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Festas e Rodeios

Poeta e letrista carioca Tavinho Paes deixa obra musical de escrita pop, feliz e jovial ao morrer no Rio aos 69 anos

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Ouvidos em vozes como as de Caetano Veloso e Marina Lima, versos do compositor retrataram sem culpa o sexo e o vale-tudo da década de 1980. ♫ OBITUÁRIO
♪ Com as letras modernistas escritas para a irmã e parceira Marina Lima a partir da segunda metade dos anos 1970, Antonio Cicero (1945 – 2024) fez um país em que desbravou território para outros poetas que entraram no universo da música pop como letristas.
Um deles foi Luiz Octávio Paes de Oliveira (26 de janeiro de 1955 – 31 de outubro de 2024), o compositor, escritor e jornalista carioca conhecido como Tavinho Paes.
Morto hoje aos 69 anos, em hospital da cidade natal do Rio de Janeiro (RJ), em decorrência de complicações de duas cirurgias feitas na sequência de infarto sofrido em setembro, Tavinho Paes debutou como letrista no início dos anos 1980, década áurea da produção musical do artista multimídia.
Não por acaso, Paes escreveu letras para músicas de Marina Lima, com quem iniciou parceria em 1981 com a feitura dos versos de Gata todo dia, música também assinada por Leo Jaime.
O rock Acho que dá, lançado pela cantora no álbum …Desta vida, desta arte… (1982), exemplificou a escrita pop e jovial de Paes em versos como “Periga escuta na esquina / Caretas marcam sob pressão / Que a gente sempre com tudo em cima / O céu, a terra, a vida, a visão”.
Tavinho Paes também escreveu a letra de Totalmente demais (1986) para música de Arnaldo Brandão – o parceiro mais frequente do poeta – e Roberio Rafael gravada pela banda Hanoi Hanoi e, no mesmo ano, amplificada na voz de Caetano Veloso em disco ao vivo batizado pelo cantor com o nome da composição que perfilava mulher linda e libertária às voltas com sexo, drogas e gays.
Totalmente demais é uma das músicas mais conhecidas da obra de Tavinho Paes ao lado de Blá, blá, blá… Eu te amo (Rádio Blá), outra música lançada em 1986 pela banda Hanoi Hanoi e amplificada na voz de um cantor, no caso Lobão, que a gravou no ano seguinte no álbum Vida bandida (1987).
Parceiro de Fausto Fawcett, Moraes Moreira (1947 – 2020) e Nelson Jacobina (1953 – 2012), Tavinho Paes também se aventurou pelo universo da canção pop romântica das FMs dos anos 1980, escrevendo sucessos para o grupo Roupa Nova, que gravou Linda demais e De volta pro futuro (parcerias de Paes com Kiko, baixista do grupo) em 1985 e 1987.
Em qualquer segmento, Tavinho Paes fazia letras coloquiais que versavam sobre amor, desejo e sexo sem culpa. A obra musical do poeta pop captou as loucuras e o vale-tudo da década de 1980. Rumba louca, aliás, foi o título da parceria de Paes com Moacir Albuquerque gravada em 1983 por Gal Costa (1945 – 2022).
Finda a era pop dos anos 1980, na qual teve até música lançada por Xuxa em 1986 (She-ra, parceria do letrista com Joe), Paes emplacou Sexy yemanjá em 1993. Pepeu Gomes é o parceiro de Paes na música veiculada na abertura da novela Mulheres de areia (Globo, 1993) na gravação original feita pelo próprio Pepeu.
Dentro dessa diversidade pop, Tavinho Paes construiu obra desencanada, movida pelo espírito jovial que animava o poeta e letrista que hoje sai de cena, já imortalizado pelos versos que escreveu e que ainda ecoarão através dos tempos.

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Vitalidade do musical de teatro sobre a banda Paralamas do Sucesso reside na direção, no elenco e na trilha sonora

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Mesmo com dramaturgia sem conflito, espetáculo flui bem e destaca o ator Rodrigo Salva na pele de Herbert Vianna, o vocalista e guitarrista do grupo. Franco Kuster (à esquerda), Rodrigo Salva (ao centro) e Gabriel Manita vivem João Barone, Herbert Vianna e Bi Ribeiro, respectivamente
André Wanderley / Divulgação
♫ OPINIÃO SOBRE MUSICAL DE TEATRO
Título: Vital – O musical dos Paralamas
Texto: Patrícia Andrade
Direção: Pedro Brício
Direção musical e arranjos: Daniel Rocha
Data e local: 3 de novembro de 2024 no Teatro Claro Mais (Rio de Janeiro, RJ)
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♪ Como inexistiu um grande conflito ao longo dos 42 anos de vida da banda carioca Paralamas do Sucesso, é surpreendente que o musical sobre o trio resulte tão fluente e sedutor. O viço de Vital – O musical dos Paralamas reside na direção de Pedro Brício, no elenco homogêneo e no repertório do grupo.
