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Festas e Rodeios

A história esquecida das drag queens e kings do passado

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Apesar da onipresença do universo drag na cultura popular, sua representação na arte narrativa é pequena há anos. Por que a rica história do universo drag é tão pouco conhecida?
Alamy/BBC
Da série de TV RuPaul’s Drag Race até os shows ao vivo em teatros e cabarés, o universo drag nunca foi tão popular.
Se, por acaso, você tiver morado em uma caverna nos últimos 10 anos, fique sabendo que drag é a arte da personificação de gênero. Os artistas exageram e amplificam aspectos da feminilidade, ou da masculinidade, para fins de entretenimento.
O universo drag vem tomando o mundo de assalto, mudando nossa linguagem, nossas ideias de gênero e até a forma como vemos a nós mesmos.
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Sou um grande admirador do mundo drag — tanto que esta foi a inspiração do meu último romance, Becoming Ted (“Tornando-se Ted”, em tradução livre).
É uma história contemporânea sobre um homem com 43 anos que é abandonado pelo marido.
Ele usa a oportunidade para sair em busca do seu sonho há muito tempo reprimido de se tornar uma drag queen — e, durante o processo, acaba descobrindo uma força interior que ele nem sabia que existia.
Para mim, o mundo drag pode ser de autodescoberta e autorrealização. O tema também foi o ponto central do meu primeiro projeto no teatro, ainda não foi anunciado, que irá estrear em Manchester, no Reino Unido, no mês de julho.
Mas fiquei surpreso ao descobrir que muito poucos romances, filmes e peças teatrais sobre o mundo drag estão previstos para estrear no próximo ano. Para usar o palavreado drag, a biblioteca pode estar aberta, mas não há muitos livros para ler.
Esta forma de arte possui uma história particularmente rica que não é tão conhecida quanto deveria ser — algo que chama muito a atenção, especialmente considerando as comemorações do Mês da História LGBT+, aqui no Reino Unido.
Apesar da onipresença do universo drag na cultura popular, sua representação na arte narrativa é pequena há anos. Exceto pelo filme e musical Todos Estão Falando sobre Jamie e pela série de TV Pose — que, convenhamos, é muito mais concentrada na experiência trans —, é preciso voltar aos filmes dos anos 1990 A Gaiola das Loucas e Priscilla, a Rainha do Deserto, além de Kinky Boots, de 2003 (e do musical baseado neste filme), para encontrar histórias de sucesso passadas no universo drag.
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E, mesmo assim, o tema é predominantemente usado como pano de fundo engraçado para histórias sobre a experiência gay e seus conflitos com a cultura hétero, ou simplesmente como fundo de comédia.
Mas o universo drag pode ser muito mais do que isso. Seu poder de transformação apresenta aos escritores uma oportunidade única, tanto para a criação de enredos quanto para o desenvolvimento de personagens.
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Priscilla, a Rainha do Deserto (1994) é um dos mais famosos filmes sobre o universo drag
Alamy/BBC
Intolerância e ‘esnobismo social’
Fanny e Stella — também conhecidas como Ernest Boulton e Frederick Park — foram drag queens do século 19; sua história e seu infame julgamento foram contados em um livro de não ficção em 2013
Alamy/BBC
Por que poucos escritores se inspiram no universo drag?
Divina de Campo foi a segunda colocada na primeira temporada da série RuPaul’s Drag Race UK. Ela acredita que o mundo drag é vítima do esnobismo social.
Para ela, “como o mundo drag está enraizado na comédia, ele costuma ser tratado como o restante da comédia, ou seja, o trabalho não é considerado sério ou digno”.
“O mundo drag reúne todas as formas de arte — cantar, dançar, representar, vestir-se, criar, escrever, dirigir — mas, muitas vezes, é engraçado e acaba sendo visto como algo menor”, afirma de Campo.
O universo drag também pode ser subversivo — e pode particularmente questionar os estereótipos de gênero.
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“O mundo drag pode funcionar em nível mais profundo, desafiando as expectativas, as construções sociais, as normas e identidades de gênero”, prossegue de Campo. “Este é o meu universo drag; é fazer e ser o que você quiser e não o que fomos condicionados a ser e fazer… Isso faz com que o mundo fique complicado demais para algumas pessoas analisarem e, por isso, elas o negam e ridicularizam.”
