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Festas e Rodeios

‘Brasil pode mostrar ao mundo como reagir a ataques contra a democracia’, diz promotor de ‘Argentina, 1985’

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Luis Moreno Ocampo, ex-promotor-chefe do Tribunal Penal Internacional, avalia que o Estado brasileiro ficou mais propenso à interferência militar porque não puniu os responsáveis por assassinatos e torturas durante a ditadura. O jurista argentino Luis Moreno Ocampo foi o promotor que levou generais ao banco dos réus
BBC/Getty Images
O jurista argentino Luis Moreno Ocampo, 70 anos, foi criticado até pela mãe quando assumiu o primeiro caso de sua carreira como promotor: levar a julgamento os nove ditadores militares que governaram a Argentina entre o golpe de Estado de 1976 e a redemocratização em 1983.
A oposição da mãe virou anedota do filme Argentina, 1985, indicado ao prêmio de melhor filme internacional do Oscar 2023 e vencedor do Globo de Ouro na categoria melhor filme estrangeiro.
Em entrevista à BBC News Brasil por Zoom, de seu apartamento em Malibu, na Califórnia, Ocampo afirmou que a história retratada no cinema e no streaming mostra às novas gerações a necessidade de punir responsáveis por crimes violentos do passado e a importância de realizar julgamentos justos até contra os torturadores mais cruéis.
O filme recria um momento decisivo da história argentina. Mesmo com a retomada do poder pelos civis, não havia unanimidade no país sobre a conveniência de julgar militares responsáveis por crimes bárbaros.
Pelo menos 30 mil pessoas desapareceram no país durante a ditadura, segundo estimativas de organizações de direitos humanos.
Mas o primeiro presidente da redemocratização, Raúl Alfonsín, tinha como bandeira de campanha levar a julgamento os responsáveis nas Forças Armadas pelos crimes da ditadura — venceu a eleição com 52%.
Alfonsín revogou uma lei de “autoanistia” que os militares editaram antes de deixar o poder. E determinou por decreto que a promotoria abrisse investigações contra os comandantes da Marinha, da Aeronáutica e do Exército no período ditatorial. Assim nasceu o processo contra os nove comandantes militares.
O Brasil caminhou de maneira oposta. Nenhum presidente tomou a iniciativa de revogar a Lei da Anistia, sancionada pelo último ditador, João Figueiredo, em 1979. O Supremo Tribunal Federal (STF) manteve, em 2010, a validade da Lei da Anistia, e ainda não pautou o julgamento de um recurso da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que tenta reverter a decisão.
A Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) já mandou o Brasil reabrir investigações sobre responsáveis por assassinatos durante a ditadura brasileira, o que tem amparado decisões de juízes para retomar e avançar alguns casos. Para Ocampo, a anistia tornou o Brasil mais propenso a interferências das Forças Armadas na vida política.
“A falta de clareza do que aconteceu no Brasil durante a ditadura ajuda pessoas a romantizar sobre serem protegidas por homens fortes, como minha mãe pensava que era protegida pelo general Jorge Videla (ditador que comandou a Argentina entre entre 1976 e 1981)”, diz o ex-promotor.
Mas, depois dos ataques de 8 de janeiro em Brasília — quando apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) destruíram patrimônio, mobiliário e edificações do Executivo, do Legislativo e do Judiciário contra a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) —, Ocampo avalia que o Brasil pode servir de modelo sobre como reagir a investidas contra a democracia.
“Ainda que existam diferenças políticas, todos os políticos precisam concordar em proteger a democracia. O Brasil pode mostrar ao mundo como reagir politicamente a ataques contra a democracia. Por isso, acredito que o governo Lula tem que criar um consenso sobre isso. Sei que é difícil, porque as redes sociais estão tornando a sociedade muito fragmentada”, pondera o jurista.
