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Francis Ford Coppola fala sobre ‘Megalópolis’, falta de riscos em Hollywood e futuro do cinema

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‘Hollywood quer apenas fazer dinheiro para pagar dívidas’, diz diretor lendário de clássicos como ‘O poderoso chefão’ e ‘Apocalypse now’. Leia entrevista. Francis Ford Coppola explica por que pagou US$ 140 milhões para fazer ‘Megalópolis’
Demorou quase quatro décadas mas o lendário cineasta Francis Ford Coppola finalmente alcançou seu sonho de longa data ao lançar “Megalópolis”, épico futurista que mistura os Estados Unidos com o Império Romano que precisou autofinanciar — por estimados US$ 140 milhões.
Para divulgar o filme, que estreou nos cinemas brasileiros na quinta-feira (31), o diretor de clássicos como a trilogia “O poderoso chefão” e “Apocalypse now” (1979) esteve no país para divulgar o projeto.
“Um épico romano hoje tem que ser sobre os Estados Unidos, porque, depois da Segunda Guerra, todos os caminhos levam para os Estados Unidos”, afirmou o americano de 85 anos em entrevista ao g1. Assista ao vídeo acima.
“E, hoje, os Estados Unidos estão prestes a perder sua república e acabar com um rei, ou um ditador. Algo que parece que o mundo inteiro está fazendo.”
Na conversa, o cineasta falou sobre sua decisão de vender parte de suas vinícolas para bancar o filme, que começou a idealizar nos anos 1980, a aversão a riscos que fez com que nenhum estúdio aceitasse financiar a obra, conflitos durante gravações, a geração que “salvou” Hollywood e se a indústria ainda tem salvação.
“(Hoje) Hollywood é apenas (a mentalidade) de fazer dinheiro para pagar nossas dívidas. Mas algo melhor está chegando e o cinema de nossos netos será lindo e eu não consigo nem imaginar.”
g1 já viu: ‘Megalópolis’ é autoindulgente, teatral demais e uma experiência incrível
Por que Francis Ford Coppola gastou US$ 140 milhões do próprio bolso em ‘Megalópolis’?
Leia a íntegra da entrevista abaixo:
Francis Ford Coppola e Adam Driver durante as gravações de ‘Megalópolis’
Divulgação
G1 – Por que você decidiu que deveria financiar “Megalópolis”?
Francis Ford Coppola – Pela mesma razão de “Apocalypse Now”. Naqueles dias, eu tinha feito dois ‘O poderoso chefão’ e eles ganharam muito dinheiro. Eu ganhei muitos Oscars, mas, quando eu disse que queria fazer “Apocaypse Now”, eles disseram que não queriam.
Então, eu apenas fiz mesmo assim. Acabei devendo muito dinheiro. Os juros naquela época eram de 21%.
Eu era uma voz poderosa em Hollywood. Agora, eu sou um velho vovô e queria fazer ‘Megalópolis’ e ninguém queria.
Eles não acham que esse tipo de filme segue a fórmula. Sabe, especialmente com um grande orçamento, é preciso ter um super-herói que voe ou, basicamente, muitas colisões de carros e coisas que fazem parte da fórmula. Então, eu só disse que ia pegar emprestado e fazer eu mesmo.
G1 – Esse filme é uma fábula. Por que você acha que não fazem mais filmes desse jeito?
Francis Ford Coppola – Sabe, eu sempre pensei sobre isso. Quando eu comecei em Hollywood, os grandes sucessos eram “A noviça rebelde” (1965) e “Amor, sublime amor” (1961).
E, mesmo assim, depois, quando eu quis fazer um musical, eles disseram que não faziam mais musicais.
Daí eu quis fazer um velho oeste. Eu desenvolvi um velho oeste. E eles disseram: “Não fazemos (filmes de) velho oeste”.
Eles parecem ser muito mais preocupados com o que pensam que pode perder dinheiro, porque o trabalho principal deles, como chefes de estúdios, é garantir que podem pagar suas dívidas. E esse é um trabalho diferente de quem faz filmes.
Antigamente, (o fundador da 20th Century Fox) Darryl Zanuck e (o fundador da Warner Bros.) Jack Warner queriam fazer filmes que ganhariam Oscars. Ou seja, filmes maravilhosos.
E isso mudou. Acho que há uma ideia muito estreita, baseada provavelmente na ciência, algoritmos, do que um filme precisa ter para não perder dinheiro. O que significa não correr riscos.