O potencial do universo drag de subverter e perturbar é o tema central do show glorioso e anárquico Sound of the Underground, atualmente em cartaz no Royal Court Theatre de Londres. O show é parte cabaré, parte manifesto político.
Seu autor, Travis Alabanza, reúne vários dos melhores artistas drag de Londres. Todos eles colocam o universo drag no centro do seu trabalho. Eles estão longe de serem caricaturas. E o show serve de lembrete de que o mundo drag sempre esteve muito associado à cultura gay, ou queer.
O historiador Jacob Bloomfield nasceu no Brooklyn (Nova York, Estados Unidos) e, atualmente, cursa pós-doutorado na Universidade de Constança, na Alemanha. Ele é um artista drag com o pseudônimo Cupcake e escreveu o livro Drag: A British History (“Drag: uma história britânica”, em tradução livre), a ser lançado em breve.
Bloomfield declarou à BBC que “da mesma forma que o gênero disco — que, como o drag, muitas vezes é associado a fãs e artistas gays — foi desprezado e até abertamente ridicularizado, também o mundo drag foi frequentemente ignorado. É a intolerância que está em jogo, aqui.”
Essa intolerância ajudou a excluir do registro histórico dominante toda uma subcultura queer. E existem histórias fascinantes da vida real que não foram esquecidas — e que certamente gerariam romances, filmes, peças e outras obras brilhantes.
Um exemplo é John Cooper, um inglês do século 18 que se vestia como seu alter-ego drag Princesa Serafina e frequentava tavernas londrinas conhecidas como os bares gays da época.
Cooper exibia-se pelas ruas com grau de abertura notável para uma época em que a homossexualidade era passível de pena de morte.
Ele é geralmente apontado como a primeira drag queen da história da Inglaterra ou, pelo menos, o primeiro homem para quem vestir-se como seu alter-ego feminino era parte fundamental da sua identidade.
Em 1880, houve um baile drag no Temperace Hall em Hulme (distrito de Manchester, na Inglaterra). O baile contou com a presença de 47 homens e a metade deles vestiu-se com roupas de mulher. Todos entravam no salão sussurrando a senha “irmã”.
O evento foi invadido pela polícia e todos os homens foram presos, processados e tiveram seus nomes publicados para vergonha pública na imprensa. Muitos deles ficaram arruinados.
Imagine o que seria contar esta história para o público nos dias de hoje — o grau de empatia que poderia surgir e o impacto emocional que ela poderia ocasionar.
Gladys Bentley, de Nova York (EUA), foi um drag king pioneiro, importante para o movimento de Renascimento do Harlem nos anos 1920
Alamy/BBC
Fenômeno mundial
Apesar da violenta perseguição, a cultura drag floresceu pelo mundo.
Em Berlim, na Alemanha, entre o final do século 19 e os anos 1930, inúmeros bailes de cross-dressing — chamados em alemão de Urningsballs ou Tuntenballs — ocorriam em diversos locais.
A estrela da época chamava-se Hansi Sturm. Sua apresentação como Miss Eldorado atingia o ápice quando ele atirava seus seios falsos para a plateia.
Nos Estados Unidos, a primeira pessoa conhecida por se descrever como “rainha do drag” foi William Dorsey Swann. Ele nasceu em Maryland e havia sido escravizado.
Nos anos 1880, Swann promoveu diversos bailes drag na capital americana, Washington. Ele era acompanhado pelo seu parceiro, Pierce Lafayette. Mas, depois de uma incursão policial em 1896, Swann foi condenado a 10 meses de prisão.
Foi nos primeiros dias desses bailes que começou a ser usada a palavra “drag”. A origem do termo é incerta. Ele pode ter sido inspirado pelas roupas usadas pelos homens que queriam exagerar na sua expressão de feminilidade.
Os vestidos eram tão pesados que precisavam ser literalmente arrastados (“dragged”, em inglês) pelo chão.
Uma história amplamente conhecida é a das drag queens inglesas Fanny e Stella, do século 19. Ela foi contada em um livro best-seller de não ficção do escritor Neil McKenna em 2013 e em um musical no teatro posteriormente.
