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Festas e Rodeios

Cazuza ressurge como dono do verbo mais incisivo do rock dos anos 1980 em livro que inventaria a obra do poeta

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Com 27 obras inéditas, a definitiva antologia ‘Cazuza – Meu lance é poesia’ reitera a força perene de artista que já nasceu grande ao escrever os primeiros versos em 1975, aos 17 anos. Capa do livro ‘Cazuza – Meu lance é poesia’, organizado por Ramon Nunes Mello
Avani Stein (1985) / Capa do livro ‘Cazuza – Meu lance é poesia’
♫ OPINIÃO SOBRE LIVRO
Título: Cazuza – Meu lance é poesia
Autor: Cazuza (1958 – 1990) – Organização de Ramon Nunes Mello
Cotação: ★ ★ ★ ★ ★
♪ Tentar elevar Cazuza (4 de abril de 1958 – 7 de julho de 1990) como o maior poeta do rock brasileiro dos anos 1980 em detrimento de Renato Russo (1960 – 1996) – ou vice-versa – é bobagem tão inútil quanto mesquinha. Ambos estão irmanados no panteão dos poetas imortais do gênero.
Contudo, se Renato seguiu por trilha poética mais introspectiva, jogando luz sobre as sombras de alma em cancioneiro que versou sobre amor e fé, Cazuza foi o dono do verbo mais incisivo. O poeta desbocado que apontou os ratos do piscinão nacional, desnudando a hipocrisia da sociedade brasileira em letras que pareciam mixar a rebeldia da poesia de Rimbaud (1854 – 1891) com as vísceras de Lupicínio Rodrigues (1914 – 1974) e com a fossa de Maysa (1936 – 1977) enquanto hasteava a bandeira da liberdade.
Essa soberania do artista na crueza nua dos versos salta das 320 páginas de Cazuza – Meu lance é poesia, livro ora posto no mercado em edição viabilizada através de parceria da WMF Martins Fontes com a sociedade Viva Cazuza.
Trata-se do inventário completo e definitivo da obra musical e poética de Agenor de Miranda Araújo Neto, garoto branco e rico da cidade do Rio de Janeiro que deixou de ser o filhinho do papai João Aráujo (1935 – 2013), poderoso diretor da gravadora Som Livre, quando encontrou a própria turma no universo do rock que emergiu no Brasil a partir de 1982, ano do primeiro álbum do Barão Vermelho, banda que admitiu Cazuza como vocalista – seguindo indicação de Leo Jaime – e que foi a plataforma inicial para a exposição nacional do poeta.
Cazuza saiu da banda em 1985, de forma ruidosa, e cresceu como artista em carreira solo porque sempre foi maior do que o grupo que o lançou como cantor e compositor.
Vendido de forma avulsa e também em box que abarca a fotobiografia Protegi teu nome por amor, o livro Cazuza – Meu lance é poesia reitera essa grandeza, tendo sido organizado por Ramon Nunes Mello, que contextualiza a criação de cada obra. Também poeta, Ramon aprimora e amplia as informações contidas no songbook anterior, Cazuza – Preciso dizer que te amo (2001).
O atual livro reúne 238 poemas escritos entre 1975 e 1989, sendo 27 inéditos, encontrados pela mãe protetora do artista, Lucinha Araújo, nas pastas com documentos originais do Arquivo Viva Cazuza. E, no caso de Cazuza, poesia abarca letras de música, já que as duas formas de arte se borraram o tempo todo na trajetória musical do artista.
O lance que valoriza o livro nem é tanto a safra inédita, mas o conjunto da obra, embora do baú venham curiosidades como o verborrágico poema Work in progress, escrito em 1980 com versos imagéticos como “… que a minha espinha é uma guitarra explorando mares que as próprias ondas vão avançando sem nunca ter pensado”.
O livro também revela Pobreza, parceria de Cazuza com Leo Jaime, escrita em 1980 e nunca gravada, talvez por ter letra bobinha, nascida de brincadeira entre os dois amigos.
A disposição dos poemas em ordem cronológica possibilita ao leitor acompanhar a evolução do artista, embora seja até arriscado falar em progresso quando o primeiro título da antologia é o denso Poema, escrito por Cazuza em 1975, aos 17 anos, para a avó paterna, Maria José Pontual Rangel (1898 – 1998).
Poema ficou guardado com a musa inspiradora dos versos até a morte de Maria José em 1998, ano em que foi entregue a Lucinha pela filha da anciã e ganhou melodia inspirada de Roberto Frejat, virando música na voz de Ney Matogrosso em álbum, Olhos de farol, gravado ainda naquele ano de 1998 e lançado nos primeiros dias de 1999.
Aliás e a propósito, Poema é a única música realmente boa surgida da exumação da obra poética de Cazuza. Todo o resto ficou aquém da grandeza de um poeta que, no mesmo ano de 1975, criou o verso “o banheiro é a igreja de todos os bêbados” ao escrever a letra da canção-blues Down em mim, gravada em 1982 no primeiro álbum do Barão Vermelho. Em bom português, Cazuza já nasceu grande.
Incrementado com textos analíticos de Augusto Guimaraens Cavalcanti, Eliane Robert Moraes, Italo Moriconi e Silviano Santiago, além de artigos de nomes como Caio Fernando Abreu (1948 – 1996), Karina Buhr e Nelson Mottta, o livro também recupera versões originais de músicas como Exagerado 1985), Eu queria ter uma bomba (1985) e Um dia na vida (1985), sendo que somente a letra de Exagerado, canção tornada epíteto do poeta, sofreu transformações mais radicais (para melhor) ao ser gravada em 1985 no primeiro álbum solo de Cazuza.
Enfim, o poeta continua vivíssimo, tanto pela força natural e perene da obra quanto pela proteção amorosa de Lucinha Araújo, mãe que só é feliz quando revitaliza e expande essa obra em shows, discos, musicais de teatro e livros em tributo a Cazuza.

