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Festas e Rodeios

Por que gatos extinguiram mais espécies que qualquer outro predador

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Segundo estudo, 2.084 espécies diferentes já foram devoradas pelos felinos domesticados pelo homem. Mascotes encantadores ou predadores implacáveis?
Getty Images via BBC
Existem espécies exóticas, como o lagostim-americano, o peixe lúcio, o sapo-cururu, a rã-touro-americana e o guaxinim, que costumam dominar as estatísticas e relatórios sobre o impacto dos animais invasores na extinção de espécies.
Mas poucos invasores causaram tantos prejuízos à biodiversidade quanto um dos mais encantadores mascotes domésticos: os gatos.
Somente os lares domésticos espanhóis abrigam cerca de 4 milhões de gatos (um para cada 12 habitantes, em média). Destes, 120 mil acabam abandonados nas ruas todos os anos.
No Brasil, a proporção ainda é maior: um para cada sete habitantes, em média, ou 27,1 milhões, segundo o Censo Pet IPB de 2022.
Predador solitário e caçador implacável; ágil, rápido, voraz e com forte instinto territorial. O gato é um carnívoro cruel e indomável, mas também cativante. Ele é um exemplo de perfeição evolutiva.
Todas essas características fazem dos gatos uma espécie extremamente relutante a ser domesticada, com forte tendência à liberdade e à desobediência.
Maior predador de vertebrados
Os gatos já extinguiram mais vertebrados do que qualquer outro predador.
Seu cosmopolitismo, sua eficiência como animal carnívoro e sua enorme capacidade de adaptação lhes permitiram colonizar todo o mundo, desde as ilhas subantárticas até as regiões quentes e secas, próximas aos trópicos.
E sua grande fecundidade os transforma em uma bomba demográfica muito difícil de ser desativada.
A extinção mais rápida de uma espécie foi provocada por um gato.
Tibbles era o mascote do faroleiro da ilha Stephen, uma pequena saliência rochosa entre as duas principais ilhas da Nova Zelândia. Ali vivia um estranho pássaro noturno não voador parecido com uma cotovia.
O ornitólogo britânico Lionel Walter Rothschild (1868–1937) descreveu a ave em 1895 com o nome científico Xenicus lyalli — a cotovia-da-ilha-stephen.
Milionário, Rothschild comprou todos os exemplares dissecados conhecidos e dedicou o nome da ave ao faroleiro da ilha, D. Lyall.
Exemplar preservado da cotovia-da-ilha-stephen — Xenicus lyalli — no Museu Carnegie de Pittsburgh, nos Estados Unidos
Wikimedia Commons via BBC
Ao todo, são conhecidos 13 espécimes — os mesmos que o gato Tibbles colocou aos pés do seu tutor.
Apaixonado pela ornitologia, o faroleiro os dissecou antes de enviá-los a Rothschild. E, desde então, não foram encontrados novos espécimes.
Tibbles se especializou na caça deste pássaro. Ele os descobriu e, sozinho, exterminou a espécie no frio inverno de 1895.
Com isso, a cotovia-da-ilha-stephen e o dodô (Raphus cucullatus) passaram a dividir a honra indesejável de serem espécies extintas antes de serem descritas pela ciência.
Mais de 1 milhão de aves por ano
Cálculos muito conservadores levaram alguns autores a estimar que os gatos consomem mais de 1 milhão de aves por ano, em ilhas como as Kerguelen, nas terras austrais do extremo sul do Oceano Índico.
E se sabe que, em apenas 75 anos, os gatos fizeram desaparecer diversas espécies de répteis em ilhas pequenas como Santa Luzia, em Cabo Verde.
Existe também o caso das ilhas Canárias, pertencentes à Espanha.
Estima-se que a chegada dos gatos ao arquipélago, 2 mil anos atrás, seja uma das causas do desaparecimento de algumas aves, de dois roedores gigantes e do lagarto-gigante-de-la-palma.
Mesmo com sua pequena estatura e os inúmeros memes de gatinhos encantadores nas redes sociais, os gatos domésticos (Felis catus) são máquinas de matar, equipadas com garras retráteis, presas afiadas e visão noturna.
Gatos são exemplos perfeitos da evolução dos animais
Getty Images via BBC
Esses potentes predadores podem ser tudo, menos melindrosos. Eles estão sempre à procura de presas para caçar ou carniça para remexer. E comem tudo o que houver disponível.
