Connect with us

Coisas do Mato

Em um ano, Polícia Ambiental contabiliza mais de R$ 4,5 milhões em multas por danos à flora na região de Presidente Prudente

Published

on

Maior degradação no Oeste Paulista nos últimos anos foi constatada em Sandovalina (SP) durante monitoramento de imagens de satélite realizado pela corporação e freada em fiscalização. Polícia Ambiental realiza atividades diversas para mudança de comportamento em relação à natureza e a suas formas de vida
Stephanie Fonseca/g1
Após anos sem registrar desmatamentos de grandes áreas, o Oeste Paulista voltou à lista da Fundação SOS Mata Atlântica com degradação de vegetação em quase 36 hectares, que foi detectada em Sandovalina (SP). Inclusive, este dano à flora está entre os 209 registros de infrações florestais registradas pela Polícia Militar Ambiental no ano passado na região de Presidente Prudente (SP).
De acordo com dados da corporação fornecidos ao g1, entre outubro de 2020 e outubro de 2021 – período do levantamento e das análises da Fundação SOS Mata Atlântica –, foram 901 fiscalizações em áreas rurais da região, das quais renderam 209 autos de infrações ambientais. No total, houve o registro de R$ 4.523.710,00 em multas.
Foram considerados os atendimentos realizados na área da 3ª Companhia da Polícia Militar Ambiental, com sede em Presidente Prudente, que atua em 53 municípios da região oeste do Estado de São Paulo.
Imagens de satélite mostram área desmatada em Sandovalina (SP)
SOS Mata Atlântica
Os autos de infrações ambientais aplicados englobam os seguintes tipos de danos contra a flora:
Corte de árvore em Área de Preservação Permanente
Destruir ou danificar florestas em Área de Preservação Permanente
Destruir ou danificar florestas em áreas de Objeto Especial Preservação
Destruir, desmatar, danificar ou explorar floresta em área de Reserva Legal
Explorar, danificar, destruir árvore ou floresta em Área Comum
Fazer uso de fogo em Área Agropastoril
Impedir ou dificultar regeneração em Unidade de Conservação, Área de Preservação Permanente ou Reserva Legal
Ao g1, o capitão Júlio César Cacciari de Moura, que é o comandante da 3ª Companhia da Polícia Militar Ambiental, com sede em Presidente Prudente, comentou que o número de fiscalizações é considerado positivo.
“Monitorar e fiscalizar é um papel, é um dever da Polícia Militar Ambiental e ela, parceira e amiga do produtor rural, busca que essa fiscalização não seja só de cunho ambiental, mas que também leve proteção e sensação de segurança ao produtor rural”, salientou.
Capitão Júlio César Cacciari de Moura, comandante da 3ª Companhia da Polícia Militar Ambiental, com sede em Presidente Prudente (SP)
Stephanie Fonseca/g1
Essas propriedades rurais fiscalizadas inseridas fora do espaço urbano se enquadram em áreas menores, como chácaras, a uma fazenda de grande proporção.
“O objetivo dessas fiscalizações é verificar as conformidades ambientais, verificar se a propriedade cumpre o que hoje está estabelecido nas regras de uso e bom uso do espaço rural ou se ela vem a infringir qualquer uma das normativas relativas a cuidado, bem-estar e toda a proteção ambiental que existe hoje no país”, explicou o oficial ao g1.
As 901 fiscalizações resultaram em 209 autos de infrações ambientais registrados. “É um número equilibrado quando comparado com periodicidades anteriores”, disse o capitão.
O oficial explicou que estes autos incluem desde pequenas infrações que o proprietário rural possa cometer de supressão de vegetação – que por vezes ele poderia conseguir essa supressão através de um processo de licenciamento – até grandes danos.
“Proprietários rurais ou empresas adquirem propriedades rurais e, por vezes, buscam ali abrir novas áreas para espaços agrícolas, e na verdade esses espaços já têm uma proteção especial, e hoje, através do sistema de monitoramento, nós conseguimos identificar e frear esse tipo de crime, esse tipo de atividade lesiva, conseguindo fazer um controle muito bom e muito bem organizado do espaço aqui da região de Presidente Prudente”, afirmou.
LEIA TAMBÉM:
