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Morre Jean-Luc Godard: 9 curiosidades sobre o homem que reinventou o cinema 

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Ao longo de uma prolífica carreira de mais de meio século, Jean-Luc Godard provocou, desconcertou, encantou e inspirou. Godard no set de filmagem de ‘O Demônio das Onze Horas’
Getty Images via BBC
Jean-Luc Godard, que morreu nesta terça-feira (13) aos 91 anos, foi um dos diretores mais influentes da história do cinema.
O cineasta franco-suíço ganhou fama no final dos anos 1950 como uma dos protagonistas do movimento francês conhecido como Nouvelle Vague, dirigindo dezenas de filmes em uma carreira que durou mais de meio século.
A seguir, confira nove curiosidades sobre Godard:
1. Ele mudou o cinema com uma garota e uma arma
Tudo o que você precisa para fazer um filme, escreveu Godard certa vez, é uma “garota e uma arma”. Ele provou isso durante sua estreia em 1960, com “Acossado”.
A garota, Patricia, está envolvida com um criminoso, Michel, que está fugindo por ter atirado em um policial. Ela o trai, e a polícia o mata na rua.
“Acossado” lembra um drama policial, mas como em muitas de suas obras, o enredo era apenas uma moldura para Godard explorar a cultura, experimentar a imagem e analisar o próprio cinema.
Teve um impacto instantâneo, sendo aclamado e gerando um enorme lucro sobre seu parco orçamento.
Quase 60 anos depois, é amplamente reconhecido como um clássico — e sua força ainda surpreende.
2. Ele rompeu com a convenção
Um dos elementos mais radicais de “Acossado” foi o uso proeminente da técnica de edição conhecida como jump cut.
A produção cinematográfica antes e depois da estreia de Godard favorece em grande parte a edição suave para dar a ilusão de tempo contínuo.
Em contrapartida, em “Acossado”, Godard cortava a cena bruscamente, fazendo o tempo parecer saltar para a frente.
‘Jump-cuts’ em ‘Acossado’: Godard fazia cortes dentro das cenas, fazendo com que a imagem saltasse para a frente no tempo e no espaço
BREATHLESS via BBC
É desconcertante, como Godard certamente pretendia que fosse. No mínimo, prende a atenção do espectador, mas também foi interpretado como reflexo do tédio de Michel ou como uma tentativa de Godard de forçar seu público a refletir sobre a natureza do cinema.
Ao longo de sua carreira, Godard brincaria com a gramática da produção cinematográfica.
3. Ele reescreveu o roteiro
Tiveram outras inovações. “Acossado” foi filmado em locações, usando câmeras portáteis de mão, com Godard escrevendo o roteiro no dia e fornecendo as falas aos atores enquanto gravavam.
Esta foi outra ruptura com a tradição, diante dos filmes caros liderados por estúdios que dependiam de roteiros bem amarrados, grandes equipes e storyboards.
A técnica usada por Godard dá a Acossado uma grande espontaneidade e uma sensação de documentário.
Ele a usaria em muitos de seus filmes, enfurecendo as estrelas que chegavam ao set de filmagem ainda sem saber quais seriam suas falas.
Godard concebeu novas formas de fazer cinema, mas eram uma dor de cabeça para os outros envolvidos
Getty Images via BBC
Godard e seus contemporâneos da Nouvelle Vague viam os verdadeiros grandes filmes como aqueles carimbados com a visão do diretor — e que melhor maneira de controlar um filme se você está de fato criando à medida que acontece.
4. Ele era um grande cinéfilo
Godard pode ter sido um iconoclasta, mas veio de um lugar de profundo conhecimento e afeição pelo cinema.
Antes de se tornar diretor, ele era um ávido cinéfilo — às vezes, assistia ao mesmo filme várias vezes no mesmo dia nos clubes que ele e outras figuras da Nouvelle Vague frequentavam.
Como outras figuras da época, ele foi primeiro crítico, desenvolvendo suas ideias sobre o que ele achava que deveria ser o cinema que ele foi capaz de realizar na prática.
Seus filmes estão repletos de referências a outras obras e, mesmo quando ele buscava fazer o cinema avançar, ele não conseguia deixar de olhar para trás.
5. Ele continuou inovando
“Acossado” por si só teria garantido seu lugar na história do cinema, mas sua carreira foi prolífica. O site IMDB lista mais de 100 obras, entre curtas, documentários, séries de TV e mais de 40 longa-metragens.
A década de 1960 testemunhou seus trabalhos mais celebrados e amplamente assistidos — desde “Uma Mulher É Uma Mulher” (1961), que ele chamou de “musical neorrealista”, até a ficção científica distópica “Alphaville” (1965) e a comédia de humor ácido “Week-end à Francesa” (1967), em que Emily Bronte é incendiada.
Depois de “Week-end à Francesa”, ele abraçou o radicalismo político, fazendo uma série de filmes com temas marxistas que culminou com “Tudo Vai Bem” (1972).
Godard e Brigitte Bardot (à direita), que foi a protagonista de ‘O Desprezo’, filme de 1963
Getty Images via BBC