Na ausência de material que renda boa dramaturgia e sem poder inventar (muito) em história baseada em fatos reais de conhecimento público, a autora Patrícia Andrade recorreu ao acidente que deixou paraplégico o vocalista e guitarrista dos Paralamas, Herbert Vianna, para ser o ponto de partida e o fio condutor do texto. A ação parte de fevereiro de 2001, mês do acidente, para contar a história da banda em vaivém no tempo dramatúrgico.
A dramaturga se vale algumas vezes do recurso da narração para contextualizar no tempo a saga sem drama de um trio que ganhou projeção em 1983 e, desde então, permaneceu unido e em harmonia, sobretudo quando a vida de Herbert Vianna esteve por um fio na cama de hospital.
Sagaz, o diretor Pedro Brício orquestra a cena com tamanha vitalidade que o espectador se deixa levar ao longo das duas horas e meia do espetáculo em cartaz de sexta-feira a domingo no Teatro Claro Mais, no Rio de Janeiro (RJ), em temporada que se estende até 24 de novembro (já estão previstas temporadas em Brasília e São Paulo em 2025).
A favor do diretor Pedro Brício, conta um elenco afiado e afinado em que sobressai Rodrigo Salva na pele e na alma de Herbert Vianna. Ator, cantor e guitarrista, Salva tem timbre vocal idêntico ao de Herbert, o que contribui para a perfeita composição do personagem. Parece que é Herbert quem está no palco, e não Salva.
Na pele do baterista João Barone, Franco Kuster conquista o público já no início do espetáculo na cena em que simula solo de bateria com o movimento preciso das mãos. Kuster evoca a figura de Barone.
Dos intérpretes do trio, o ator Gabriel Manita é que o imprime menos a fisionomia e o ar do baixista Bi Ribeiro. Contudo, Manita se harmoniza em cena com Salva e Kuster, em interação fundamental para musical que, no fim das contas, celebra a amizade e a união entre os três músicos, com a adesão fundamental do quarto Paralama, o empresário José Fortes, personagem confiado a Hamilton Dias.
A harmonia se estende ao elenco recrutado para dar vida aos personagens coadjuvantes. Esse time inclui Pedro Balu (com bom tom cômico no papel de Vital, o que se sentia total com a moto, sonho de metal daquele que foi o baterista amador dos Paralamas nos primórdios estudantis do grupo), Maria Vitória Rodrigues – atriz que interpreta a filmmaker Alice, personagem fictícia, criada para suprir a ausência no texto de qualquer referência a Paula Toller, o real grande amor de Herbert Vianna na fase inicial dos Paralamas –e Ivanna Domenyco, atriz e cantora de vibe roqueira, voz potente e longa experiência em musicais de teatro.
Ao elenco e à direção, soma-se um repertório de músicas aliciantes, compostas por Herbert Vianna (quase sempre sozinho) arranjadas sem invenção de moda pelo diretor musical Daniel Rocha. Quando o trio encena a consagradora a apresentação no primeiro festival Rock in Rio de 1985, cantando Meu erro (1984) e Óculos (1984), o musical adquire a energia de show de rock e o público vem junto.
Presente no segundo ato, de estatura menor, Lanterna dos afogados (1989) é número coletivo que exemplifica o depressivo estado emocional dos músicos e dos amigos dos Paralamas após o acidente de Herbert Vianna, que voltou à cena em junho de 2002 com participação no show do cantor argentino Fito Paez na extinta casa carioca Canecão.
O número de Herbert no show de Fito, Track track (1991), é recriado no musical, cujo texto omite o desprezo amargado pelos Paralamas no Brasil no início dos anos 1990. A volta por cima aconteceu com o álbum ao vivo Vamo batê lata (1995).