Quase R$ 560 mil em multas por desmatamento são aplicadas em desfavor de fazendeiro e empresas
Mesmo com baixo índice de desmatamento na Mata Atlântica, Oeste Paulista tem pouca vegetação nativa e precisa restaurar florestas
Fiscalizações
As fiscalizações relativas à flora na região de Presidente Prudente ocorrem, principalmente, de duas formas, segundo o capitão: através de denúncias diretas da população, que pode entrar em contato pelo telefone 3906-9200, e também por monitoramento através de satélites, feito com comparação de imagens.
Monitoramento e análise de imagens de satélite identificaram e frearam desmatamento em Sandovalina (SP)
Stephanie Fonseca/g1
Esse trabalho de análise de dados por satélites é recente. No primeiro ano, em 2020, foi analisada uma área de 19.918 km². Durante o ano seguinte, a área monitorada foi de 8.123 km². Já de janeiro a junho de 2022, foram 4.346 km² avaliados pela corporação.
“A região de Presidente Prudente, dividida em quadrantes de dois por dois quilômetros, mais de cinco mil quadrantes, nós conseguimos comparar imagens praticamente diariamente, então, qualquer alteração de cobertura vegetal é detectada”, contou ao g1 o capitão Cacciari.
Segundo explicou o oficial, após alguma constatação de dano, a corporação verifica se é condizente ou não. “Pode ser, de repente, uma supressão de eucalipto, mas pra ter essa certeza e verificar se isso foi feito em conformidade com a legislação posta, nós necessitamos que uma equipe vá até o local”, acrescentou.
“Então, observando essa alteração de cobertura vegetal, uma equipe vai até o local, verifica se essa atividade é uma atividade legal ou licenciada, autorizada, e caso seja, será feita uma vistoria ambiental, informado isso para o proprietário rural, e caso não seja, serão adotadas as medidas correlatas, seja se ocorreu crime, infração administrativa e a devida responsabilização”, descreveu.
Monitoramento e análise de imagens de satélite identificaram e frearam desmatamento em Sandovalina (SP)
Stephanie Fonseca/g1
Contudo, têm também as fiscalizações “indiretas”, que inclusive cuidam de outras regiões e os danos sofridos por elas.
“Nós conseguimos, através de todo um sistema de controle, por exemplo, de extração de madeira, que entra dentro do Estado de São Paulo, realizar fiscalizações que por vezes combate o desmatamento em outras áreas. Seria uma fiscalização praticamente indireta”, esclareceu.
O capitão contou ao g1 que as equipes da Polícia Ambiental no Oeste Paulista, em fiscalizações rotineiras, obtiveram êxito em apreender madeira e caminhão de transporte de madeira oriundos da região amazônica do país.
Ainda segundo reforçou o oficial, as madeireiras da região também são controladas e fiscalizadas. “Nosso objetivo é fiscalizar e levar pra população uma segurança daquele produto que ela compra, que tem uma origem lícita”, afirmou.
Multas de quase R$ 560 mil por desmatamento foram aplicadas em Sandovalina (SP)
Polícia Ambiental
Sandovalina e quase R$ 600 mil em multas
E foi a Seção Técnica e de Monitoramento da 3ª Companhia da Polícia Militar Ambiental que constatou o desmatamento de fragmento florestal de maior área da região de Presidente Prudente nos últimos anos. Em 21 de setembro de 2021, após receber imagens de satélite, uma equipe foi até uma fazenda, constatou as irregularidades e freou a ação.
São elas:
Área degradada de 1,3045 hectare, sendo lavrado um auto de infração ambiental contra o fazendeiro, no valor de R$ 6.522,50, por dificultar regeneração natural de demais formas de vegetação em Área de Preservação Permanente (APP)
Desmatamento de 33,5429 hectares de vegetação nativa em estágio inicial em área objeto de especial preservação, sendo elaborados três autos de infração ambiental no valor de R$ 184.485,95 cada, sendo dois em desfavor das empresas que realizavam o desmatamento e um ao proprietário da fazenda.
Os quatro autos lavrados totalizaram R$ 559.980,35.
Multas de quase R$ 560 mil por desmatamento foram aplicadas em Sandovalina (SP)
Polícia Ambiental