Nas décadas que se seguiram, ele recontou o nascimento virginal, provocando uma reclamação do então Papa João Paulo 2º (“Eu Vos Saúdo, Maria”), tentou e falhou em recrutar Richard Nixon como ator (“Rei Lear”) e lançou uma história pessoal épica do cinema (“História(s) do cinema”). Em 2014, já na casa dos 80 anos, lançou um filme experimental em 3D estrelado por seu cachorro Roxy (“Adeus à Linguagem”).
6. Ele botou o público para trabalhar
Não há como fugir disso — os filmes de Godard vão do desafiador ao quase incompreensível.
Ele teve sucesso comercial, mas trabalhos posteriores tiveram lançamentos limitados, apesar da adoração da crítica.
Godard era um leitor voraz, além de apaixonado pelo cinema — e o peso das referências pode ser desconcertante. Com apenas 70 minutos de duração, “Adeus à Linguagem”, por exemplo, está repleto referências ao pintor abstrato Nicolas de Staël, ao autor modernista americano William Faulkner e ao matemático Laurent Schwartz.
Também está em cena uma das influências mais importantes de Godard, o dramaturgo alemão Bertolt Brecht.
Brecht queria que seu público permanecesse criticamente engajado em sua obra e, por isso, empregou vários métodos para desestabilizá-lo e lembrá-lo de que está assistindo a algo artificial.
Vários dos filmes de Godard usam artifícios brechtianos, como “A Chinesa” (1967), que inclui legendas lúgubres e atores quebrando a chamada “quarta parede”, com Godard deixando até a claquete no início das cenas.
7. Ele se colocou em sua arte
Em muitas de suas obras, o protagonista pode ser visto como um representante do próprio Godard.
Em “O Desprezo” (1963), Michel Piccoli interpreta um dramaturgo francês encarregado de retrabalhar uma adaptação cinematográfica de Ulisses.
O filme explora as tensões entre mercantilismo e criatividade e retrata um casamento em ruínas, inspirado na relação de Godard com Anna Karina, a estrela de vários de seus filmes.
Godard com Anne Wiazemsky, sua ex-mulher e estrela de vários de seus filmes
Getty Images via BBC
Os personagens no filme são muitas vezes um porta-voz para ele próprio, mas em anos posteriores ele se tornou um elemento dos seus filmes.
Em 1995, lançou o autobiográfico “JLG/JLG – Autorretrato de Dezembro”, e seus ensaios apresentam sua própria voz, mais recentemente “Imagem e Palavra” (2018).
Uma resenha do crítico americano Roger Ebert sobre Godard o descreveu em 1969 como “profundamente dentro de seu próprio universo”, uma boa explicação de por que os filmes de Godard podem ser tão distintos e tão frustrantes.
8. Ele podia ser um ‘merda’ às vezes
Não injustificadamente Godard tinha a reputação de ser difícil tanto pessoal quanto profissionalmente.
Seus dois casamentos, primeiro com Anna Karina e depois com Anne Wiazemsky, foram tempestuosos, algo que transbordou em seus filmes.
Irritado com a edição feita pelo produtor Iain Quarrier de seu documentário dos Rolling Stones, “Sympathy for the Devil” (1968), Godard deu um soco na cara dele quando o filme foi exibido em Londres.
Houve uma briga extraordinária com seu amigo, outro grande diretor da Nouvelle Vague, François Truffaut.
Em 1973, Godard escreveu para Truffaut atacando seu último filme, “A Noite Americana”, e pedindo financiamento para dar uma resposta. Truffaut escreveu uma resposta furiosa, acusando Godard de se comportar “como um merda” e listando anos de má conduta de Godard. Sem surpresa, Truffaut se recusou a pagar pelo filme de Godard. O relacionamento da dupla nunca se recuperou.
As filmagens de ‘Sympathy For the Devil’, também conhecido como ‘One Plus One’
Getty Images via BBC
Mas a colaboração também foi uma parte importante de sua carreira.
Seus primeiros filmes não seriam os mesmos sem Karina ou Wiazemsky, tampouco sem Jean-Paul Belmondo
Ele estabeleceu uma estreita parceria com o pensador de esquerda Jean-Pierre Gorin e o diretor de fotografia Raoul Coutard, que disse: “Ele pode ser um merda… mas é um gênio”.
Desde a década de 1970, sua colaboradora mais importante era sua parceira de vida, a cineasta suíça Anne-Marie Miéville.
9. Mas ele também foi uma inspiração
As indústrias cinematográficas de todo o mundo viveram suas próprias Nouvelle Vagues. A Nouvelle Vague americana nos deu obras como “Bonnie e Clyde – Uma Rajada de Bala”, “Chinatown” e “Tubarão”.
O trabalho de Godard — seja pessoal, experimental, político ou todos os três — teve um impacto enorme.
O diretor americano Quentin Tarantino chamou sua produtora de A Band Apart, uma referência ao filme de Godard Bando à Parte (1963). O diretor italiano Bernardo Bertolucci incluiu uma homenagem a ele em seu filme “Os Sonhadores”.
A influência de Godard pode ser vista na ambiguidade entre documentário e ficção do diretor iraniano Abbas Kiarostami ou na obra tematicamente e formalmente provocativa do dinamarquês Lars Von Trier.
Quatro filmes de Godard fizeram parte da lista dos 50 melhores filmes de todos os tempos da revista de cinema britânica Sight and Sound — “Acossado”, “O Desprezo”, “O Demônio das Onze Horas” e “História(s) do cinema”.
*Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-62889030