A propósito, os cantos coletivos de Selvagem (1986) e Vamo batê lata (1995) são números vibrantes que expõem em cena a brasilidade de banda que, a partir de 1986, delineou uma identidade própria, nacional, se distanciando da matriz sonora de grupos então referenciais como o britânico The Police.
Idealizado por Gustavo Nunes e Marcelo Pires para celebrar as quatro décadas do trio, Vital – O musical dos Paralamas cumpre bem o objetivo. O merecido sucesso da temporada carioca sinaliza vida longa para o fluente espetáculo.

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Gusttavo Lima não teria regravado ‘A noite’ se dependesse da liberação de Tiê; entenda

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Em entrevista ao g1, cantora explica que liberação da faixa é feita apenas por Giuseppe Anastasi, compositor da versão original. E que, se fosse por ela, não teria aprovado. Pop italiano, MPB e hit de Gusttavo Lima: Relembre as versões de “A noite”
Gusttavo Lima está em primeiro lugar na lista das músicas mais tocadas nas rádios, segundo a Crowley, e na segunda posição do Top 50 do Spotify com a regravação de “A Noite”.
Mas se dependesse da liberação da cantora Tiê, uma das responsáveis pela versão brasileira da música italiana “La Notte”, o sertanejo não teria nem gravado a canção.
“Eu confesso que, na época que o Gusttavo Lima foi gravar, eu não achei legal. Ele tava envolvido com um monte de coisa, pedido de prisão, fugindo para Miami, na mesma semana… Falei: ‘Putz, gente, eu não teria liberado’. Mas eu não tenho voz”, afirma a cantora em entrevista ao g1.
“Quem decide é o italiano que fez a canção. Então é isso, vida que segue.”
Tiê compôs “A Noite” em 2014. Dez anos depois, Gusttavo Lima colocou a regravação no topo das paradas musicais
Reprodução/Instagram
O italiano em questão é Giuseppe Anastasi, que compôs “La notte” em 2012. Quando liberou sua música para regravação, o artista optou por não compartilhar os direitos autorais com os versionistas.
Com isso, Tiê, Adriano Cintra, André Whoong e Rita Wainer, responsáveis pela versão brasileira, não só não recebem pelos direitos autorais em caso de regravações como também não podem opinar sobre quem grava ou não “A Noite”.
“Eu poderia não autorizar a minha letra, mas na hora que você topa fazer uma versão de alguém, você libera a sua opinião”, explica Tiê.
Gusttavo Lima lançou a música dentro do projeto “Embaixador Acústico” em agosto de 2024, dias antes de ser indiciado por lavagem de dinheiro e organização criminosa em investigação sobre jogos ilegais. Em setembro, o cantor teve sua ordem de prisão revogada pela justiça.
A trajetória de ‘A noite’
Um premiado pop italiano, que virou MPB de novela e, agora, é hit de Gusttavo Lima. A trajetória de “A noite” completa 12 anos (contando por seu nascimento italiano) e mostra que seus versos seguem vivos, emocionando diversos públicos e gerações. “É uma música que realmente emociona tanto as crianças quanto as senhorinhas, eu acho maravilhoso”, diz Tiê.
Em 2012, a cantora italiana Arisa ficou em segundo lugar no Sanremo Music Festival com “La notte”. Dois anos depois, a faixa composta por Giuseppe Anastasi ganhou sua versão brasileira.
Tiê
Divulgação/ Lucas Seixas
“A noite” foi a estreia de Tiê como versionista. Ela assina a música com Adriano Cintra, André Whoong e Rita Wainer. Lançada em dezembro de 2014 com o álbum “Esmeraldas”, a faixa foi parar, no ano seguinte, na trilha da novela “I love Paraisópolis”, e rendeu o Prêmio Extra de Televisão de Melhor Tema Musical.
Tiê diz ter uma grande paixão e carinho por “A Noite” por ela ter levado a cantora para “casas e ouvidos inesperados”, seja pelo sucesso da novela, pela recordação constante da faixa em vídeos no TikTok ou pelas regravações ao longo dos anos.
Em 2021, “A noite” ganhou novas batidas e interpretação com a regravação de João Gomes. Ao comentar sobre o projeto, Tiê, que já havia declarado nas redes ser fã do cantor, foi só elogios ao artista.
“Ele é superquerido, a gente sempre se fala por Instagram. É maravilhoso, porque tem essa troca. Ele também acabou de ter neném. Então a gente fica mandando foto de neném, fica dando risada. Ele é uma coisa pessoa muito querida.” Jorge, primeiro filho de João e Ary Mirelle, nasceu em janeiro. Já Tiê deu à luz sua terceira filha, Rosa, em dezembro de 2023. A cantora também é mãe de Amora, de 11 anos, e Liz, de 14.