Francis Ford Coppola, à esquerda, durante filmagens de ‘Apocalypse now’
Arquivo do Cinema da Academia
Para mim, riscos fazem parte da arte. Você não consegue mais fazer arte sem riscos. Assim como, eu já falei antes, não dá para fazer bebês sem sexo.
Risco é parte da arte. Pular no desconhecido prova que você é livre para fazer o que for necessário, o que precisamos fazer, como pessoas, nesse mundo.
G1 – Esse filme e “Apocalypse now” tiveram filmagens cheias de problemas. Alguém uma vez me disse que dificuldades geram ótima arte. Você concorda com essa ideia?
Francis Ford Coppola – Acho que não. O que acontece é que as pessoas, quer elas percebam ou não, foram ensinadas como um filme deve acontecer.
Mesmo agora, em filmes de super-heróis com orçamentos gigantescos, que custam centenas de milhões de dólares, ainda mais do que “Megalópolis”, há um procedimento. Você não vai a um dos diretores de arte sem falar antes com o designer da produção.
Ou seja, há uma hierarquia. Sempre foi assim. Quando você faz filmes, o que todos esperam — a equipe, os atores — o método.
Se você tenta um método um pouco diferente disso, eles acham que há algo errado. Às vezes eles não fazem. Outras, fazem deliberadamente de outra forma. Por isso, você acaba tendo problemas.
Mas a maioria dos problemas em qualquer atividade humana é a diferença entre a expectativa de todos pelo método e qual é o método que você quer.
Muitas vezes, em “Megalópolis”, eu falava: “Eu sou o único que sabe o que o diretor quer. Você não sabe”. Eles sabem o que os diretores de filmes de super-herói quer, mas não é o que eu quero.
Tive muitas discussões sobre os efeitos (visuais) nesse filme, porque eu queria que fossem igual aos de “Dracula (de Bram Stoker)”. Queria que fossem feito de forma prática. E eles diziam: “Mas conseguimos fazê-los melhor com tela verde”. E eu respondia: “Mas eu não quero melhor. Quero que o filme pareça feito à mão”.
Então, você tem conflitos quando os métodos que você usa são diferentes dos que todo mundo está acostumado.
G1 – Você queria fazer esse filme há tanto tempo. Você acha que ele ficaria muito diferente se tivesse conseguido fazer nos anos 1980, quando começou a escrever o roteiro?
Francis Ford Coppola – Eu comecei a fazer anotações sobre vários filmes para entender qual era o meu estilo, mas isso não era “Megalópolis”. Ele começou mesmo quando eu decidi que queria fazer um épico romano.
Mas um épico romano hoje tem que ser sobre os Estados Unidos, porque, depois da Segunda Guerra, todos os caminhos levam para os Estados Unidos. E, hoje, os Estados Unidos estão prestes a perder sua república e acabar com um rei, ou um ditador. Algo que parece que o mundo inteiro está fazendo.
O mundo parece que não aprende sobre sua história, porque só olhamos para a história recente. Somos mais velhos que 10 mil anos, que é o tempo da existência da História.
Havia muito acontecendo com humanos 50 mil anos atrás. Havia até matriarcados. E elas não eram parecidas com os patriarcados. As mulheres não davam ordens, mas colaboravam melhor com os homens.
Mulheres, por serem aquelas que geram vida, são muito boas líderes. Elas sabem as coisas importantes de verdade, como água, proteção contra animais selvagens. Elas são muito sensíveis na maneira como organizam a sociedade.
Íamos muito bem dessa forma até que alguém apareceu, em um cavalo, e disse: “eu sou rei e vocês são meus escravos”. Entramos, então, em 10 mil anos de “eu sou rei e você é meu escravo”, que é onde estamos agora.
“Megalópolis” volta para antes na natureza humana. Somos gênios. Somos todos uma só família. E não há nada que não sejamos capazes de resolver.
Francis Ford Coppola conversa com Marlon Brando durante filmagens de ‘O poderoso chefão’
Arquivo de Cinema da Academia
G1 – Você fez parte de uma geração de cineastas, com Steven Spielberg e Martin Scorsese, que são considerados como os salvadores de Hollywood na época. A indústria claramente mudou muito e passa por um momento delicado. O que você acha que pode salvar o cinema dessa vez?
Francis Ford Coppola – Não sei se salvamos Hollywood. Acho que fomos a primeira geração que conseguiu não só ver a grandeza de Hollywood — os grandes diretores como George Stevens, Lewis Milestone, William Wyler, John Huston, Orson Welles e John Frankenheimer.
