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Rosalía no Lolla: Show cinematográfico chamou atenção e foi feito ‘para postar’

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Entenda tendência de construir cenários com ótimos enquadramentos para redes sociais no podcast g1 ouviu. Lady Gaga, Lorde e The 1975 também apostaram nisso nas últimas turnês. Rosalía canta hit ‘Bizcochito’ e utiliza o formato vertical durante show no Lolla 2023
Rosalía fez um show cinematográfico no Lollapalooza 2023 neste domingo (26). Na turnê do ótimo “Motomamí”, a cantora espanhola tem um cenário simples, mas que dá muito efeito no palco.
Ela entra com bailarinos no palco que só tem duas estruturas na lateral e um telão gigante ao fundo. Segundos depois, um cinegrafista entra em cena e acompanha a apresentação do começo ao fim.
O câmera interage com Rosalía, filma os bailarinos e tudo é transmitido nos telões, peças-chave dos shows.
Há também celulares colocados em locais estratégicos como na ponta do piano em “Hentai” ou no chão para que os próprios bailarinos se filmem. Foi com um celular na mão que ela desceu no público e encontrou a Glória Groove, por exemplo.
A impressão que dá é de cinema e que foi feito para ser compartilhado nas redes sociais. O público consegue fazer vídeos perfeitos para o Instagram, Tiktok ou Twitter. Entenda sobre a tendência no podcast g1 ouviu abaixo:
O show que é “simples”, pensando em logística, rende momentos que viralizarm nas redes facilmente.
Na apresentação deste domingo foram vários. Quando ela senta para tocar piano em “Hentai”, antes, pede um “momento” para assoar o nariz. Gente como a gente.
Rosalía também dá uma checadinha para ver se está bonita como se estivesse olhando um espelho. O público começa a gritar “gostosa” e ela faz charme.
São gestos teoricamente espontâneos, que ela usa e abusa no show.
Rosalía canta com Gloria Groove na plateia do Lolla
Quando veio ao Brasil pela primeira vez, em agosto de 2022, com a mesma turnê em São Paulo, no Espaço Unimed, Rosalía também fez o joguinho do celular na mesma música.
Outro ponto alto que mostra como o show é cinematográfico acontece na parte final. Ela sobe em uma das estruturas e canta “Heroe”, de Enrique Iglesias, de costas para o público, mas olhando para a câmera.
Com as lanternas acesas, o público cria o melhor cenário para a música sentimental e esquece totalmente que Rosalía está de costas. A imagem produzida é muito mais impactante do que esse “detalhe”.
The 1975, Lady Gaga e Lorde
Banda inglesa The 1975 está em turnê com o show “At Their Very Best”, com palco que imita uma casa
Reprodução/Instagram/The 1975
The 1975, Lady Gaga e Lorde também apostaram em cenários que são facilmente compartilháveis nas últimas turnês.
A banda de rock, também atração do Lollapalooza, deixou na Inglaterra o cenário de casa da turnê atual, uma pena porque agrega muito à apresentação.
The 1975 faz show no Lollapalooza 2023
Divulgação/T4F
Tobias Rylander, responsável por projetar essa turnê do The 1975, afirmou que sempre tentar chegar em um show que “seja bem lido nas redes sociais” em entrevista ao “The Guardian”.
Quem também falou ao jornal inglês foi LeRoy Bennett, designer de iluminação e produção que trabalha com Lady Gaga. Ele disse que a turnê Chromatica Ball foi “absolutamente” pensada para as redes sociais (veja o palco de Gaga no gif abaixo).
“Gosto muito dessa abordagem porque a rede social se tornou uma grande parte do mundo”, explicou Bennett. Neste show, o palco da Gaga tem arquitetura brutalista. É bem “cru”. Ela sobressai em inúmeros ângulos, com todas as performances e looks inusitados.