À esquerda, os comandantes militares que estavam sendo julgados; à direita, os promotores Luis Moreno Ocampo e Julio Strassera
Getty Images via BBC
“É um grande desafio político para Lula conseguir consenso para proteger a democracia e tirar vantagem desses ataques”, acrescenta.
Para ilustrar a importância não só de punir os ditadores argentinos, mas de fazer isso em um julgamento justo, Ocampo conta que sugeriu ao diretor do filme, Santiago Mitre, que incluísse essa ideia no roteiro, na fala de um dos juízes: “Vamos dar aos militares o que eles não deram às suas vítimas: um julgamento justo”.
Veja abaixo trechos da entrevista com Ocampo:
BBC News Brasil – Ao contrário da Argentina, o Brasil aprovou uma Lei de Anistia para militares e não julgou os responsáveis por torturas e assassinatos durante a ditadura. Quais as consequências disso?
Luis Moreno Ocampo – “No livro The Justice Cascade: How Human Rights Prosecutions Are Changing World Politics”, a professora Kathryn Sikkink mostrou que a falta de investigações no Brasil está ligada ao fato de ocorrerem mais casos de tortura do que em outros países. Países que investigam o passado têm menos problemas de tortura policial do que o Brasil. Isso é importante. Precisamos oferecer ao presidente Lula um bom projeto para investigar o crime organizado de maneira generalizada. A ideia de gerenciar a violência com meios pacíficos é crucial para nosso futuro, como a Argentina mostrou.
BBC News Brasil – Essa anistia aos militares da ditadura tornou o Brasil mais propenso a interferências ou a problemas com os militares na atualidade?
Ocampo – Sim. A falta de clareza do que aconteceu no Brasil durante a ditadura ajuda pessoas a romantizar sobre serem protegidas por homens fortes, como minha mãe pensava que era protegida por Videla. Não sei o suficiente sobre o Brasil, mas na Argentina a investigação do passado produziu rebeliões militares e conflitos. Só que as pessoas reagiram e defenderam a democracia. Essa foi a questão definidora.
BBC News Brasil – Como o senhor observou os ataques contra os Três Poderes do Estado brasileiro no dia 8 de janeiro em Brasília?
Ocampo – É incrível como os ataques de Brasília foram similares aos ataques contra o Congresso dos Estados Unidos. Acho que não estamos prestando atenção a isso. Nos Estados Unidos, condenaram os líderes dos ataques, mas ainda há políticos no Senado apoiando essa invasão.
É muito importante o que Lula fez no Brasil no dia seguinte ao ataque, quando reuniu líderes políticos contra isso. Isso é crucialmente importante. Ainda que existam diferenças políticas, todos os políticos precisam concordar em proteger a democracia.
O Brasil pode mostrar ao mundo como reagir politicamente a ataques contra a democracia. Por isso, acredito que o governo Lula tem que criar um consenso sobre isso. Sei que é difícil, porque as redes sociais estão tornando a sociedade muito fragmentada. É um grande desafio político para Lula conseguir consenso para proteger a democracia e tirar vantagem desses ataques.
Especialistas acadêmicos precisam oferecer a Lula mecanismos eficientes para controlar o crime violento e as mudanças climáticas. Quando se é político, não se tem tempo de pensar nesse tipo de questão. Os acadêmicos não estão ocupando esse espaço. Especialistas precisam conceber novas ferramentas, incluindo ferramentas que usam inteligência artificial, para controlar o crime organizado. Isso é crucial.
BBC News Brasil – Houve relatos no Brasil de que alguns militares teriam facilitado ou se omitido nos ataques de Brasília. Como as autoridades devem lidar com isso?
Ocampo – Quando você vê o que aconteceu em Brasília, a falta de reação foi similar ao que aconteceu em Washington. A polícia e a Guarda Nacional não foram eficientes por horas. Não foi tão diferente. A polícia e o Exército seguem ordens. Não precisa prender todos os policiais ou todos os militares. Precisa dar ordens claras.
