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Cantar é mover um dom que Juliette ainda não tem, como disse Xand Avião com outras palavras no ‘g1 Ouviu’

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Declaração do artista ao podcast gera polêmica e reabre discussão sobre os atributos do canto. “Juliette não é cantora, fizeram uma cantora nela. A Juliette é uma pessoa afinada, que sabe cantar, mas não é cantora. […] Afinada, ela sempre foi. Mas ser cantor não é só afinar. É saber usar a respiração na hora certa. E isso ela está aprendendo com o tempo”.
♪ OPINIÃO – Dada ontem, 15 de janeiro, em entrevista ao podcast g1 ouviu, a declaração de Xand Avião sobre os atributos vocais de Juliette surtiu efeito e gerou polêmica nas redes sociais. Até porque, na era do politicamente correto e dos cancelamentos, a maioria dos artistas opta por silêncio providencial em questões mais delicadas.
g1 Ouviu: Xand Avião fala que Juliette é afinada, mas ainda não é cantora
A fala espontânea do cantor potiguar irritou seguidores da cantora paraibana, mas o fato é que Xand foi respeitoso e falou algo que precisa ser dito. Uma opinião secretamente compartilhada por muita gente no meio musical.
A afinação é somente um dos atributos que moldam um intérprete e, como sentenciou certa vez Elis Regina (1945 – 1982), soberana na arte do canto, nem é tão essencial. Pessoas afinadas existem aos montes, mas ser afinado é requisito por si só insuficiente para habilitar alguém a pôr os pés na profissão de cantar.
Na real, Juliette usou a mídia, a visibilidade e o poder conquistados como vitoriosa participante do programa Big Brother Brasil 2021 (Globo) para se lançar como cantora sem ser cantora.
Título inaugural da discografia da artista, o EP Juliette (2021) mostrou cantora de tons suaves, doces, com repertório que enfatizou a origem nordestina da paraibana nascida em Campina Grande (PB) em 1989. O EP deixou impressão agradável, mas nunca a ponto de marcar o aparecimento de uma nova cantora na música brasileira.
“Cantar é mover o dom / Do fundo de uma paixão / Seduzir…”. poetizou Djavan nos versos da canção Seduzir (1981). Falta o dom à afinada Juliette. Talvez tenha sido isso que Xand Avião quis dizer com base na experiência de já conhecer a colega e de ter convidado Juliette para cantar com ele a música Alta estação (Christyan Lima, 2005) no ainda inédito álbum audiovisual Mixtura, gravado no Recife (PE) em 2023 e com lançamento programado para 26 de janeiro.
Cantar é mais do que afinar a voz com a respiração e a emissão certas. Cantar é construir identidade artística e saber se diferenciar no universo musical. No Brasil, Marília Mendonça (1996 – 2021) conseguiu isso no segmento sertanejo, assim como Anitta e como Ludmilla, para citar somente três nomes da geração projetada no país ao longo dos anos 2010.
Goste-se ou não de Anitta, a Girl from Rio já delineou assinatura artística, mesmo estando longe de ser cantora imponente. Em Anitta, a voz é um elemento no conjunto da obra globalizada da artista, pautada mais pela imagem e pela expressão do funk como legítima cultura popular e pop.
É que o ofício de cantar pode ser (bem) exercido sem potência vocal, como fez a fundamental Nara Leão (1942 – 1989) a partir de 1964, embora uma voz volumosa e farta gere encantos se posta em cena ou no estúdio com sentimento (sem emoção, até a mais prodigiosa técnica vocal soa estéril).
Nesse sentido mais amplo da arte do canto, Juliette ainda não é cantora, embora seja afinada e saiba cantar, como reconheceu Xand Avião na controvertida declaração ao g1 ouviu.
Em outras palavras, Xand Avião disse que cantar é mover um dom que Juliette ainda não tem.

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