“Em Sandovalina, tivemos uma área desmatada de proporção significativa e que, pelo satélite, não só foi detectada como também foi freada a ação, pois eles pretendiam desmatar uma área bem maior. Então, a importância desse monitoramento é gigantesca”, revelou ao g1.
Sobre os danos causados, o oficial ainda ressaltou que “recompor áreas é tarefa difícil, é tarefa árdua e que leva anos, então, é muito importante monitorar, fiscalizar e frear as atividades que são dessa natureza, que causam grandes impactos e grandes danos a toda a população que vive na região de Presidente Prudente”.
“O cidadão por vezes adquire uma área rural, uma propriedade, e possui espaços utilizáveis e espaços a serem preservados. Quando uma vegetação está formada já naquele espaço ali, pra qualquer intervenção pra atividade econômica, atividade agrícola, necessita de uma série de autorizações. Porém, algumas pessoas buscam adquirir uma propriedade rural num preço mais em conta e depois, cometendo esse delito, ter uma propriedade altamente funcional, que tem um espaço produtivo alto. Então, ali tudo indica que foi esse o caminhar”, observou o capitão.
Multas de quase R$ 560 mil por desmatamento foram aplicadas em Sandovalina (SP)
Polícia Ambiental
E o processo?
Conforme atualizou ao g1 o capitão Júlio César Cacciari de Moura, o processo referente à degradação em Sandovalina segue em andamento e está em fase de recursos.
Segundo o oficial, uma situação “emblemática” ocorreu em relação ao fazendeiro, que faleceu. Neste caso, provavelmente, para os herdeiros ficará a recuperação florestal.
Contudo, as multas para as empresas autuadas continuam. Elas são as proprietárias das máquinas que realizaram o serviço. De acordo com o oficial, a lei 9.605 e o decreto federal 6.514/2008, decreto administrativo que cuida do assunto, dizem que as penas incidem também em quem concorre para a prática do delito.
É um processo eletrônico da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo.
Em nota ao g1, a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sima), por meio da Coordenadoria de Fiscalização e Biodiversidade, informou que, dos quatro processos informados sobre a situação em Sandovalina, dois deles aguardam análise de recurso em segunda instância pela Comissão Especial de Julgamento, que é composta pela própria secretaria e pela Polícia Militar Ambiental, enquanto os demais aguardam realização de atendimento ambiental para convalidação das penalidades impostas.
“Após a conclusão das etapas descritas, os responsáveis serão intimados a regularizar os danos ambientais, onde será exigida a assinatura de Termos de Compromisso visando a recuperação das áreas danificadas, bem como o pagamento das multas impostas”, esclareceu a pasta estadual ao g1.
Ainda foi ressaltado pela Sima que os autuados tiveram seus maquinários apreendidos e áreas embargadas, e não têm permissão de uso até a regularização dos processos.
“Caso os mesmos não adotem as medidas necessárias para regularização, os valores referentes às multas serão cadastrados no Sistema de Dívida Ativa da Procuradoria-Geral do Estado, além do ingresso de ação de execução, visando adoção de medidas para recuperação das áreas”, finalizou a nota.
O g1 não teve acesso às identidades dos envolvidos para qualquer posicionamento.
Multas de quase R$ 560 mil por desmatamento foram aplicadas em Sandovalina (SP)
Polícia Ambiental
Serviço
Aquele que deseja fazer uma supressão, por vezes de árvores isoladas, pode acessar o sistema Via Rápida, da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), e conseguir a autorização para atividade.
Caso seja uma área de vegetação maior, o interessado deve buscar a Cetesb para verificar as possibilidades da atividade e como ela vai executar.
A Polícia Militar Ambiental também pode ser acionada para orientação sobre como proceder.
Monitoramento e análise de imagens de satélite identificaram e frearam desmatamento em Sandovalina (SP)
Stephanie Fonseca/g1
VÍDEOS: Tudo sobre a região de Presidente Prudente
Initial plugin text
Veja mais notícias em g1 Presidente Prudente e Região.