Graças aos seres humanos, os gatos se espalharam por todo o mundo nos últimos milhares de anos.
Esses ferozes felinos foram provavelmente domesticados há 10 mil anos no Oriente Médio.
Atualmente, eles vivem em todos os continentes, exceto na Antártida.
Os gatos foram introduzidos em centenas de ilhas e se transformaram em uma das espécies mais amplamente distribuídas do planeta.
Dieta muito variada
O cosmopolitismo dos gatos fez com que eles alterassem muitos dos ecossistemas onde foram introduzidos.
Os gatos transmitem novas doenças para muitas espécies, incluindo os seres humanos.
Seus impactos ecológicos superam os causados pelos felinos nativos e outros predadores de porte médio.
Eles ameaçam a integridade genética dos felinos silvestres e se alimentam da fauna autóctone, tendo levado muitas espécies à extinção.
Por tudo isso, os gatos criados em liberdade (ou seja, gatos domésticos ou silvestres com acesso ao seu entorno externo) formam uma das espécies invasoras mais problemáticas do mundo.
Uma meta-análise de 530 artigos, livros e relatos científicos publicados ao longo de mais de um século resultou no primeiro registro completo dos animais que costumam ser devorados pelos gatos domésticos.
A lista das vítimas é longa: 2.084 espécies diferentes.
A maioria delas é composta por aves (981 espécies), seguidas por répteis (463), mamíferos (431), insetos (119), anfíbios (57) e outros grupos taxonômicos (33).
As presas mais comuns são os ratos, camundongos, pardais e coelhos, mas também há registros de gatos que caçam presas surpreendentes, como as tartarugas-das-galápagos, emas-australianas e até gado doméstico.
Algumas das criaturas mencionadas na lista — incluindo os seres humanos — são grandes demais para serem caçadas pelos gatos.
Mas elas refletem as tendências necrófagas dos felinos.
Quase 350 dessas espécies figuram em diversas listas vermelhas de espécies em risco de extinção.
E várias delas já estão extintas.
Muitas são pequenas aves, mamíferos e répteis endêmicos de ilhas que não possuem predadores naturais como os felinos.
Isso significa que as presas incautas não contam com reações defensivas.
Onze das espécies registradas, incluindo o corvo-do-havaí (Corvus hawaiiensis), a codorniz-da-nova-zelândia (Coturnix novaezelandiae) e o rato-coelho-do-pé-branco (Conilurus albipes) da Austrália, são consideradas extintas.
Comedores de insetos
Os dados do artigo são conservadores. Os registros são uma representação das espécies que servem de alimento para os gatos, mas os felinos comem muito mais do que podemos identificar.
Os insetos, por exemplo, representam apenas pouco menos de 6% das espécies devoradas pelos gatos.
Mas esse número provavelmente é subestimado, devido à dificuldade de identificação de restos de insetos no estômago e nos excrementos dos felinos, em comparação com penas ou ossos de vertebrados.
Insetos representam pouco menos de 6% das espécies devoradas pelos gatos
Getty Images via BBC
Além disso, o número de presas aumenta proporcionalmente à quantidade de publicações científicas.
E, como a maioria das fontes utilizadas para a meta-análise provém da Austrália e da América do Norte, é provável que esse viés geográfico oculte a totalidade das espécies consumidas.
Afinal, os animais nativos desses continentes dominaram o conjunto de dados.
Com toda certeza, pesquisas futuras irão ajudar a compreender o impacto dos gatos em outras regiões que possuem biodiversidade extraordinária, como a América do Sul, a Ásia e a África.
Serão então descobertas inúmeras criaturas em risco de extinção que acabam indo parar na caixinha de areia dos gatos.
Mas a verdade é que colocar a culpa nos felinos acaba criando um bode expiatório para um problema muito maior, que envolve o nosso próprio compromisso ecológico.
Se nós, seres humanos, não conseguimos mudar nosso comportamento para proteger a biodiversidade, por que deveríamos esperar essa mesma consciência dos gatos?
*Manuel Peinado Lorca é catedrático emérito e diretor do Real Jardim Botânico da Universidade de Alcalá, na Espanha.
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em espanhol.

