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Festas e Rodeios

Disco em tributo aos 90 anos de Carlos Lyra é reverente e resulta à altura da obra do compositor carioca

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Capa do álbum ‘Afeto – Homenagem Carlos Lyra 90 anos’
Arte de Ale Amaral
♪ Carlos Lyra (11 de maio de 1933 – 16 de dezembro de 2023) teve tempo de ouvir o belo tributo fonográfico prestado ao artista carioca pelo 90º aniversário do autor do samba Influência do jazz (1962).
Idealizado por Regina Oreiro e lançado em 1º de dezembro pelo Selo Sesc, o álbum Afeto – Homenagem Carlos Lyra 90 anos resultou à altura da obra do compositor. Gravado no primeiro semestre deste ano de 2023 no estúdio Visom, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), o álbum Afeto soou reverente ao cancioneiro do compositor, em tons tradicionais.
Há no canto e nos arranjos das 14 faixas uma justa reverência à bossa de Lyra, compositor que foi além da bossa nova, como ressaltou o título da parceria do artista com Daltony Nóbrega, composta em 2012.
Apresentada há quatro anos como música-título do último álbum de composições inéditas de Lyra, Além da bossa (2019), essa canção é revivida no tributo Afeto na voz de Leila Pinheiro com as cordas do cavaquinho de João Felippe reluzindo no arranjo criado pela própria Leila.
Há, sim, frescor na bossa gerada pela interação do piano e do órgão de Marcos Valle com a guitarra de Lulu Santos, intérpretes de Maria Ninguém (1959), faixa arranjada por Valle, assim como Ciúme (1960), samba cantado com correção por Caetano Veloso.
Contudo, a modernidade atemporal vem mesmo do cancioneiro de Lyra. É deleite ouvir Joyce Moreno gingando com Ivan Lins no balanço do samba Influência do jazz (1962) – com arranjo do mesmo Marcos Valle – e imaginar Djavan evoluindo por salão de gafieira ao cantar o samba Você e eu (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1961) com piano e arranjo do recorrente Valle.
Marcos Valle divide o posto de arranjador do álbum Afeto com Antonio Adolfo, Gilson Peranzzetta, Jaques Morelenbaum e João Donato (1934 – 2023). Pioneiro da bossa, Donato orquestrou Saudade fez um samba (Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli, 1959) para a voz já rouca de Gilberto Gil em reencontro que abre Afeto.
A bossa de Donato sobressai na faixa com a leveza que rege o disco. É com o piano de Donato que Fernanda Abreu cai bem no Samba do carioca (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes) com apropriada citação de Garota sangue bom (Fernanda Abreu e Fausto Fawcett, 1995).
Em atmosfera mais densa, Edu Lobo canta Minha namorada (1964) – standard romântico da parceria de Lyra com o poeta Vinicius de Moraes (1913 – 1980) – em gravação adornada com cordas orquestradas por Gilson Peranzzetta, arranjador da faixa.
Peranzzetta também arranjou Canção que morre no ar (Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli, 1960), interpretada por Ney Matogrosso – com o canto mais grave do que o habitual – em gravação que embute passagem instrumental de clima jazzy em que sobressai o piano de Peranzzetta.
Já Jaques Morelenbaum fez o arranjo de E era Copacabana (2006), samba-canção cheio de bossa, apresentado há 17 anos por Dori Caymmi e Joyce Moreno, parceira de Lyra no tema (relativamente) recente ouvido no álbum Afeto no canto preciso de Mônica Salmaso, escalação tão certeira quanto surpreendente pelo fato de a voz de Salmaso ser quase a antítese da leveza da bossa nova.
Bem mais antiga, Quando chegares (1960) – primeira música de Lyra, feita em 1954 quando o compositor debutante tinha 21 anos – ressurge refinada pelo toque do piano de Antonio Adolfo (arranjador da faixa) e pela voz aconchegante de Wanda Sá.
Adolfo também arranjou Sabe você (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1964), canção que harmoniza as vozes de Paula Morelenebaum e Roberto Menescal, contemporâneo de Lyra e, como ele, um dos poucos remanescentes da geração de compositores e músicos que, há 65 anos, viram a bossa nova se erguer no mar do Rio de Janeiro (RJ) em 1958 após ser maturada há anos por João Gilberto (1931 – 2019), intérprete original de Lobo bobo (Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli, 1959), cuja malícia é marotamente saboreada em Afeto por Mart’nália com arranjo de João Donato.
Recorrente no disco como arranjador e como intérprete, Marcos Valle divide com Patrícia Alví os versos de O negócio é amar (1984), parceria póstuma de Lyra com Dolores Duran (1930 – 1959).
Enfim, tudo flui em Afeto porque nenhum arranjador ou intérprete caiu na tentação de modernizar o que já nasceu e se conserva moderno pela própria natureza da bossa nova. Carlos Lyra morreu neste sábado, 16 de dezembro, aos 90 anos, mas o cancioneiro do compositor é eterno.