Ao mesmo tempo, vimos os grandes japoneses, Kurosawa (Akira) e Ozu (Yasujiro), os italianos, (Federico) Fellini e 50 grandes outros, os franceses, Jean-Luc Godard e todo o pessoal do new age francês, os suecos e os dinamarqueses.
Tínhamos uma visão maior do cinema por causa da época. Víamos o cinema internacional e o de Hollywood. E nós aplicávamos o que aprendíamos em uma época em que Hollywood não sabia o que fazer em seguida. Era o fim de “A noviça rebelde”. Nós viemos e falamos: “Nós sabemos o que fazer”.
Acho que duas instituições hoje estão morrendo. O jornalismo e o sistema de estúdios. A boa notícia é que algo tão importante quanto o jornalismo, ou algum tipo de sistema de estúdios de cinema, vão renascer de alguma forma nova amanhã.
Não sei quando, ou como, mas tenho certeza que o jornalismo vai voltar de alguma forma inteligente. Porque hoje em dia são só fontes desconhecidas e clickbait.
E Hollywood é apenas (a mentalidade) de fazer dinheiro para pagar nossas dívidas. Mas algo melhor está chegando e o cinema de nossos netos será lindo e eu não consigo nem imaginar. Vai ser muito diferente.

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Madonna, Katy Perry, Bruno Mars… por que artistas pop escolheram o Brasil em 2024?

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Ano foi marcado por visitas ‘especiais’ de artistas para promover seus trabalhos. Rosé, Katy Perry, Bruno Mars, Madonna e The Weeknd vieram ao Brasil para ‘ocasiões especiais’ em 2024
Reprodução
A visita surpresa de Beyoncé à Bahia, no fim de 2023, foi quase um presságio sobre o ano que estava por vir. Em 2024, o Brasil foi um destino visado por muitos artistas pop, que escolheram o país para vindas especiais – e acontecimentos que geralmente são reservados ao hemisfério norte.
Afinal, só neste ano:
Madonna fez o maior show da sua carreira na Praia de Copacabana;
The Weeknd fez uma apresentação única e exclusiva, com músicas inéditas, em São Paulo;
Katy Perry escolheu lançar um disco na data de seu show no Rock in Rio;
Bruno Mars fez uma longa passagem pelo Brasil, com direito a aniversário, ida a jogo de futebol e posts especiais;
Rosé, do Blackpink, veio ao Rio de Janeiro para encontrar “Bruninho”, no dia do lançamento da parceria “APT”.
Não é exagero dizer que, em 2024, o “Come to Brazil” foi levado à sério. Artistas entenderam o Brasil não só como um bom local para vender shows, mas como uma das melhores ferramentas de promoção para os seus trabalhos. Mas afinal, o que tem atraído os grandes nomes pop ao Brasil?
O país do engajamento
Trazer um show ou uma oportunidade exclusiva para cá é uma ótima notícia para os fãs brasileiros. Mas se engana quem pensa que a vantagem é somente nossa.
Em tempos de redes sociais, conquistar o Brasil significa ganhar engajamento massivo. Neste ano, quem percebeu isso foi o ator Vincent Martella (“Todo Mundo Odeia o Chris”), que ganhou milhões de seguidores após usar uma camiseta que dizia “Eu sou famoso no Brasil”. O americano, que não é tão famoso nos EUA, arrematou “publis” para a Fanta e o Burger King brasileiro, foi tietado ao vir para o país e deu entrevistas para vários veículos nacionais.
Vincent Martella
Reprodução/Instagram
Foi também em 2024 que a influenciadora americana Courtney Henning Novak viralizou após ler Machado de Assis. Além de ganhar milhares de seguidores, ela visitou o país e publicou vídeos lendo Clarice Lispector, Mário de Andrade, Guimarães Rosa, e até assistindo à novela “Avenida Brasil”. Seus vídeos sobre cultura brasileira têm mais visualizações que os conteúdos sobre outros assuntos.
A prova definitiva da força do engajamento – e da cultura de fãs – no Brasil foi a queda do X. “O fandom de celebridades no mundo todo está em desordem”, escreveu a Associated Press. Já a NBC News disse que “a espinha dorsal da cultura de fãs no Twitter foi quase totalmente silenciada”.
‘Auxílio emergencial’ de artistas internacionais?