Na Argentina, pessoas disseram que o responsável pela nossa segurança, durante o julgamento, tinha trabalhado em um centro de tortura, mas em 1985 o comissário de polícia não seguia ordens do general Jorge Videla. Até escoltou Videla como prisioneiro. Os policiais seguem ordens.
BBC News Brasil – Por que o sr. acha que a reação de militares e policiais foi semelhante no Brasil e nos EUA?
Ocampo – Nos Estados Unidos, a Guarda Nacional foi realmente lenta e dizem que há militares insubordinados nos baixos escalões das Forças Armadas. Mas acho que ninguém estava preparado para isso. Não é fácil matar pessoas protestando na frente do Congresso. É complicado. Não estavam preparados para lidar com o problema. Mas algumas pessoas no Brasil e nos EUA agiram bem para resolver a situação, sejam autoridades ou membros do Congresso. O Brasil virou exemplo de como a democracia sob ataque é um problema global.
BBC News Brasil – Como as instituições devem reagir a ataques como os sofridos pelo Brasil?
Ocampo – Os juízes reagiram muito bem, corretamente, garantindo que os criminosos sejam identificados. Realmente precisamos que os políticos deixem claro no Brasil que a democracia é um projeto comum. Depois podem debater a economia. Mas isso é crucial.
BBC News Brasil – A ordem jurídica internacional está equipada para lidar com episódios como os ataques em Brasília?
Ocampo – Não. Precisamos fazer mais. É um momento em que precisamos pensar como desenvolver a conexão entre instituições nacionais e internacionais. Alguns dizem que a Organização das Nações Unidas (ONU) não pode ser culpada pela falta de paz no mundo, porque a ONU é o prédio onde países soberanos se encontram. Culpar a ONU pela falta de segurança é como culpar o Madison Square Garden quando os Knicks jogam mal. O Tribunal Penal Internacional (TPI) foi a primeira instituição a intervir nos países-estado. Minha experiência lá transformou o meu entendimento.
Precisa ter esse tipo de instituição internacional para constranger sistemas nacionais que pratiquem atos ilegais. É um modelo a ser desenvolvido, porque precisamos desenhar coisas novas. Precisamos de algo como um tribunal contra o crime organizado, que possa intervir quando crimes não são investigados. Precisamos de algo assim contra as mudanças climáticas e contra o crime organizado.
Para o crime organizado, precisamos primeiro de uma organização regional investigando os crimes. A Europol é a maior organização policial, mas só para a Europa. E a Interpol não é operacional; é um sistema de troca de informações sobre fugitivos. Precisamos de uma polícia central para controlar o crime organizado.
Assista ao trailer do filme “Argentina, 1985”
BBC News Brasil – Quase 40 anos depois, quais foram as consequências para a Argentina do julgamento dos comandantes militares pelos crimes praticados na ditadura?
Ocampo – O presidente Raúl Alfonsín dizia que tínhamos que acabar com 50 anos de impunidade por golpes de Estado e proteger a democracia. Esse era o plano dele. Ele se elegeu para isso. É interessante porque naqueles dias professores de ciência política e de relações internacionais não queriam julgamentos ou investigações, porque a Espanha teve uma transição mais suave sem desafiar o ditador Francisco Franco.
E o Brasil tinha seguido em frente sem investigar antigos ditadores. Alfonsín enfrentou rebeliões militares, mas as pessoas apoiaram a democracia e assim ela ficou mais forte. O filme é incrível, porque passou essa mensagem para novas gerações. O filme não é só importante para a Argentina, mas para o mundo todo, porque a democracia está sob ataque em todo o mundo.
BBC News Brasil – Como foi superada a alegação defensiva dos comandantes argentinos de que não sabiam e não organizaram os assassinatos e as torturas?
Ocampo – Esse foi o maior desafio para nós. No início, não sabíamos exatamente quem estava torturando ou matando as vítimas. Então escolhemos os casos mais graves da Comissão da Verdade. Tentamos mostrar diferentes anos e juntas militares, de diferentes partes do país. Juntamos 700 casos.