Ernest Boulton e Frederick Park passaram anos vestindo-se como drag queens para representar e vender sexo nas ruas de Londres, até que, em 1870 (depois de uma noite intensa no Teatro Strand), eles foram presos e acusados de conspiração para cometer sodomia.
O julgamento despertou a indignação do público, embora Boulton e Park acabassem sendo considerados inocentes por falta de provas de que a sodomia tivesse realmente acontecido.
McKenna acredita que o julgamento chamou a atenção do público porque “havia todo tipo de ansiedade sobre a masculinidade, sobre o declínio, sobre o encolhimento do Império, sobre a afeminação e muitas coisas sobre a falta de submissão das mulheres, que não eram mais invisíveis. O mundo drag era visto como manifestação do comportamento sodomítico, de afeminação, de degeneração”.
Mas até esta história quase ficou enterrada como um rodapé histórico.
“Tive dificuldade para encontrar uma editora”, revela McKenna. “E, quando finalmente consegui que a [editora londrina] Faber a publicasse, certas frases precisaram ser excluídas do livro porque foram consideradas rudes demais e impróprias para publicação.”
Grupo drag Les Rouges et Noirs fez enorme sucesso no início do século 20; sua história é contada no filme Splinters (1929)
Alamy/BBC
Drag queens e kings
Livro Becoming Ted, de Matt Cain, conta a história de um homem que é abandonado pelo marido e sai em busca do seu sonho de se tornar uma drag queen
Headline Review/BBC
Se pouco se sabe sobre as drag queens do passado, imagine sobre os drag kings — mulheres que personificam homens.
Os drag kings foram excluídos quase totalmente da literatura, exceto pelos romances da escritora galesa Sarah Waters, especialmente o livro Toque de Veludo, que foi adaptado pela BBC em uma popular série de TV, em 2002.
Conversei com Mo B Dick, drag king e um dos criadores do site dragkinghistory.com. Ele afirma que as raízes da cultura drag king remontam aos anos 1660, quando se permitiu, pela primeira vez, que as mulheres representassem no teatro inglês.
Uma das primeiras mulheres dramaturgas foi Aphra Behn, que criou diversos personagens homens que deveriam ser interpretados por mulheres.
“Ela criou ‘personagens de bermudas’ especificamente por razões políticas”, explica Mo B Dick, “para que ela pudesse ser ouvida dessa forma, falando sobre política e costumes sociais. Era algo desconhecido para as mulheres!”
Uma mulher que se destacou na interpretação dos “personagens de bermudas” foi Mademoiselle de Maupin. Ela nasceu em Paris, na França, em 1673 e foi uma excelente lutadora de espada. Dona de forte temperamento, de Maupin ficou conhecida por seus romances apaixonados com homens e mulheres.
Sua vida dramática, que incluiu condenações por rapto e incêndio criminoso, chegou ao fim com apenas 33 anos.
Outra figura histórica foi Charlotte Cushman. Nascida em Boston, nos Estados Unidos, em 1816, ela se tornou uma das mais populares atrizes americanas, até se mudar para Roma, na Itália.
Lá, ela formou uma residência onde moravam apenas artistas mulheres. Seus documentos pessoais estão guardados na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos e revelam que ela só manteve relacionamentos românticos e sexuais com mulheres.
Mas foi apenas no final dos anos 1800 que a cultura drag king atingiu a forma que conhecemos hoje em dia.
Uma figura importante no movimento do Renascimento do Harlem, em Nova York (EUA), nos anos 1920 foi Gladys Bentley. Ela foi uma artista lésbica negra, vaidosa e conhecida por vestir um smoking branco e cartola para cantar músicas com letras indecentes em bares e clubes de jazz clandestinos.
Mo B Dick define a cultura drag king como “usurpadora do poder e privilégio masculino”. E acrescenta que é exatamente por isso que tantas pessoas, até hoje, acham que ela é perturbadora.
Ele defende que, atualmente, os drag kings estão muito longe da popularidade das drag queens.
“Homens que usam vestidos são engraçados, mulheres que usam terno ainda são consideradas uma ameaça”, segundo ele. “Por isso, acho que mulheres com roupas de homem são uma transgressão maior e deixam as pessoas mais desconfortáveis. Quero dizer, as pessoas que querem manter o patriarcado, a misoginia e o sexismo.”