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Zizi Possi enfrenta ‘temporais’ de Ivan Lins e Vitor Martins em disco que traz também músicas de Gabriel Martins

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Fabiana Cozza, Leila Pinheiro e Rita Bennedito também integram o elenco feminino do EP ‘Elas cantam as águas’, previsto para ser lançado em 2025. ♫ NOTÍCIA
♪ Iniciada em 1974, a parceria de Ivan Lins com o letrista Vitor Martins se firmou ao longo das décadas de 1970 e 1980 nas vozes de cantoras como Elis Regina (1945 – 1982) e Simone, além de ter embasado a discografia essencial do próprio Ivan Lins.
Uma das pedras fundamentais da MPB ao longo destes 50 anos, a obra de Ivan com Vitor gera frutos. Previsto para 2025, o disco Elas cantam as águas reúne seis gravações inéditas.
Três são abordagens de músicas de Ivan Lins e Vitor Martins. As outras três músicas são de autoria do filho de Vitor, Gabriel Martins, cantor e compositor que debutou há sete anos no mercado fonográfico com a edição do álbum Mergulho (2017).
No EP Elas cantam as águas, Zizi Possi dá voz a uma música de Ivan e Vitor, Depois dos temporais, música que deu título ao álbum lançado por Ivan Lins em 1983 e que, além do autor, tinha ganhado registro somente do pianista Ricardo Bacelar no álbum Sebastiana (2018).
Fabiana Cozza mergulha em Choro das águas (Ivan Lins e Vitor Martins, 1977), canção que já teve gravações de cantoras como Alaíde Costa, Tatiana Parra e a própria Zizi Possi. Já Guarde nos olhos (Ivan Lins e Vitor Martins, 1978) é interpretada por Adriana Gennari.
Da lavra de Gabriel Martins, Chuvarada – parceria do compositor com Belex – cai no disco em gravação feita por Leila Pinheiro (voz e piano) com a participação de Jaques Morelenbaum no toque do violoncelo e com produção da própria Leila, que também assina com Morelenbaum o arranjo da faixa que será lançada em 11 de outubro como primeiro single do disco.
Já Rita Benneditto canta Plenitude (Gabriel Martins e Carlos Papel). Completa o EP a música Filha do Mar [Oh Iemanjá], composta somente por Gabriel Martins e com intérprete ainda em fase de confirmação.
Feito sob direção musical de Gabriel Martins em parceria com a pianista, arranjadora e pesquisadora Thais Nicodemo, o disco Elas cantam as águas chegará ao mercado em edição da gravadora Galeão, empresa derivada da Velas, companhia fonográfica independente aberta em 1991 por Ivan com Vitor Martins e o produtor Paulinho Albuquerque (1942 – 2006).