Depois, começamos a ligar para os sobreviventes e a perguntar como foram sequestrados, se havia testemunhas, se algum familiar viu etc. Tentamos fortalecer os depoimentos das vítimas com outras testemunhas.
Em seguida, buscamos outros documentos como habeas corpus ou queixas na justiça sobre a prisão da vítima. Depois, na parte importante de provar que comandantes sabiam, o fato é que em todos os casos depois do sequestro as pessoas eram torturadas em centros clandestinos em dependências das Forças Armadas ou da polícia. Era um sistema de tortura.
Para quebrar o silêncio, eles torturavam sem limites para conseguir mais informações. Isso mostrava a responsabilidade do comando e que não era um incidente isolado ou grupos agindo por conta própria. A Comissão da Verdade chamava esses locais de tortura de “centros clandestinos”.
Mas os militares, na sua linguagem, chamavam de “local de encontro de prisioneiros”. Quando perguntávamos aos generais quais eram os centros clandestinos na área sob sua responsabilidade, eles negavam. Mas quando perguntávamos se havia “locais de encontro de prisioneiros” nas suas áreas, eles reconheciam esses lugares. Eles admitiam que inspecionavam e prestavam informações aos comandantes.
BBC News Brasil – Como se chegou a uma prova irrefutável contra os comandantes militares?
Ocampo – Tivemos uma “smoking gun” (uma “arma fumegante”, uma prova irrefutável). A melhor prova para mim foi um caso em que a Marinha disse que freiras francesas foram sequestradas pelo grupo guerrilheiro Montoneros. Mostraram fotos das freiras com a bandeira dos guerrilheiros atrás.
Tivemos diferentes testemunhas dizendo que as fotos foram feitas em um quartel da Marinha. E a mais importante testemunha foi o ex-presidente da França, Valéry Giscard d’Estaing, porque ele contou que recebeu o almirante Emilio Massera na Europa, quando o militar argentino fazia um tour em busca de apoio para virar o novo presidente.
O presidente francês perguntou a Massera sobre as freiras francesas. Massera deu um papel sem assinatura, mostrando que as freiras francesas, citadas pelo nome, foram mortas pelas Forças Armadas, não pelos guerrilheiros.
Massera alegava que o Exército tinha matado as freiras, mas a verdade era que a Marinha tinha matado, então Massera estava escondendo isso. Isso foi uma grande evidência, uma “smoking gun”. E o presidente francês testemunhou.
Nenhum comandante matou com as próprias mãos. Eles davam ordens. Comandantes não atiram, traçam planos. As ordens formais nunca diziam para “torturar”. As ordens diziam para fazer o que chamavam de “entrevistas táticas”. Usavam palavras diferentes para esconder os crimes.
Chamavam as vítimas de “alvo planejado” e “alvo oportuno”. “Alvo planejado” era a pessoa que devia ser sequestrada. “Alvo oportuno” era a pessoa que devia ser torturada. Algumas ordens nós localizamos, mas tivemos de decodificar, porque foram escritas de maneira cifrada.
O número de vítimas transformou o julgamento. Militares tentaram dizer que venceram a guerra contra os terroristas. Mas o que fizeram foi pior. A verdadeira questão é a seguinte: tratamos pessoas violentas como criminosos com direitos ou inimigos que podem ser mortos? Militares consideraram que os argentinos eram inimigos a matar. Diziam que defendiam a democracia e a liberdade. Como podem matar e torturar defendendo a democracia e a liberdade?
– Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64455895

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Rapper Budah lança o primeiro álbum, ‘Púrpura’, com nomes como Delacruz, Djonga e Duda Beat entre as 15 faixas

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Indicada ao BET Hip Hop Awards 2024, a artista capixaba segue movimento ascendente desde 2021 com mix sensual de trap com gêneros como R&B. Rapper Budah reúne no álbum ‘Púrpura’ produtores musicais como Dmax, Go Dassisti, Jok3r, Los Brasileiros, Pedro Lotto, Tibery e Wey
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♫ NOTÍCIA
♪ Desde 2021, a rapper capixaba Budah vem seguindo trajetória ascendente em movimento que incluiu a assinatura de contrato com a gravadora Universal Music no ano passado.
Nascida Brenda Rangel em Vila Velha (ES), mas criada em Cariacica (ES) em família musical, a cantora e compositora se tornou Budah ao se lançar na cena de rap e no universo do grafite do Espírito Santo.
Sete anos se passaram desde o lançamento em 2017 da primeira música autoral de Budah, Neguin, e a edição do primeiro álbum da artista, Púrpura, no mercado digital desde ontem, 4 de outubro.
Com as presenças de nomes como Djonga, Duda Beat, Delacruz, Azzy, MC Luanna, TZ da Coronel, Thiago Pantaleão e Day Limns, o álbum Púrpura sai após dezenas de singles – editados por Budah desde 2017, muitos em colaboração com outros artistas – e chega no rastro da indicação da rapper ao BET Hip Hop Awards 2024 na categoria Melhor flow internacional.
Capa do álbum ‘Púrpura’, de Budah
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Formatado por vários produtores musicais, em time que inclui Dmax, Go Dassisti, Jok3r, Los Brasileiros, Pedro Lotto, Tibery e Wey, entre outros nomes, o álbum Púrpura parte do trap para abarcar com sensualidade gêneros como R&B, mote de temas como 812.
Antecedido pelo single Linha de frente, o álbum Púrpura reúne músicas como Deve ser horrível ser você, Hora H (gravada com a adesão de Azzy), Maré, Ninguém vai te superar (faixa turbinada com a presença de Djonga), Pouca roupa e Visão (com Duda Beat e Thiago Pantaleão). Dois interlúdios, Rádio e Nosso laço, costuram o repertório autoral de Budah no primeiro álbum da rapper.
Dez anos após jogar na internet em 2014 um bem recebido cover de Billionaire (2010), música do rapper Travie McCoy gravada com a participação de Bruno Mars, Budah segue em movimento com a intenção de cruzar a linha de frente do hip hop nacional. O lançamento do álbum Púrpura é bom passo na caminhada da artista.
Budah, artista capixaba nascida Brenda Rangel em Vila Velha (ES) e criada em Cariacica (ES), lança o primeiro álbum dez anos após ter jogado a primeira música na internet
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Caso Diddy: psiquiatra explica onda de comentários irônicos envolvendo denúncias a rapper

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Pessoas têm postado comentários ironizando toda a situação, que envolve crimes de violência física e sexual. Especialista cita que redes sociais amplificam o ‘efeito manada’. Psiquiatra explica onda de comentários irônicos envolvendo o caso Sean Combs
Sean “Diddy” Combs não saiu das notícias dos últimos dias. O rapper, que também é conhecido como Puff Daddy, foi preso no dia 16 de setembro sob a suspeita de tráfico sexual e agressão. O artista é acusado de abuso sexual e de drogar pessoas durante festas promovidas por ele.
Diddy nega todas as acusações, que são bem semelhantes às feitas por Cassie Ventura. A ex-namorada do rapper abriu um processo contra ele alegando que foi estuprada e violentada por mais de uma década.
Ponto a ponto: quem é Sean Diddy Combs e quais são as acusações que envolvem sua prisão
Além de tudo o que virou notícia sobre o caso, uma situação chamou a atenção nas redes sociais: apesar de todas as questões de violência física e sexual do caso, muita gente decidiu fazer piada e ironizar a situação.
Desde a prisão do rapper, a internet ficou cheia de postagens inspiradas nesse caso. Muitos delas apontam nomes de amigos famosos do cantor, como Jay-Z. Os dois têm uma relação bem próxima. O cantor, inclusive, já foi criticado por não ter se posicionado sobre o caso Diddy.
