiamos as vítimas a falarem a sua verdade, mesmo contra as pessoas mais poderosas”, afirmou Annette.
Peloton
Em maio de 2024, o aplicativo de treinos de atividades físicas Peloton anunciou aos seus usuários que iria pausar o uso de músicas gravadas por Diddy em sua plataforma. No comunicado, eles ainda informaram que seus instrutores não iriam mais usar a música do artista em nenhuma nova produção de séries em suas aulas.
America’s Best Contacts & Eyeglasses
Também em maio de 2024, a America’s Best Contacts & Eyeglasses interrompeu a venda de armações de óculos da linha Sean John. A marca de artigos de moda masculina foi criada por Diddy em 1998.
A empresa varejista informou que fez a retirada de produtos de suas prateleiras e trocou por produtos de preços similares. Além disso, as peças também foram retiradas das lojas virtuais.
Caso Diddy: entenda o que é fato sobre o caso

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