Agora, em 2024, 10 anos após o lançamento de Tiê, além da já citada regravação de Gusttavo, a faixa ainda ganhou uma MTG assinada pelo DJ Luan Gomes.
Por contar com a voz de Tiê, a faixa é a única versão que a cantora recebe direitos autorais. Mas enquanto intérprete. Inicialmente, a cantora derrubou o remix das plataformas.
Ela explica que, para fazer MTGs, os DJs não pedem autorização para os autores originais. “Inclusive é uma questão para os artistas e para os direitos autorais. Muitos artistas entram em vários conflitos, ficam caçando a pessoa. E realmente subiram sem autorização”, diz.
“E ela tinha uma letra muito explícita. Tinha parte da minha voz e, depois tinha, assim…[uma letra] que eu não posso nem cantar. Era superproibida para menores. E aí quando eu ouvi, eu falei: ‘Putz, não vai rolar’,”, relembra.
Tiê afirma que é superaberta para que façam versões com suas músicas e que adora funk, mas por ter também um público infantil, além de três filhas, precisa prestar a atenção em algumas letras.
“Uma letra que não valoriza a mulher, uma letra que fale de agressão, não dá. A gente tem que prestar atenção e não consumir. O funk em si eu acho maravilhoso”, diz.
Tiê conta que entrou em contato com o DJ e autorizou o uso de sua voz sob a condição de que fosse retirada da música a parte pornográfica. “E aí para mim é ótimo, não tem problema. O problema era a letra que realmente não condiz com o que eu prego. Não é moralismo, mas não tem a ver.”
Leia também:
O que é MTG? Sigla aparece nas músicas mais ouvidas do Brasil e levou Billie Eilish para o funk
‘Não foi fácil fazer a versão’
Apesar de todo o sucesso de “A noite” ao longo dos anos, a música quase não saiu.
Quando Sérgio Affonso, presidente da gravadora Warner na época, propôs que a cantora fizesse uma versão de “La Notte”, Tiê não gostou da música.
“Eu não entendi direito a música. Então, eu fiquei meio: ‘Ah, será que eu faço?’. Não foi muito fácil assim, eu fiquei meio enroscada.”
Tiê durante show para mulheres vítimas de violência doméstica na Zona Leste. ‘A música tem esse lugar de colo’, disse a cantora.
Celso Tavares/g1
Foi então que o músico e produtor Adriano Cintra insistiu para que Tiê aceitasse a proposta de fazer a versão, sem ficar presa à tradução. “Essa música é número um na Itália. Vai que ela vira também, pode ser ótimo”, argumentou Adriano na época.
Tiê, então, sentou com Adriano e com o produtor André Whoong para escrever a letra. Já a contribuição de Rita Wainer foi feita através de um bloquinho de notas.
“Ela tinha um caderno de poesia e poemas que estava comigo. Então ela não estava nem presente, mas o caderno dela tava comigo e eu falei: ‘Rita, vou usar’. Então fui eu, a Rita via caderno, Adriano Cintra e o André Whoong, que hoje é meu parceiro”, explica Tiê.
A cantora atribui o sucesso da música a uma série de fatores. “Não é só estar na novela ou só a música. É uma soma de mil coisas.”
“Nesse caso, a música encaixou bem, a letra ficou muito profunda, a minha voz está bonita, o arranjo ficou bom, a novela foi bem, a Bruna [Marquezine, intérprete da personagem Mari, que ganhou a trilha sonora] foi muito bem na novela. Então foi uma soma de coisas, e aí estourou mesmo.”
É sobre separação ou saúde mental?
Tiê no clipe de “A Noite”, lançado em 2014
Reprodução/YouTube
O medo que cresce, o coração acelerado e o fato de não conseguir dormir são sentimentos que compõem os versos da canção, dando duas possibilidades para o contexto da faixa: uma separação amorosa ou a saúde mental.
Tiê explica que a obra é sobre as duas coisas. “Ela é uma música que fala, sim, sobre separação, e fala também de saúde mental, claro.”
E sobre a abertura da música, que diz que “palavras não bastam”, ela afirma ser algo “muito forte”.