Caso Diddy: quem são os famosos citados nas notícias do escândalo
Quem são os sete filhos do rapper
Instagram de Sean Diddy Combs
Reprodução/Instagram
O Instagram do rapper, atualmente, conta só com duas fotos. Uma é de sua filha Chance, de 18 anos, e outra de sua caçula, Love, de 1 ano e 9 meses. No espaço para comentários, muitas piadinhas.
Muitas delas, de brasileiros que estão “culpando” Diddy por casos que aconteceram no país. Por exemplo, tem gente afirmando que não vai perdoar Diddy por ele ter empurrado Mc Kevin da sacada. O rapper brasileiro morreu em 2021 após cair do 5º andar de hotel na Barra da Tijuca. Tem gente que diz, também, que Diddy seria responsável pela morte do Silvio Santos. O apresentador morreu em agosto, aos 93 anos.
As postagens seguem a linha de teorias da conspiração que surgiram após a prisão de Diddy e que afirmam que ele estaria envolvido na morte de astros internacionais.
Existem ainda mais memes e tentativas de piadas com outras questões relacionadas ao caso: como a grande quantidade de garrafas de óleo de bebê encontradas na casa do rapper. Ou também sobre o fato de Justin Bieber ter Diddy como um de seus padrinhos musicais.
A falta do olhar do outro
Internautas criam memes ironizando caso de Sean Diddy Combs
Reprodução/Instagram
Autor de livros como “Viagem por dentro do cérebro”, “Doentia maldade” e “O lado bom do lado ruim”, o psiquiatra Daniel Barros explicou ao g1 que as pessoas tendem a contar piadas com temas graves, porque as redes sociais eliminam uma parte fundamental da interação humana: o olhar do outro.
“No ambiente virtual, não há um feedback imediato das reações emocionais dos interlocutores, como acontece nas interações face a face. E aí, sem ver o sofrimento ou a indignação diretamente, as pessoas não têm o freio social que normalmente as impediria de ironizar questões sérias”, afirma Daniel.
“Sem ver o sofrimento ou a indignação diretamente, as pessoas não têm o freio social que normalmente as impediria de ironizar questões sérias.”
“Assim, acabam expressando desprezo ou falta de empatia, algo que provavelmente não fariam no mundo real, onde o desconforto gerado pelas expressões de dor do outro seria mais evidente”, completa o psiquiatra.
O médico também comenta que as redes sociais amplificam o efeito manada. Esse comportamento é muito usado na psicologia para explicar como as pessoas, quando estão em grupo, agem e reagem de uma mesma forma, mesmo sem um planejamento.
“Quando uma pessoa faz um comentário irônico ou ofensivo, outros podem seguir o exemplo e agir da mesma maneira, sem refletir profundamente sobre o impacto disso. Essa propagação rápida de comportamentos antissociais se deve ao fato de que, nas redes, as respostas não são vistas em tempo real, o que dá uma sensação de anonimato e segurança, mesmo que parcial. Isso faz com que a escalada de agressividade e ironia ocorra de maneira mais veloz e generalizada.
Daniel ainda comenta que uma mudança em relação a esse tipo de atitude requer tempo e adaptação.
Mas ele explica que se a sociedade se tornar mais consciente dos efeitos negativos das redes sociais, talvez as pessoas desenvolvam novas formas de empatia e autorregulação no ambiente virtual.
“Um caminho potencial seria uma maior educação sobre os impactos de nossas ações on-line e o desenvolvimento de mecanismos de autorreflexão para pensar antes de postar.”

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Coldplay ainda faz música de verdade ou apenas trilha para palestra motivacional?

