Filme estrelado por Hugh Jackman conta história ambientada antes dos eventos do filme vencedor de dois Oscars em 2021. Pouco tempo depois de “Meu pai” ganhar os Oscars de Melhor Ator para Anthony Hopkins e de Melhor Roteiro Adaptado de 2021, o diretor Florian Zeller anunciou que adaptaria uma outra história que se passava no mesmo universo.
Inspirado em uma peça também de sua autoria, o cineasta apresenta “Um filho”, um drama sensível que conta com um elenco excelente e parte técnica impecável — mas que perde pontos em relação ao longa anterior.
A história do novo filme, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (23), acontece antes da contada pela trama premiada e se passa em Nova York.
Lá vivem Peter (Hugh Jackman) e sua nova esposa, Beth (Vanessa Kirby, de “Missão: Impossível – Efeito Fallout”, 2018). Os dois acabaram de ser pais e curtem essa nova etapa de suas vidas.
Assista ao trailer do filme “Um filho”
Um dia, Peter recebe a visita de sua ex-mulher, Kate (Laura Dern), que pede ajuda para cuidar do filho dos dois, Nicholas (Zen McGrath). Triste e deprimido, o rapaz não vai à escola há muito tempo e a mãe não sabe o que fazer para animá-lo.
Peter resolve levar Nicholas para sua casa e faz o possível para apoiar o jovem. Mas ele logo percebe que seus esforços podem não ser o bastante para fazer o filho sair da tristeza profunda que sente. Isso o faz lembrar dos problemas que teve com o próprio pai (Anthony Hopkins) no passado e resolve lutar para que eles não se repitam.
Hugh Jackman e Laura Dern vivem um ex-casal no filme ‘Um filho’
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Relações conturbadas
“Um filho” se debruça sobre as questões criadas a partir do momento em que uma família acaba para dar lugar a uma outra e as consequências geradas por isso. Assim, o diretor Florian Zeller (que escreveu o roteiro ao lado de Christopher Hampton, mesma parceria de “Meu Pai”) mostra como a separação de Peter e Kate afetou seu filho, que não consegue encontrar forças para superar o trauma.
Ao contrário do filme de 2020, o diretor não se vale de uma maneira mais original para contar sua história. A montagem, assinada por Yorgos Lamprinos, o mesmo de “Meu pai”, se mostra menos inventiva e, embora mantenha o interesse, não faz com que o público fique intrigado com o que acontece na tela.
Pelo menos a trilha sonora assinada por Hans Zimmer (mais conhecido por suas composições para blockbusters como “Batman vs Superman: A origem da justiça” ou “Duna”) funciona bem, principalmente nos momentos mais tensos do filme.
Kate (Laura Dern) não sabe como lidar com os problemas de Nicholas (Zen McGrath) em ‘Um filho’
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Assim, o cineasta se vale mais da qualidade de seu (bom) texto e dos atores para desenvolver os conflitos dos personagens de uma forma mais tradicional. Alguns deles quase resvalam nos clichês, mas conseguem escapar das armadilhas dramáticas que o tema do filme pode trazer.
Um bom exemplo disso está na forma que a personagem de Laura Dern é mostrada. Ela aparece como alguém angustiada por não saber lidar com os problemas do filho e, com o desenrolar da trama, é possível perceber que ela também se sente fragilizada com o fim de seu casamento.
Peter (Hugh Jackman) e Beth (Vanessa Kirby) se desentendem numa cena de ‘Um filho’
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Tanto que a reaproximação com o ex-marido para discutir a situação de Nicholas revela que ela também não superou o divórcio, o que torna Kate uma personagem com mais camadas e menos superficial do que parecia ser no início do filme. Ponto para o roteiro (e para a atuação de Dern).
No entanto, a principal questão de “Um filho” é a relação que Peter quer formar com Nicholas. O protagonista tenta estabelecer laços com o jovem, mesmo sem entender bem os conflitos internos que o rapaz possui.
Em um esforço para não repetir os erros do pai, chega a outros desencontros com o filho, uma discussão irregular que oscila entre momentos fortes e outros não muito impactantes e até previsíveis. Uma pena.
Zen McGrath interpreta Nicholas no drama ‘Um filho’, de Florian Zeller
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Garoto problema
“Um filho”, infelizmente, tem um elemento que compromete todas as boas intenções de Florian Zeller e sua equipe: a fraca atuação do pouco conhecido Zen McGrath como Nicholas.
O jovem ator australiano chora e se exalta em alguns momentos, mas não consegue transmitir o sofrimento de seu personagem. Sua performance se torna apática e falha em despertar alguma emoção genuína no público.
Por ser o centro de toda a trama, Nicholas deveria ser interpretado por um ator de mais capacidade dramática.
Peter (Hugh Jackman) e Nicholas (Zen McGrath) num raro momento de alegria em ‘Um filho’
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Basta comparar as cenas que ele divide com Jackman e Dern. É gritante a diferença de talento entre McGrath e os dois, que se saem muito melhor do que ele. No filme, são raros os momentos que funcionam a contento, principalmente por causa da fraca atuação do jovem.
Em compensação, Vanessa Kirby se destaca como Beth. Ela consegue passar bem a mudança de tom de sua personagem, que começa compreensiva com a situação e, aos poucos, fica insegura por dividir o mesmo teto com uma pessoa instável. A atriz mostra que não foi à toa que foi indicada ao Oscar por sua performance em “Pedaços de uma mulher” (2020).
Anthony Hopkins volta a trabalhar com o diretor Florian Zeller em ‘Um filho’
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Jackman também se sai bem como Peter, que decide se dedicar mais ao filho para compensar o que aconteceu em seu passado e evitar cometer os erros de seu pai, muito bem vivido por Anthony Hopkins (que repete seu papel rapidamente).
O eterno Wolverine também ganha pontos ao mostrar que seu protagonista vai perdendo um pouco de sua autoconfiança à medida que os problemas de Nicholas vão piorando e não consegue lidar com todos os problemas familiares que vão surgindo diante de si. Seu trabalho até lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro de Melhor Ator de Drama de 2023.
O eterno Wolverine também ganha pontos ao criar um protagonista que perde um pouco da autoconfiança com a evolução dos problemas de Nicholas, somados a todos os outros problemas familiares que surgem. Seu trabalho até lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro de Melhor Ator de Drama de 2023.
Com um desfecho tocante e surpreendente, “Um filho” consegue até obter seu objetivo de emocionar e comover o público. Só que alguns de seus deslizes atenuam seu impacto. Mesmo assim, pode ficar na memória do espectador por um tempo, ainda mais para aqueles que se identificarem com os conflitos vividos pelos personagens. Principalmente para quem tiver filhos e quer ter boas relações com eles.