Palco da turnê ‘Chromatica Ball’, de Lady Gaga, foi feito pensando nas redes sociais
Reprodução/Instagram/LeRoyBennett
O show mais recente de Lorde, da turnê do álbum “Solar Power”, rende ótimos momentos nas redes sociais. Ela esteve no Brasil no final de 2022 no Rio e em SP, no Primavera Sound.
O cenário tem uma estrutura de madeira com um círculo e uma escada, na qual ela e a banda conseguem interagir, mas a Chiara Stephenson, responsável pela cenografia da turnê, diz que não faz as coisas pensando em ir bem nas redes sociais.
Na turnê ‘Solar Power’, o palco tem um grande círculo e uma escada de madeira, na qual Lorde e os músicos interagem
Reprodução/YouTube
“O que Lorde está fazendo é tão enraizado e fundamentado na música que a lei era: o que está melhorando a música? O que é contar uma história?”, afirmou Stephenson. Ela que também trabalha para Bjork, The XX e Florence and the machine.
Tendência pode chegar ao Brasil?
Marisa Monte na turnê ‘Portas’ criou uma ‘caixa de imersão’ no palco, com várias projeções ao longo do show
Divulgação/Leo Aversa; gif Arte/g1
Se fora do Brasil tem gente que fala abertamente sobre criar shows fáceis de serem registrados nas redes sociais, por aqui a realidade ainda é um pouco diferente por questões técnicas e até conceituais.
Batman Zavareze, artista visual e diretor de arte das últimas turnês de Marisa Monte e Tribalistas, viu os pedidos dos artistas mudarem ao longo dos anos.
Na turnê “Verdade, uma ilusão”, de 2011, ele precisava fazer com que ninguém conseguisse fotografar bem a Marisa do palco. Era o pedido do primeiro trabalho com a cantora carioca, mas quando o Tribalistas voltou a se reunir em 2018, tudo mudou.
“Me foi pedido ali que todas as 350 mil pessoas que assistissem àqueles shows virassem fotógrafos. A ideia era que qualquer pessoa, de qualquer lugar, conseguisse uma bela imagem mesmo que ela não soubesse fotografar”, afirma Zavareze ao g1.
Na turnê “Portas”, trabalho em que assina como diretor de arte e diretor ao lado de Marisa e Cláudio Torres”, a ideia era representar uma “caixa de imersão”.
“É uma caixa onde você vai sendo levado para todos os devaneios, utopias, as vivências que a Marisa teve ao longo do processo desse disco. Depois, a gente foi entendendo como uma caixinha de papelão, uma caixinha que abre é o mundo dela da natureza”.
Marisa Monte no show ‘Portas’
Leo Aversa/Divulgação
Todos os elementos visuais se complementam com as músicas, os figurinos e as expressões de Marisa perfeitamente, o que também rende belas imagens da plateia.
“Quando você está numa experiência de um show ao vivo, me nego a não o chamar mais de uma experiência audiovisual. Não existe a menor possibilidade.”
Dito isso, se determinado projeto tiver a possibilidade de telas mais verticais, pensando nas redes sociais, Zavareze não vê problema em investir, mas tem que ter propósito, tem que fazer sentido com a proposta do show.
“Prefiro lutar por personalidade, pela ‘autoralidade’ e quando justificar uma tela vertical a gente encara. Há artistas que não ficam bem de corpo inteiro, então não faz sentido. Lady Gaga fica linda com uma grande angular, com uma câmera baixa, porque todas as estranhezas delas são potencializadas”.
“É uma tendência pontual, mas quando bem-feita, bem pensada, fica muito potente, porque como se fosse o celular que hoje está nos nossos bolsos em uma tela muito destacada, né?”.
Sempre que trabalhou com a verticalidade, o diretor teve a percepção de pertencimento por ser uma extensão do celular, aparelho que nos acompanha todo tempo hoje em dia, mesmo em shows para milhares de pessoas.