Outra razão para que a história dos artistas drag não seja mais enaltecida — como ocorre com as figuras histórias nos campos da interpretação, literatura, arte ou da música — é o fato de que as raízes do universo drag estão fincadas na cultura da classe trabalhadora.
A figura da drag queen que conhecemos formou-se nas salas de música do Reino Unido e no teatro de revista, nos EUA.
Como indica Jacob Bloomfield, “o entretenimento da classe trabalhadora, muitas vezes, é ignorado por não ser artisticamente válido”.
Como exemplo, Bloomfield aborda no seu livro o que aconteceu em 1975, em Londres, quando houve uma tentativa de erguer uma placa em homenagem ao ator britânico Arthur Lucan, conhecido pela sua interpretação do papel feminino do ato teatral Old Mother Riley (“A velha mamãe Riley”, em tradução livre).
A proposta causou um debate feroz no Conselho da Grande Londres. O vereador conservador representante do distrito de Chelsea argumentou que Lucan “não atende, de nenhuma forma, os critérios para uma placa em sua homenagem e serve apenas para rebaixar os padrões aplicáveis, em um esforço insensato para cair nas boas graças do público”.
Mas os defensores de Lucan venceram o debate e uma placa azul dedicada ao ator foi inaugurada na sua antiga casa, no distrito londrino de Wembley.
Niel McKenna destaca algo um pouco diferente com relação ao mundo drag e às classes. Ele observa que os primórdios da cultura drag, na verdade, reuniam pessoas de classes diferentes.
“O mundo drag era essencialmente da classe trabalhadora, mas acho que também não havia distinção de classes”, segundo ele.
“E as interações entre as classes eram um tabu. Se você ler os julgamentos de Oscar Wilde, o que encontramos é a absoluta revolta, horror e incredulidade pelo fato de que Wilde podia dormir com um cavalariço desempregado, um valete desempregado.”
Apesar disso, Bloomfield destaca que, em diversos momentos da história, o mundo drag penetrou na cultura dominante.
Ao contrário das crenças comuns, a popularidade do universo drag não começou com RuPaul’s Drag Race.
Bloomfield menciona a comédia musical britânica Splinters, de 1929, que conta a história real do grupo drag Les Rouges et Noirs. O sucesso do filme foi tão grande que gerou duas continuações.
Bloomfield também menciona duas fontes diferentes, distantes entre si em um século, para demonstrar como o mundo drag foi importante em diferentes épocas.
Um artigo publicado no jornal britânico The Times em 31 de maio de 1870 indica que “em mais um ano ou dois, o ‘drag’ pode se tornar uma verdadeira instituição e carruagens abertas podem exibir seus ocupantes disfarçados sem despertar suspeitas”.
E o escritor Gilbert Oakley escreveu no seu livro Sex Change and Dress Deviation (“Mudanças de sexo e desvios de roupas”, em tradução livre), em 1970: “Na Grã-Bretanha, os atores que se vestem de mulheres hoje em dia estão na moda, de forma sem precedentes, desde a introdução da dama cômica nas salas de música e nas pantomimas”.
É claro que, atualmente, vivemos em outra era de onipresença do universo drag. As drag queens, especificamente, estão se tornando celebridades internacionais.
Mas as histórias que realmente exploram o que torna o mundo drag tão fascinante não estão sendo contadas — particularmente, as histórias de como esta forma de arte chegou ao que é hoje. Por quê?
“Eu culparia principalmente a amnésia cultural”, afirma Bloomfield, “e a sensação de que nós, no presente, gostamos de pensar que somos muito mais bem informados, abertos e conscientes do que as pessoas do passado; que os nossos estilos de vida, interesses etc. não têm precedentes”.
Quer meu romance ou musical ganhe respeito da crítica ou não, espero que, pelo menos, eles incentivem o público a refletir sobre os motivos que tornaram o mundo drag tão importante para as pessoas e para a nossa cultura.
Ao contar histórias contemporâneas sobre o impacto que essa forma de arte pode ter sobre as vidas humanas, espero incentivar as pessoas a questionar a história do mundo drag.
As pessoas que sabem disso não são muitas, mas o universo drag vem mudando vidas há séculos.
Matt Cain é patrono do Mês da História LGBT+ no Reino Unido. Seu romance “Becoming Ted” foi recentemente publicado pela editora britânica Headline Review.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Culture.