“Porque é isso. As palavras têm uma força muito grande. Às vezes a gente não dá importância para essa força e fala umas palavras, umas merdas que a gente não precisava falar. E a palavra tem poder. E ao mesmo tempo, elas não bastam mesmo. A gente precisa de outras coisas.”

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Gusttavo Lima não teria regravado ‘A noite’ se dependesse da liberação de Tiê; entenda

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Em entrevista ao g1, cantora explica que liberação da faixa é feita apenas por Giuseppe Anastasi, compositor da versão original. E que, se fosse por ela, não teria aprovado. Pop italiano, MPB e hit de Gusttavo Lima: Relembre as versões de “A noite”
Gusttavo Lima está em primeiro lugar na lista das músicas mais tocadas nas rádios, segundo a Crowley, e na segunda posição do Top 50 do Spotify com a regravação de “A Noite”.
Mas se dependesse da liberação da cantora Tiê, uma das responsáveis pela versão brasileira da música italiana “La Notte”, o sertanejo não teria nem gravado a canção.
“Eu confesso que, na época que o Gusttavo Lima foi gravar, eu não achei legal. Ele tava envolvido com um monte de coisa, pedido de prisão, fugindo para Miami, na mesma semana… Falei: ‘Putz, gente, eu não teria liberado’. Mas eu não tenho voz”, afirma a cantora em entrevista ao g1.
“Quem decide é o italiano que fez a canção. Então é isso, vida que segue.”
Tiê compôs “A Noite” em 2014. Dez anos depois, Gusttavo Lima colocou a regravação no topo das paradas musicais
Reprodução/Instagram
O italiano em questão é Giuseppe Anastasi, que compôs “La notte” em 2012. Quando liberou sua música para regravação, o artista optou por não compartilhar os direitos autorais com os versionistas.
Com isso, Tiê, Adriano Cintra, André Whoong e Rita Wainer, responsáveis pela versão brasileira, não só não recebem pelos direitos autorais em caso de regravações como também não podem opinar sobre quem grava ou não “A Noite”.
“Eu poderia não autorizar a minha letra, mas na hora que você topa fazer uma versão de alguém, você libera a sua opinião”, explica Tiê.
Gusttavo Lima lançou a música dentro do projeto “Embaixador Acústico” em agosto de 2024, dias antes de ser indiciado por lavagem de dinheiro e organização criminosa em investigação sobre jogos ilegais. Em setembro, o cantor teve sua ordem de prisão revogada pela justiça.
A trajetória de “A noite”
Um premiado pop italiano, que virou MPB de novela e, agora, é hit de Gusttavo Lima. A trajetória de “A noite” completa 12 anos (contando por seu nascimento italiano) e mostra que seus versos seguem vivos, emocionando diversos públicos e gerações. “É uma música que realmente emociona tanto as crianças quanto as senhorinhas, eu acho maravilhoso”, diz Tiê.
Em 2012, a cantora italiana Arisa ficou em segundo lugar no Sanremo Music Festival com “La notte”. Dois anos depois, a faixa composta por Giuseppe Anastasi ganhou sua versão brasileira.
Tiê
Divulgação/ Lucas Seixas
“A noite” foi a estreia de Tiê como versionista. Ela assina a música com Adriano Cintra, André Whoong e Rita Wainer. Lançada em dezembro de 2014 com o álbum “Esmeraldas”, a faixa foi parar, no ano seguinte, na trilha da novela “I love Paraisópolis”, e rendeu o Prêmio Extra de Televisão de Melhor Tema Musical.
Tiê diz ter uma grande paixão e carinho por “A Noite” por ela ter levado a cantora para “casas e ouvidos inesperados”, seja pelo sucesso da novela, pela recordação constante da faixa em vídeos no TikTok ou pelas regravações ao longo dos anos.
Em 2021, “A noite” ganhou novas batidas e interpretação com a regravação de João Gomes. Ao comentar sobre o projeto, Tiê, que já havia declarado nas redes ser fã do cantor, foi só elogios ao artista.
“Ele é super querido, a gente sempre se fala por Instagram. É maravilhoso, porque tem essa troca. Ele também acabou de ter neném. Então a gente fica mandando foto de neném, fica dando risada. Ele é uma coisa pessoa muito querida.” Jorge, primeiro filho de João e Ary Mirelle, nasceu em janeiro. Já Tiê deu à luz sua terceira filha, Rosa, em dezembro de 2023. A cantora também é mãe de Amora, de 11 anos, e Liz, de 14.
