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Festas e Rodeios

‘Meu autismo fez de mim um artista, mas eu queria uma família’

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David Downes pinta a partir de sua memória fotográfica — e ele diz que ser autista moldou toda a sua vida. David Downes só foi diagnosticado como autista aos 32 anos
Laurence Cawley/BBC
Aos dois anos, David Downes começou a desenhar. Levaria mais alguns anos até ele aprender a falar, e outros 30 até ser diagnosticado com autismo.
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“Eu conseguia desenhar antes de me comunicar [verbalmente]. Olhando para trás, era óbvio que não havia tanta consciência naquela época”, afirma o pintor de paisagens, hoje com 51 anos, que mora na cidade de Manningtree, em Essex, no leste da Inglaterra.
Downes tem memória fotográfica, que ele atribui ao seu cérebro neurodivergente. Ele consegue se lembrar com detalhes vívidos dos lugares que visitou e pintá-los de cabeça.
“Tenho a sorte de ter essa capacidade de visualizar e também ficar obcecado pelas coisas”, diz ele.
“Quando era criança, comecei a desenhar igrejas, árvores, bandos de pássaros e cruzamentos na estrada porque eram as coisas que me fascinavam.”
Downes morou em Londres por vários anos e se inspirou na arquitetura da cidade para criar suas obras
BBC
Ele agora mora em Manningtree, no leste da Inglaterra, e pinta diversas paisagens locais
BBC
Mas os traços autistas nem sempre o ajudaram ao longo da vida.
Criado em Brome, em Suffolk, na Inglaterra, Downes se sentia diferente dos amigos. Ele sofria bullying na escola e encontrava conforto desenhando em um diário ilustrado.
O diretor da escola não acreditava que ele fosse o autor dos desenhos. Por isso, seu talento artístico não era reconhecido.
Foi sua mãe, que faleceu recentemente, que o incentivou a ir para a escola de arte. Downes a descreve como sua inspiração.
Ele teve dificuldade para fazer as provas porque não conseguia reter informações. Por isso, não conseguiu as notas necessárias para entrar na Escola de Arte de Norwich, considerada a melhor da sua região, e acabou cursando outra escola em Ipswich, também na Inglaterra.
“Meu trabalho realmente teve altos e baixos”, relembra.
“Eu era muito ruim em copiar e conseguia desenhar da minha cabeça com muito mais facilidade do que se tivesse algo na minha frente.”
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Downes encontra inspiração na geografia do leste da Inglaterra, como nesta pintura
BBC
Downes prosseguiu com os estudos em outras instituições britânicas. Ele cursou ilustração na Universidade Anglia Ruskin, em Cambridge, e depois estudou na Universidade de Brighton, onde conseguiu um diploma de pós-graduação em ilustração.
“Socialmente, eu ainda enfrentava dificuldade para fazer amigos e tentar me encaixar”, ele conta.
“As pessoas realmente querem ser diferentes na escola de arte. Mas eu era tão diferente, que era irritante. Sempre fiquei um pouco de fora. Ficava desesperado para conseguir uma namorada, mas nunca aconteceu.”
Downes ainda não tinha recebido o diagnóstico de autismo, mas suspeitava que estivesse no espectro. Ele decidiu documentar suas dificuldades em uma autobiografia visual, que usou para entrar no renomado Royal College of Art, em Londres. Para ele, conquistar a vaga foi como “ganhar a Copa do Mundo”.
David Downes criou uma autobiografia visual mostrando suas dificuldades com o autismo
BBC
Depois de formado, David Downes não tinha certeza de qual caminho seguir — como ilustrador ou artista plástico.
“Você sai do Royal College e simplesmente imagina que vai ter sucesso”, diz ele.
“Eu me sentia mais atuando como artista plástico, mas meu trabalho acabou sendo mais ilustrativo.”