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Festas e Rodeios

Filarmônica de Pasárgada faz música para crianças sem dar lição de moral em álbum malcriado e questionador

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Agendado para 9 de outubro, o disco da banda paulistana tem participação de Tom Zé e do escritor Ignácio de Loyola Brandão ao longo de nove faixas. A banda paulistana Filarmônica de Pasárgada segue a cronologia de um dia na vida de uma criança nas nove faixas do álbum ‘Música infantil para crianças malcriadas’
Edson Kumakasa / Divulgação
Capa do álbum ‘Música infantil para crianças malcriadas’, da Filarmônica de Pasárgada
Arte de Guto Lacaz
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Música infantil para crianças malcriadas
Artista: Filarmônica de Pasárgada
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♪ Sempre houve certa espirituosidade na música da Filarmônica de Pasárgada que parece até natural que o quinto álbum da banda paulistana, Música infantil para crianças malcriadas, seja disco direcionado para o público infantil.
No mundo a partir da próxima quarta-feira, 9 de outubro, o álbum reúne nove canções compostas e arranjadas por Marcelo Segreto. Gravado de 12 a 23 de março no estúdio da gravadora YB Music, em São Paulo (SP), Música infantil para crianças malcriadas consegue ser um disco lúdico e ao mesmo tempo conceitual e, em alguns momentos, até provocador.
As nove músicas seguem a cronologia de um dia na vida de uma criança do momento em que ela acorda (mote da faixa inicial Despertador) até a hora de dormir e sonhar – assunto da marchinha Tá na hora de dormir e de Sonho, a faixa final, aberta com o texto O menino que vendia palavras, na voz do escritor Ignácio de Loyola Brandão – em sequência que faz o disco roçar os 20 minutos. Ou seja, com faixas ágeis e curtas, Música infantil para crianças malcriadas é álbum moldado para a impaciente geração TikTok.
Entre o despertar e o sonho, o inédito repertório de Marcelo Segreto aborda a ida para a escola, o almoço, a lição de casa e a hora do banho. Só que inexiste no álbum aquele didatismo tatibitate e moralizante da maioria dos discos infantis. Ao contrário.
A canção O alface é infinito, por exemplo, versa sobre almoço com a participação de Tom Zé sem endeusar a dieta das folhas. Escola pode escandalizar educadores e pais mais ortodoxos com os versos finais “A gente atrasa / E quando a gente tá doente / Que beleza, minha gente / A gente fica em casa”.
Já pro banho encena diálogo de mãe e filho para mostrar a resistência da criança em se lavar com a verve de versos questionadores como “Por que os franceses podem e eu não posso? / E, além disso, olha onde é que eu moro / Em São Paulo eu tomo banho de cloro”.
Enfim, a Filarmônica de Pasárgada resiste à tentação de educar as crianças – tarefa mais adequada para pais e professores – neste disco malcriado que, por isso mesmo, tem lá algum encanto.
O álbum infantil da banda é tão abusado que até o projeto gráfico de Guto Lacaz descarta as cores recorrentes nas capas e encartes de discos para crianças para ser fiel à estética em preto e branco da discografia da Filarmônica de Pasárgada.
Filarmônica de Pasárgada lança o álbum ‘Música infantil para crianças malcriadas’ em 9 de outubro, em edição da gravadora YB Music
Edson Kumakasa / Divulgação

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Zizi Possi enfrenta ‘temporais’ de Ivan Lins e Vitor Martins em disco que traz também músicas de Gabriel Martins

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Fabiana Cozza, Leila Pinheiro e Rita Bennedito também integram o elenco feminino do EP ‘Elas cantam as águas’, previsto para ser lançado em 2025. ♫ NOTÍCIA
♪ Iniciada em 1974, a parceria de Ivan Lins com o letrista Vitor Martins se firmou ao longo das décadas de 1970 e 1980 nas vozes de cantoras como Elis Regina (1945 – 1982) e Simone, além de ter embasado a discografia essencial do próprio Ivan Lins.
Uma das pedras fundamentais da MPB ao longo destes 50 anos, a obra de Ivan com Vitor gera frutos. Previsto para 2025, o disco Elas cantam as águas reúne seis gravações inéditas.