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João Gilberto é cantado no tempo de Bebel Gilberto em show que marca a estreia no Brasil de turnê internacional

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♫ NOTÍCIA
♪ Em abril do ano passado, Bebel Gilberto ainda nem havia lançado o álbum João quando, ao fazer show na cidade de São Paulo (SP), cantou o repertório do disco que somente chegaria ao mundo em 25 de agosto de 2023. Tudo fez sentido porque o propósito do show era promover a edição do álbum póstumo João Gilberto – Ao vivo no Sesc_1998, lançado em abril daquele ano de 2023.
Se o disco ao vivo trazia à tona gravação inédita de show feito pelo criador da bossa nova na mesma cidade de São Paulo (SP), o álbum de Bebel simbolizava declaração de amor da filha para o pai João Gilberto Prado Pereira de Oliveira (10 de junho de 1931 – 6 de julho de 2019) através da abordagem de 11 músicas do repertório irretocável do cantor.
No show feito em Sampa em abril de 2023, Bebel cantou essas músicas no formato de voz e violão. Depois que o álbum foi lançado, a cantora saiu em turnê internacional que, desde o segundo semestre de 2023, transitou por 30 países, totalizando mais de 60 apresentações do show João.
É essa turnê João que Bebel traz enfim ao Brasil no próximo fim de semana, com três apresentações agendadas no Teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros, em São Paulo (SP), de 27 a 29 de setembro.
Desta vez, em vez do solitário violão, Bebel Gilberto terá o toque de banda formada pelos músicos Bernardo Bosisio (violão e guitarra), Dennis Bulhões (bateria e percussão) e Didi Gutman (piano, teclados e programações).
Sob direção de Talita Miranda, a cantora dará voz a músicas como Adeus, América (Geraldo Jacques e Haroldo Barbosa, 1948), Caminhos cruzados (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1958), Desafinado (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1959), O pato (Jayme Silva e Neusa Teixeira, 1960) e Você e eu (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1961).

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Homem destrói escultura de Ai Weiwei em exposição na Itália

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A obra Porcelain Cube fazia parte da exibição ‘Who am I?’ e o curador da mostra descreveu o ato como ‘imprudente e sem sentido’. Um homem tcheco de 57 anos foi preso. Escultura chinesa de Ai Weiwei é destruída
OperaLaboratori via AP
Um homem destruiu a escultura Porcelain Cube, do artista chinês Ai Weiwei, durante uma exposição no Palazzo Fava, em Bologna, norte da Itália. De acordo com informações da AP, Arturo Galansino, curador da mostra, descreveu o ato como “imprudente e sem sentido”.
Porcelain Cube fazia parte da exposição “Who am I?”, que será inaugurada no sábado (28). A imprensa italiana afirmou que polícia prendeu um homem tcheco de 57 anos, que disse ser artista. Ele é conhecido por ter como alvo obras de artes importantes. Ainda de acordo com a agência, não está claro como o homem conseguiu acesso ao evento na sexta (20), que era apenas para convidados.
Conforme desejo do artista, os fragmentos da obra foram cobertos com um pano e retirados. Eles serão substituídos por uma impressão em tamanho real e uma etiqueta explicando o que aconteceu. Ai Weiwei divulgou nas redes sociais imagens da câmera de segurança que mostram o momento em que a obra foi destruída.
“O ato de vandalismo contra a obra ‘Porcelain Cube’ de Ai Weiwei é ainda mais chocante quando consideramos que várias das obras expostas exploram o próprio tema da destruição”, disse o curador da exposição Arturo Galansino.
Escultura chinesa de Ai Weiwei
OperaLaboratori via AP
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Vestido usado por Ana Castela no Rock in Rio tem 2,5 kg de pedraria e levou 120 horas para ser bordado