Continue Reading
Click to comment

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Coisas do Mato

Centenária árvore de Florianópolis citada no hino do município não é originária do Brasil, diz pesquisa

Published

on

By

Figueira da Praça XV é um dos principais cartões-postais da Capital de Santa Catarina. Ela foi identificada por pesquisadores da UFSC como sendo da espécie Ficus microcarpa. Árvore da Praça XV passa por processo de sequenciamento genético para descobrir origem
Tiago Ghizoni/NSC
A centenária figueira da Praça XV de Novembro, um dos cartões-postais de Florianópolis, localizada no Centro da cidade e citada inclusive no hino do município, não é originária do Brasil.
Por meio de sequenciamento genético, pesquisadores do laboratório de genética vegetal da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) descobriram que a árvore, na verdade, é natural de uma região entre Ásia tropical e Austrália. Ela foi identificada como sendo da espécie Ficus microcarpa.
✅Clique e siga o canal do g1 SC no WhatsApp
O professor de biotecnologia Valdir Stefenon, que conduziu o estudo, afirma que a descoberta resgata parte da história da cidade.
“Entendo que essa pesquisa revela uma importante face da ciência, ainda pouco conhecida, que é sua ligação com a história e a cultura”, disse.
Tema de lendas contadas há gerações pelos moradores de Florianópolis, a figueira foi plantada por volta de 1870 na área que atualmente abriga a escadaria da Catedral, também no centro da cidade. Cerca de 20 anos depois, em 1891, ela foi transplantada para a praça e desde então serviu de sombra aos viajantes, além de palco para festividades.  
Leia também:
Projeto cataloga Imbuias gigantes, espécie símbolo em risco de extinção
Árvores de ‘espécies exóticas invasoras’ com proibição de plantio em SC
Árvore da Praça XV em Florianópolis
Tiago Ghizoni/NSC
Como foi feita a pesquisa
Para a descoberta, os pesquisadores coletaram partes pequenas da árvore quem contêm genomas de cloroplastos. A substância pode ser encontrada, por exemplo, nas folhas de plantas. A partir disso, o material foi colocado em um equipamento de alta tecnologia que identificou e mostrou o DNA da figueira da Praça XV.
Os pesquisadores, então, puderam comparar os dados da árvore da Capital com os de outras milhares espécies registradas em um banco de dados mundial.
“O DNA é sequenciado e cada uma das milhares de bases que o compõem são identificadas em fragmentos de tamanho variados. Esses fragmentos são, então, ordenados, como se estivéssemos montando um quebra-cabeças. Nesta etapa, o genoma nuclear, o genoma do cloroplasto e o genoma das mitocôndrias são separados em análises de bioinformática”, explica o professor.
Na planta, cada um desses genomas tem sua própria função:
Nuclear: principal deles. Encontrado em todas as suas células.
Cloroplasto: responsável pela cor verde e pela fotossíntese, processo pelo qual a planta produz seu próprio alimento. Está nas folhas.
Mitocôndria: estrutura da célula que transforma em energia o açúcar que a planta produz.
Sequenciamento genético da figueira
Caroline Borges/g1
Árvore será clonada
Além do trabalho de sequenciamento genético, os pesquisadores também desenvolvem uma pesquisa para clonagem da árvore. Usando filamentos mais novos da árvore, o processo vai ajudar a perpetuar as características genéticas da atual figueira.
Segundo Stefenon, os primeiros resultados são positivos:
“A clonagem de espécies arbóreas em laboratório é um processo complexo até o momento de se estabelecer os protocolos de trabalho. Por enquanto, conseguimos estabelecer dois clones no laboratório, os quais ainda estão pequenos”, revela.
Árvore da Praça 15 em Florianópolis
Tiago Ghizoni
Ações que envolvem diagnósticos fitossanitário e nutrição, por exemplo, também estão sendo realizadas para preservar a figueira. A previsão é que elas sejam concluídas no primeiro semestre deste ano.
A figueira, segundo o professor, tende a sofrer com a poluição dos carros e a menor interação com outras plantas e animais, por estar em um ambiente bastante urbanizado.
“Apesar disso, ela está bem e, com os tratamentos que foram realizados, ela tende a permanecer bela e imponente por muitos anos na Praça XV”, avalia.
✅Clique e siga o canal do g1 SC no WhatsApp
VÍDEOS: mais assistidos do g1 SC nos últimos 7 dias
Veja mais notícias do estado no g1 SC

