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Festas e Rodeios

Oscar 2023: por que Vietnã não celebra o prêmio a Ke Huy Quan, de ‘Tudo em Todo O Lugar ao Mesmo Tempo’

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Ke Huy Quan é a primeira pessoa de origem vietnamita a ganhar um Oscar Ke Huy Quan ganha Oscar de melhor ator coadjuvante
Carlos Barria / Reuters
Em seu emocionante discurso ao ganhar o Oscar de melhor ator coadjuvante, Ke Huy Quan falou sobre sua jornada quando criança em um barco do Vietnã, passando por um campo de refugiados em Hong Kong, até chegar à Califórnia.
“Passei um ano em um campo de refugiados e de algum jeito acabei chegando aqui, no maior palco de Hollywood”, disse ele.
“Dizem que histórias como essa só acontecem em filmes. Eu não acredito que esteja acontecendo comigo. Esse é o sonho americano.”
Quan é a primeira pessoa de origem vietnamita a ganhar um Oscar e um dos dois indicados este ano: o outro foi Hong Chau, de “A Baleia”, cuja família também fugiu do Vietnã em um barco.
No entanto, no Vietnã, a reação oficial foi pouco entusiasmada. A imprensa vietnamita — que é quase toda controlada pelo Estado — pouco noticiou o prêmio de Ke Huy Quan e seu passado.
Alguns veículos deram ênfase à ascendência étnica chinesa do ator, em vez de suas origens vietnamitas.
Origens
Ke Huy Quan agradece seu Globo de Ouro por melhor ator coadjuvante em filme em “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”
Rich Polk/NBC via AP
Ke Huy Quan nasceu na capital do sul do Vietnã, Saigon, em 1971. Sua família fazia parte de uma minoria étnica chinesa bem-sucedida, algo comum em muitas cidades do Sudeste Asiático. Nenhum veículo de comunicação do Vietnã mencionou sua fuga do país como refugiado, em um êxodo em massa das chamadas “boat people”.
O jornal Thanh Nien apenas escreveu que Quan “nasceu em 1971 em uma família chinesa na cidade de Ho Chi Minh [o nome oficial de Saigon] e depois se mudou para os Estados Unidos no final dos anos 1970”.
O Tuoi Tre, um dos principais jornais diários do país, observou: “Quan Ke Huy nasceu em 1971 no Vietnã em uma família chinesa, com mãe de Hong Kong e pai da China continental”.
O VN Express disse que o ator “tem pais chineses na área de Cho Lon”, o distrito comercial de Saigon tradicionalmente habitado por chineses étnicos.
Ninguém no governo vietnamita se pronunciou sobre o ator — algo pouco surpreendente em se tratando do Partido Comunista do país.
Por que essa relutância em celebrar um ator de sucesso e agora mundialmente conhecido que reconhece abertamente suas raízes vietnamitas?
Emigrantes esquecidos
O êxodo dos “boat people” nas décadas de 1970 e 1980 foi um dos episódios mais sombrios da história recente do Vietnã.
Mais de 1,5 milhão de pessoas partiram, a maioria delas de etnia chinesa, em navios muitas vezes frágeis pelo Mar do Sul da China.
Segundo a agência da ONU para refugiados (Acnur), entre 200 mil e 400 mil pessoas morreram, alguns nas mãos de piratas.
O Partido Comunista — que na época tinha acabado de derrotar o poderio militar dos Estados Unidos e presidia um crescimento econômico espetacular — prefere esquecer esse episódio. O Oscar de Ke Huy Quan traz o assunto de volta à tona.
A fuga trágica dos “boat people” é uma amostra de como sempre foi tenso o relacionamento entre o Vietnã e a China.
Os dois governos comunistas foram oficialmente muito próximos em seus anos de formação após a Segunda Guerra Mundial, com enormes quantias de ajuda chinesa indo para o Vietnã do Norte durante sua luta primeiro contra os franceses e depois contra os americanos.
