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Festas e Rodeios

A incrível história da escultura de 38 toneladas que desapareceu na Espanha e nunca mais foi encontrada

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O escritor espanhol Juan Tallón aborda em seu último livro um dos mistérios mais escandalosos da História da Arte: a perda inexplicável de uma imensa escultura do famoso artista americano Richard Serra. O escritor Juan Tallón entre os blocos da escultura de Richard Serra
BBC
Imagine uma escultura composta de quatro blocos de aço que, em conjunto, pesavam nada menos que 38 toneladas. Numa dessas histórias incríveis, a estrutura desapareceu e ninguém sabe até hoje onde foi parar.
Isso aconteceu na Espanha, nos anos 1990.
Equal Parallel/Guernica-Bengasi foi uma obra criada pelo influente escultor americano Richard Serra.
Como o próprio nome indica, o artista traçou um paralelo entre dois eventos históricos: o bombardeio da cidade basca de Guernica em 1937, por aviões alemães, e o ataque contra a cidade líbia de Benghazi em 1986, pela Força Aérea dos Estados Unidos.
Era uma escultura enorme, que foi exibida pela primeira vez em 1986 na inauguração do Centro de Arte Reina Sofía em Madrid, que no ano seguinte adquiriu a peça por mais de 215 mil euros.
No entanto, a obra não chegou a fazer parte da exibição permanente do museu.
Tallón escreveu outros livros enquanto a pesquisa continuava para a história da escultura desaparecida
BBC
A escultura passou quatro anos guardada num armazém e foi novamente exposta ao público em 1990.
Depois, ela foi alojada num depósito industrial na cidade de Arganda del Rey, na Espanha. Passado algum tempo, a empresa que geria o local faliu.
Essa é a última informação conhecida sobre o paradeiro da escultura.
Richard Serra, autor da escultura, é considerado um dos mais importantes artistas do século 20
Getty Images/Via BBC
O “sumiço” permaneceu desconhecido do público até 2006, quando o jornal espanhol ABC descobriu o escândalo.
Mas até hoje ninguém sabe o que aconteceu de verdade. A investigação para encontrar as causas do desaparecimento foi encerrada em 2009 e só deixou hipóteses que nunca foram comprovadas.
Alguns especulam que a peça foi roubada por um milionário. Outros acreditam que ela foi derretida para reaproveitar o aço.
Fascinado por essa história quase impossível, o escritor espanhol Juan Tallón dedicou seu mais recente romance, que recebeu o título de Obra-Prima, para reconstruir e desmontar essa trama.
Nas próprias palavras do escritor, o trabalho se tornou um verdadeiro exercício de paciência.
As hipóteses por trás do desaparecimento vão desde o roubo da obra de arte até sua destruição para reaproveitar o aço
Getty Images/Via BBC
A BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC para a América Latina, conversou com Tallón durante o Hay Festival Querétaro, que acontece esta semana no México.
BBC News Mundo – Você disse que levou muito tempo para escrever o livro e que um dos problemas foi justamente a natureza espetacular do evento, que de alguma forma conspirou contra a própria história…
Juan Tallón – Sim, essa foi uma das dificuldades. Como administrar um mistério tão avassalador que é exposto ao leitor logo nas primeiras páginas?
Algo absolutamente pesado e monumental desaparece, e trata-se de um fato tão surpreendente que é difícil assimilá-lo com o pensamento lógico.
Desde 2006, quando se verificou que a obra não estava em lugar nenhum, ninguém — nem a polícia, nem o tribunal — conseguiu determinar quem a fez desaparecer.
Também não há pistas de como a peça desapareceu ou quando tudo ocorreu. Até porque isso pode ter acontecido num grande espaço de tempo.
Então, ao colocar essa “carta” virada para cima logo no início do livro — uma coisa que é impossível de desaparecer, desapareceu — como você consegue sustentar essa história por mais 100, 200 ou 300 páginas?
Como posso ter certeza que o mistério não decai? Até porque, no momento em que o mistério termina, o romance desmorona.
Também era complexo escolher qual seria a voz dessa história. Eu coletei informações de muitos ângulos diferentes por vários anos. E não havia um narrador, uma pessoa para contar tudo. Isso me parecia inviável.
