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Festas e Rodeios

Álbum inicial de Luiz Melodia, ‘Pérola negra’ brilha há 50 anos pela singular pluralidade da obra do artista

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♪ MEMÓRIA ♫ DISCOS DE 1973 – Quando o álbum Pérola negra foi lançado em 1973, Luiz Carlos dos Santos (7 de janeiro de 1951 – 4 de agosto de 2017) já era nome relativamente cultuado em nichos antenados da música brasileira da cidade do Rio de Janeiro (RJ).
Embora desconhecido pelo tal grande público, Luiz já era o Melodia, o autor da canção bluesy Pérola negra, sensação ao ser apresentada ao Brasil na voz de Gal Costa (1945 – 2022) em outubro de 1971, mês em que estreou o show Gal a todo vapor, logo depois com o Fa-Tal incorporado ao nome, tal como o título do LP duplo ao vivo lançado quase ao apagar das luzes de 1971 pela mesma gravadora, Philips, que contrataria Luiz Melodia em 1972 no rastro do burburinho provocado pelo show de Gal e pela gravação por Maria Bethânia do samba-canção Estácio, Holly Estácio (1972), apresentado pela cantora no álbum Drama – Anjo exterminado (1972).
Melodia vinha do Morro do São Carlos – onde nascera e se criara no Estácio, bairro que se tornar celeiro de bambas do samba carioca nos seminais anos 1930 – e triunfou no asfalto no impulso do entusiasmo dos poetas Torquato Neto (1944 – 1972) e Waly Salomão (1943 – 2003) com o cancioneiro daquele compositor negro que não se enquadrava no molde do sambista idealizado pelo mercado da música.
Letristas afiados, os poetas haviam subido o morro e, lá, se encantaram com o cantor de timbre aveludado. E com o compositor de obra inclassificável.
Melodia fazia e cantava samba, sim, senhor, até por ser filho de sambista, Oswaldo dos Santos, compositor conhecido no Morro de São Carlos como Oswaldo Melodia pelo dom musical. Mas Melodia, o Luiz, também era do baião, do blues, do rock, do soul, do choro, do funk e do iê-iê-iê romântico da Jovem Guarda.
Esse coquetel rítmico de sabor originalíssimo é a tônica de Pérola negra e faz com que, 50 anos após o lançamento, o álbum lapidar de 10 faixas e 28 minutos conserve intacto o brilho de 1973, quando foi lançado no formato de LP com capa que mostrava Melodia em banheira com um globo terrestre na mão em foto de Rubens Maia que, na imagem da capa, aparecia cercada de feijão preto por todos os lados.
Compostas por Melodia sem parceiros, as 10 músicas autorais do disco seriam 12 se o empresário e produtor Guilherme Araújo (1936 – 2007) tivesse conseguido negociar com a censura a liberação de Feras que virão e de Feto, poeta do morro.
Feras que virão viu a luz após sete anos em gravação feita para o quarto álbum de Melodia, Nós (1980). Já Feto, poeta do morro – composição em cuja letra densa Melodia transmitiu o clima de medo e morte que pesava o ar no Brasil dos anos 1970 – nunca ganhou a voz do autor, tendo vindo à tona, por intermédio de Jane Reis, viúva do artista, em gravação feita por Pedro Luís para single editado em março de 2020.
Gravado sob a direção musical de Perinho Albuquerque, guitarrista que criou os arranjos de nove das dez faixas, o álbum Pérola negra soa com frescor atemporal em 2023.
Basta ouvir o samba-choro Estácio, eu e você, apresentado na abertura do disco, para identificar a singularidade de compositor iluminado, com apetite aberto “enquanto o lobo não vem”, verso alusivo aos agentes da repressão da ditadura instaurada em 1964 e ainda vigor no Brasil de 1973.
O bairro que gerou Melodia também é inspiração para amansar a dor e acalmar os sentidos do artista no já mencionado samba-canção Estácio, Holly Estácio, gravado no álbum Pérola negra com o toque da gaita Rildo Hora e alocado na terceira faixa.
Entre os dois sambas, Vale quanto pesa reverbera no arranjo tanto a latinidade quanto os ecos da Tropicália, influência de Perinho Santana. Já Pra aquietar, flash da infância dos tempos passados pelo artista em Paquetá (RJ), mostrava que Melodia sempre abriu a guarda para o rock pop das jovens tardes dominicais, influência que ficaria nítida ao longo da discografia do Negro gato. Arranjada por Arthur Verocai, a faixa tem o toque soul da guitarra do então ainda desconhecido Hyldon.
Momento mais espesso do disco, o registro de Abundantemente morte é levado na guitarra com algo de samba-canção e com muito de um sentimento de blues que parece entranhado em grande parte do cancioneiro de Melodia, a exemplo da composição Pérola negra, balada que já tinha status de standard da música brasileira quando foi reapresentada na voz do autor.
Outros clássicos surgiriam no álbum, caso da canção Magrelinha, de espírito meio roqueiro. Pérola negra, o álbum, poderia até prescindir desse clássico que lhe batizou tamanha a perfeição de repertório que parece flagrar Melodia à beira do abismo emocional.
“Eu canto, suplico, lastimo, não vivo contigo / Sou santo, sou franco, enquanto não caio, não brigo / Me amarro, me encarno na sua, mas estou pra estourar / Estourar”, relata Melodia logo no início dos versos confessionais de Farrapo humano, faixa com arranjo situado entre o rock e o blues, entre viradas da swingueira dos metais.
A diversidade rítmica do repertório do álbum ainda impressiona, 50 anos depois. Se Objeto H soa como fox levado em cadência ágil, evocativa de um choro, o baião Forró de janeiro é arretada incursão do artista carioca pelo terreno da música nordestina, referendando que o álbum Pérola negra é petardo certeiro que transcendeu rótulos e expectativas ao ser disparado no coração de um Brasil preconceituoso que tende em etiquetar artistas para isolá-los em determinado segmento do mercado.
Luiz Melodia nunca foi somente sambista, como a diretoria da Philips queria que ele fosse ao gravar o segundo disco já que o álbum Pérola negra nunca foi o blockbuster imaginado pela gravadora, o que levou o cantor a sair da Philips após o lançamento desse álbum primoroso.
Luiz Melodia faria outras maravilhas contemporâneas na discografia até sair de cena, aos 66 anos, em 2017. Mas nenhuma teve o brilho de Pérola negra, um dos melhores discos de estreia de um artista em todos os tempos, dentro e fora do Brasil.
♪ Leia outros textos da série memorialista do Blog do Mauro Ferreira sobre grandes álbuns brasileiros que fazem 50 anos em 2023:
1. Álbum perturbador que projetou Raul Seixas em 1973, Krig-ga, bandolo! ainda é ‘mosca na sopa’ após 50 anos

