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Festas e Rodeios

‘Foi a escolha mais humana’: a onça-parda que vivia em Hollywood e teve que ser sacrificada

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As rodovias ao redor do parque em Hollywood onde P-22 foi morar fizeram com que o felino vivesse isolado de qualquer fêmea da sua espécie. Quando as autoridades o capturaram em 12 de dezembro, ele estava abaixo do peso, cheio de sarna e sofrendo com um ferimento no olho que provavelmente veio de uma colisão com um carro. A foto de Steve Winter capturou P-22 em frente ao letreiro de Hollywood
STEVE WINTER/NATIONAL GEOGRAPHIC
Era tarde da noite em Los Angeles e a artista Corie Mattie havia tomado uma ou duas taças de vinho quando ouviu algo do fora de sua casa. Ela pensou que o cachorro do seu irmão tivesse escapado e foi abrir a porta para ele.
Não era um cachorro.
“Era um puma!”, conta Mattie, soltando um palavrão.
No Brasil, a espécie é conhecida como onça-parda. E o bicho que estava na casa de Mattie não era qualquer onça, mas a mais famosa de Hollywood.
Seu nome é P-22 e o encontro, em março deste ano, marcou a artista profundamente.
Os olhos verdes brilhantes do animal selvagem olharam diretamente para ela. Mattie fez um vídeo rápido antes de se esconder dentro de casa. P-22 ficou no quintal até de manhã, quando saiu silenciosamente por cima da cerca.
“Ele tocou minha alma. Ele poderia ter me matado, mas não o fez”, diz.
Mattie não foi a primeira que moradora de Los Angeles que P-22 enfeitiçou. Mas agora os residentes da cidade não terão mais encontros acidentais com o bicho selvagem.
No sábado, o Departamento de Pesca e Vida Selvagem da Califórnia anunciou que, devido à sua idade avançada e a uma série de problemas graves de saúde, o lendário felino foi “sacrificado humanamente”. A escolha foi a “mais difícil” porém a “mais humana”, disseram as autoridades.
P-22 vivia em Los Angeles desde 2012, quando de alguma forma conseguiu atravessar duas rodovias mortais e fixar residência em Griffith Park, a montanha onde fica o famoso letreiro de Hollywood. Com 16 km², o parque é uma pequena ilha verde no coração de uma das maiores “selvas de concreto” do mundo.
Desde então, seu carisma e sua curiosa escolha de habitat fizeram de P-22 um herói local. Sua situação – preso em uma ilha na cidade sem possibilidade de encontrar uma parceira da mesma espécie – também o tornou símbolo de um movimento para proteger as espécies ameaçadas e seus habitats naturais.
Corie Mattie pintou um muro em homenagem a P-22
CORIE MATTIE
Se tornando celebridade
Griffith Park é minúsculo em comparação com o alcance médio do território típico de uma onça-parda, de cerca de 388 km². Mas com as florestas da Califórnia ameaçadas pela degradação humana e com incêndios cada vez mais frequentes, foi o local onde P-22 conseguiu se refugiar.
Ele foi descoberto pela primeira vez em fevereiro de 2012, quando Miguel Ordeñana, um biólogo que montou armadilhas fotográficas no parque, estava verificando imagens durante a noite.
“De repente, um enorme traseiro de onça-parda aparece na tela do meu computador!”, lembra Ordeñana. A princípio ele não acreditou, mas uma outra foto obtida depois confirmou que o parque tinha um novo morador.
Em agosto, P-22 teve seu primeiro perfil publicado no jornal LA Times. O grande felino capturou a imaginação do famoso fotógrafo da natureza Steve Winter, que montou uma armadilha fotográfica sob o letreiro de Hollywood. Ele esperou mais de um ano antes que o P-22 entrasse em cena.
A foto foi divulgada na National Geographic.
“Ele se tornou uma celebridade na cidade das celebridades”, diz Winter.
As autoridades monitoravam a vida do felino
SANTA MONICA MOUNTAINS NATIONAL RECREATION