BBC News Mundo – Ao final, são 73 vozes que contam a história. Uma delas é a sua própria, que, entre outras coisas, fala sobre a dificuldade de acesso ao processo judicial.
Tallón – Criei essa dificuldade para mim: a obsessão de encontrar o caso legal para ver os passos da polícia, os depoimentos que eles coletaram e as linhas de investigação que foram seguidas.
Porque, sem isso, eu teria que inventar demais, ou arriscar na criação de uma história pouco convincente.
Então comecei uma perseguição teimosa e doentia , procurando algo que a administração da Justiça me negou.
Eu não conseguia entender por que eles não me deixaram ler um caso que não deixou acusados ​​ou vítimas fora do museu, e que foi arquivado em 2009.
Fiquei paralisado por uma década e me dediquei a escrever outros romances.
Até que houve um momento em que vi como essa história poderia ser contada e como seria possível administrar o peso insuportável do mistério. E comecei a escrever a partir daí.
Nesse processo, meu último recurso foi aceito. Então pude ir ao tribunal de Arganda del Rey para ler as 175 páginas da investigação.
A história do Museu Nacional Reina Sofía está intimamente ligada à jovem democracia que procurou abrir a Espanha ao mundo
Getty Images/Via BBC
BBC News Mundo – E o que você encontrou?
Tallón – Confesso que a leitura do arquivo não mudou o rumo do livro, embora tenha permitido ajustar certos pontos da narrativa aos fatos e dar-lhes mais credibilidade.
O romance não é uma crônica escrita sob os cânones do jornalismo, mas tem essa aspiração.
Eu queria ser o mais rigoroso possível onde isso fosse possível. Onde não fosse, haveria então espaço para um escritor de fantasia.
A documentação também me permitiu criar um novo narrador que contaria mais sobre a vida da escultura. Até porque o romance é apenas isso: a vida de uma escultura que, embora não possa falar, é um personagem vivo.
E, claro, quem a viu, quem a procurou, quem a perdeu, quem a guardou… Todos esses podem falar por ela.
Eu fiz o que venho fazendo há muito tempo, que é brincar de empurrar os limites dos gêneros literários, dividi-los e misturá-los.
Eu incluo personagens reais e conhecidos em minhas histórias, e também invento testemunhos, mas sempre gerando a suspeita se o que é dito é verdade ou não — até chegar ao ponto em que o leitor não se importa mais se o que aquele personagem está dizendo é real ou inventado.
Tallón reconhece que de alguma forma ficaria triste com a revelação do mistério por trás do desaparecimento da escultura
BBC
BBC News Mundo – Embora a escultura seja a protagonista da história, há outro personagem interessante que é a democracia espanhola e sua inexperiência naqueles anos — que é o que, de certa forma, permite esse desaparecimento. Em que contexto histórico a obra some?
Tallón – Naquela época, a Espanha vinha de uma longa ditadura que terminou em 1975. Então, temos que aprender de novo a ser um Estado democrático, que se abre para o mundo e permite que o mundo se abra para nós.
Na década de 1980, não havia promoção da arte contemporânea no país, e o Museu Reina Sofía é o primeiro grande passo nesse caminho: a ideia era transformar a Espanha em um lugar onde você pode descobrir o que os artistas internacionais estão fazendo.
Mas essa ambição artística, muito bem sucedida, não é acompanhada — digamos — pela ambição organizacional. Nessa esfera, há voluntarismo, amadorismo e falta de profissionalismo.
E assim o campo é semeado para que as anomalias comecem a ocorrer. Até que um dia acontece o desaparecimento mais incrível.
A empresa que trouxe a escultura para a cidade de Arganda del Rey foi uma das líderes na área de transferência, custódia e exibição de obras de arte, não só na Espanha, mas na Europa inteira.
Ela foi tão importante que, em 1936, no início da Guerra Civil Espanhola, se encarregou de transferir as obras dos grandes mestres do Museu do Prado, primeiro para Valência e depois para a Suíça. Em 1939, a empresa as trouxe de volta para a Espanha com as bombas da Segunda Guerra Mundial caindo atrás delas.
Mas o museu não expõs mais a peça de Serra, que acabaria se tornando um dos escultores mais relevantes da arte contemporânea.
