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Paulinho Moska e Zélia Duncan se irmanam para cantar a ‘delícia dos desejos’ na enérgica pegada folk do show ‘Um par ímpar’

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No tom do amor, artistas dedicam a David Crosby a estreia carioca da turnê e fazem números em tributos a Erasmo Carlos e a Gal Costa em apresentação que encantou o público do Circo Voador. Paulinho Moska e Zélia Duncan cantam e tocam violão na estreia carioca da turnê do show ‘Um par ímpar’ no Circo Voador
Cristiano Juruna / Divulgação Circo Voador / Montagem g1
Resenha de show
Título: Um par ímpar
Artistas: Paulinho Moska e Zélia Duncan
Local: Circo Voador (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 19 de janeiro de 2023
Cotação: ★ ★ ★ ★ ½
♪ “Somos transparência no espelho / Somos verde, azul, vermelho / E outras cores que pintar”, se perfilam Paulinho Moska e Zélia Duncan em versos de Um par ímpar (2022), canção feita em parceria que dá nome ao show apresentado pelos artistas em turnê que percorre o Brasil desde maio do ano passado e que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) em apresentação agendada para 19 de janeiro.
A rigor, Moska e Zélia subiram ao palco do Circo Voador já aos primeiros minutos de sexta-feira, 20 de janeiro, feriado carioca, dia de São Sebastião, padroeiro da cidade, para se irmanarem na pegada folk do show Um par ímpar.
Ao longo de quase duas horas, Moska e Zélia cantaram, no tom do amor, “a delícia dos desejos” mencionada em outro verso da música Um par ímpar e motor de Carne e osso (Paulinho Moska e Zélia Duncan, 2005), segunda das 25 músicas do roteiro seguido pelos cantores no Rio.
A pulsão enérgica dos violões dos artistas – unidos no palco também dividido com o violonista uruguaio Miguel Bestard – contrastou, afinada, com a delicadeza impressa nas letras que hasteiam a bandeira do afeto nas relações amorosas, sociais e políticas. Esse contraponto embelezou canções como Me revelar (Christiaan Oyens e Zélia Duncan, 2001) em apresentação envolvente.
Parceiros em seis músicas do roteiro do show Um par ímpar, Moska e Zélia são compositores contemporâneos irmanados pelas afinidades musicais, geracionais e ideológicas.
Ambos iniciaram as respectivas trajetórias profissionais nos anos 1980, mas ganharam projeções individuais a partir da primeira metade da década de 1990 com cancioneiros autorais que ecoam, entre referências diversas, a influência dos vocais do folk rock do grupo norte-americano Crosby, Stills, Nash & Young, assunto do primeiro encontro entre os cantores, como Moska confidenciou à calorosa plateia do Circo Voador com a cumplicidade de Zélia.
Não por acaso, a apresentação carioca do show Um par ímpar foi dedicada a David Crosby (1941 – 2023) – morto na véspera, aos 81 anos – e incorporou, no bis, homenagens a Erasmo Carlos (1941 – 2022) e a Gal Costa (1945 – 2022), estrelas de primeira grandeza que, em novembro, foram brilhar em outra dimensão.
Se Zélia cantou Minha voz, minha vida (Caetano Veloso, 1982), celebrando no canto grave a imensidão do cristal da cantora, Moska reviveu Sentado à beira do caminho (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969) em reverência à longa estrada do Tremendão, pioneiro roqueiro do Brasil.
Paulinho Moska e Zélia Duncan dividem o palco do Circo Voador com o violonista uruguaio Miguel Bestard na estreia carioca de ‘Um par ímpar’
Cristiano Juruna / Divulgação Circo Voador
Nada é perfeito, como os parceiros reconhecem em verso de Sinto encanto (Paulinho Moska e Zélia Duncan, 2009), mas, ainda que uma ou outra música tenha surtido efeito mais reduzido na plateia, caso de Verdade na fonte (Paulinho Moska e Zélia Duncan, 2022), o show Um par ímpar beirou a perfeição em atmosfera de encantamento amplificada pelas boas vibrações do público do Circo Voador.
Receptiva, a plateia mostrou que conhece bem canções como A seta e o alvo (Paulinho Moska e Nilo Romero, 1997), número sobressalente de show que seguiu trilho autoral, mas com bem-vindos desvios para as obras de Itamar Assumpção (1943 – 2003) e Rita Lee, nomes recorrentes na discografia de Zélia, lembrados com Tudo ou nada (Itamar Assumpção e Alice Ruiz, 2005) e Lá vou eu (Rita Lee, 1975), respectivamente.