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Will Smith faz show para garis, janta com Iza e ganha ‘parabéns para você’ em padaria com Luciano Huck; veja vídeos

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Durante a passagem de som, o ator e rapper de 55 anos chegou a se jogar na plateia formada por garis, funcionários e organizadores das estruturas do Rock in Rio. Além de jantar com artistas como Iza, Sophie Charlotte e Xamã, Will Smith ainda se encontrou com o funkeiro Naldo Benny. Will Smith ganha parabéns em padaria no Rio
Reprodução/Instagram
Will Smith pode ter tido uma passagem curta pelo palco Sunset da Cidade do Rock na última quinta (19), mas não economizou esforço para conquistar a ‘carteira de brasileiro’ tão disputada entre artistas da gringa que querem ganhar o público nacional.
Durante a passagem de som, o ator e rapper de 55 anos animou o público formado por funcionários do festival, garis e organizadores das estruturas do Rock in Rio, chegando a se jogar na plateia.
Will Smith faz show para garis e funcionários durante passagem de som
Prestes a completar 56 anos, o ator deu seguimento a sequência de rolês aleatórios ao comemorar seu aniversário ao lado do apresentador Luciano Huck em uma padaria em Copacabana. O ator sopra as velinhas no dia 26 de setembro, mas ganhou um “parabéns para você” adiantado em “grande estilo brasileiro”.
Will Smith ganha ‘parabéns para você’ em padaria com Luciano Huck
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Camarote climatizado, ‘espaço 30+’ com sofá, garçons e comida à vontade: veja como são o vip e o ‘vipão’ do Rock in Rio
O ator ainda teve um encontro com o funkeiro Naldo Benny, que publicou o momento no Instagram.
“Love you number one. Que honra”, escreveu Naldo
Naldo Benny publica vídeo de encontro com Will Smith no RiR: ‘Love you number one’
Além do funkeiro, a estrela do saudoso ‘Um Maluco no Pedaço’ ainda se encontrou com o influenciador baiano Naio Barreto, conhecido como o ‘sósia de Will Smith’.
Baiano sósia do Will Smith encontra o ídolo no palco Sunset do Rock In Rio
Jantar com Iza e banquete nordestino
Em sua passagem pelo Brasil, Will Smith também foi recebido com um banquete nordestino ao lado da cantora Iza, Xamã, Sophie Charlotte e Maju Coutinho. Segundo a chef Carmem Virginia, Smith amou vários pratos da culinária nordestina.
Will Smith e a cantora Iza
Reprodução Instagram
Segundo a chef confirmou ao g1, o ator “amou caipirinha de umbu cajá que só tem no Nordeste, bolo de rolo, pastel de festa e arroz caldoso”.

