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Festas e Rodeios

A restauradora que ‘salvou’ a ‘Última Ceia’ de Leonardo da Vinci

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A obra começou a se deteriorar logo após ser concluída — muitos restauradores tentaram salvá-la sem sucesso, até a chegada de Pinin Brambilla. A restauradora que ‘salvou’ a ‘Última Ceia’ de Leonardo da Vinci
ERIC VANDEVILLE
“O estado da obra, quando a vi pela primeira vez, era inacreditável. Não dava para ver a pintura original, estava toda coberta de gesso e mais pintura. Tinha cinco ou seis camadas por cima. Tive que me perguntar se era um Leonardo ou não, porque estava completamente irreconhecível.”
Essa foi a reação da italiana Pinin Brambilla, uma das maiores autoridades mundiais na conservação de afrescos renascentistas, ao deparar com A Última Ceia.
O ano era 1977, e Brambilla, que faleceu aos 95 anos em 2020, havia aceitado o desafio de restaurar a obra-prima de Da Vinci, encomendada pelo duque de Milão Ludovico Sforza há mais de 500 anos.
Ela não foi a primeira a tentar salvar este imponente mural de 4,5 metros de altura que decora uma parede do refeitório do mosteiro da Igreja de Santa Maria delle Grazie, em Milão.
‘A Última Ceia’ passou por várias restaurações
Getty Images
Outros antes dela tentaram, sem sucesso, resgatar esta obra destinada a desaparecer, e esses esforços haviam culminado em um absoluto fracasso.
Desde que Da Vinci terminou a obra em 1498, “seis restauradores trabalharam na pintura. E cada um deles mudou a fisionomia, as características e as expressões dos apóstolos”, disse Brambilla ao jornalista da BBC Mike Lanchin, em entrevista em 2016.
Mateus, por exemplo, era jovem, mas as sucessivas tentativas de impedir a deterioração do mural o transformaram em “um homem mais velho, de cabelo escuro e pescoço pequeno”.
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Cristo, embora não tenha mudado tanto, “havia perdido parte de sua humanidade, de sua beleza”, acrescentou Brambilla.
“O que buscamos com a nossa restauração foi resgatar o caráter de cada indivíduo. E isso foi muito emocionante.”
Técnica de curta duração
O grande problema do mural — que capta o drama da ceia de Páscoa judaica e o momento em que Jesus revela a seus discípulos que um deles vai trai-lo — é que começou a se desintegrar praticamente assim que foi concluído.
Devido ao seu conhecido perfeccionismo, Da Vinci dispensou a técnica tradicional do afresco, na qual o artista aplica a pintura sobre uma camada de argamassa de cal ainda úmida.
Essa metodologia faz com que o pigmento se fixe à parede, mas requer trabalhar rápido para finalizar as pinceladas antes que a parede seque.
Para evitar a correria e poder dedicar tempo a cada detalhe, Da Vinci decidiu aplicar uma técnica experimental que consistia em pintar com têmpera ou óleo sobre uma superfície de gesso já seca.
Isso fez com que os pigmentos não aderissem de forma permanente à parede. E com o tempo — que a princípio parecia estar a favor do artista — a imagem começou a descamar.
Danos e correções acumulados
Vários fatores contribuíram para a deterioração de A Última Ceia.
Para começar, a parede do refeitório onde está pintado o mural absorveu a umidade de um córrego subterrâneo que passava sob o mosteiro, um detalhe que Da Vinci desconhecia.
Também devido à sua localização, recebia lufadas de fumaça e vapor que emanavam da cozinha.
Anos depois, o exército de Napoleão usou o prédio como estábulo e, mais recentemente, durante a Segunda Guerra Mundial, uma bomba aliada caiu sobre o convento.
Embora o mural tenha permanecido de pé, ficou exposto.
No entanto, o mais preocupante para Brambilla não foi o que o tempo e as intempéries fizeram com a obra — mas, sim, as tentativas infelizes de conservação que haviam sido feitas para salvá-la.
“Me concentrei primeiro no que aconteceu nos anos desde que Leonardo a pintou. Em que restauradores fizeram que coisas, em como trabalharam e que materiais usaram”, contou Brambilla à BBC.
Mãos à obra
Depois de inicialmente vedar a sala para impedir a entrada de mais poeira e sujeira, e erguer enormes andaimes em frente ao afresco, a restauradora e um pequeno grupo de assistentes fizeram pequenos orifícios na parede para inserir pequenas câmeras e determinar quantas camadas de pintura cobriam a obra original.
“Trabalhamos com pequenos fragmentos de cada vez, com muita dificuldade, porque a pintura que estava embaixo (a de Da Vinci) era muito frágil, enquanto a que estava em cima era muito robusta”, explicou Brambilla, fazendo um gesto com as mãos que revela que o tamanho desses fragmentos não passava de 5 x 5 cm.
Arduamente, com a ajuda de lupas, instrumentos cirúrgicos e muita paciência, a equipe foi retirando as camadas de pintura e cola para revelar as cores originais da obra, enquanto outras partes foram deixadas nuas, mal retocadas com aquarelas.
Finalizar cada seção levava meses, anos. Uma série de interrupções também afetaram a continuidade do trabalho — desde dificuldades técnicas e burocráticas até visitas de dignitários estrangeiros e membros da realeza europeia.
Missão cumprida
A dedicação de Brambilla também impactou sua vida pessoal e suas relações familiares.
“O trabalho me fazia ficar muito tempo longe do meu marido e do meu filho. Às vezes, eu trabalhava sozinha, inclusive sábados e domingos até o meio-dia. Num determinado momento, meu marido me disse: ‘Chega, basta de A Última Ceia, quero viver um pouco’. Mas eu estava totalmente obcecada.”
Até que finalmente em 1999, depois de pouco mais de duas décadas, quando já estava com mais de 70 anos, Brambilla considerou a missão cumprida.
Ao remover séculos de restaurações duvidosas, pinceladas que eram toscas e inexpressivas voltaram a ser delicadas, refinadas. Agora era possível ver claramente a comida sobre mesa, as dobras na toalha.
Alguns críticos acreditam que a restauração tirou pintura demais da obra, outros dizem que está praticamente como quando Leonardo a terminou.
Brambilla ficou satisfeita com o resultado do seu trabalho, mas confessou que ficou triste quando terminou.
“Quando terminei de trabalhar na pintura, fiquei triste porque teria que abandoná-la”, disse ela, reconhecendo que é algo que aconteceu não só com a obra de Da Vinci.
“A cada obra que restauro, uma parte fica comigo, algo do artista. Me distanciar é sempre difícil. É como se você perdesse uma parte de si mesmo.”