Katy Perry levanta bandeira do Brasil
Reprodução/Instagram
Quando Katy Perry marcou seu show no Rock in Rio para a mesma data que lançaria o álbum “143”, ela não sabia que estaria em um momento turbulento na carreira. O que provavelmente imaginava era que aqui encontraria fãs prontos para apoiá-la, tanto no palco quanto fora dele, independentemente de como estivesse sua imagem. Deu certo.
“Katy fez uma apresentação triunfante diante de um mar de pessoas extasiadas no Rock in Rio na noite do lançamento de ‘143’. A multidão cantou junto em alto volume até mesmo o criticado single ‘Woman’s World’”, apontou o site americano especializado em música Pitchfork.
Essa recepção positiva poderia ter acontecido em outros lugares, mas, nesses casos, o Brasil é quase sempre garantia de sucesso. Não à toa, na internet, o país foi apelidado de “auxílio emergencial de artistas internacionais”.
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Mas por que estamos de braços abertos para tantos artistas gringos (até aqueles que não estão em alta)? Para a professora Aianne Amado, doutoranda em Ciências da Comunicação pela USP e especializada em estudar os fãs brasileiros, há uma explicação histórica.
Ela lembra que os brasileiros têm contato com a noção de “estrangeiro” desde o Brasil colônia – e que a hierarquia social dessa época, que valorizava tudo “que vem de fora”, deixa marcas até hoje.
“A família real veio morar aqui, então nós nos formamos a partir de uma economia dependente da colônia. A gente já aprende a olhar para a colônia como o referencial econômico, de cultura e político”, conta. “Os costumes de Portugal, as tradições, tudo isso fica acima. E aí a gente tende a ir em busca desse capital social”.
Para ela, esse sentimento se intensificou após a Segunda Guerra Mundial, com a influência da cultura americana sobre o resto do mundo.
“Hoje, a gente tende a preferir produtos internacionais porque representam uma cultura que aprendemos que é a ideal. A cultura brasileira é riquíssima e subvalorizada no nosso país, enquanto muita gente acha que a cultura externa é melhor por causa de toda essa construção histórica. A gente tende a achar que o que vem de fora é melhor, que o filme internacional é melhor que o filme brasileiro”.
Combine isso à falta de privilégios que o país costuma ter, frequentemente excluído de turnês mundiais e grandes eventos culturais. Quando o Brasil finalmente conquista um lugar na agenda de um admirado artista, trata-se de uma oportunidade de ouro para os fãs, que “competem” para fazer cada vinda valer a pena. E quem ganha é o ídolo.
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A cultura dos fandoms dialoga com a cultura brasileira, e os fãs têm um comportamento similar às torcidas de futebol: são práticas enraizadas na paixão, que movimentam a economia.
Segundo um estudo deste ano da consultoria de marketing Monks, em parceria com o instituto de pesquisa comportamental Floatvibes, 38% dos brasileiros se dizem fãs de alguém. Eles gastam, em média, R$ 199,41 por mês com produtos ou experiências relacionadas aos seus ídolos (ingressos, álbuns, itens de merchandising, entre outros).
Entre os fãs questionados, 37% afirmam acreditar que a dedicação ao ídolo pode ser medida pela quantidade de dinheiro gasto para alimentar a relação com ele.
Tudo isso se converte em um retorno valioso para os artistas. “Mercadologicamente, é óbvio que faz muito sentido porque é uma publicidade ‘gratuita’ para eles. O boca a boca do brasileiro faz muito sentido. E comercialmente também, no sentido de vendas, de circulação, de engajamento digital”, acrescenta Aianne.
Bruno Mars
Reprodução/Instagram
Jeitinho brasileiro
No filme “Bohemian Rhapsody”, baseado na história real do Queen, Freddie Mercury mostra à sua namorada, Mary, o show da banda no Rock in Rio de 1985. Ele aponta para a televisão e diz: “Eu não sabia se entendiam uma palavra do que eu dizia. De repente… Todos cantando. Milhares deles”.
A cena, inspirada em relatos verdadeiros da banda, relembra um traço essencial do nosso país. Vários motivos mercadológicos atraem artistas ao Brasil, mas um “jeitinho brasileiro” marca os shows feitos aqui. Quando milhares de pessoas de outro país entoam cada verso de cada música, isso serve como uma “consolidação” do tamanho do artista – para ele mesmo e para o mundo.
“Vocês sempre estiveram lá por mim. Aquela bandeira, aquela bandeira verde e amarela, eu a vejo em todos os lugares. Eu a sinto em meu coração”, disse Madonna no show em Copacabana.