É aquela preguiça da administração para com o que se administra. Não há responsabilidade com o que é nosso, porque este é um museu nacional e tudo o que uma instituição dessas tem é patrimônio de todos.
A escultura desapareceu, transcendeu o público, e o que aconteceu? Nada. Ninguém assumiu a responsabilidade.
Equal, outra obra de Richard Serra, exposta no Museu de Arte Moderna de Nova York, nos EUA
Getty Images/Via BBC
BBC News Brasil – Há uma frase no livro que diz: “Se este trabalho não aparecer, este país irá para o inferno”. Mas, ao contrário, foi encontrada uma solução quase tão absurda quanto o problema: pedir para o autor fazer uma cópia e, desta vez, expô-la permanentemente…
Tallón – Mas repare que mesmo esse pedido absurdo e bizarro consegue ser, ao mesmo tempo, ousado.
E isso é perfeitamente compatível com a arte contemporânea, onde o importante muitas vezes não é a obra como você a vê, mas o coração da ideia. A força está na ideia, não na execução.
Então, se a primeira peça desaparece ou é destruída, a ideia continua ali e ganha força novamente na réplica, que é exatamente a mesma, dotada do mesmo batimento cardíaco.
E o artista vem e diz: “Declaro que a segunda obra, exatamente igual à primeira que desapareceu, é a original”, porque está revestida das características que a tornam uma obra de arte.
Existe a ideia e a palavra do artista, que é como o mágico: “Eu te declaro real e original, mesmo que você seja a segunda”.
É algo absurdo? Sim. É uma ideia maluca? Sim. Mas não podemos negar que seja ousada e provocativa.
Além disso, há algo único nessa escultura, que pouquíssimas obras de arte têm, que é a lenda.
Não se pode aspirar algo a mais.
Porque esta escultura exposta no Reina Sofía é uma peça que falta.
E por trás dela está o fantasma da primeira que, enquanto não aparecer, terá uma história incrível.
Imagine se a primeira escultura aparece? A lenda morre. Porque as lendas não têm fim, elas não têm nada para questioná-las.
Porém, se de repente soubermos o que aconteceu com a escultura, poderíamos sentir a satisfação dos finais próximos, mas acho que acabaríamos um pouco tristes porque o que desapareceria — e isso certamente não pode ser recuperado — é o mistério.
BBC News Mundo – Você dedicou grande parte do livro à montagem da escultura, à fundição das peças, ao transporte da obra…
Tallón – Richard Serra é um artista que está muito longe do que podemos entender como um tipo solitário, que trabalha isolado do resto do mundo.
Ele não pode trabalhar assim, não pode ser o artista que é se não tiver 800 pessoas colaborando com ele.
Ele tem uma ideia que, no momento em que se torna uma peça artística, precisa agregar cada vez mais pessoas ao processo: cientistas da computação, engenheiros e outras pessoas altamente qualificadas que acham que o projeto é plausível do ponto de vista da física.
Ele é um coartista de seu próprio trabalho.
Há a necessidade de especialistas qualificados porque as obras são tão enormes, tão extraordinariamente grandes e pesadas, que precisam ser movidas primeiro por mar — porque ele trabalha com uma siderúrgica na Alemanha — e depois por terra, quando você chega no país onde a peça será exposta.
E a isto segue-se talvez a parte mais difícil: colocar a obra de arte dentro do museu.
Vale lembrar que o Reina Sofía, em 1986, teve de demolir parte do prédio para botar a peça de Richard Serra numa galeria. E quando a réplica foi feita e reintroduzida, foi necessário derrubar as paredes novamente.
BBC News Mundo – Num texto de blog escrito por você há muito tempo, é possível ler sobre seu amor por lojas de ferragens e oficinas elétricas. Você até dizia que trocaria toda a formação filosófica e o conhecimento em linguagem por saber consertar uma motosserra. Parte do seu livro é inspirada nesse prazer de juntar peças e consertar coisas?
Tallón – Quando eu era pequeno, meu pai tinha uma motocicleta, uma Derbi Diablo. Quando ela estava estacionada, eu sentava na frente e olhava aquele motor, o que me fascinava.
E o que sempre me provocou foi a ideia de desmontar peça por peça e ver como algo inanimado conseguia se mover.
