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Ná Ozzetti parte rumo ao antigo desvario da pauliceia ao cantar músicas de Zécarlos Ribeiro em EP

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Capa do EP ‘Ná canta Zécarlos’
Arte de Gal Oppido
Resenha de EP
Título: Ná canta Zécarlos
Artista: Ná Ozzetti
Edição: Edição independente / Tratore
Cotação: ★ ★ ★ ½
♪ Pela precisão e limpidez da voz, Ná Ozzetti poderia estar no posto de diva da canção brasileira. Só que Ná sempre pareceu mais talhada para seguir os trilhos menos óbvios do canto pela sintaxe peculiar que faz da artista a matriz vocal da pauliceia desvairada.
Disponível desde sexta-feira, 10 de fevereiro, com capa assinada por Gal Oppido, o EP Ná canta Zécarlos sinaliza movimento da cantora rumo ao antigo desvario dessa pauliceia vanguardista dos anos 1980, década em que a artista se firmou como vocalista do grupo Rumo antes de iniciar paralela carreira solo em 1988.
Zécarlos é Zé Carlos Ribeiro, o compositor mais importante do Rumo depois de Luiz Tatit. Autor de Jackson jovem (1981), Ladeira da memória (1983), Falta alguma coisa (1983) e Bem alto (1985), entre outras músicas gravadas pelo Rumo no auge da produtividade do grupo, Zécarlos é compositor que subverte a gramática musical, qualidade que Ná percebeu desde que gravou Cansaço (1981) no primeiro álbum do Rumo.
“O canto de Cansaço era totalmente entoado, não tinha uma melodia óbvia. Foi uma descoberta fundamental para abrir a minha escuta e a forma de entender uma canção. As músicas do Zé que eu cantei no Rumo vinham com a matriz do canto falado. E, com o tempo, ele foi descobrindo uma maneira muito particular de compor. A canção segue um caminho inesperado. Eu gosto muito dessa singularidade”, contextualiza Ná Ozzetti no texto de apresentação do EP Ná canta Zécarlos.
Com cinco faixas, o disco resulta da abertura do baú de músicas inéditas de Zécarlos Ribeiro. Sonho é a pérola do repertório. Com letra escrita com inspiração na prosódia dos vendedores dos trens pegos pelo compositor para ir ao centro da cidade de São Paulo (SP), Sonho é parceria de Zécarlos com Danilo Penteado, a quem foi confiada a direção musical, produção e arranjos do EP gravado, mixado e masterizado por Jonas Tatit no estúdio Pratápolis (RJ).
Faixa apresentada em 16 de dezembro, como primeiro single do EP, Roupas no varal (Zécarlos e Geraldo Leite) balança em movimentos inesperados que sugerem a dança do balé sensual mencionado na letra.
Já Laura (Zécarlos Ribeiro) é samba em que o compositor homenageia tia residente no sul de Minas Gerais. Como bem observa o autor, o canto de Ná na gravação evoca eventualmente o colorido do canto de Carmen Miranda (1909 – 1955) sem cair nos clichês do Brasil tropical. Ná, cabe lembrar, já abordou o repertório de Carmen no show e disco Balangandãs (2009).
Canção concluída a partir de refrão criado nos primórdios do grupo Rumo, Vamos desembarcar (Zécarlos Ribeiro) segue curso incomum ao discorrer sobre as águas que correm em solos urbanos, vindas de rios e mares. A faixa exemplifica a simbiose entre música, canto e arranjo – mote do EP valorizado pelo canto sagaz de Ná Ozzetti.
Uma receita de amar (Zécarlos Ribeiro e Geraldo Leite) é a música que mais tem a cara antiga do Rumo pelos inusitados ingredientes melódicos, harmônicos e poéticos.
Com Ná Ozzetti, essa receita nunca desanda porque ela é a cantora que mais bem entende o desvario da pauliceia ao soltar a voz que permanece precisa dentro da imprecisão.

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