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Filarmônica de Pasárgada faz música para crianças sem dar lição de moral em álbum malcriado e questionador

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Agendado para 9 de outubro, o disco da banda paulistana tem participação de Tom Zé e do escritor Ignácio de Loyola Brandão ao longo de nove faixas. A banda paulistana Filarmônica de Pasárgada segue a cronologia de um dia na vida de uma criança nas nove faixas do álbum ‘Música infantil para crianças malcriadas’
Edson Kumakasa / Divulgação
Capa do álbum ‘Música infantil para crianças malcriadas’, da Filarmônica de Pasárgada
Arte de Guto Lacaz
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Música infantil para crianças malcriadas
Artista: Filarmônica de Pasárgada
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♪ Sempre houve certa espirituosidade na música da Filarmônica de Pasárgada que parece até natural que o quinto álbum da banda paulistana, Música infantil para crianças malcriadas, seja disco direcionado para o público infantil.
No mundo a partir da próxima quarta-feira, 9 de outubro, o álbum reúne nove canções compostas e arranjadas por Marcelo Segreto. Gravado de 12 a 23 de março no estúdio da gravadora YB Music, em São Paulo (SP), Música infantil para crianças malcriadas consegue ser um disco lúdico e ao mesmo tempo conceitual e, em alguns momentos, até provocador.
As nove músicas seguem a cronologia de um dia na vida de uma criança do momento em que ela acorda (mote da faixa inicial Despertador) até a hora de dormir e sonhar – assunto da marchinha Tá na hora de dormir e de Sonho, a faixa final, aberta com o texto O menino que vendia palavras, na voz do escritor Ignácio de Loyola Brandão – em sequência que faz o disco roçar os 20 minutos. Ou seja, com faixas ágeis e curtas, Música infantil para crianças malcriadas é álbum moldado para a impaciente geração TikTok.
Entre o despertar e o sonho, o inédito repertório de Marcelo Segreto aborda a ida para a escola, o almoço, a lição de casa e a hora do banho. Só que inexiste no álbum aquele didatismo tatibitate e moralizante da maioria dos discos infantis. Ao contrário.
A canção O alface é infinito, por exemplo, versa sobre almoço com a participação de Tom Zé sem endeusar a dieta das folhas. Escola pode escandalizar educadores e pais mais ortodoxos com os versos finais “A gente atrasa / E quando a gente tá doente / Que beleza, minha gente / A gente fica em casa”.
Já pro banho encena diálogo de mãe e filho para mostrar a resistência da criança em se lavar com a verve de versos questionadores como “Por que os franceses podem e eu não posso? / E, além disso, olha onde é que eu moro / Em São Paulo eu tomo banho de cloro”.
Enfim, a Filarmônica de Pasárgada resiste à tentação de educar as crianças – tarefa mais adequada para pais e professores – neste disco malcriado que, por isso mesmo, tem lá algum encanto.
O álbum infantil da banda é tão abusado que até o projeto gráfico de Guto Lacaz descarta as cores recorrentes nas capas e encartes de discos para crianças para ser fiel à estética em preto e branco da discografia da Filarmônica de Pasárgada.
Filarmônica de Pasárgada lança o álbum ‘Música infantil para crianças malcriadas’ em 9 de outubro, em edição da gravadora YB Music
Edson Kumakasa / Divulgação