Agora me ocorre que, talvez, o que eu faço em Obra-Prima, nada mais é do que desmontar uma estrutura muito complexa que explica por que algo tão incrível aconteceu.
Vamos colocar o mistério, diante do leitor, em pequenos pedaços.
Isso é algo que estou improvisando no momento. O romance é uma resposta ao sonho de infância de desmontar coisas complexas para tentar entendê-las.
E não pretendo remontá-las depois, uma vez que a desmontagem é o verdadeiro mistério.
Trata-se, portanto, de entender até que ponto as coisas podem ser desmontadas, na busca de uma compreensão que vai além de entender exatamente como elas funcionam.
Veja os vídeos mais assistidos do g1
Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-62786939

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Músicas premonitórias? Três casos incríveis de compositoras que ‘previram o futuro’

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Veja casos de cantoras que dizem ter escrito versos que anteciparam acontecimentos e sentimentos. Não há evidências científicas sobre previsões durante processos criativos. Paula Marchesini: em 2004, nos tempos da banda Brava; e em 2020, na carreira solo
Divulgação/Adriana Lins e Acervo Pessoal
É comum ouvir artistas dizendo que sentiram algo diferente quando estavam compondo uma música. Mas há casos ainda mais específicos: os de compositoras que afirmam ter escrito versos que, segundo elas, anteciparam sentimentos e acontecimentos do futuro.
Neste texto, o g1 compila e contextualiza esses relatos de três cantoras. Mais abaixo, veja ainda que dizem especialistas sobre esse tema. Não há evidências científicas sobre a possibilidade de prever o futuro por meio da composição de músicas.
Cantora e… doutora em filosofia
Paula Marchesini era vocalista e compositora do Brava, sexteto carioca de pop rock que durou entre 2000 e 2006, quando ela decidiu ir para a área acadêmica. Ela cantou versos sobre sofrimento e inadequação em músicas como “Todo mundo quer cuidar de mim”, trilha da novela “Malhação”.
Paula fez doutorado em Filosofia na Johns Hopkins, em Baltimore, nos Estadus Unidos. Também estudou e deu aulas em Harvard. “Eu comecei a ficar fascinada com o processo criativo de escrever”, ela explicou ao g1. “É muito misterioso, é uma coisa que bate uma inspiração que não se sabe de onde vem e as palavras vão se escrevendo sozinhas. Parece que você está recebendo uma mensagem pronta de algum lugar divino. Uma coisa muito mágica.”
Ela diz que qualquer pessoa que já tentou se arriscar em um processo criativo pode entender do que ela está falando. “Tem vezes que escrevo músicas que não lembro de ter escrito. Depois ouvindo eu falo: como foi que eu escrevi isso? E isso tudo começou a me intrigar e eu comecei a me interessar por estudar esse processo filosoficamente.”
Paula na gravação do primeiro álbum do Brava, lançado em 2004
Divulgação
Paula foi em busca de outras “perspectivas sobre esse assunto filosófico”. “A minha pesquisa é bem centrada nesse processo criativo. Que que é? De onde vem? Quais as habilidades que envolve e os tipos de resultado que saem de processos criativos? Eu escrevi minha tese de doutorado em parte sobre a Clarice Lispector, porque ela escreve muito sobre isso.”
O livro “A Descoberta do Mundo” compila crônicas de Clarice Lispector (1920-1977) publicadas no final dos anos 60 e começo dos anos 70 no “Jornal do Brasil”. Em uma delas, a autora passa por esse tema: “Suponho que este tipo de sensibilidade, uma que não só se comove como por assim dizer pensa sem ser com a cabeça, suponho que seja um dom. E, como um dom, pode ser abafado pela falta de uso ou aperfeiçoar-se com o uso.”
Paula hoje se divide entre carreira solo e carreira acadêmica. Ela usa a própria experiência para entender seu trabalho como pesquisadora. “Eu penso: ‘Nossa, quando eu tinha 16 anos eu escrevi umas coisas que… como é que eu sabia dessas coisas?’ A minha sensação pessoal é de ter aprendido isso muito mais tarde. Então, rola uma certa sensação de profecia em certas letras. Na minha cabeça, eu passei por essas coisas muito mais tarde. E eu já escrevia sobre isso com 16 anos. É uma sensação estranha.”