A forma que o público brasileiro trata os shows – com calor e entusiasmo – é, por exemplo, um dos fatores que transformou o show da Madonna em um misto de “evento de Copa do Mundo, carnaval de rua e celebração de Ano Novo combinados”, como descreveu o New York Times. Afinal, trata-se de um público habituado às festas com grandes multidões (não à toa, 4 dos 10 shows com o maior público na história aconteceram no Brasil).
Fã de Madonna, Ernesto Magalhães se veste de ‘Material Girl’ para show em Copacabana
Thaís Espírito Santo/g1 Rio
Aianne diz que não sabe quantificar, “em termos científicos”, por que há tanto calor nas plateias brasileiras. “Eu acho que é uma característica do nosso povo. O calor, a alegria, o abraço brasileiro é diferente de outros lugares. Já tentei procurar em antropólogos, sociólogos, mas quantificar isso é uma dificuldade que eu ainda tenho”.
“O brasileiro sabe que tem um diferencial e gosta de mostrar isso. Temos orgulho em receber o titulo de ‘melhores fãs do mundo’ e fazemos de tudo para mantê-lo. É uma validação importantíssima para nós”, completa.
No fim das contas, vir ao Brasil rende engajamento, mídia espontânea e fortalece a relação fã-artista. Mas, sobretudo, cria momentos inesquecíveis: um festival como o Rock in Rio, por exemplo, lotado de fãs com a letra na ponta da língua, é difícil de replicar. Tem coisa que só tem no Brasil.

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‘Ainda estou aqui’ estreia com aviso contra ditaduras: ‘democracia é falha, mas é o melhor que temos’, diz Fernanda Torres

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Estreia desta quinta-feira (7) é a melhor chance do Brasil em receber indicação a Oscar em 20 anos: ‘Só não quero que a pessoa ache que, se não vier o prêmio, o filme perdeu’, afirma atriz. Fernanda Torres e Selton Mello falam sobre ‘Ainda estou aqui’
“Ainda estou aqui” finalmente estreia nesta quinta-feira (7) nos cinemas brasileiros – e é difícil lembrar de um filme nacional que tenha gerado tanta expectativa nos últimos anos.
Mas não é difícil de entender. A adaptação do livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva é:
a maior chance do país receber mais uma indicação ao Oscar de melhor filme internacional desde “Central do Brasil”, em 1999;
o reencontro – mesmo que breve – da grande dupla desse clássico, o diretor Walter Salles e a atriz Fernanda Montenegro;
e um aviso sobre as atrações e os perigos de governos autoritários, segundo a protagonista, Fernanda Torres. Assista ao vídeo acima.
Para a atriz de 59 anos, gerações mais jovens não se lembram de como era a ditadura militar. De fato, se for considerado que o regime acabou em 1985, dos millennials em diante ninguém cresceu com a repressão.
“A democracia também não conseguiu resolver a desigualdade, o ensino público, a saúde, a segurança. Eu acho que teve toda uma geração que veio que uma hora começou a pensar: ‘será que o problema não é a democracia?'”, diz Torres em entrevista ao g1.
“Eu tenho certeza que esse cara, que cresceu em um país democrático, com todos os seus problemas, eu digo para ele: ‘Eu juro para você que a democracia é falha, mas é o melhor que temos’.”
“E eu acho que esse filme ajuda a essas pessoas a entenderem o que é viver em um país arbitrário, em um país no qual o governo faz atos tão injustos quanto matar o seu pai, levar sua irmã de 15 anos para um prisão e torturar pessoas.”
Selton Mello, seu principal parceiro de cena, concorda. “É um filme necessário”, afirma o ator.
“Eu não preciso ir muito longe, não. Eu tenho 51 anos. Eu cresci em um ambiente familiar em que eu não tive essa percepção. O meu pai chamava de ‘revolução’. E aí, ator, adulto, é que eu fui entender o que era aquilo. Inclusive para dizer: ‘Pai, não foi uma revolução’.”
G1 já viu: ‘Ainda estou aqui’ faz de história pessoal inspiradora um sensível alerta contra o fascismo
Fernanda Torres em cena de ‘Ainda estou aqui’
Divulgação
Por Eunice
Premiado no Festival de Veneza, o roteiro de Murilo Hauser e Heitor Lorega se baseia no livro de memórias para contar a história da mãe do escritor, Eunice Paiva.