Não demorou até que ele conseguisse seu primeiro contrato importante, que foi uma encomenda da BBC para registrar os pontos arquitetônicos mais importantes da corporação na virada do século.
Em 1999, a BBC encomendou a Downes o registro artístico dos edifícios mais simbólicos da corporação
BBC
Downes foi diagnosticado com autismo aos 32 anos — e um psicólogo o aconselhou a conseguir um emprego de meio período em uma loja de arte.
“Eu estava lutando para ter um negócio e ganhar a vida com minha arte”, relembra Downes.
“Eu precisava entender de alguma forma o que estava acontecendo.”
Sua vida profissional voltou a progredir, e, em 2012, o famoso Hotel Savoy, em Londres, o contratou para criar uma obra ilustrando o desfile do Jubileu de Diamante da Rainha Elizabeth 2ª no Rio Tâmisa. A obra está exposta até hoje na entrada do hotel.
‘Ter uma família é o mais importante de tudo’
Downes entrou para a Sociedade Autista Nacional do Reino Unido, chegando à vice-presidência. Ele começou a dar palestras e pintar ao vivo regularmente, em eventos para arrecadação de fundos para a entidade.
Em 2012, David Downes retratou o desfile do Jubileu de Diamante da Rainha Elizabeth 2ª para o Hotel Savoy, em Londres
Getty Images
Mas, paralelamente, Downes tinha dificuldades com relacionamentos. Ele não conseguia encontrar uma parceira, mesmo se jogando no universo de encontros pela internet. E sentia que seu sonho de ser pai estava ficando para trás.
Foi então que, com pouco mais de 40 anos, Downes começou a se consultar com um hipnoterapeuta. Ele pagou o profissional com desenhos.
“Ele me hipnotizava e dizia: ‘David, você é um artista muito bom, você é único, você é diferente. Você vai encontrar alguém que vai entender os seus problemas'”, relembra.
Downes conheceu sua companheira Rachel em um bar no bairro de Stoke Newington, em Londres. O casal morou na Califórnia por três anos, o que ele diz que abriu sua mente para diferentes tipos de trabalho.
Downes pintou de cabeça este quadro de Las Vegas, nos EUA
BBC
“Foi um desafio viver lá e precisar quase começar de novo como artista, depois de ter ficado conhecido em Londres”, ele conta.
“Mas aquilo me empurrou para fora da minha zona de conforto.”
David e Rachel decidiram voltar para a Inglaterra e morar em Manningtree. E ela ficou grávida da filha do casal, Talia, hoje com dois anos.
Downes exibiu recentemente mais de 40 quadros no complexo de arte de Snape Maltings, na Inglaterra. Acima, o local da exposição retratado por ele
BBC
Quando veio a Covid-19, Downes se inspirou em documentar a pandemia. Ele conta que o processo o ajudou a lidar com o estresse causado pelo coronavírus — e seu trabalho passou a ser muito mais imaginário e surreal.
“Meus melhores trabalhos sempre foram autobiográficos ou descreviam os tempos em que vivemos”, ele observa.
Ele criou uma série de pinturas dramáticas em resposta ao vírus, incluindo esta que está exibida em sua galeria
BBC
Downes abriu recentemente uma galeria em Manningtree. Esse sempre havia sido seu sonho, mas o artista “nunca achou que se tornaria realidade”.
“Ter a oportunidade de exibir meu trabalho e conversar com as pessoas é incrível”, ele conta.
“Sinto que [a galeria] também me deu mais identidade como artista.”
Downes tem sua própria galeria na cidade onde mora, no leste da Inglaterra
Laurence Cawley/BBC
Downes e Rachel tiveram uma filha, Talia, que hoje tem dois anos
David Downes
Downes agora concentra sua atenção na crise do custo de vida. Ele quer criar obras documentando as adversidades em 2023.
“Antes de morrer, minha mãe me disse: ‘Seu pai e eu nunca achamos que você encontraria alguém e seria pai'”, recorda.
“Tenho orgulho de tudo o que consegui no mundo da arte, mas ter uma família é o mais importante de tudo.”
– Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-64161127

