Festas e Rodeios

Moyseis Marques vai além do samba ao beber de diversas fontes musicais do Brasil na roda do álbum ‘Na matriz’

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Capa do álbum ‘Na matriz’, de Moyseis Marques
Elena Moccagatta
Resenha de álbum
Título: Na matriz
Artista: Moyseis Marques
Edição: Biscoito Fino
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♪ Em A fonte, única das 13 músicas assinada somente por Moyseis Marques no repertório inteiramente autoral do álbum Na matriz, o artista deixa claro que o berço da obra do compositor é o Brasil.
Criado na cidade do Rio de Janeiro (RJ), Marques está identificado primordialmente com o samba carioca, mas sempre abarcou outros gêneros musicais na trajetória artística iniciada há 25 anos.
Em rotação desde sexta-feira, 15 de março, o álbum Na matriz – produzido por Marques com Rafael Mallmith, diretor musical e arranjador das 13 faixas – sintetiza os 25 anos de carreira do artista ao mapear com precisão o universo de Moyseis Marques, gravitando em torno (das várias formas) do samba, mas indo além das rodas.
Tanto que o primeiro majestoso single, Na matriz, lançado em novembro de 2022 com capa reaproveitada como capa do álbum, mapeou as bases e origens da cultura afro-brasileira na pisada de baião letrado por Marques a partir de melodia de Rudá Brauns.
Parceria de Marques com o bamba das letras Nei Lopes, o inédito baião Forró das cidades transita pelas capitais do Brasil para seguir a rota da música nordestina, tocada pelo artista quando Moyseis Marques pôs os pés na profissão como músico de bar.
“Cada pedra no meu caminhar / Vale o preço de ser como eu sou / Conquistei nesta vida / Minha dignidade no suor / E no entanto é preciso cantar / E tocar e compor outra vez / Se a fonte algum dia secar / Recorrer sem pudor aos clichês”, inventaria o cantor no balanço artístico feito com Fabiana Cozza em Bem que mereço, (belo) samba de resiliência, composto por Marques com Moacyr Luz.
Moyseis Marques transita por samba, baião, ijexá, xote e tema de capoeira no repertório autoral do álbum ‘Na matriz’
Elena Moccagatta
Disco que preserva a dignidade de Moyseis Marques, sem cacife para livrá-lo do suor cotidiano para continuar na roda, Na matriz bebe de fonte do samba no Maxixe Santa Cruz (Moyseis Marques e Max Maranhão, 2023) – faixa vivaz em que o canto é dividido com o partideiro Mosquito, tendo sido lançada há um ano como segundo single do álbum – e ganha densidade no apático samba-canção Móbile da insônia (Moyseis Marques e Elisa Queirós), inventário existencial.
Em tempo de nobreza, o ijexá dita o ritmo de Mãe de Oriri (Moyseis Marques e Luiz Antonio Simas), faixa gravada pelo cantor com Maria Menezes e assentada em território afro-brasileiro. Coração de lona (Cristóvão Bastos e Moyseis Marques) também bate fluente na cadência do ijexá com o canto virtuoso de Mônica Salmaso.
Parceria de Marques com o jornalista Luís Pimentel, Sambaluz celebra o bamba carioca Luiz Carlos da Vila (1949 – 2008), padrinho e fonte do samba do artista. Já o xote Sinceramente mostra parceria do profícuo compositor com a cantora e compositora potiguar Khrystal.
Em cadência similar, Margens tortas abre a parceria de Marques com a compositora paraibana Socorro Lira em gravação reforçada com as vozes do grupo Ordinarius.
Tema de capoeira que fecha o álbum Na matriz, Rei da roda (Zé Paulo Becker e Moyseis Marques) traz Moyseis Marques para outra fonte musical do Brasil, em conexão com o samba que abre este disco em que o artista celebra a vida, a paz, o amor e o próprio samba nos versos de Tempo de prazer (João Martins e Moyseis Marques).
Enfim, além do samba, Moyseis Marques roda pelo Brasil com dignidade, pagando o preço de ser como é, no giro de álbum que indica que a fonte do compositor parece longe de secar.

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