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‘Moon Music’, 10º álbum do grupo britânico, desperdiça boas participações em melodias ao mesmo tempo sem referência e sem identidade; veja análise do g1. g1 analisa ‘Moon Music’, novo álbum do Coldplay
O Coldplay lançou nesta sexta-feira (4) “Moon Music”, seu 10º álbum de estúdio — segundo o vocalista Chris Martin, o antepenúltimo da banda, que pretende parar de fazer música após o 12º trabalho. As dez novas faixas, no entanto, deixam a sensação de que eles já pararam.
Nas últimas décadas, o grupo britânico viveu uma das maiores transformações musicais do pop mundial. Foi do rock alternativo melancólico do disco “Parachutes” (2000), influenciado por nomes como Oasis e Radiohead, ao pop motivacional de arena, mostrado principalmente a partir de “Viva la Vida or Death and All His Friends”, de 2008.
A fase mais recente transformou o Coldplay em um fenômeno de venda de ingressos. Iniciada em 2022, a turnê global “Music of the Spheres” arrecadou US$ 945,7 milhões e foi descrita pela revista “Billboard” como a mais lucrativa de todos os tempos para uma banda de rock.
Coldplay no Rock in Rio 2022
Stephanie Rodrigues
No ano passado, o espetáculo visual cósmico, com lasers, fantoches e pulseirinhas coloridas, passou pelo Brasil em 11 apresentações de estádios, com entradas esgotadas.
Ainda assim, fãs mais antigos torcem o nariz — e torcem por algum indício de retorno da banda às raízes. Esses podem desencanar: o “Moon Music” segue a mesma atmosfera etérea-edificante do trabalho anterior de 2021, o que dá nome à turnê quase bilionária.
Nesses dois álbuns, “Music of the Spheres” e “Moon Music”, o ponto alto são as participações. O primeiro tem Selena Gomez e o grupo de k-pop BTS no auge. O novo disco traz a cantora nigeriana Ayra Starr enriquecendo os vocais de “Good Feelings”, pop funkeado sobre a importância de cultivar bons sentimentos.
Em “We Pray”, louvor com levada de rap, está o também nigeriano Burna Boy, outro astro do afrobeat. Com hits e artistas escalando nas paradas, o pop africano ganhou força global em 2024. Mas o que poderia ser uma boa referência no álbum do Coldplay acaba diluído em melodias que parecem de inteligência artificial.
O disco consegue ser, ao mesmo tempo, sem referências e sem identidade: os arranjos não se conectam de verdade com nenhum movimento musical. Já as letras falam de um mundo sem complexidade, onde apenas o poder do amor é capaz de resolver problemas geopolíticos e unir nações em guerra.
“One World”, a música que fecha o “Moon Music”, tem Chris Martin em um instrumental onírico repetindo as palavras “um mundo, apenas um mundo”, para depois concluir: “No fim, é só amor”.
Capa de ‘Moon Music’, 10º álbum do Coldplay
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Escolha seu lugar
Não é exatamente para ouvir música que os fãs lotam as apresentações do Coldplay. Com ornamentações de todo tipo, os shows do grupo são vendidos como “experiências” que agradam também outros sentidos.
Mas, se ao vivo a combinação com elementos visuais ajuda a criar um clima mágico, no trabalho de estúdio tudo se torna bem mais monótono.
O Coldplay não está interessado na música em si, mas em guiar as sensações do público. E, sem pirotecnia ou chuva de papel picado, a experiência fica mais parecida com uma palestra motivacional.
Na música-título, que abre o álbum, há um instrumental ambiente de quase dois minutos, perfeito para os espectadores irem escolhendo seus lugares no auditório. Depois, o “Moon Music” encaminha o ouvinte para se animar em “Feels Like I’m Falling in Love”; para refletir em “We Pray”; se empoderar em “IAAM”; se emocionar ao lembrar de tempos mais difíceis em “All My Love”.
Quem consegue deixar o mau humor de lado para se entregar de corpo e alma a esse tipo de vivência pode dar o play tranquilo. Vai ser divertido. Os outros provavelmente vão achar um tanto cafona.

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