Continue Reading

Coisas do Mato

Marco temporal sobre terras indígenas: entenda o que dizia a tese derrubada pelo STF

Published

on

By

Julgamento começou em 2021, após recurso da Funai, e foi retomado em 21 de setembro de 2023. Dispositivo previa que indígenas poderiam reivindicar somente terras ocupadas por eles antes da Constituição de 1988, desconsiderando grupos já expulsos. Indígenas comemoram derrubada do marco temporal em Brasília
O Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou nesta quarta-feira (20), por 9 votos a 2, a aplicação da tese do marco temporal na demarcação de terras indígenas. A discussão colocou em lados opostos ruralistas e povos originários, que saíram vitoriosos na disputa.
O dispositivo previa que só poderiam ser demarcadas terras que já estavam ocupadas por indígenas em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição. Esse entendimento deriva de uma interpretação literal do artigo 231 da Constituição, que diz:
“São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.
A análise no STF começou em 26 de agosto de 2021, a partir de um recurso apresentado Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) contra o marco temporal. Nesta quarta, a pauta voltou ao plenário da Corte. O voto do ministro Luiz Fux consolidou a corrente segundo a qual o dispositivo fere a Constituição.
A demarcação de terras indígenas é um direito garantido pela Constituição Federal de 1988, que estabelece aos indígenas o chamado “direito originário” sobre as suas terras ancestrais. Isso quer dizer que eles são considerados, por lei, os primeiros e naturais donos do território, sendo obrigação da União demarcar todas as terras inicialmente ocupadas por esses povos.
👉 Esta reportagem abordará os seguintes assuntos:
Quem defendia e quem era contra o marco temporal
O impacto que teria para indígenas
Por que o caso foi parar no STF
Como votaram os ministros
Marco temporal no Congresso
STF retoma julgamento sobre marco temporal das terras indígenas
Carlos Moura/SCO/STF
1. Quem era contra e quem defendia a tese
❌ Indígenas eram contra o marco temporal. Eles afirmavam que a posse histórica de uma terra não necessariamente está vinculada ao fato de um povo originário ter ocupado determinada região antes de 5 de outubro de 1988. Segundo esse argumento, muitas comunidades são nômades, e outras tantas foram retiradas de suas terras pela ditadura militar.
❌ Para a organização não governamental (ONU) Instituto Socioambiental (ISA), a tese do marco temporal vinha sendo utilizada pelo governo Bolsonaro para travar demarcações e foi incluída em propostas legislativas anti-indígenas. Defensores da causa dos povos originários temiam que demarcações de terras já feitas fossem revogadas caso o STF validasse o dispositivo.
✔️Já proprietários rurais argumentavam que havia necessidade de se garantir segurança jurídica com relação ao tema e apontavam o risco de desapropriações caso a tese fosse derrubada.
✔️ Assim como os ruralistas, o ex-presidente Jair Bolsonaro era favorável à tese do marco temporal.
2. O impacto que poderia ter para indígenas
Análise: Os impactos socioambientais do Marco Temporal
Se a tese do marco temporal fosse aceita pelo STF, indígenas poderiam ser expulsos de terras ocupadas por eles, caso não comprovassem que estavam lá na data da promulgação da Constituição de 1988 e sem que fossem considerados os povos que já foram expulsos ou forçados a sair de seus locais de origem. Processos de demarcação de terras indígenas históricos, que se arrastavam por anos, poderiam ser suspensos.
O marco temporal também facilitaria que áreas que não deveriam ter titularidade, por pertencerem aos indígenas, protegendo física e culturalmente povos originários, pudessem ser privatizadas e comercializadas. A hipótese da comercialização respondia ao interesse do setor ruralista.
3. Por que o caso foi parar no STF