KT Tunstall na fase do álbum ‘Kin’, de 2016
Divulgação/Sony Music
A sensação de Paula é parecida com a descrita por outra cantora, a escocesa KT Tunstall. Kate Victoria Tunstall tem 49 anos e hits pop rock como “Suddenly I See”. A música foi trilha da novela “Belíssima” e do filme “O diabo veste Prada”. Nos últimos anos, ela lançou uma trilogia de discos conceituais: o primeiro versava sobre alma; o segundo era sobre o corpo; e o terceiro tinha a mente como tema. KT não quer escrever canções só sobre amor e casais.
A morte, por exemplo, foi a inspiração para “Carried”. “Você não vai morrer onde quer ser enterrado. Alguém tem que te levar até lá e é a última jornada que você vai fazer. Quem vai te levar? Escrevi essa música sobre o peso que outra pessoa precisa carregar por você. Dois meses depois, eu estava literalmente carregando as cinzas do meu pai numa mochila, em um trem”, ela descreveu ao g1, rindo de nervosa. “Que p… é essa? Ele não estava doente nem nada.”
Ela conta que as músicas compostas por ela costumam mudar de sentido com o passar do tempo. “Às vezes, é uma experiência estranha demais… Você escreve sobre um sentimento e cinco anos depois você nota que, na verdade, o sentido era outro.”
Ela cita como exemplo “Lost”, de seu terceiro disco. “Eu pensava que o refrão era sobre amizades ruins, mas depois notei que eu estava escrevendo sobre o colapso do meu casamento.” Ela foi casada com Luke Bullen, ex-baterista de sua banda, entre 2008 e 2013. “Eu ainda estava com meu ex. A música era sobre esse relacionamento, mas não percebi. As músicas têm o hábito de fazer isso: você escreve sobre algo que acha que é uma pequena história e uns anos depois percebe que estava escrevendo sobre algo muito maior”.
Para KT, foi “como se a alma tivesse se impondo ao cérebro”. “O subconsciente tem esse poder, né? É como se tivesse me mostrado o futuro.”
Quando eu hitei: Vanessa Carlton vai muito além de ‘A Thousand Miles’
Vanessa Carlton também diz que, de certa forma, “viu o futuro” com a ajuda de suas músicas. A cantora americana de 44 anos é a dona de “A Thousand Miles”, sucesso de 2002. Desde 2011, quando saiu o álbum “Rabbits on the Run”, ela passou a ser menos uma estrelinha pop e mais uma cantora e compositora de indie folk viajado. O som romântico ao piano deu lugar a músicas psicodélicas.
“Love is an art” saiu logo antes da quarentena por conta da covid-19. Mas ele apresenta temáticas que têm tudo a ver com a pandemia: fala sobre se conectar com os outros e consigo mesmo. Para ela, foi como uma “premonição”.
“É estranho. Não sei se é algum outro tipo de consciência que temos quando estamos no modo de nos expressarmos. Às vezes, é como se estivéssemos usando uma parte diferente do cérebro onde você não está sendo lógico, você está apenas captando energias e outras coisas.”
Não foi a primeira vez que isso aconteceu com ela. Em “I Don’t Want To Be A Bride”, de 2011, havia cantado: “Não preciso de nenhum anel dourado / Não seria suficiente para o amor que isso traz / De Londres ao Tennessee”. “Eu acabei morando e não tinha planos de morar no Tennessee. Conheci meu marido alguns anos depois, ele estava morando em Nashville, então acabei me mudando para o Tennessee.”
“Existem várias coisas assim. E eu acho que todos nós podemos estar em sintonia com o que realmente sentimos, se desacelerarmos e conectarmos a nós mesmos, mas isso é muito difícil de fazer, porque nossos cérebros estão indo tão rápido, sabe?”
Vanessa Carlton em 2020, em foto do álbum ‘Love is an art’
Divulgação/Alysse Gafkjen
O que dizem os especialistas?
Segundo o neurocirurgião Murilo Marinho, a amígdala cerebral é fundamental durante o processo criativo. “Esse sistema límbico é responsável pelas emoções e muito relacionado às composições musicais”, ele explica. Essa região do cérebro se relaciona à criação de “histórias relacionadas a experiências vividas, de alegria, tristeza ou até mesmo sonhos que nunca foram vividos”.