Depois disso, P-22 fez “aparições” por mais de uma década.
Ele deu um susto em um trabalhador em 2015, quando se escondeu em um espaço embaixo de uma casa no bairro de Los Feliz. Era ocasionalmente visto em câmeras de segurança de casas e nas câmeras do parque, às vezes comendo um cervo que acabara de abater. A cidade o amava tanto que o perdoou quando ele (provavelmente) matou um coala no zoológico de Los Angeles. Los Angeles declarou 22 de outubro o “dia P-22”.
O felino era muito amado pelos moradores da cidade
NATIONAL PARK SERVICE
A vida cada mais difícil das onças da Califórnia
Mas P-22 também passou a simbolizar uma realidade muito mais sombria para as onças-pardas da Califórnia. As presas locais – coiotes, guaxinins e outros pequenos animais – acabaram contaminadas com o veneno de rato que se tornou onipresente em Los Angeles.
Em 2014, armadilhas fotográficas avistaram P-22 parecendo doente e as autoridades o capturaram para levá-lo para tratamento. Uma foto do P-22 parecendo grisalho e confuso rapidamente se tornou viral, mas a causa era muito triste. Ele foi encontrado cheio de veneno de rato e consumido pela sarna – condições que matam a maioria das onças-pardas.
Os habitats da espécie foram sufocados pelas rodovias da Califórnia. Embora existam até 6 mil onças-pardas na Califórnia, os pesquisadores acreditam que a população nas montanhas de Santa Monica, onde o P-22 provavelmente nasceu, pode acabar em 50 anos. Isso porque, isolados, os felinos recorrem à endogamia (cruzamento com parentes), o que pode gerar problemas genéticos na população.
As rodovias também tornam migrações para novas áreas potencialmente mortais. Em setembro, uma onça-parda grávida foi atingida e morta quando tentava atravessar uma rodovia que corta seu habitat. Ela e seus quatro filhotes em gestação tinham vestígios de veneno de rato em seus sistemas.
Certa vez, Ordeñana capturou um vídeo de P-22 fazendo chamadas de acasalamento melancólicas. Elas nunca seriam respondidas: as rodovias e o desenvolvimento ao redor de Griffith Park fizeram com que ele vivesse isolado de qualquer fêmea e o impediam de se reproduzir.
In 2014, P-22 teve sarna (a esq.)
NATIONAL PARK SERVICE
O reinado tem fim
Na idade avançada de 12 anos para uma onça-parda, P-22 começou a passar mais tempo andando erraticamente nas áreas urbanas ao redor do parque. Recentemente, ele matou um chihuahua de estimação. A gota d’água veio depois que ele atacou um morador que passeava com o cachorro.
Quando as autoridades o capturaram em 12 de dezembro, P-22 estava abaixo do peso, cheio de sarna e sofrendo com um ferimento no olho que provavelmente veio de uma colisão com um carro, disse Jeff Sikich, do National Park Services, um biólogo que passou mais tempo com P-22 do que qualquer outro.
Foi revelado em uma coletiva de imprensa no dia seguinte que era improvável que ele fosse solto para voltar à natureza.
Em 17 de dezembro, autoridades anunciaram que, após uma avaliação completa da saúde revelar uma doença renal, um problema cardíaco e outras doenças graves, os veterinários haviam recomendado uma eutanásia humanitária.
“Eu disse a ele que sentia muito por não termos tornado o mundo um lugar mais seguro para ele”, disse Beth Pratt, da National Wildlife Federation, entidade que esteve presente nos momentos finais do P-22.
“Ele sobreviveu aqui contra todas as probabilidades”, disse Mattie, que pintou um grande mural do P-22 e se inspirou no felino para atuar em campanhas de conservação. “Muitas pessoas daqui se identificam com ele. Não é fácil viver aqui, Los Angeles mastiga e destrói você”, disse ela. “Mas ele conseguiu por dez anos.”
Este texto foi publicado originalmente em www.bbc.com/portuguese/internacional-64015322

