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Carmélia Alves, rainha na dinastia do baião, faria hoje 100 anos

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Morta em 2012, a cantora carioca fez valer a ascendência nordestina no auge da carreira nas décadas de 1940 e 1950, mas deixou discografia pautada pela diversidade rítmica. ♪ MEMÓRIA – Na dinastia do baião, houve um rei, o pernambucano Luiz Gonzaga (1912 – 1989), cantor, compositor e sanfoneiro que personificou a soberania do gênero nordestino entre fins dos anos 1940 e início da década de 1950, período em que o baião era tão valorizado na corte do Brasil quanto o samba e o samba-canção.
E houve uma rainha, Carmélia Alves Curvello (14 de fevereiro de 1923 – 3 de novembro de 2012), carioca – filha de pai cearense e mãe baiana – que, mesmo tendo sido criada em Petropólis (RJ), fez valer a ascendência nordestina no auge da carreira iniciada em fins dos anos 1930 e projetada em 1941 quando Carmélia Alves se tornou uma cantora do rádio – no caso, a da rádio Mayrink Veiga – e ocupou o posto de crooner do Copacabana Palace, palco cobiçado da cidade do Rio de Janeiro (RJ).
Coroada Rainha do baião pelo monarca soberano Luiz Gonzaga, Carmélia Alves deveria ser mais lembrada hoje, 14 de fevereiro de 2023, dia do centenário do nascimento da artista, pela importância que teve na música brasileira.
Embora associada eternamente ao gênero estilizado e propagado por Gonzaga, com quem gravou disco ao vivo editado em 1977, Carmélia Alves deixou discografia que inclui gravações de frevos, marchas, sambas, sambas-enredo e até standards da bossa nova, mote de álbum lançado em 1964, quando o acordeom já havia sido destronado pelo violão na preferência popular dos jovens cariocas e paulistanos.
Essa diversidade rítmica é explicada porque, antes de delinear a própria identidade musical, Carmélia teve como matriz o canto vivaz da pioneira Carmen Miranda (1909 – 1955), voz sobressalente no Brasil dos anos 1930.
Iniciada há 80 anos, em 1943, a discografia de Carmélia teve como ponto de partida o single de 78 rotações por minuto editado pela gravadora Victor com as gravações dos sambas Deixei de sofrer (Popeye do Pandeiro e Horondino Silva) e Quem dorme no ponto é chofer (Assis Valente). Contudo, foi em outra gravadora, a nacional Continental, que Carmélia Alves ascendeu no mundo do disco com o canto ágil e a dicção exemplar.
A proximidade com o baião foi potencializada pela amizade da cantora com Humberto Teixeira (1915 – 1979), principal parceiro de Luiz Gonzaga, cujo cancioneiro também tem como pilar a obra composta com Zé Dantas (1921 – 1962).
Carmélia deu a voz de mezzo-soprano aos principais sucessos da obra de Gonzaga com Teixeira. Alguns estão reunidos no primeiro álbum da artista, Carmélia Alves, editado em 1956 pela gravadora Copacabana após mais de 40 singles de 78 rotações.
Como quase toda cantora da era do rádio, Carmélia Alves teve a imagem e a voz difundidas pelas telas de cinema. A artista integrou os elencos de filmes como Tudo azul (1952), Agulha no palheiro (1953), Carnaval em Caxias (1954) e Carnaval em lá maior (1955), interpretando ela mesma.
Progressivamente esquecida a partir dos anos 1960, Carmélia reviveu o passado glorioso na década de 1990, quando integrou o nostálgico conjunto As Eternas Cantoras do Rádio ao lado de colegas como Nora Ney (1922 – 2003) e Zezé Gonzaga (1926 – 2008).
Nos shows do grupo, Carmélia Alves reinava obviamente como a voz dos ritmos nordestinos porque, por mais que tivesse gravado outros gêneros musicais na discografia, essa carioca filha de imigrantes nordestinos está imortalizada na história da música do Brasil pela habilidade com que punha a voz veloz na pisada do baião.
Capa do primeiro álbum de Carmélia Alves, editado em 1956
Reprodução

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