“É uma tela muito íntima. Quando a vejo gigante na minha frente, sinto uma relação de pertencimento, parece que aquilo o meu bolso explodiu para essa tela cenográfica do show, daí ele vira meu.”
Experiência ao vivo
Na turnê ‘Pirata’, Jão tinha um palco com um barco enorme de madeira
Divulgação/Breno Galtier
Vencedor da enquete de melhor show do Lolla 2022, Jão é conhecido por grandes performances ao vivo, o que ficou comprovado com a turnê “Pirata” nos últimos meses.
Um barco gigante de madeira era o cenário principal, criação da equipe liderada pelo diretor Pedro Tófani. Há outros momentos de destaque como na hora que literalmente chove no palco e os cenários apresentado em festivais como Lolla e Rock in Rio.
De maneira geral, o show de Jão é bem “instagrámavel”, mas o diretor segue a linha da cenógrafa de Lorde: ele garante que prioriza a experiência de quem está presente no show.
Jão se apresenta no palco Onix no segundo dia do Lollapalooza 2022
Fábio Tito/g1
“A gente sempre pensa em momentos marcantes, em formas de surpreender as pessoas. Naturalmente, são essas as partes mais filmadas, quando cai o pano e revela o barco no fundo com o João lá em cima do barco, por exemplo.”
“Até acho que podem começar a buscar [momentos que vão bem nas redes sociais], mas tenho muito medo de começar a comprometer de alguma forma a experiência do ao vivo, porque é muito difícil as coisas funcionarem na gravação do celular”, pondera Tófani.
Investimento x Retorno
Se tem um gênero que investe na captação de imagens ao vivo no Brasil é o sertanejo. As produções para os DVDs, termo em desuso hoje em dia, seguem a todo vapor.
Gravação do DVD de Henrique Juliano no estádio Mané Garrincha em Brasília
Reprodução/YouTube/Henrique e Juliano
Tudo porque a prioridade dos sertanejos é registrar os shows que vão rodar o país. Os materiais são todos colocados no YouTube, portanto, na horizontal.
Fernando Trevisan Catatau, diretor da Unic Filmes, domina essas gravações há mais de 10 anos e não vê a tendência de gravar shows pensando nas redes sociais chegar ao Brasil imediatamente.
No dia a dia, os pedidos de cortes verticais acontecem mais para peças de divulgação. Ele acha que pode virar uma tendência só se tiver um grande motivo, como um festival todo pensado para o TikTok ou Instagram, por exemplo.
“Tem que ter uma mobilização muito grande para valer a pena. Se houver receita para quem está gastando dinheiro com isso ou investindo nisso, acho que é tendência porque tem retorno, mas gastar R$ 2 milhões, por exemplo, a troco de que?”, avalia Catatau.
Cenário do show do Dilsinho foi pensando para render cortes na vertical para redes sociais
Reprodução/YouTube
Ele diz que não vê o investimento por parte dos artistas se não tiver um retorno claro dentro do sertanejo com um exemplo hipotético:
“Fiz um evento na vertical, foi um sucesso, tive mais de dois milhões de replicação na minha rede social… Consegui mais 100 mil seguidores, mas não ganhei nada…”
Já em outros gêneros, como pop, funk e pagode, a mentalidade é diferente na visão de Catatau. No DVD de Dilsinho, ele fez um plano mais aberto, que permite cortes verticais do show do pagodeiro. “O Dilsinho tem essa interação maior com a rede social, então a gente teve essa troca de ideia na hora de fazer o cenário dele. A gravação foi pensada um pouco nessa situação sim.”
Mas ele segue firme na ideia de que o mercado sertanejo é mais tradicional, o que acaba influenciando em criar grandes cenários, grandes produções, mas que não necessariamente são pensadas no digital. “O mercado sertanejo é um pouquinho mais tradicional. Se você pegar Anitta, Luisa Sonza, elas são mais focadas em rede social do que um Zé Neto e Cristiano.”

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