Veja, abaixo, a cronologia do julgamento:
Em 2013, o TRF-4 aceitou a tese do marco temporal ao conceder ao Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina a reintegração de posse de uma área que é parte da Reserva Biológica do Sassafrás, onde fica a Terra Indígena Ibirama LaKlãnõ. Na região, vivem os povos xokleng, guarani e kaingang.
A decisão do TRF-4 mantinha entendimento de 2009, de outra decisão da Justiça Federal em Santa Catarina.
Em 26 de agosto de 2021, o STF iniciou o julgamento de um recurso da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) que questionou a decisão do TRF-4. E o que fosse decidido pelos ministros da Corte criaria um entendimento que poderia ser aplicado em situações semelhantes em todo o Brasil.
Em 20 de setembro de 2023, o STF retomou o julgamento e derrubou a tese do marco temporal.
Após a decisão da Corte, o líder de povo Xokleng, Tucun Gakran comemorou:
“É a maior vitória dos indígenas desde quando o não indígena tomou as terras dos povos indígenas”
4. Como votaram os ministros
Votaram contra o marco temporal:
Edson Fachin (relator)
Alexandre de Moraes
Cristiano Zanin
Luís Roberto Barroso
Dias Toffoli
Luiz Fux
Cármen Lúcia
Gilmar Mendes
Rosa Weber
Dois ministros consideraram que o marco temporal deveria ser considerado no momento da demarcação de terras indígenas:
Nunes Marques
André Mendonça
5. Marco temporal no Congresso
Além do processo que corria no STF, um projeto entrou em tramitação no Congresso para tentar transformar a tese do marco temporal em lei. Trata-se do PL nº 490/2007, que determina que devem ter direito às terras consideradas ancestrais somente os povos que as estivessem ocupando no dia da promulgação da Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988.
A proposta do legislativo altera o “Estatuto do Índio” para permitir, segundo o texto, um “contrato de cooperação entre índios e não índios”, para que estes possam realizar atividades econômicas em terras indígenas. Além disso, a proposta prevê que não indígenas tenham contato com povos isolados “para intermediar ação estatal de utilidade pública”.
Veja, abaixo, a cronologia do PL:
Em 2007, o PL foi proposto na Câmara dos Deputados.
Em 2009, o texto foi rejeitado na Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
Em 2018, o PL acabou arquivado.
No entanto, ainda em 2018, a proposta foi ressuscitada durante a campanha eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro, que prometeu acabar com “reserva indígena no Brasil”.
Em 29 de junho de 2021, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, presidida pela deputada Bia Kicis (PSL-DF), entendeu que o texto do PL era constitucional.
Em 30 de maio de 2023, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto, por 283 votos a 155, com apoio público do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). Houve uma abstenção. O texto, então, foi para o Senado.
Em 20 de setembro de 2023, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado adiou a votação do PL. O adiamento ocorreu após a leitura do parecer favorável ao projeto, apresentado pelo senador Marcos Rogério (PL-RO), e atendeu a um pedido de vista (mais tempo para análise) coletivo de senadores da base aliada ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Governistas ainda tentaram postergar a análise com uma tentativa de convocar audiência pública para debater o tema, mas a base acabou derrotada por 15 votos a 8. Com isso, a votação do projeto está prevista para 27 de setembro de 2023, em data posterior à última atualização desta reportagem.