Três são abordagens de músicas de Ivan Lins e Vitor Martins. As outras três músicas são de autoria do filho de Vitor, Gabriel Martins, cantor e compositor que debutou há sete anos no mercado fonográfico com a edição do álbum Mergulho (2017).
No EP Elas cantam as águas, Zizi Possi dá voz a uma música de Ivan e Vitor, Depois dos temporais, música que deu título ao álbum lançado por Ivan Lins em 1983 e que, além do autor, tinha ganhado registro somente do pianista Ricardo Bacelar no álbum Sebastiana (2018).
Fabiana Cozza mergulha em Choro das águas (Ivan Lins e Vitor Martins, 1977), canção que já teve gravações de cantoras como Alaíde Costa, Tatiana Parra e a própria Zizi Possi. Já Guarde nos olhos (Ivan Lins e Vitor Martins, 1978) é interpretada por Adriana Gennari.
Da lavra de Gabriel Martins, Chuvarada – parceria do compositor com Belex – cai no disco em gravação feita por Leila Pinheiro (voz e piano) com a participação de Jaques Morelenbaum no toque do violoncelo e com produção da própria Leila, que também assina com Morelenbaum o arranjo da faixa que será lançada em 11 de outubro como primeiro single do disco.
Já Rita Benneditto canta Plenitude (Gabriel Martins e Carlos Papel). Completa o EP a música Filha do Mar [Oh Iemanjá], composta somente por Gabriel Martins e com intérprete ainda em fase de confirmação.
Feito sob direção musical de Gabriel Martins em parceria com a pianista, arranjadora e pesquisadora Thais Nicodemo, o disco Elas cantam as águas chegará ao mercado em edição da gravadora Galeão, empresa derivada da Velas, companhia fonográfica independente aberta em 1991 por Ivan com Vitor Martins e o produtor Paulinho Albuquerque (1942 – 2006).

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Médico que ajudou a fornecer cetamina a Matthew Perry se declara culpado por morte do ator

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Conhecido por atuar em ‘Friends’, Matthew Perry morreu em outubro de 2023 por overdose. Mark Chaves é uma das cinco pessoas que enfrentam acusações federais pela morte do ator Matthew Perry
Mike Blake/Reuters
O médico Mark Chavez se declarou culpado por fornecer cetamina ao ator Matthew Perry, morto por overdose em outubro de 2023. O americano fez sua declaração nesta quarta-feira (2), no tribunal federal de Los Angeles (EUA), e se tornou a terceira pessoa a admitir culpa pela morte do ator, que ganhou fama ao interpretar Chandler em “Friends”.
Até a conclusão da sentença, Chavez está livre sob fiança. Ele concordou em entregar sua licença médica. Seu advogado, Matthew Binninger, havia dito em 30 de agosto que ele estava arrependido e tentava “fazer tudo para corrigir o erro”.
Além de Chavez, há dois envolvidos na morte de Perry: Kenneth Iwamasa, assistente do ator, e Erik Fleming, outro fornecedor de droga.
Perry foi encontrado morto em uma banheira de hidromassagem. Quem achou seu corpo foi Iwamasa, que morava com ele.
O assistente admitiu que várias vezes injetou cetamina no ator sem treinamento médico, inclusive no dia de sua morte. Já Fleming alegou ter comprado 50 frascos de cetamina e repassado para Iwamasa.
A Justiça americana ainda investiga mais duas pessoas: Salvador Plasencia, outro médico, e Sangha, suposta traficante conhecida como “Rainha da Cetamina”.
O ator Matthew Perry, morto aos 54 anos, em imagem de 2009
Matt Sayles, File/AP
Um ano antes de morrer, Perry havia lançado sua autobiografia: “Friends, Lovers and the Big Terrible Thing”.
“Existe um inferno”, escreveu Perry, no livro, que narra sua luta contra a dependência química durante os últimos anos de gravação de “Friends”. “Não deixe ninguém lhe dizer o contrário. Eu estive lá; isso existe; fim de discussão.”
O ator, que, na época do vício, passou pela clínica de reabilitação, havia dito que já se sentia melhor e queria que o livro ajudasse as pessoas.
Médio Mark Chavez e Matthew Perry.
Robyn Beck / AFP e Willy Sanjuan/Invision/AP

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