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DJ fã de Katy Perry vai se montar de drag no Rock in Rio e quer interagir com a cantora: ‘Ela foi a minha liberdade’

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Americana é a headliner do Palco Mundo nesta sexta (20). Renan Caetano vai se montar de Patty Patrícia na grade do show de Katy Perry
Cristina Boeckel/g1
Renan Caetano chegou aos portões do Rock in Rio às 23h de quinta-feira (19) para garantir a grade no show de Katy Perry, que é a estrela do Palco Mundo nesta sexta (20). Ele vem com um plano ousado: “Eu sou drag e vou me montar. Quero que ela me veja e interaja comigo.”
O esforço — e as 25 horas de espera ao relento — tem justificativa. A artista teve papel fundamental na sua formação. “Ela foi a minha liberdade. Ela me fez quem sou hoje, e atualmente posso me expressar por meio da minha arte”, destaca Renan.
A drag Patty Patrícia existe há 5 anos. Segundo Renan, que veio de São Paulo, a noite foi fria, mas a ansiedade o ajudou a se manter aquecido.
Sobre o look de Patty Patrícia, é importante manter o mistério. Só alguns pedaços foram mostrados para o g1: a peruca loira e o salto altíssimo.
Na espera, a manhã está sendo embalada pelo som de “143”, álbum que ela lança no festival.
“Eu ouvi e já gostei muito, está pop-dance, como ela prometeu, e quero cantar as músicas”, opinou.
Katy Perry: ‘Nunca mais farei esse tipo de show’
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Acordo sobre a herança de Gal Costa favorece a preservação e a possível expansão da discografia da cantora

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Há muito ouro de alto quilate a ser garimpado no baú da artista, que faria 80 anos em 2025. ♫ COMENTÁRIO
♩ É provável que quase todos os admiradores e seguidores de Gal Costa (26 de setembro de 1945 – 9 de novembro de 2022) tenham tomado algum partido na disputa travada na Justiça de São Paulo entre o filho da cantora, Gabriel Costa, e a viúva de Gal, Wilma Petrillo, pela herança da artista.
De todo modo, o fato de a briga judicial ter chegado ao fim nesta semana, com acordo firmado entre Gabriel e Wilma, deve ser comemorado por todos os que amam a arte maior de Gal Costa. O fim da disputa favorece a preservação e a possível expansão da obra da cantora através das edições de gravações inéditas.
Há relíquias nos acervos das gravadoras Universal Music (detentora dos discos feitos por Gal na Philips entre 1967 e 1983) e Sony Music, dona do patrimônio adquirido com a fusão com a companhia então denominada BMG, na qual Gal ingressou em 1984, quando a gravadora ainda se chamava RCA, e permaneceu até 2001.
Enquanto herdeiros brigam na Justiça pelo espólio de um artista, as gravadoras tendem a deixar a obra desse artista de lado para evitar dor-de-cabeça, sobretudo quando se trata da edição de produto inédito, para a qual são necessárias as devidas autorizações de todos os herdeiros (e de todos os envolvidos na gravação).
Com boa vontade, há muito ouro a ser garimpado no baú de Gal. São do mais alto quilate, por exemplo, as seis faixas do EP gravado por Gal com o violonista Raphael Rabello (1962 – 1995) em 1990, sendo que duas das seis músicas, o samba-canção Duas contas (Garoto, 1951) e Estrada branca (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958), permaneceram inéditas na voz da cantora.
Sem falar nos registros de shows dos anos 1970, como Cantar (1974), cujo roteiro incluía cinco músicas – o acalanto cubano Drume negrita (Ernesto Grenet, 1942), Me deixe mudo (Walter Franco, 1972), Não existe pecado ao sul do Equador (Chico Buarque e Ruy Guerra, 1973), Menina mulher da pele preta (Jorge Ben Jor, 1974) e Chorou, chorou (João Donato e Paulo César Pinheiro, 1973) – nunca gravadas por Gal.
Enfim, todos ganham literal e/ou metaforicamente com o acordo sobre a herança de Gal. O caminho está aberto para os lançamentos de gravações inéditas da cantora ao longo de 2025, ano em que a imortal Gal Costa faria 80 anos.

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