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Rock in Rio registra mais de 600 furtos de celulares

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Balanço foi apresentado em uma coletiva no Palácio Guanabara nesta segunda-feira (23). Trinta e oito pessoas foram presas durante os sete dias. Governo do RJ faz balanço sobre esquema operacional do Rock in Rio
Mais de 600 pessoas registraram boletins de ocorrência após terem seus celulares furtados durante os sete dias de Rock in Rio, de acordo com o balanço divulgado pelo governo do Rio nesta segunda-feira (23). Segundo a administração do evento, 730 mil pessoas passaram pela Cidade do Rock.
As informações foram dadas durante uma coletiva no Palácio Guanabara. O secretário de segurança Victor Santos destacou que, para a pasta, os registros eram feitos com rapidez para que as vítimas pudessem voltar ao evento.
“Uma pessoa pode passar pelo dissabor de ter um telefone furtado, e não é justo que uma pessoa passe muito tempo fazendo um registro de ocorrência. Mesmo tendo problemas, as pessoas conseguiam fazer tudo e voltar a tempo para curtir o show”, afirma Santos.
Governo do RJ faz balanço operacional de atuação no Rock in Rio e nos jogos da Libertadores da América
Henrique Coelho / g1
Durante o evento, 38 pessoas foram presas dentro da Cidade do Rock, sendo 19 em flagrante.
Ao todo, foram 889 ocorrências registradas. Quase 70% delas por furto de celular, chegando a 614 ocorrências.

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Akon reposta story criticando próprio show no Rock in Rio: ‘Prometeu tudo e entregou playback ruim’

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Cantor se apresentou no Palco Mundo do festival neste domingo (22). Público solta a voz no hit “Lonely” durante apresentação de Akon no Rock in Rio
Akon se apresentou no Palco Mundo na noite do último domingo (22), no Rock in Rio. O músico reviveu clássicos do R&B e homenageou o Brasil ao incluir batidas de samba e funk. Mas, nas redes sociais, algumas pessoas o acusaram de usar playback na apresentação. Nesta segunda (23), Akon acabou repostando uma publicação no Instagram com crítica ao show.
“Akon prometeu tudo e entregou um playback ruim, autotune e um DJ da Shopee”, escreveu o seguidor repostado por Akon.
Depois que teve sua publicação repostada pelo Akon, o seguidor até disse que estava se “sentindo mal” pela crítica. Akon seguiu compartilhando vídeos de seguidores que o marcaram na rede social com momentos da apresentação no festival.
Um dos maiores astros da música dos anos 2000, Akon foi incluído em um dia com programação marcada por atrações nostálgicas no Rock in Rio. Além dele, Ne-Yo passou pelo Palco Mundo, para também apresentar hits da penúltima década. Já o Palco Sunset recebeu um show de Mariah Carey.
Akon reposta story com crítica ao show do Rock in Rio
Reprodução/Instagram
Seguidor do Akon
Reprodução/Instagram
Akon confuso com capitais e bolha furada
Durante o show, Akon confundiu as capitais e cumprimentou o público de São Paulo. “São Paulo, como vocês estão se sentindo hoje?”, questionou. O músico foi corrigido por fãs da plateia, que gritaram em coro o nome do Rio de Janeiro.
Ele também ficou com vergonha quando apareceu dentro de uma bolha inflável, com a qual pretendia se jogar e ser carregado pelo público. A bolha estourou com apenas alguns segundos de uso. “Eu queria fazer algo especial pra vocês”, disse ele, tímido.
Público do Rock in Rio faz coro em “I Wanna Love You” de Akon

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Cate Blanchett cita Clarice Lispector e elogia escritora em discurso: ‘Gênia absoluta’

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Atriz mencionou escritora brasileira após receber prêmio no Festival de Cinema de San Sebastian, na Espanha, no último sábado (21). Cate Blanchett no Festival de Veneza 2024.
Joel C Ryan/Invision/AP
A atriz Cate Blanchett recebeu uma homenagem ao conjunto de sua obra no Festival de Cinema de San Sebastian, na Espanha, no último sábado (21). Em seu discurso de agradecimento, a atriz contou que vem lendo Clarice Lispector, e chamou a escritora brasileira de “gênia absoluta”.
“Vivemos em tempos incertos e busco coragem em Clarice Lispector, a autora brasileira que é uma gênia absoluta, cujo trabalho tenho lido recentemente”, começou a atriz.
“E ela diz: ‘Existem certas vantagens em não saber. Como um território virgem, a mente está livre de equívocos. Tudo o que não conheço constitui a maior parte de mim: esta é a minha dádiva. E com esse não saber, eu entendo tudo.’ Eu vivo com esperança. A jornada continua. Só existem ilhas de certezas. Então, muito obrigada por esta pequena ilha de certeza esta noite”.
Mais tarde, na coletiva de imprensa, a atriz voltou a mencionar Lispector.
“Tenho lido Clarice Lispector, a incrível escritora brasileira. E ela diz: ‘É preciso muito esforço para ser simples’. Geralmente, coisas que parecem sem esforço exigem muita preparação”, explicou.

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