Festas e Rodeios

Rubel se abre para o samba, o funk, o forró e o mundo na atualidade do álbum ‘As palavras 1’

Published

on

A banda Bala Desejo, o rapper BK, a funkeira MC Carol e os cantores Tim Bernardes e Xande de Pilares participam do primeiro volume do disco mais ambicioso do artista fluminense, revelado há dez anos. Capa do álbum ‘As palavras vol. 1 & 2’, de Rubel
Bruna Sussekind
Resenha de álbum
Título: As palavras vol. 1
Artista: Rubel
Edição: Coala Records
Cotação: ★ ★ ★ ½
♪ “Olha tudo que é o mundo inteiro / Olha tudo que não sou eu / E que também sou eu porque é nós / E nós sou eu / E nós é nós / E nós é mesmo o mundo inteiro”, cantam Rubel e Tim Bernardes, jogando com as palavras nos versos da canção-colagem que abre a parceria dos artistas e que se intitula justamente As palavras, dando nome ao terceiro álbum de Rubel Brisolla, cantor e compositor fluminense que completará 32 anos em 10 de abril.
Sim, Rubel quer partilhar algo mais do que a vida boa com você. Em As palavras vol. 1 & 2, álbum duplo de 20 faixas divididas em dois lados ou volumes, Rubel se abre para o samba, o funk e o forró com a estética musical contemporânea da geração do artista.
Título mais ambicioso da discografia do artista, As palavras vol. 1 & 2 expande o cancioneiro de Rubel, como se o cantor quisesse abarcar o mundo inteiro da música em 20 faixas. Gravado com produção musical orquestrada pelo próprio Rubel, com a colaboração de Rodrigo Martins, o álbum simboliza movimento de ruptura na trajetória do artista revelado há dez anos.
Contudo, seguidores atentos aos sinais emitidos por Rubel em julho do ano passado com a edição de O homem da injeção II (2021) – single que apresentou samba pró-vacina de Covid-19 que aludia no título a um samba homônimo do pioneiro compositor Sinhô (1888 – 1930) – ficarão menos impactados com o movimento aparentemente natural do artista.
Rubel já tinha flertado com a MPB e com o hip hop na arquitetura frágil do álbum anterior Casas (2018), mas sem se dissociar do tom folk light do primeiro disco, Pearl (2013).
Rubel apresenta 20 faixas no álbum duplo ‘As palavras vol. 1 & 2’, gravado com repertório autoral e produção musical do artista
João Kopv / Divulgação
Disco de estrutura sólida, As palavras vol. 1 & 2 vai (muito) além. A diversidade rítmica das dez faixas do primeiro volume – objeto específico desta resenha (o segundo volume será analisado em outro texto) – é vasta o bastante para redefinir a assinatura artística de Rubel.
O registro instrumental de Forró violento (Rubel) reconfigura, já na abertura do disco, a rota do cantor com o toque da sanfona de Mestrinho conduzindo o disco para paisagem árida com a fricção das cordas orquestradas por Felipe Pacheco Ventura e com as evocações épicas do coro com as vozes de Ana Frango Elétrico, Calu e Dora Morelenbaum, arranjadas por Dora.
Na sequência, Grão de areia (Ana Caetano, Rubel e Tó Brandileone) enterra qualquer esperança vã (de antigos fãs) de partilhar o Rubel de antes ao desembocar em pagode de refrão sedutor, cantado pelo artista com Xande de Pilares, bamba das rodas cariocas.
Em outra roda, o samba Não vou reclamar de Deus (Rubel) incorpora toque de soul na faixa produzida por Ana Frango Elétrico e amaciada para um salão de gafieira pelos metais arranjados pelo trombonista Marlon Sette.
Canção harmonizada pelas vozes da banda carioca Bala Desejo e embasada com baticum da Orkestra Rumpilezz, evocativo do samba-reggae, Toda beleza (Rubel) insinua clima sensual que se exterioriza no tom eroticamente explícito da faixa seguinte, Putaria (Rubel, BK, Manuella Leal, Marcio Arantes, Scarp e Gabriel do Borel), funk em que Rubel entra de penetra no baile ao lado do rapper BK e da expansiva MC Carol. A letra reproduz códigos dos funks sexistas.
Rubelía, parceria de Rubel com o duo eletrônico Deepkapz, é tema instrumental que cai no suingue sintético tropical, misturando células rítmicas de funk, reggaeton e pisadinha. Já Posso dizer (Rubel, Mahmundi e Carlos Rufino) é samba de molde mais tradicional que embute a melancolia recorrente no cancioneiro de Rubel desde o primeiro álbum ao mesmo tempo em que dialoga com o pagode dos tempos atuais.
Solta no álbum, a vinheta As palavras I reproduz zap na voz de Ana Caetano sobre o poder da palavra força. No arremate do disco As palavras 1, Forró violento volta em versão cantada, com voz de Rubel em um registro grave encorpado, para contar a saga de mulher grávida baleada ao assaltar banco, em narrativa mais própria de cordel do que de forró.
Enfim, Rubel evolui ao se abrir para o mundo real neste terceiro álbum. Resta saber se os antigos seguidores do cantor querem partilhar algo mais do que a vida boa com Rubel…

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Trending

Copyright © 2017 Zox News Theme. Theme by MVP Themes, powered by WordPress.