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Pedro Madeira confirma a expectativa com bom álbum entre o samba e o soul

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Cantor e compositor carioca lança o coeso disco autoral ‘Semideus dos sonhos’ em 10 de outubro. Capa do álbum ‘Semideus dos sonhos’, de Pedro Madeira
Gabriel Malta / Divulgação
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Semideus dos sonhos
Artista: Pedro Madeira
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ Em 2018, Pedro Madeira era mais um na multidão de fãs de Iza, na primeira fila de show da cantora, quando ganhou o microfone da artista e, da plateia, fez breve participação no show. Ali, naquele momento, o carioca morador da comunidade de Pau Mineiro, no bairro de Santa Cruz, fã de Iza e de Beyoncé, se revelou cantor para ele mesmo.
Decorridos seis anos e três singles, Pedro Madeira já é cantor e compositor profissional e se prepara para lançar o primeiro álbum, Semideus dos sonhos, em 10 de outubro.
Exposto na capa do álbum em expressiva foto de Gabriel Malta, Madeira já lançou três singles – Chuva (2022), Pássaros (2023) e Bem que se quis (2023) – em que transitou pelo soul nacional da década de 1970 (sobretudo em Chuva) e pelo pop ítalo-brasileiro na (trivial) abordagem do sucesso de Marisa Monte.
No quarto single, Só mais um preto que já morreu, o cantor cai no samba em gravação que chega ao mundo amanhã, 27 de setembro, duas semanas antes do álbum.
Com letra que versa sobre o genocídio cotidiano do povo preto, o samba Só mais um preto que já morreu é composto por Pedro com Bruno Gouveia, parceiro nesta música (e em Pássaros) e produtor musical do álbum em função dividida com Raul Dias nas duas faixas (Raul assina sozinho a produção das outras dez faixas).
Fora do arco autoral em que gravita o disco, Pedro Madeira enaltece o ofício de cantor em Minha missão (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1981) em arranjo que se desvia da cadência do samba, tangenciando clima transcendental na atraente gravação calcada na voz e nos teclados de Victor Moura.
O canto afinado de Pedro se eleva em Petições (Ozias Gomes e Pedro Madeira), canção que soa como oração de clamor por paz na Terra enquanto lamenta a situação do mundo atual. Arranjo, canto e composição se harmonizam em momento épico do disco.
Entre vinhetas autorais como O outro lado e Introdução ao amor (faixas com textos recitados), Pedro Madeira expõe a vocação para o canto e o som afro-brasileiro na música-título Semideus dos sonhos. Já o fluente ijexá Cheiro de flor exala o perfume do amor entranhado no repertório deste disco feito sem feats e modas.
Parceria de Pedro com o produtor Raul Dias, Perigo é pop black contemporâneo formatado com os músicos da banda-base do álbum Semideus dos sonhos, trio integrado por Jeff Jay (percussão), o próprio Raul Dias (guitarra e baixo) e Victor Moura (teclados). No fecho do disco, o pop soul Terra arrasada se joga na pista para tentar colar um coração partido.
Com este coeso primeiro álbum, Semideus dos sonhos, Pedro Madeira confirma a boa expectativa gerada quando o single Chuva caiu no mundo em novembro de 2022.
Iza teve faro quando deu o microfone para Pedro Madeira na plateia há seis anos.
Pedro Madeira regrava o samba ‘Minha missão’ entre as músicas autorais do primeiro álbum, ‘Semideus dos sonhos’
Gabriel Malta / Divulgação

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‘The Last of Us’: 2ª temporada ganha trailer; ASSISTA

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Prévia mostra Kaitlyn Dever como a antagonista Abby. Novos episódios da adaptação de games estreia em 2025. Assista ao trailer da 2ª temporada de ‘The Last of Us’
A segunda temporada de “The Last of Us” ganhou seu primeiro trailer completo nesta quinta-feira (26). Assista ao vídeo acima.
Os novos episódios devem adaptar o segundo game da franquia e estreiam em algum momento de 2025.
A prévia mostra o retorno de Pedro Pascal (“The Mandalorian”) como Joel e Bella Ramsey (“Game of thrones”) como Bella, dois sobreviventes que formam uma ligação imprevista em um mundo pós apocalíptico dominado por criaturas monstruosas.
Também apresenta as primeiras imagens de Kaitlyn Dever (“Fora de série”) como a grande antagonista da história, Abby.
A série da HBO estreou em 2023 e foi uma das mais indicadas ao Emmy daquele ano.