Marinho acrescenta que escrever uma letra, no entanto, é fruto da cooperação entre várias áreas do cérebro. “A região pré-frontal é de extrema importância para realização de funções executivas relacionadas às ideias e aos pensamentos originais.”
Uma pesquisa publicada na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) e noticiada pela BBC identificou que o pensamento criativo ocorre no interior de três redes neurais:
a rede de modo padrão, usada quando o cérebro está gerando ideias e simplesmente imaginando;
a rede de controle executivo, ativada para a tomada de decisões e avaliações de ideias;
e a rede de saliência, usada para discernir quais ideias são relevantes e para facilitar a transição das ideias entre os modos padrão e executivo.
De acordo com o estudo liderado por Roger Beaty, especialista em neurociência cognitiva pela Universidade Harvard, “o cérebro criativo está conectado de uma maneira diferente, e as pessoas criativas são mais capazes de ativar sistemas cerebrais que tipicamente não funcionam juntos”.
Essas conclusões foram obtidas por meio de ressonâncias magnéticas em um grupo de 163 pessoas. Elas foram avaliadas durante atividades criativas e artísticas. “Em geral, pessoas com conexões mais fortes tiveram ideias melhores”, ele explicou.

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‘Coringa: Delírio a dois’ desperdiça Lady Gaga em musical chato mais ousado que o 1º filme; g1 já viu

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Continuação do sucesso inexplicável de 2019 poderia ser muito bom, mas se contenta em ser apenas ‘menos ruim’. Filme estreia nesta quinta-feira (3) nos cinemas brasileiros. Apesar de suas muitas, muitas falhas, “Coringa: Delírio a dois” ao menos é mais ousado que seu já ruim antecessor, o sucesso inexplicável de 2019.
A continuação que estreia nesta quinta-feira (3) nos cinemas brasileiros é uma mistura esquizofrênica de gêneros que nunca se conectam totalmente:
um musical bem executado, mas arrastado, que não sabe e aproveitar do talento e do carisma de Lady Gaga, suposta coprotagonista da história;
um filme de prisão/manicômio com bons momentos e ainda mais clichês;
e um filme de tribunal, previsível e sem qualquer sentido.
Uma aposta mais sincera e focada no primeiro deles poderia elevar “Delírio a dois” a algo muito melhor do que o sofrido “Coringa”. Há vislumbres claros de uma vontade contida – e nunca realizada – de transcender.
Assista ao trailer de “Coringa: Delírio a Dois”
A continuação, no entanto, não tem coragem de abraçar de vez o inesperado e toda vez que se aproxima demais do limite volta meio de supetão para a segurança do previsível.
Uma pena. Ao final de quase duas horas e vinte minutos de duração, a obra dirigida por Todd Phillips (que novamente divide o roteiro com Scott Silver) se contenta em ser apenas não tão ruim quanto a primeira – mas ainda ruim.
Ah, tadinho
“Delírio a dois” é uma continuação direta – e totalmente desnecessária – do filme anterior. Na trama, o comediante fracassado que ficou conhecido como o palhaço assassino Coringa (Joaquin Phoenix) aguarda por seu dia no tribunal.
Preso em um manicômio para criminosos, ele conhece uma fã apaixonada (mais próxima à origem da palavra, “fanática”), que introduz um pouco de alegria, esperança e música em sua vida tão sofrida.
Tais momentos são, de fato, o melhor que o filme tem a oferecer. Infelizmente, o roteiro reserva 99% (aproximadamente) da cantoria a cenas de sonhos ou fantasia. Por mais bem realizadas sejam, elas nunca avançam a história em si, relegadas a intervalos de luxo até a hora de voltar à trama em si.
Sem clássicos para “homenagear”, como seu antecessor cometeu com “Taxi Driver” (1976) e “O rei da comédia” (1982), a sequência é genuinamente mais ousada e perigosamente criativa. Só lhe falta coragem.
Joaquin Phoenix em cena de ‘Coringa: Delírio a dois’
Scott Garfield/Warner Bros. Pictures
Já o enredo principal reflete o tom do primeiro e sofre do grave distúrbio de se levar a sério demais, com algo de incolor e insosso do começo ao fim. Ok, o protagonista é um comediante fracassado e perturbado, mas o roteiro não precisa seguir o exemplo de forma tão radical.