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Estilista desenhou e bordou à mão a peça, integrando referências da carreira da cantora. Vestido foi feito com exclusividade para cantora usar no festival. Ana Castela no Rock in Rio
Leo Franco/AgNews
Ana Castela fez sua estreia no palco do Rock in Rio usando um vestido preto todo bordado à mão e feito exclusivamente para cantora vestir no evento.
Questionando se aquele era o palco que a Katy Perry havia pisado, Ana desfilou pela passarela com o tubinho de alcinha preto coberto por quase 2,5 quilos de pedrarias.
A cantora foi uma das convidadas por Chitãozinho e Xoxoró para o show Pra Sempre Sertanejo, no sábado (21).
Para o evento especial, a stylist da cantora, Maria Augusta Sant’Anna, procurou a marca Hisha, que traz peças bordadas por mulheres mineiras.
A estilista Giovanna Resende foi a responsável por criar a peça, desenhando à mão alguns elementos que fazem referências à carreira da cantora, como o cavalo gigante usado por Ana na gravação de seu primeiro DVD. A guitarra do Rock in Rio, notas musicais, natureza e ferradura completaram a peça.
Segundo a assessoria da cantora, as bordadeiras levaram 120 horas para finalizar a peça.
No palco, Ana cantou “Sinônimos” com Chitãozinho e Xororó, além de um trechinho de seus hits “Nosso Quadro”, “Solteiro Forçado” e “Pipoco”.
Vestido usado por Ana Castela no Rock in Rio
Divulgação
Show Pra Sempre Sertanejo
Entre os shows que já aconteceram no Rock in Rio 2024, poucos tiveram tanto engajamento do público quanto um bloco de apresentações dedicado ao sertanejo no sábado (21), penúltimo dia do evento. Contra a resistência de parte dos frequentadores — especialmente de uma parcela roqueira mais conservadora –, o estilo fez sua estreia no festival, após 40 anos de espera.
E foi uma estreia gloriosa. Para tornar o som mais palatável para quem não gostou da ideia, a organização escalou a Orquestra Heliópolis para criar os arranjos. O verdadeiro acerto, porém, foi a escolha de Chitãozinho e Xororó para conduzir o roteiro de performances e guiar a plateia. No universo sertanejo, a dupla desperta idolatria do nível de rockstars.
Chitãozinho e Xororó
Miguel Folco/g1
A ideia de incluir o sertanejo no Rock in Rio começou a tomar forma durante a edição de 2022. Roberto Medina, idealizador do festival, passou a sinalizar em entrevistas o desejo de escalar nomes do ritmo no line-up de 2024, citando nominalmente o cantor Luan Santana. Ele é conhecido pela megaprodução de seus shows.
Em entrevista ao g1 em setembro de 2022, o próprio Luan disse que seria “uma honra” se apresentar no evento. Mas ele não apareceu no palco.
Com um compromisso marcado em Santa Catarina na mesma noite, Luan cancelou de última hora a participação no show e citou como motivo um atraso na programação deste sábado. O bloco sertanejo começou cerca de uma hora e meia depois do horário inicialmente previsto.
Simone Mendes, Junior e Cabal foram outras participações no show.
Leia crítica completa do show.
Chitãozinho, Xororó e Ana Castela falam sobre a estreia do sertanejo no Rock in Rio

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