Continue Reading

Coisas do Mato

Suíça fará doações ao Fundo Amazônia, anuncia representante do país europeu

Published

on

By

Conselheiro federal da Confederação Suíça, Guy Parmelin, deu a declaração durante um fórum sobre investimentos e sustentabilidade, realizado no Itamaraty. Ele não citou valores. Guy Parmelin, conselheiro da Suíça, durante declaração à imprensa, no Itamaraty
Reprodução/TV Globo
O conselheiro federal da Confederação Suíça, Guy Parmelin, afirmou nesta quarta-feira (5) que a Suíça passará a fazer doações para o Fundo Amazônia. Ele não citou valores dos aportes.
Parmelin fez o anúncio ao lado do vice-presidente Geraldo Alckmin, na sede do Ministério das Relações Exteriores. Os dois participaram do Fórum Brasil-Suíça de Investimentos e Inovação em Infraestrutura e Sustentabilidade.
“A partir de hoje, aprimoraremos nosso engajamento. Tenho o prazer de anunciar que a Suíça vai contribuir para o Fundo Amazônia. A primeira contribuição será nas próximas semanas. Queremos lançar essa parceira com o Brasil e outros países”, afirmou o representante do país europeu.
Criado em 2008, o Fundo Amazônia recebe doações majoritariamente da Noruega e também da Alemanha. Em 2019, primeiro ano da gestão Jair Bolsonaro, os países suspenderam os repasses e congelaram os valores para novos projetos, mantendo somente os pagamentos já programados.
Além de Suíça, Estados Unidos e Reino Unido já anunciaram que farão aportes ao fundo.
Em declaração à imprensa, Alckmin agradeceu pela iniciativa dos suíços. “Muito importante para a recuperação da nossa Floresta Amazônica, [gostaria de] destacar a boa parceria econômica e as oportunidades de investimentos”, afirmou o vice-presidente.
Alckmin disse também que o Brasil tem compromisso com o desenvolvimento sustentável e o combate ao desmatamento ilegal.
“As Forças Armadas, inclusive, estão presentes na Amazônia para retirar garimpeiros ilegais, invasores de áreas de preservação. Enfim, um trabalho grande na região”, declarou o vice-presidente.
Na mesma linha de Alckmin, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que o governo brasileiro lançará ainda em julho um novo plano de desenvolvimento para o país que terá como “pilar central” a transição energética.
“O Brasil tem desafios, problemas a superar, mas, ao mesmo tempo que temos desafios, esses desafios se apresentam como enormes oportunidades de investimento e parcerias”, afirmou o ministro.
Acordo Mercosul-EFTA
Durante os pronunciamentos desta quarta-feira, Alckmin e Parmelin citaram o acordo comercial negociado entre o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), da qual a Suíça faz parte.
Negociado desde 2017, o acordo com o grupo foi concluído em 2019, após dez rodadas de negociações. Ainda há, contudo, algumas pendências relativas a questões técnicas e, por isso, ainda não foi finalizado.
“Temos todo interesse em ampliar a abertura comercial e a possibilidade de investimentos recíprocos com a União Europeia e a EFTA. Com a União Europeia, o governo já está mais adiantado e estamos confiantes que chegaremos a bom termo. Com a EFTA, poderemos ter complementariedade econômica de investimentos que vão gerar emprego e renda”, disse Alckmin no fórum.
“O acordo Mercosul-EFTA é um instrumento-chave para reforçar ainda mais o potencial de cooperação entre nossos países”, acrescentou Guy Parmelin.
De acordo com a página oficial do Mercosul, o comércio entre o bloco e os países da EFTA gira em torno de US$ 7 bilhões anuais.

Continue Reading

Trending

Copyright © 2017 Zox News Theme. Theme by MVP Themes, powered by WordPress.