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Zizi Possi enfrenta ‘temporais’ de Ivan Lins e Vitor Martins em disco que traz também músicas de Gabriel Martins

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Fabiana Cozza, Leila Pinheiro e Rita Bennedito também integram o elenco feminino do EP ‘Elas cantam as águas’, previsto para ser lançado em 2025. ♫ NOTÍCIA
♪ Iniciada em 1974, a parceria de Ivan Lins com o letrista Vitor Martins se firmou ao longo das décadas de 1970 e 1980 nas vozes de cantoras como Elis Regina (1945 – 1982) e Simone, além de ter embasado a discografia essencial do próprio Ivan Lins.
Uma das pedras fundamentais da MPB ao longo destes 50 anos, a obra de Ivan com Vitor gera frutos. Previsto para 2025, o disco Elas cantam as águas reúne seis gravações inéditas.
Três são abordagens de músicas de Ivan Lins e Vitor Martins. As outras três músicas são de autoria do filho de Vitor, Gabriel Martins, cantor e compositor que debutou há sete anos no mercado fonográfico com a edição do álbum Mergulho (2017).
No EP Elas cantam as águas, Zizi Possi dá voz a uma música de Ivan e Vitor, Depois dos temporais, música que deu título ao álbum lançado por Ivan Lins em 1983 e que, além do autor, tinha ganhado registro somente do pianista Ricardo Bacelar no álbum Sebastiana (2018).
Fabiana Cozza mergulha em Choro das águas (Ivan Lins e Vitor Martins, 1977), canção que já teve gravações de cantoras como Alaíde Costa, Tatiana Parra e a própria Zizi Possi. Já Guarde nos olhos (Ivan Lins e Vitor Martins, 1978) é interpretada por Adriana Gennari.
Da lavra de Gabriel Martins, Chuvarada – parceria do compositor com Belex – cai no disco em gravação feita por Leila Pinheiro (voz e piano) com a participação de Jaques Morelenbaum no toque do violoncelo e com produção da própria Leila, que também assina com Morelenbaum o arranjo da faixa que será lançada em 11 de outubro como primeiro single do disco.
Já Rita Benneditto canta Plenitude (Gabriel Martins e Carlos Papel). Completa o EP a música Filha do Mar [Oh Iemanjá], composta somente por Gabriel Martins e com intérprete ainda em fase de confirmação.
Feito sob direção musical de Gabriel Martins em parceria com a pianista, arranjadora e pesquisadora Thais Nicodemo, o disco Elas cantam as águas chegará ao mercado em edição da gravadora Galeão, empresa derivada da Velas, companhia fonográfica independente aberta em 1991 por Ivan com Vitor Martins e o produtor Paulinho Albuquerque (1942 – 2006).

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Médico que ajudou a fornecer cetamina a Matthew Perry se declara culpado por morte do ator

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Conhecido por atuar em ‘Friends’, Matthew Perry morreu em outubro de 2023 por overdose. Mark Chaves é uma das cinco pessoas que enfrentam acusações federais pela morte do ator Matthew Perry
Mike Blake/Reuters
O médico Mark Chavez se declarou culpado por fornecer cetamina ao ator Matthew Perry, morto por overdose em outubro de 2023. O americano fez sua declaração nesta quarta-feira (2), no tribunal federal de Los Angeles (EUA), e se tornou a terceira pessoa a admitir culpa pela morte do ator, que ganhou fama ao interpretar Chandler em “Friends”.
Até a conclusão da sentença, Chavez está livre sob fiança. Ele concordou em entregar sua licença médica. Seu advogado, Matthew Binninger, havia dito em 30 de agosto que ele estava arrependido e tentava “fazer tudo para corrigir o erro”.
Além de Chavez, há dois envolvidos na morte de Perry: Kenneth Iwamasa, assistente do ator, e Erik Fleming, outro fornecedor de droga.
Perry foi encontrado morto em uma banheira de hidromassagem. Quem achou seu corpo foi Iwamasa, que morava com ele.
O assistente admitiu que várias vezes injetou cetamina no ator sem treinamento médico, inclusive no dia de sua morte. Já Fleming alegou ter comprado 50 frascos de cetamina e repassado para Iwamasa.
A Justiça americana ainda investiga mais duas pessoas: Salvador Plasencia, outro médico, e Sangha, suposta traficante conhecida como “Rainha da Cetamina”.
O ator Matthew Perry, morto aos 54 anos, em imagem de 2009
Matt Sayles, File/AP
Um ano antes de morrer, Perry havia lançado sua autobiografia: “Friends, Lovers and the Big Terrible Thing”.
“Existe um inferno”, escreveu Perry, no livro, que narra sua luta contra a dependência química durante os últimos anos de gravação de “Friends”. “Não deixe ninguém lhe dizer o contrário. Eu estive lá; isso existe; fim de discussão.”
O ator, que, na época do vício, passou pela clínica de reabilitação, havia dito que já se sentia melhor e queria que o livro ajudasse as pessoas.
Médio Mark Chavez e Matthew Perry.
Robyn Beck / AFP e Willy Sanjuan/Invision/AP

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