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Médico que ajudou a fornecer cetamina a Matthew Perry se declara culpado por morte do ator

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Conhecido por atuar em ‘Friends’, Matthew Perry morreu em outubro de 2023 por overdose. Mark Chaves é uma das cinco pessoas que enfrentam acusações federais pela morte do ator Matthew Perry
Mike Blake/Reuters
O médico Mark Chavez se declarou culpado por fornecer cetamina ao ator Matthew Perry, morto por overdose em outubro de 2023. O americano fez sua declaração nesta quarta-feira (2), no tribunal federal de Los Angeles (EUA), e se tornou a terceira pessoa a admitir culpa pela morte do ator, que ganhou fama ao interpretar Chandler em “Friends”.
Até a conclusão da sentença, Chavez está livre sob fiança. Ele concordou em entregar sua licença médica. Seu advogado, Matthew Binninger, havia dito em 30 de agosto que ele estava arrependido e tentava “fazer tudo para corrigir o erro”.
Além de Chavez, há dois envolvidos na morte de Perry: Kenneth Iwamasa, assistente do ator, e Erik Fleming, outro fornecedor de droga.
Perry foi encontrado morto em uma banheira de hidromassagem. Quem achou seu corpo foi Iwamasa, que morava com ele.
O assistente admitiu que várias vezes injetou cetamina no ator sem treinamento médico, inclusive no dia de sua morte. Já Fleming alegou ter comprado 50 frascos de cetamina e repassado para Iwamasa.
A Justiça americana ainda investiga mais duas pessoas: Salvador Plasencia, outro médico, e Sangha, suposta traficante conhecida como “Rainha da Cetamina”.
O ator Matthew Perry, morto aos 54 anos, em imagem de 2009
Matt Sayles, File/AP
Um ano antes de morrer, Perry havia lançado sua autobiografia: “Friends, Lovers and the Big Terrible Thing”.
“Existe um inferno”, escreveu Perry, no livro, que narra sua luta contra a dependência química durante os últimos anos de gravação de “Friends”. “Não deixe ninguém lhe dizer o contrário. Eu estive lá; isso existe; fim de discussão.”
O ator, que, na época do vício, passou pela clínica de reabilitação, havia dito que já se sentia melhor e queria que o livro ajudasse as pessoas.
Médio Mark Chavez e Matthew Perry.
Robyn Beck / AFP e Willy Sanjuan/Invision/AP

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Dinho fala de sertanejo no Rock in Rio e revela que Capital Incial fará turnê de 25 anos do ‘Acústico MTV’

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‘Meu instinto é dizer que eles têm o Rock in Rio deles, eles têm Barretos’, diz cantor. No g1 ouviu, ele revelou que banda sairá em turnê comemorativa a partir de março de 2025. Sertanejo no Rock in Rio? Dinho Ouro Preto opina
Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial, opinou sobre a estreia do sertanejo no Rock in Rio. O cantor foi o entrevistado do g1 Ouviu, o podcast e videocast de música do g1, nesta quarta-feira (2).O Capital é uma das atrações que mais tocou no festival, com nove apresentações ao todo.
“Meu instinto é dizer que eles têm o Rock in Rio deles, eles têm Barretos. E ali eu via como a nossa Marques de Sapucaí. Era nossa vez, nossa turma. Mas me lembraram que o primeiro Rock in Rio também foi mais eclético”, ele opinou.
O cantor ainda afirmou ter sentido falta de ter visto mais shows de rock e de pop no festival. Para ele, uma solução poderia ser separar melhor os dias. Na edição deste ano, em setembro, astros da música sertaneja foram incluídos no Dia Brasil, com programação só brasileira. Num bloco de apresentações dedicada ao estilo, vão subir ao palco Ana Castela, Simone Mendes e Chitãozinho & Xororó.
Foram necessários 40 anos para o maior festival de música do Brasil se render ao gênero musical mais ouvido do país – enfrentando o grande tabu de uma ala roqueira mais conservadora.
Turnê dos 25 anos do Acústico MTV
Na entrevita ao g1, Dinho também revelou que o Capital Inicial sairá em turnê comemorativa para celebrar os 25 anos do álbum “Acústico MTV”.
O disco foi lançado em 2000 e colocou a banda em outro patamar, segundo ele. A turnê terá Kiko Zambianchi, que também tocou no acústico, e deve passar por 25 cidades brasileiras, a partir de março de 2025.
Dinho Ouro Preto dá entrevista ao g1 Ouviu
Fabio Tito/g1

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