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A reação dos irmãos Menéndez, condenados à prisão perpétua por matar os pais, à nova série ‘Monstros’ da Netflix

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A nova temporada de Monstros conta a história real de dois irmãos que mataram seus pais no final dos anos 1980 em Beverly Hills. Cooper Koch (à esquerda) e Nicholas Chavez interpretam Erik e Lyle Menéndez, respectivamente
Divulgação/Netflix
Uma nova série da Netflix sobre dois irmãos que mataram os pais foi duramente criticada por um dos homens que inspirou a produção.
Monstros – Irmãos Menéndez: Assassinos dos Pais estreou na semana passada e rapidamente se tornou uma das mais assistidas na plataforma de streaming.
A série é protagonizada por Cooper Koch e Nicholas Alexander Chavez como os dois irmãos, e por Javier Bardem e Chloë Sevigny como seus pais.
Lyle e Erik Menéndez são dois irmãos que mataram seus pais milionários em 20 de agosto de 1989. José e Kitty Menéndez foram alvejados com vários disparos à queima-roupa em sua mansão em Beverly Hills.
Os irmãos, que tinham 21 e 18 anos na época, inicialmente disseram à polícia que encontraram os pais mortos ao chegarem em casa.
No entanto, foram julgados e condenados pelo parricídio.
Na época, os irmãos afirmaram que cometeram os assassinatos em legítima defesa, após anos de supostos abusos físicos, emocionais e sexuais.
O Ministério Público, por outro lado, argumentou que eles queriam matar os pais pela herança.
Eles foram sentenciados à prisão perpétua, sem possibilidade de liberdade condicional.
Uma “calúnia desalentadora”
Na prisão, e por meio de uma carta publicada no X (antigo Twitter) por sua esposa, Erik Menéndez questionou a produção no dia seguinte à sua estreia, afirmando que se trata de uma “calúnia desalentadora”.
“Eu achava que as mentiras e as representações tendenciosas que recriavam Lyle eram coisa do passado, que tinham criado uma caricatura de Lyle baseada em mentiras horríveis e descaradas e que agora voltam a abundar na série”, destacou.
“Só posso acreditar que fizeram isso de propósito. Com grande pesar, digo que acredito que Ryan Murphy [criador da série] não pode ser tão ingênuo e impreciso sobre os fatos de nossas vidas a ponto de fazer isso sem má intenção”, acrescentou o irmão mais novo.
“É triste para mim saber que a representação desonesta da Netflix das tragédias que cercam nosso crime fez com que as dolorosas verdades retrocedessem vários passos no tempo, para uma época em que a promotoria construiu uma narrativa baseada em um sistema de crenças segundo o qual homens não eram abusados sexualmente e que homens experienciavam o trauma da violação de maneira diferente das mulheres”, continuou.
“Essas mentiras horríveis foram desmentidas e expostas por inúmeras vítimas corajosas que superaram sua vergonha pessoal e falaram com coragem ao longo das últimas duas décadas”, disse Erik.
O drama da Netflix apresenta os assassinatos a partir de diferentes perspectivas e explora o que poderia ter levado os irmãos a matar os pais.
No entanto, a produção se esforça para mostrar as coisas do ponto de vista dos pais, algo que seus criadores afirmaram ter se baseado em uma pesquisa aprofundada.
O que diz o criador da série
Ganhador de um Oscar, Javier Bardem (à esquerda) interpreta o pai dos jovens na série da Netflix
Divulgação/Netflix
A série sobre a família Menéndez é uma continuação da controversa primeira temporada de Monstros sobre o serial killer americano Jeffrey Dahmer, que foi criticada em alguns setores por ser insensível.
Esses dramas foram idealizados por Ryan Murphy, diretor, roteirista e produtor por trás de séries como Glee, Pose, Vigilante, Feud, American Horror Story, Hollywood e Ratched, em parceria com Ian Brennan, com quem também criou Glee.
Em declarações à Entertainment Tonight, Murphy afirmou: “Acho interessante que tenham feito uma declaração sem ter assistido ao programa”.
“É realmente difícil, se se trata da sua vida, ver sua vida na tela”, reconheceu.
“O que me parece interessante, e que ele não menciona em sua declaração, é que, se você assistir ao programa, diria que 60-65% da nossa série se concentra no abuso e no que eles afirmam que aconteceu”, afirmou Murphy.
“Fazemos isso com muito cuidado e damos espaço para que eles contem sua versão, e falem abertamente sobre isso”, continuou.
No entanto, acrescentou Murphy, ele e sua equipe sentiram que era importante também mostrar as coisas do ponto de vista dos pais.
“Neste tempo em que as pessoas podem falar sobre abuso sexual, discutir e escrever sobre todos os pontos de vista pode ser controverso”, apontou.
“Houve quatro pessoas envolvidas, duas delas estão mortas. O que acontece com os pais? Como narradores, tínhamos a obrigação de tentar incluir sua perspectiva a partir da nossa pesquisa, e assim fizemos”, defendeu.
Com informações de Steven McIntosh, jornalista de entretenimento da BBC.
O caso dos irmãos que mataram os pais em Beverly Hills retratado em nova temporada da série ‘Monstros’ da Netflix
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