Mas na época da vitória do Vietnã do Norte em abril de 1975 e da reunificação do país, as relações estavam se tornando cada vez mais tensas. Isso aconteceu quando a liderança comunista do Vietnã se aliou à União Soviética na disputa sino-soviética e após a reaproximação da China com os EUA de Richard Nixon.
A grande população de etnia chinesa, principalmente em Cho Lon — incluindo a família de Ke Huy Quan — foi afetada por essas mudanças geopolíticas. Desde a vitória comunista na guerra do Vietnã, eles já eram perseguidos pelos comunistas como principal grupo capitalista do Vietnã do Sul — e considerados suspeitos de lealdade ao regime derrotado. Muitos foram enviados para campos de reeducação.
A economia do Vietnã esteve em um estado deplorável por muitos anos após a guerra, afetada pelos danos colossais que havia sofrido, seu isolamento internacional e as inflexíveis políticas socialistas do novo regime. Como geralmente tinham dinheiro para subornar funcionários e alugar barcos, os chineses étnicos começaram a fugir em grande número a partir de setembro de 1978.
O êxodo acelerou-se após o ataque chinês ao Vietnã em fevereiro de 1979, uma época de forte sentimento antichinês no país, que continuou por mais de uma década.
Relações tensas
A relação conflituosa com a China continua até hoje, embora a etnia chinesa não seja mais o foco principal. Muitos Viet Kieu, como são chamados os que fugiram, conseguiram retornar ao Vietnã e voltar a prosperar.
Jonathan Wang, produtor de ‘Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo’
REUTERS/Carlos Barria
Mas o ressentimento das políticas agressivas da China em ilhas disputadas no Mar do Sul da China e sua crescente influência econômica alimentam um forte sentimento anti-chinês entre o público.
“Ele [Ke Huy Quan] não é descendente de vietnamitas, ele é apenas sino-vietnamita e nasceu no Vietnã. Temos que deixar isso claro”, escreveu uma pessoa na página do serviço da BBC em vietnamita no Facebook.
“Eles devem escrever muito claramente que ele é sino-americano, que costumava ter nacionalidade vietnamita! Não consigo ver nenhuma ‘origem vietnamita’ aqui?”, escreveu outro.
Mas outro comentário diz que “devemos dizer que ele é vietnamita, já que nasceu no Vietnã e é descendente de chineses”.
Da cidade de Ho Chi Minh, o escritor Tran Tien Dung sugeriu no Facebook que a identidade de Ke Huy Quan é como uma pessoa “Saigon-Cho Lon”: “Para mim, Quan Ke Huy obtém sua energia de seu local de nascimento em Saigon-Cho Lon e sua fama por crescer na América. Então, quero parabenizá-lo e compartilhar a alegria com o público nas redes sociais.”
“Acho que a maneira como a mídia estatal negligenciou a história de Ke Huy Quan como um dos boat people é lamentável”, diz Nguyen Van Tuan, professor da Universidade de New South Wales em Sydney, que também emigrou do Vietnã da mesma forma que o ator.
“A história dos refugiados em barcos nas décadas de 1970 e 1980 é um capítulo trágico na história do país. A maioria dos refugiados vietnamitas que chegaram aos EUA naquela época eram chineses ou ‘puramente vietnamitas’, eram muito pobres. Eles sequer falavam inglês. Mas sobreviveram e prosperaram.”
“A geração de hoje no Vietnã não consegue imaginar a situação dos refugiados naquela época, em parte porque eles não aprenderam sobre aquele período triste e doloroso de nossa história.”
*Jonathan Head é correspondente da BBC no Sudeste Asiático. Tran Vo é jornalista do Serviço Vietnamita da BBC, baseado em Bangkok, na Tailândia.