Houve também incursão pelo território latino-americano em A idade do céu / La edad del cielo (Jorge Drexler, 1999, em versão em português de Paulinho Moska, 2003), com Moska cantando em português e Zélia dando voz aos versos em espanhol da letra original da canção de Jorge Drexler, compositor de origem uruguaia como Miguel Bestard, cuja batida seca extraída do toque na madeira do violão conduziu Muito pouco (Paulinho Moska, 2005), número em que os cantores fizeram jogo de cena, simulando cabo de guerra em batalha vencida pela cumplicidade afetuosa.
A força da combinação harmoniosa das vozes de Zélia e Moska foi o combustível que moveu o show, feito com os cantores o tempo todo juntos no palco, mas com espaço para o solo da cantora em Viramos pó? (Juliano Holanda e Zélia Duncan, 2021), música aliciante do álbum Pelespírito (2001), gravada com pegada country-folk.
Show cheio de energia, feito com alma, carne e osso, Um par ímpar respirou macio em Feliz caminhar (Paulinho Moska e Zélia Duncan, 2019), exalou a leveza de Tudo sobre você (John Ulhoa e Zélia Duncan, 2009) – exemplo de pop perfeito – e reverberou com sensibilidade a súplica amorosa da balada folk Não vá ainda (Christiaan Oyens e Zélia Duncan, 1994), joia do álbum que mudou a vida da cantora há 29 anos.
A ternura do cancioneiro ecoou no discurso dos artistas em favor da democracia e das liberdades. Militante, Zélia acabou empunhando com Moska, ao fim do bis, a bandeira presenteada por espectadora em que se lia “sem anistia”, palavra de ordem repetida pelo público em alguns momentos da apresentação. Foram as cores da liberdade que pintaram ao longo de show que provocou encanto na memorável passagem pela cidade do Rio de Janeiro (RJ).
Paulinho Moska e Zélia Duncan cantam 25 músicas no roteiro da estreia carioca do show ‘Um par ímpar’ no Circo Voador
Cristiano Juruna / Divulgação Circo Voador
♪ Eis as 25 músicas do roteiro seguido por Paulinho Moska e Zélia Duncan na estreia carioca da turnê Um par ímpar em show iniciado aos primeiros minutos de 20 de janeiro no Circo Voador, na cidade do Rio de Janeiro (RJ):
1. Um par ou ímpar (Paulinho Moska e Zélia Duncan, 2022)
2. Carne e osso (Paulinho Moska e Zélia Duncan, 2005)
3. Sinto encanto (Paulinho Moska e Zélia Duncan, 2009)
4. Verdade na fonte (Paulinho Moska e Zélia Duncan, 2022)
5. O tom do amor (Paulinho Moska e Zélia Duncan, 2011)
6. Me revelar (Christiaan Oyens e Zélia Duncan, 2001)
7. Tudo ou nada (Itamar Assumpção e Alice Ruiz, 2005)
8. Sentidos (Christiaan Oyens e Zélia Duncan, 1994)
9. A seta e o alvo (Paulinho Moska e Nilo Romero, 1997)
10. A idade do céu / La edad del cielo (Jorge Drexler, 1999, em versão em português de Paulinho Moska, 2003)
11. O jeito é não ficar só (Paulinho Moska, 2018)
12. Viramos pó? (Juliano Holanda e Zélia Duncan, 2021)
13. Feliz caminhar (Paulinho Moska e Zélia Duncan, 2019)
14. Muito pouco (Paulinho Moska, 2005)
15. Não vá ainda (Christiaan Oyens e Zélia Duncan, 1994)
16. Nas horas cruas (Juliano Holanda e Zélia Duncan, 2021)
17. Lá vou eu (Rita Lee, 1975)
18. Tudo sobre você (John Ulhoa e Zélia Duncan, 2009)
19. Lágrimas de diamantes (Paulinho Moska, 2003)
20. Alma (Pepeu Gomes e Arnaldo Antunes, 2001)
21. Tudo novo de novo (Paulinho Moska, 2003)
Bis:
22. Minha voz, minha vida (Caetano Veloso, 1982)
23. Sentado à beira do caminho (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969)
24. Pensando em você (Paulinho Moska, 2003)
♫ Força estranha (Caetano Veloso, 1978) – música cantada somente pelo público
25. Catedral (Cathedral song, Tanita Tikaran, 1988, em versão em português de Christiaan Oyens, 1994) – com citação de Talkin’ about a revolution (Tracy Chapman, 1988)

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