Não chega a ser tão sofrido, dolorido, desgraçado, angustiado e atormentado, com uma trilha sonora de um único violino amargo para pontuar tamanho sofrimento, mas, sem a música, “Delírio a dois” é no máximo anêmico.
Uma evolução, é verdade, mas ainda muito aquém do que o Príncipe Palhaço do Crime (como o vilão do Batman é carinhosamente chamado) dos quadrinhos merece.
Delírio a 1,5
Um dos maiores atores de sua geração, Phoenix entrega outra atuação muito acima da qualidade do roteiro ao qual fica preso. A primeira lhe rendeu o (exagerado) Oscar em 2020 – a segunda, em um filme com recursos já manjados, talvez não tenha a mesma sorte.
A seu lado, é Gaga quem oferece o verdadeiro sopro de ar fresco. Mesmo ao assumir o papel tão marcante da Arlequina (já celebrado nas mãos de Margot Robbie), a cantora apresenta uma versão própria e ao mesmo familiar.
Joaquin Phoenix e Lady Gaga em cena de ‘Coringa: Delírio a dois’
Niko Tavernise/Warner Bros. Pictures
Até por isso, é desesperador perceber que a personagem nunca deixa de ser apenas uma força motivadora para o protagonista. Relegada ao ponto de vista do palhaço, ela não consegue superar a unidimensionalidade de uma fã apaixonada por um ideal furado.
O título promete a dois, mas o delírio do novo “Coringa” sofre para chegar a um e meio no máximo.
O mais triste é que, o tempo todo, o filme flerta com o sucesso. Quando o musical periga ficar maluco demais, descontrolado demais, colorido demais, uma mão invisível (chamada Todd Phillips) puxa as rédeas e devolve o espectador aos corredores frios do manicômio ou à trama chata e sem sentido do julgamento.
É tanto coito interrompido que, depois de um tempo, novas cantorias causam uma reação que mistura trauma com tédio. Assim como o próprio protagonista, o público só quer o doce alívio do fim – que até vem, mas só depois de mais umas 3 ou 4 canções.
Cartela resenha crítica g1
g1

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Caso Sean Diddy tem tudo para provocar ‘MeToo da música’, diz pianista Nomi Abadi

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Em entrevista ao g1, artista comenta acusações contra rapper e fala da Female Composer Safety League, uma rede de suporte voltada a compositoras vítimas de abuso sexual e assédio. sean-diddy-agressão
Imagem de vídeo divulgado pela CNN, que mostra o rapper Sean ‘Diddy’ Combs agredindo a ex-namorada Cassie Ventura. Ao lado, foto do rapper em pedido de desculpas — Foto: Reprodução/CNN e Redes Sociais
“Todos nós já sabíamos. Por muito tempo, ouvimos histórias sobre essas festas”, afirma a pianista Nomi Abadi, em entrevista ao g1 por videochamada. Ela se refere aos luxuosos eventos promovidos pelo rapper Sean “Diddy” Combs — também conhecido como Puff Daddy e P. Diddy —, preso em 16 de setembro sob a suspeita de tráfico sexual e agressão. “Eu conheci uma vítima de P. Diddy. Minha amiga esteve em uma dessas festas… Ninguém a escutou. Ninguém se importou com ela.”
Chamados de “white parties” e “freak-off”, os eventos organizados pelo músico aconteciam desde os anos 2000. Eram privados — sua lista de convidados reunia atores, músicos, empresários e políticos. Jay-Z, Will Smith, Diana Ross, Leonardo DiCaprio, Owen Wilson, Vera Wang, Bruce Willis e Justin Bieber são algumas das celebridades que compareceram aos encontros. Agora, essas festas são o gancho para boa parte das denúncias que Diddy enfrenta.
Caso Diddy: entenda o que é fato sobre o caso
O músico é acusado de abusar sexualmente de mulheres e de drogá-las durante os eventos. Há relatos de que ele, inclusive, teria coagido algumas a usar fluidos intravenosos para recuperação física após submetê-las a longas e violentas performances eróticas. Ele, que ainda não foi julgado, nega todas as acusações que motivaram sua prisão.