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Bruno Mars começa tour no Brasil; show deve ter piada com calcinha e hit gravado com Lady Gaga

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Antes de turnê com 14 apresentações, g1 assistiu ao show do cantor para convidados. Com setlist semelhante ao do The Town, Bruno deve incluir novas piadinhas e grito de ‘Bruninho is back’. Bruno Mars encerra show no The Town com o sucesso ‘Uptown Funk’
Bruno Mars começa nesta sexta-feira (4) uma sequência de 14 shows, que vai até o dia 5 de novembro. Antes dessa turnê brasileira, o cantor havaiano de 38 anos fez um show beneficente no Tokio Marine Hall, em São Paulo, na terça-feira (1º). A apresentação para 4 mil pessoas arrecadou R$ 1 milhão para as vítimas da tragédia climática no Rio Grande do Sul.
No show para famosos, convidados e também fãs que participaram de uma promoção, ele seguiu uma estrutura de setlist bem parecida com a do The Town. Bruno fez dois shows no festival paulistano, em setembro de 2024.
Ele ainda começa o show com “24 Magic” e termina com a trinca “Locked Out of Heaven”, “Just the Way You Are” e “Uptown Funk”. No show exclusivo antes da turnê, ele se comunicou um pouco menos com o público.
Entre as poucas interações, gritou “Bruninho is back!”, quando a plateia começou a gritar “Bruninho! Bruninho! Bruninho”, ainda no começo. Em “Billionaire”, alterou parte da letra e cantou “different calcinhas every night”, brincadeira que foi muito aplaudida.
Há ainda uma parte piano e voz, em que ele emenda várias músicas, começando com “Funk You” e passando por “Grenade”, “Talking to the moon” e “Leave the door open”, a única que ele toca do projeto Silk Sonic. A novidade nessa parte, que rolou no show de terça, deve ser a inclusão de um trecho de “Die With a Smile”, música lançada com Lady Gaga em agosto passado.
Bruno Mars
Divulgação
No show do Tokio Marine Hall, um pouco mais curto do que os da turnê, não houve a versão instrumental de “Evidências”, de Chitãozinho & Xororó, tocada por seu tecladista. O solo de bateria, porém, continua presente. Então, não se sabe qual música brasileira será homenageada pela banda de Mars.
A banda que o acompanha, The Hooligans, segue impecável e o ajuda em coreografias cheias de gingado. Para tocar com Mars, não basta ser ótimo músico, tem que saber dançar. Com toda essa atmosfera de suingue e simpatia, fica difícil não se encantar pelo charme de Bruninho.
O repertório de Mars vai do soul ao pop rasgado, passando por R&B, levadas de reggae e baladas perfeitas para pedidos de casamento, como “Marry You”.
Antes dos shows no The Town, Bruno havia vindo ao Brasil em 2017 e em 2012, quando foi atração do festival Summer Soul.
Bruno Mars no Brasil
São Paulo: 4, 5, 8, 9, 12 e 13 de outubro – Estádio Morumbi
Rio: 16, 19 e 20 de outubro – Estádio Nilton Santos
Brasília: 26 e 27 de outubro – Arena Mané Garrincha
Curitiba: 31 de outubro e 1º de novembro – Estádio Couto Pereira
Belo Horizonte: 5 de novembro – Estádio Mineirão

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Garth Brooks é processado por maquiadora que o acusa de estupro

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Mulher diz que agressão aconteceu em 2019. Ela afirma que sofreu diferentes tipos de abusos quando trabalhava para o astro do country americano. Garth Brooks faz show em prol do Hospital de Câncer de Barretos, em 2015
Mateus Rigola/G1
O astro do country Garth Brooks foi processado por uma mulher que o acusa de estupro, segundo o canal de notícias americano CNN nesta quinta-feira (3).
A ação diz que o ataque aconteceu quando ela trabalhava para ele como maquiadora e cabeleireira, em 2019.
A mulher, identificada como Jane Roe, afirma que o cantor também mostrava seus órgãos genitais para ela, falava sobre sexo, se trocava na sua frente e mandava mensagens sexualmente explícitas.
Ela afirma que foi estuprada por ele em um hotel, em Los Angeles, durante uma viagem para a gravação de uma homenagem do Grammy.
O cantor já tinha afirmado ser inocente em um processo movido por ele, anonimamente, em setembro. Na ação, Brooks pedia para que a Justiça declarasse que as acusações de Roe não eram verdade e a proibissem de divulgá-las.
Ele dizia que se tratava de uma tentativa de extorsão que causariam “dano irreparável” à sua carreira e sua reputação.

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DJ Gustah expõe a força crescente de vozes femininas do rap e do trap, como Azzy e Budah, no álbum coletivo ‘Elas’

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A rapper capixaba Budah integra o elenco do disco ‘Elas’, projeto fonográfico que o DJ Gustah lançará na terça-feira, 8 de outubro
Divulgação
♫ NOTÍCIA
♪ As mulheres marcam cada vez mais posição e território no universo do hip hop. Projeto fonográfico que o DJ e produtor musical paulistano Gustah lança na terça-feira, 8 de outubro, o álbum Elas dá voz a mulheres que estão se fazendo ouvir nos segmentos do rap e do trap com força crescente.
Editado pelo selo de Gustah, 2050 Records, o disco apresenta 10 gravações inéditas entre as 12 faixas. Abismo no peito é música cantada e composta pela rapper capixaba Budah. Cynthia Luz sola a lovesong Mar de luz e, com Elana Dara, mergulha em Lago transparente.
A paulistana Bivolt dá voz ao boombap Faço valer. A novata Carla Sol defende Hora exata. Voz de São Gonçalo (RJ), município fluminense, Azzy é a intérprete de Mesmo lugar, faixa de tom mais introspectivo. Clara Lima canta Intenção. King Saint entra em Ondas sonoras.
Ex-integrante do duo Hyperanhas, Andressinha é a voz de Poucas conversas. Annick figura em Decisões. A paulista Quist apresenta Destilado em poesia. Killua fecha o disco com Lunaatica.
Embora calcada no rap e no trap, a sonoridade do disco Elas transita pelo R&B e também ecoa a MPB.
Capa do disco ‘Elas’, produzido pelo DJ Gustah
Divulgação

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