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Silvero Pereira ressignifica a letra de (grande) canção de Roberto Carlos em monólogo sobre abuso contra crianças

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♪ Em determinada cena de Pequeno monstro, espetáculo solo protagonizado por Silvero Pereira na cidade do Rio de Janeiro (RJ), o ator e cantor dá voz à letra de Fera ferida, uma das maiores canções da parceria de Roberto Carlos com Erasmo Carlos (1941 – 2022) na safra irregular dos compositores na década de 1980.
Diante de um microfone alocado ao fundo do palco, Silvero canta alguns versos de Fera ferida e recita outros. Trata-se de ressignificação perfeita da letra da canção de Roberto e Erasmo, pois os versos de Fera ferida se encaixam na narrativa de quem vai embora de determinado lugar, machucado no sentido literal e metafórico, após sofrer violências físicas e emocionais.
Em cartaz no Teatro Poeira de quinta-feira a domingo, em temporada que se estenderá até 28 de julho, Pequeno monstro é potente espetáculo em que a dramaturgia – a cargo do próprio Silvero Pereira, dirigido em cena por Andreia Pires – é calcada em casos reais de garotos abusados e violentados na infância e/adolescência por estarem fora dos padrões de masculinidade determinados pela sociedade homofóbica.
Usando o corpo como instrumento, Silvero se expõe em cena, revelando os xingamentos sofridos na pequena cidade natal de Mombaça (CE), situada no interior do estado do Ceará, o estupro de que foi vítima quando tinha sete anos.
É diante desse quadro de violência e horror que a letra de Fera ferida adquire sentido mais amplo e mais angustiante na voz de Silvero Pereira.
♪ Eis a letra da canção do Roberto ressignificada por Silvero Pereira no monólogo Pequeno monstro :
Fera ferida
(Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1982)
“Acabei com tudo
Escapei com vida
Tive as roupas e os sonhos
Rasgados na minha saída
Mas saí ferido
Sufocando meu gemido
Fui o alvo perfeito
Muitas vezes no peito atingido
Animal arisco
Domesticado esquece o risco
Me deixei enganar
E até me levar por você
Eu sei quanta tristeza eu tive
Mas mesmo assim se vive
Morrendo aos poucos por amor
Eu sei, o coração perdoa
Mas não esquece à toa
E eu não me esqueci
Eu andei demais
Não olhei pra trás
Era solto em meus passos
Bicho livre, sem rumo, sem laços
Me senti sozinho
Tropeçando em meu caminho
À procura de abrigo
Uma ajuda, um lugar, um amigo
Animal ferido
Por instinto decidido
Os meus rastros desfiz
Tentativa infeliz de esquecer
Eu sei que flores existiram
Mas que não resistiram
A vendavais constantes
Eu sei que as cicatrizes falam
Mas as palavras calam
O que eu não me esqueci
Não vou mudar
Esse caso não tem solução
Sou fera ferida
No corpo, na alma e no coração
Não vou mudar
Esse caso não tem solução
Sou fera ferida
No corpo, na alma e no coração”

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