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Paternidade e mudança para Londres guiam Momo na criação do álbum ‘Gira’

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Disco sai em 18 de outubro com dez músicas autorais, sendo seis feitas em parceria com Wado. Capa do álbum ‘Gira’, de Momo
Arte de Marco Papiro e Julia Lüscher
♫ NOTÍCIA
♪ Cantor, compositor e músico de origem mineira, Marcelo Frota – Momo, na certidão artística – personifica o cidadão do mundo. E a rota planetária do artista tem norteado a construção de discografia que ganha um sétimo álbum, Gira, daqui a duas semanas, 18 de outubro.
Momo cresceu e se criou musicalmente no Rio de Janeiro (RJ), cidade que celebra em uma das músicas de Gira, mas migrou para Portugal, país onde gestou em Lisboa o quinto álbum, Voá (2017), com produção musical de Marcelo Camelo.
Já o sexto álbum de Momo, I was told to be quiet (2019), foi orquestrado em Los Angeles (EUA) com produção musical do norte-americano Tom Biller.
Após ter transitado pela Espanha, Momo partiu para Londres. O álbum Gira é o reflexo não somente dessa mudança para a capital da Inglaterra, mas também e sobretudo da paternidade. A chegada da filha Leonora também guiou Momo na criação de um álbum mais leve, pautado pelo groove. “Eu adoraria fazer um álbum para ela dançar”, vislumbra Momo.
Com capa assinada por Marco Papiro e Julia Lüscher, o disco Gira chega ao mundo em 18 de outubro pelo selo londrino Batov Records em LP e em edição digital. Inteiramente autoral, o inédito repertório do álbum é composto por dez músicas.
Seis músicas – Pára, Rio, Passo de avarandar, Jão, Beija-flor e a composição-título Gira – foram feitas com a colaboração de Wado na escrita das letras. Oqueeei é parceria de Momo com o saxofonista Angus Fairbairn. Já Walk in the park, My mind e Summer interlude são músicas da lavra solitária de Momo.
O álbum Gira foi feito com os toques de músicos como Caetano Malta (baixo), Jessica Lauren (teclados), Magnus Mehta (percussão) e Nick Woodmansey (bateria), entre outros instrumentistas arregimentados em Londres, atual morada e inspiração de Momo.
Momo lança em 18 de outubro o sétimo álbum da discografia autoral, ‘Gira’, em LP e em edição digital, pelo selo londrino Batov Records
Dunja Opalko / Divulgação

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Sidney Magal dá baile em show no Rio, canta hit de Jorge Ben Jor com a banda Biquini e continua com a moral elevada

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Aos 74 anos, artista sabe se alimentar do passado sem soar ultrapassado no mercado da música. Sidney Magal em take da gravação da música ‘Chove chuva’ para disco da banda carioca Biquini
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♫ COMENTÁRIO
♩ Aos 74 anos, Sidney Magal continua com a moral elevada no universo pop brasileiro. Dois acontecimentos simultâneos nesta sexta-feira, 4 de outubro, reiteram a força do cantor carioca no mercado atual.
No mesmo dia em que o artista sobe ao palco da casa Qualistage – um dos maiores espaços de show da cidade do Rio de Janeiro (RJ) – para apresentar o Baile do Magal ao público carioca, a banda Biquini lança disco com convidados, Vou te levar comigo, em que o maior destaque é uma regravação de Chove chuva (Jorge Ben Jor, 1963) feita com a participação de Magal e um toque latino de salsa na música.
Não é pouca coisa para um artista cujo último sucesso é de 1990, Me chama que eu vou (Torquato Mariano e Cláudio Rabello), lambada gravada para a trilha sonora da novela Rainha da sucata (TV Globo, 1990).
Me chama que eu vou é também o nome do documentário estreado em 2020 com foco na trajetória do artista que ganhou projeção nacional em 1976.
De 1976 a 1979, Magal arrastou multidões pelo Brasil a reboque de repertório sensual posto a serviço da imagem cigana de amante latino. Não por acaso, 1979 é o ano em que se situa a narrativa de longa-metragem sobre a história de amor entre Magal e a esposa Magali West, foco do filme de ficção Meu sangue ferve por você (2023 / 2024), estreado em maio nos cinemas – e já disponível no catálogo da Netflix – com o ator Filipe Bragança dando voz e vida a Magal na tela.
Hoje, Magal é uma personalidade. Um cantor que prescinde de ter músicas nas playlists para se manter em evidência. O artista soube se alimentar do passado sem soar ultrapassado. Nesse sentido, Sidney Magal tem dado baile na concorrência.