Com a interpretação de Torres, o público acompanha a transformação da protagonista – uma dona de casa dos anos 1970, mãe de cinco filhos – em uma das maiores ativistas dos Direitos Humanos do país após o assassinato do marido, o ex-deputado Rubens Paiva (Mello), pela ditadura militar.
A atuação elogiada lidera uma obra que tem recebido diversos elogios da crítica internacional. O suficiente para colocá-lo entre os favoritos para receber uma indicação ao Oscar de melhor filme internacional e até sonhar com outras categorias.
Publicações especializadas, como a revista “Variety”, colocam Salles, Torres e os roteiristas entre possíveis surpresas.
“Eu só não quero que a pessoa ache que se não vier o prêmio, que o filme perdeu” fala Torres, que prefere ter cautela com a empolgação.
Selton Mello e Fernanda Torres em cena de ‘Ainda estou aqui’
Divulgação
“Ele tem que entender que um filme brasileiro, com o que está acontecendo, já é um acontecimento.”
Para ela, por mais que premiações ajudem a popularizar o filme com o público brasileiro – há quem fale até em uma correção da injustiça quando sua mãe perdeu em 1999 –, isso acontece sem a necessidade da estatueta.
“Para isso não precisa o prêmio. Isso já está acontecendo. Pessoas que não falam de cinema – porque o Brasil vive um processo de amor e ódio com o próprio cinema, né? Tem levas de amor profundo e levas de… Isso eu já sinto com o cara da esquina. Ele sabe do filme, né?”
O primeiro passo o público conhece em 17 de dezembro, quando a Academia de Cinema de Hollywood divulga uma pré-lista. A última vez em que o Brasil conseguiu chegar a essa etapa foi em 2008, com “O ano em que meus pais saíram de férias”.
A lista final, com os indicados, é anunciada um mês depois, em 17 de dezembro de 2025. A cerimônia do Oscar acontece em 2 de março.
Orgulho nacional
Para Mello, “Ainda estou aqui” faz parte de uma onda de grandes produções nacionais, que recuperam uma alegria pelo cinema brasileiro.
“Só de resgatar, ou de ter esse orgulho do nosso cinema, meu Deus, isso é maravilhoso. Em um ano riquíssimo. Filmes premiados”, diz ele, empolgado.
“Vou citar alguns: ‘Baby’, do Marcelo Caetano, na Semana da Crítica em Cannes, o Karim Aïnouz, na competição oficial, ‘Malu’, filme do Pedro Freire, em Sundance, Juliana Rojas ganhou prêmio em Berlim, Mari Brennand, em Veneza, Kleber (Mendonça Filho) filmando, indo para o ano que vem.”
No fim, lembra até de fazer uma breve (e necessária autopropaganda).
“Uma safra maravilhosa, e que nós fazemos parte dela. E vem ‘Auto da Compadecida 2’ aí, que ainda é grande, comercial, brasileiro. Um acontecimento.”
A continuação, estrelada mais uma vez por ele e Matheus Nachtergaele, tem estreia prevista para 25 de dezembro.
Guilherme Silveira, Selton Mello, Cora Ramalho e Fernanda Torres em cena de ‘Ainda Estou Aqui’
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Juçara Marçal, Arnaldo Antunes, Tulipa Ruiz e Romulo Fróes compõem sobre a Avenida Paulista para trilha de teatro

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♫ NOTÍCIA
♪ Uma das principais vias da cidade de São Paulo (SP), a Avenida Paulista já inspirou compositores como Eduardo Gudin e J.C. Costa Neto, parceiros na criação de Paulista (1990), música lançada na voz da cantora Vânia Bastos. O cancioneiro sobre a avenida será ampliado a partir de 2025.
A convite do encenador Felipe Hirsch, nada menos do que 15 compositores nascidos e/ou residentes em São Paulo – Alzira E, Arnaldo Antunes, DJ K, Jéssica Caitano, Juçara Marçal (foto), Kiko Dinucci, Maria Beraldo, Maria Esmeralda, Maurício Pereira, Negro Leo, Nuno Ramos, Rodrigo Campos, Rodrigo Ogi, Romulo Fróes e Tulipa Ruiz – compuseram músicas sobre a via para a trilha sonora do próximo espetáculo de teatro dirigido por Hirsch, Avenida Paulista – Da Consolação ao Paraíso.
A estreia da peça está prevista para fevereiro no Teatro do Sesi de São Paulo. Arthur de Faria assina a trilha sonora do espetáculo. A direção musical é de Maria Beraldo, também compositora de tema inédito incluído na trilha.

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