“Finalmente, algo está sendo feito”, diz Nomi, pianista indicada ao Grammy (2019) por “Sekou Andrews & The String Theory” e fundadora da Female Composer Safety League (ou Liga de Segurança das Compositoras, em português), uma rede de suporte a compositoras vítimas de abuso sexual e assédio.
“O que rolava nessas festas são coisas muitos ruins. E mesmo envolvendo tantas pessoas, continuava acontecendo.”
A pianista Nomi Abadi
Divulgação
É mais ou menos o que também afirmou a cantora Cassie, ex-namorada de Diddy, em 2023, quando ela abriu um processo contra ele, alegando ter sido estuprada e violentada por mais de uma década. Na ação, que já foi encerrada (sem os detalhes divulgados), a artista afirmou que os supostos crimes do rapper eram testemunhados por muita gente “tremendamente leal” que nunca fazia nada para impedi-lo.
“Teve que chegar num nível ‘Harvey Weinstein’ para que as pessoas pensassem: ‘Ah, talvez isso não seja tão legal'”, diz Nomi, em referência ao magnata de Hollywood condenado a 25 anos de prisão por uma série de crimes sexuais. O caso foi impulsionado pela hashtag #MeToo, que surgiu em 2017 com uma onda de relatos online sobre estupro e assédio. Movimento que chacoalhou a indústria cinematográfica, ao pôr na mira da Justiça nomes como Kevin Spacey, Bill Cosby e Jeffrey Tambor.
Harvey Weinstein no tribunal no dia 4 de outubro
Etienne Laurent/via Reuters/Arquivo
Agora, as acusações contra Sean Diddy têm tudo para desencadear um novo MeToo. Mas, dessa vez, na indústria musical. É o que afirma Nomi, que também é uma das articuladoras do “Sound Off: Make the Music Industry Safe”, campanha que documenta abusos sexuais no setor da música e exige uma série de mudanças na condução dos casos.
“Se isso não acontecer um ‘MeToo da música’ a partir do caso Diddy, eu não sei o que mais pode fazer isso”, afirma a americana. “Espero que o caso traga atenção para os outros. E que isso tudo nem comece, nem termine em Diddy, porque há má muito a ser ganho no campo das conversas. Espero que, finalmente, haja o MeToo que a indústria musical tanto merece, ou melhor, o MeToo que as sobreviventes dessa indústria merecem.”
Sean ‘Diddy’ Combs.
Mark Von Holden/Invision/AP
Várias histórias, diferentes circunstâncias
Sean Diddy não é o primeiro músico a ser acusado de crimes sexuais. A lista é extensa. Dá para citar exemplos como Axl Rose, Chris Brown, Nick Carter e Ross William Wild. Nenhum desses casos, porém, teve a mesma repercussão que a do rapper. O que chegou mais próximo disso foi R. Kelly, cantor condenado a 31 anos de prisão por chefiar durante décadas uma rede de exploração sexual de mulheres e adolescentes.
Para além da repercussão explosiva, o possível envolvimento de Sean Diddy com outros poderosos da indústria durante a execução dos supostos crimes aumenta a chance de novas investigações e condenações no setor, o que é visto por Nomi como um forte potencial para o ressurgimento do MeToo.
Dono do selo Bad Boy Records, o rapper é um influente executivo do mercado fonográfico americano. Apadrinhou artistas como Usher, Mary J. Blige e Notorious BIG, e já foi descrito pela revista “Time” como o “homem mais onipresente do hip-hop”.
“Uma coisa que me surpreendeu quando comecei a frequentar esse meio [de dar suporte a vítimas da indústria] é que cada sobrevivente tem sua própria versão da mesma história. As circunstâncias são diferentes. O que aconteceu com cada pessoa é único. Mas todas elas querem ser validadas, compreendidas e terem seus empregos mantidos”, afirma Nomi. “São os mesmos medos e os mesmos desejos.”
Anos atrás, a cantora moveu processos contra Danny Elfman, compositor de trilhas de blockbusters como “Batman” e “Beetlejuice”. Nas ações, ela alegou ter sido vítima de crimes sexuais. Ele nega. Os dois entraram em um acordo com termos não divulgados.

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