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Emiliano Queiroz: famosos lamentam morte do ator

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Emilio Orciollo Netto, Beth Goulart, Selton Mello e Lucio Mauro Filho foram alguns dos famosos que deixaram mensagens nas redes sobre a morte do artista de 88 anos. Emiliano Queiroz na novela Espelho da Vida
Acervo Grupo Globo
Emilio Orciollo Netto, Ary Fontoura, Beth Goulart, Selton Mello, Lucio Mauro Filho e outros famosos lamentaram a morte de Emiliano Queiroz. O ator de 88 anos morreu após sofrer uma parada cardíaca, na madrugada desta sexta-feira (4).
Emilio, que trabalhou com Emiliano na novela “Alma Gêmea”, fez uma postagem nas redes sociais lamentando a morte do ator.
“Meu amigo Milica, fez a passagem. Amigo, você me ensinou e ensina muito. Você é um exemplo de ator de caráter de amor a profissão. Você fez parte de um dos momentos mais felizes da minha vida. Meu eterno Tio Nardo. Obrigado por tanto e por tudo. Você é inspiração eterna. Te amo. Seu eterno Crispim. Te amo”, escreveu o ator.
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Veja mais mensagens de famosos que lamentaram a morte de Emiliano Queiroz:
Selton Mello, ator
“Gênio amado, Seu Emiliano querido demais.”
Lucio Mauro Filho, ator
“Nosso amado Emiliano Queiroz partiu para o outro plano, deixando uma saudade instantânea. Um dos grandes atores do nosso país, com quem tive a honra de dividir a cena em ‘Lisbela e o Prisioneiro’, rodando o Brasil em farras inesquecíveis! Vê-lo no palco aos 86 anos, brilhando como sempre, foi uma das últimas grandes emoções que vivi dentro de um teatro. Obrigado mestre Emiliano por tanta coisa linda que você sempre me proporcionou. Descansa em paz!”
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Ary Fontoura, ator
“Triste 😢💔”
Beth Goulart, atriz
“Mais uma perda para todos nós, o grande ator Emiliano Queiroz partiu hoje aos 88 anos. Com uma longa carreira de mais de 70 anos dedicados ao ofício da interpretação, deixa um enorme legado artístico ao nosso país. Nosso amado ‘Dirceu borboleta’ voou para novas dimensões de existência. Que Deus te abençoe e te receba em sua infinita luz e amor. Meus sentimentos para toda a família.”
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Andréa Faria Sorvetão, atriz e ex-paquita
“Nossas referências indo… Que possamos ser referência também.”
Junior Vieira, ator
“Muita luz.”
Rosane Gofman, atriz
“Tão querido e talentoso!”
Claudia Mauro, atriz
“Meu amigo da vida, meu padrinho de casamento, meu guru, meu amado Emily….E recentemente tivemos este encontro tão lindo. Respostando este vídeo e este registro recente. Meu amigo querido, faça uma boa viagem! Obrigada Liloye Boubli por me proporcionar este último encontro! Emiliano .. Emily… Inesquecível! Pessoa rara! Artista extraordinário! Um dos maiores atores da sua geração. E tantos, tantos e tantos momentos vivemos juntos. Obrigada por tudo! Pelas conversas, pela torcida, pelos conselhos, pelo amor e amizade incondicional. Te amamos muito!”
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Antonio Grassi, ator
“RIP Emiliano ! Que notícia triste.”
Bárbara Bruno, atriz
“Muito amado e querido!!!!!! Viva Emiliano Queiroz”
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Tadeu Mello, ator
“Emiliano foi muito especial na minha vida.”
Gustavo Wabner, ator
“Um dos grandes! O primeiro Veludo de “Navalha na Carne”, o inesquecível Dirceu Borboleta de ” O Bem Amado” e de tantos outros personagens inesquecíveis.”
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