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Liniker explicita carências em ‘Caju’, álbum autoral de repertório irregular valorizado por grandes orquestrações

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Artista lança disco em que canta pagode, cai na pista do Tropkillaz e revive era da discoteca com Pabllo Vittar e Lulu Santos entre baladas confessionais. Capa do álbum ‘Caju’, de Liniker
Caroline Lima / Divulgação
Resenha de álbum
Título: Caju
Artista: Liniker
Edição: Breu Entertainment
Cotação: ★ ★ ★
♪ A senha para a entrada no universo do segundo álbum solo de estúdio de Liniker, Caju, é a balada que batiza e abre o disco lançado hoje, 19 de agosto.
Na letra da canção, assinada pela artista paulista em parceria com Iuri Rio Branco e com os dois principais produtores musicais do álbum, Fejuca e Gustavo Ruiz, Liniker vislumbra um amor romântico enquanto expões carências e vulnerabilidades em versos confessionais.
Em essência, Caju é disco sobre a necessidade de afeto e amor. Às vezes, a cantora e compositora – que se juntou a Fejuca e a Ruiz na produção do álbum – expõe essa demanda em baladas como Caju, formatada com piano, sintetizadores, programações, bateria e percussão de Iuri Rio Branco, produtor associado ao som de Marina Sena.
Em outras faixas, a carência de amor e/ou companhia pode vir embalada na cadência de um pagode trivial como Febre (Liniker), levado no cavaquinho de Fejuca.
Caju é álbum longo para os padrões atuais da era TikTok. O disco apresenta 14 faixas que totalizam uma hora e nove minutos, sendo que há três faixas em sequência com mais de sete minutos cada uma.
Como o antecessor Índigo borboleta anil (2021), disco que consolidou a carreira solo de Liniker e rendeu à artista em 2022 um Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira, Caju é álbum de repertório irregular valorizado por grandiosas orquestrações.
Tal magnitude ficou imperceptível na batida pop do single que apontou o álbum em julho com a música Tudo (Liniker, Fejuca, Nave e Gustavo Ruiz), faixa feita com a adesão do produtor Nave, mas já é explicitada na terceira faixa de Caju, Veludo marrom (Liniker), balada de letra sensual cuja gravação de sete minutos é pontuada de início pelo toque minimalista da guitarra de Gustavo Ruiz até que, quase no terceiro minuto da faixa, o toque da Orquestra Jazz Sinfônica vai se impondo progressivamente.
A orquestra também se faz presente na melhor música do disco, Ao teu lado, balada de aura clássica assinada por Liniker com Amaro Freitas, cujo piano de toque límpido conduz a introdução. O arranjo segue com intensidade crescente até a suntuosidade final com o piano de Amaro harmonizado com as cordas e com as vozes de Liniker e de Ana Caetano e Vitória Falcão, cantoras da dupla Anavitória, convidada da faixa.
Em mais um exemplo da magnitude das orquestrações, a música Me ajude a salvar os domingos (Liniker) se assenta sobre base percussiva dos ritmistas Kainã do Jejê e Dennys Silva ao longo dos sete minutos. O arranjo cita sonoramente o trem mencionado em verso da letra cinematográfica dessa faixa embebida em clima de jazz na segunda metade.
A partir da sexta música, Negona dos olhos terríveis (Liniker, Russo Passapusso, Beto Barreto, Fejuca e Gustavo Ruiz), o álbum Caju oscila cada vez mais. A BaianaSystem atua como coprodutora e convidada da faixa de balanço caribenho, mas falta a pressão habitual da banda. A faixa resultou sem liga.
Na sequência, Mayonga (Liniker) cai no suingue do samba-rock com certa fluência enquanto Papo de edredom tende para o R&B contemporâneo com a adesão da cantora e compositora baiana Melly, coautora da música e convidada da gravação. O arranjo é interessante.
Composição dispensável no conjunto da obra, Popstar (Liniker) explicita a vocação pop do álbum, reiterada por Liniker em entrevistas para promover Caju. Já Pote de ouro (Liniker e Marcio Arantes) tenta reluzir no universo do brega e do arrocha, gêneros que pautam a carreira da cantora convidada da faixa, a pernambucana Priscila Senna.
Deixa estar (Liniker) ratifica a excelência dos arranjos do álbum Caju, jogando a Orquestra Jazz Sinfônica na pista da disco music com a voz e a guitarra de Lulu Santos, além do canto de Pabllo Vittar, sobressalente a partir do quarto minuto. O refrão tem apelo, mas a música é insossa como um todo. So special (Liniker, Laudz, Zegon, Fejuca e Gustavo Ruiz) mantém Liniker na pista, mas com a sonoridade eletrônica contemporânea do duo Tropkillaz.
No arremate do álbum, Take your time e relaxe (Liniker) é faixa com texto recitado em que Liniker parece endereçar uma carta a si própria com conteúdo motivacional.
Com diversidade rítmica, o álbum Caju até tem em algumas faixas um toque pop de brasilidade como sugere o título, mas são as letras confessionais e pessoais de Liniker que devem manter a conexão da artista com o público que lhe tem sido fiel no shows.

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