Agora, em 2024, 10 anos após o lançamento de Tiê, além da já citada regravação de Gusttavo, a faixa ainda ganhou uma MTG assinada pelo DJ Luan Gomes.
Por contar com a voz de Tiê, a faixa é a única versão que a cantora recebe direitos autorais. Mas enquanto intérprete. Inicialmente, a cantora derrubou o remix das plataformas.
Ela explica que, para fazer MTGs, os DJs não pedem autorização para os autores originais. “Inclusive é uma questão para os artistas e para os direitos autorais. Muitos artistas entram em vários conflitos, ficam caçando a pessoa. E realmente subiram sem autorização”, diz.
“E ela tinha uma letra muito explícita. Tinha parte da minha voz e, depois tinha, assim…[uma letra] que eu não posso nem cantar. Era super proibida para menores. E aí quando eu ouvi, eu falei: ‘Putz, não vai rolar’,”, relembra.
Tiê afirma que é superaberta para que façam versões com suas músicas e que adora funk, mas por ter também um público infantil, além de três filhas, precisa prestar a atenção em algumas letras.
“Uma letra que não valoriza a mulher, uma letra que fale de agressão, não dá. A gente tem que prestar atenção e não consumir. O funk em si eu acho maravilhoso”, diz.
Tiê conta que entrou em contato com o DJ e autorizou o uso de sua voz sob a condição de que fosse retirada da música a parte pornográfica. “E aí para mim é ótimo, não tem problema. O problema era a letra que realmente não condiz com o que eu prego. Não é moralismo, mas não tem a ver.”
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O que é MTG? Sigla aparece nas músicas mais ouvidas do Brasil e levou Billie Eilish para o funk
“Não foi fácil fazer a versão’
Apesar de todo o sucesso de “A noite” ao longo dos anos, a música quase não saiu.
Quando Sérgio Affonso, presidente da gravadora Warner na época, propôs que a cantora fizesse uma versão de “La Notte”, Tiê não gostou da música.
“Eu não entendi direito a música. Então, eu fiquei meio: ‘Ah, será que eu faço?’. Não foi muito fácil assim, eu fiquei meio enroscada.”
Tiê durante show para mulheres vítimas de violência doméstica na Zona Leste. ‘A música tem esse lugar de colo’, disse a cantora.
Celso Tavares/g1
Foi então que o músico e produtor Adriano Cintra insistiu para que Tiê aceitasse a proposta de fazer a versão, sem ficar presa à tradução. “Essa música é número um na Itália. Vai que ela vira também, pode ser ótimo”, argumentou Adriano na época.
Tiê, então, sentou com Adriano e com o produtor André Whoong para escrever a letra. Já a contribuição de Rita Wainer foi feita através de um bloquinho de notas.
“Ela tinha um caderno de poesia e poemas que estava comigo. Então ela não estava nem presente, mas o caderno dela tava comigo e eu falei: ‘Rita, vou usar’. Então fui eu, a Rita via caderno, Adriano Cintra e o André Whoong, que hoje é meu parceiro”, explica Tiê.
A cantora atribui o sucesso da música a uma série de fatores. “Não é só estar na novela ou só a música. É uma soma de mil coisas.”
“Nesse caso, a música encaixou bem, a letra ficou muito profunda, a minha voz está bonita, o arranjo ficou bom, a novela foi bem, a Bruna [Marquezine, intérprete da personagem Mari, que ganhou a trilha sonora] foi muito bem na novela. Então foi uma soma de coisas, e aí estourou mesmo.”
É sobre separação ou saúde mental?
Tiê no clipe de “A Noite”, lançado em 2014
Reprodução/YouTube
O medo que cresce, o coração acelerado e o fato de não conseguir dormir são sentimentos que compõem os versos da canção, dando duas possibilidades para o contexto da faixa: uma separação amorosa ou a saúde mental.
Tiê explica que a obra é sobre as duas coisas. “Ela é uma música que fala, sim, sobre separação, e fala também de saúde mental, claro.”
E sobre a abertura da música, que diz que “palavras não bastam”, ela afirma ser algo “muito forte”.
“Porque é isso. As palavras têm uma força muito grande. Às vezes a gente não dá importância para essa força e fala umas palavras, umas merdas que a gente não precisava falar. E a palavra tem poder. E ao mesmo tempo, elas não bastam mesmo. A gente precisa de outras coisas.”

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