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Bruno Mars começa tour no Brasil; show deve ter piada com calcinha e hit gravado com Lady Gaga

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Antes de turnê com 14 apresentações, g1 assistiu ao show do cantor para convidados. Com setlist semelhante ao do The Town, Bruno deve incluir novas piadinhas e grito de ‘Bruninho is back’. Bruno Mars encerra show no The Town com o sucesso ‘Uptown Funk’
Bruno Mars começa nesta sexta-feira (4) uma sequência de 14 shows, que vai até o dia 5 de novembro. Antes dessa turnê brasileira, o cantor havaiano de 38 anos fez um show beneficente no Tokio Marine Hall, em São Paulo, na terça-feira (1º). A apresentação para 4 mil pessoas arrecadou R$ 1 milhão para as vítimas da tragédia climática no Rio Grande do Sul.
No show para famosos, convidados e também fãs que participaram de uma promoção, ele seguiu uma estrutura de setlist bem parecida com a do The Town. Bruno fez dois shows no festival paulistano, em setembro de 2024.
Ele ainda começa o show com “24 Magic” e termina com a trinca “Locked Out of Heaven”, “Just the Way You Are” e “Uptown Funk”. No show exclusivo antes da turnê, ele se comunicou um pouco menos com o público.
Entre as poucas interações, gritou “Bruninho is back!”, quando a plateia começou a gritar “Bruninho! Bruninho! Bruninho”, ainda no começo. Em “Billionaire”, alterou parte da letra e cantou “different calcinhas every night”, brincadeira que foi muito aplaudida.
Há ainda uma parte piano e voz, em que ele emenda várias músicas, começando com “Funk You” e passando por “Grenade”, “Talking to the moon” e “Leave the door open”, a única que ele toca do projeto Silk Sonic. A novidade nessa parte, que rolou no show de terça, deve ser a inclusão de um trecho de “Die With a Smile”, música lançada com Lady Gaga em agosto passado.
Bruno Mars
Divulgação
No show do Tokio Marine Hall, um pouco mais curto do que os da turnê, não houve a versão instrumental de “Evidências”, de Chitãozinho & Xororó, tocada por seu tecladista. O solo de bateria, porém, continua presente. Então, não se sabe qual música brasileira será homenageada pela banda de Mars.
A banda que o acompanha, The Hooligans, segue impecável e o ajuda em coreografias cheias de gingado. Para tocar com Mars, não basta ser ótimo músico, tem que saber dançar. Com toda essa atmosfera de suingue e simpatia, fica difícil não se encantar pelo charme de Bruninho.
O repertório de Mars vai do soul ao pop rasgado, passando por R&B, levadas de reggae e baladas perfeitas para pedidos de casamento, como “Marry You”.
Antes dos shows no The Town, Bruno havia vindo ao Brasil em 2017 e em 2012, quando foi atração do festival Summer Soul.
Bruno Mars no Brasil
São Paulo: 4, 5, 8, 9, 12 e 13 de outubro – Estádio Morumbi
Rio: 16, 19 e 20 de outubro – Estádio Nilton Santos
Brasília: 26 e 27 de outubro – Arena Mané Garrincha
Curitiba: 31 de outubro e 1º de novembro – Estádio Couto Pereira
Belo Horizonte: 5 de novembro – Estádio Mineirão

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Garth Brooks é processado por maquiadora que o acusa de estupro

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Mulher diz que agressão aconteceu em 2019. Ela afirma que sofreu diferentes tipos de abusos quando trabalhava para o astro do country americano. Garth Brooks faz show em prol do Hospital de Câncer de Barretos, em 2015
Mateus Rigola/G1
O astro do country Garth Brooks foi processado por uma mulher que o acusa de estupro, segundo o canal de notícias americano CNN nesta quinta-feira (3).
A ação diz que o ataque aconteceu quando ela trabalhava para ele como maquiadora e cabeleireira, em 2019.
A mulher, identificada como Jane Roe, afirma que o cantor também mostrava seus órgãos genitais para ela, falava sobre sexo, se trocava na sua frente e mandava mensagens sexualmente explícitas.
Ela afirma que foi estuprada por ele em um hotel, em Los Angeles, durante uma viagem para a gravação de uma homenagem do Grammy.
O cantor já tinha afirmado ser inocente em um processo movido por ele, anonimamente, em setembro. Na ação, Brooks pedia para que a Justiça declarasse que as acusações de Roe não eram verdade e a proibissem de divulgá-las.
Ele dizia que se tratava de uma tentativa de extorsão que causariam “dano irreparável” à sua carreira e sua reputação.

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DJ Gustah expõe a força crescente de vozes femininas do rap e do trap, como Azzy e Budah, no álbum coletivo ‘Elas’

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A rapper capixaba Budah integra o elenco do disco ‘Elas’, projeto fonográfico que o DJ Gustah lançará na terça-feira, 8 de outubro
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♫ NOTÍCIA
♪ As mulheres marcam cada vez mais posição e território no universo do hip hop. Projeto fonográfico que o DJ e produtor musical paulistano Gustah lança na terça-feira, 8 de outubro, o álbum Elas dá voz a mulheres que estão se fazendo ouvir nos segmentos do rap e do trap com força crescente.
Editado pelo selo de Gustah, 2050 Records, o disco apresenta 10 gravações inéditas entre as 12 faixas. Abismo no peito é música cantada e composta pela rapper capixaba Budah. Cynthia Luz sola a lovesong Mar de luz e, com Elana Dara, mergulha em Lago transparente.
A paulistana Bivolt dá voz ao boombap Faço valer. A novata Carla Sol defende Hora exata. Voz de São Gonçalo (RJ), município fluminense, Azzy é a intérprete de Mesmo lugar, faixa de tom mais introspectivo. Clara Lima canta Intenção. King Saint entra em Ondas sonoras.
Ex-integrante do duo Hyperanhas, Andressinha é a voz de Poucas conversas. Annick figura em Decisões. A paulista Quist apresenta Destilado em poesia. Killua fecha o disco com Lunaatica.
Embora calcada no rap e no trap, a sonoridade do disco Elas transita pelo R&B e também ecoa a MPB.
Capa do disco ‘Elas’, produzido pelo DJ Gustah
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